O papel do analista de mercado, por Flávio França Junior

Publicado em 26/09/2014 17:52 e atualizado em 28/02/2020 12:53
Flávio França Junior é Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria

Gostaria de começar este meu primeiro texto para o Notícias Agrícolas com uma breve reflexão: qual o papel do Analista de Mercado na vida do agronegócio brasileiro, ou mais especificamente, nos negócios e na vida dos produtores brasileiros? E para fazê-lo, gostaria de contar uma rápida história.

Há algumas semanas atrás uma tradicional e conhecida empresa de consultoria do Brasil foi contratada para ministrar uma palestra sobre tendências de mercado em um evento cujo foco era o mercado de feijão. Para essa tarefa foi indicado um também conhecido analista de mercado, cuja especialidade é o mercado de milho. Qual não foi a surpresa geral do público presente (basicamente administradores de grandes grupos produtores, com área total de cultivo de aproximadamente 1 milhão de hectares em grãos e algodão), quando o analista em questão na sua primeira frase disse que não entendia nada do mercado de feijão, e que na verdade ele “decidira” falar apenas sobre milho e soja. E quando chegou na parte da soja, mostrou desconhecimento do setor ao apresentar dados superficiais, confusos e incongruentes, porém trazendo opiniões incisivas na tendência de baixa dos preços, inclusive falando em valores específicos para onde os preços irão caminhar. Apesar de não estar presente, tomo essa história como verídica porque me foi contada diretamente por um dos organizadores do evento, e que se viu em maus lençóis para tentar contornar a indignação do público presente após o encerramento da referida palestra sobre o “mercado de feijão e grãos”.

Duas coisas me chamaram a atenção nesse lamentável episódio, que na verdade é muito mais comum do que muitos imaginam. O primeiro diz respeito ao fato de se vender algo que não se pode entregar. E o segundo é o fato de se “vestir” como especialista e falar de algo que você não conhece bem.

Ambas as atitudes estão relacionadas com o que podemos chamar de busca inescrupulosa da receita e do lucro. Com absoluta abstração do que seria essencial em um serviço de consultoria, que seria o conteúdo e a qualidade das informações e das análises que você está prestando. Neste caso, não se importando com quem está ouvindo, ou lendo, o que você esta dizendo ou escrevendo, desde que você me pague. Ou seja, me dá o seu dinheiro aqui e “engula” a migalha que eu tenho para lhe oferecer. Em outras palavras, “vou falar ou escrever qualquer coisa, que o meu cliente não entende nada e não vai perceber a diferença”. Isso vale evidentemente para uma palestra de tendências de mercado, para um curso de comercialização, para uma análise diária, semanal ou mensal, para um estudo específico feito por encomenda, ou para qualquer tipo de consultoria. 

Mas para esse tipo de comportamento existe um nome: falta de escrúpulos, ou seja, não ter dúvidas de consciência sobre o caráter correto ou incorreto de algo que fizemos ou dissemos. Por quase 30 anos de minha vida profissional atuando como Analista de Mercado venho lutando contra esse tipo de pensamento ou comportamento. Acredito sinceramente que essa carreira pode trazer conhecimento para o mercado, contribuir para o sucesso de nossos clientes e maximizar os seus ganhos. Todos tem o direito de errar. Pessoalmente, sei que posso ter cometido alguns equívocos nesse período. Mas, se eles aconteceram, e tenho certeza que não foram muitos, foram de natureza técnica, e não moral. Nunca deixei de me importar com quem estava me ouvindo ou lendo. Não posso acreditar que você, meu caro produtor, analista, trader, operador, administrador, ou qualquer outro agente desse universo que se chama Agribusiness, não tenha condições ou discernimento para enxergar e diferenciar o que é bom do que é ruim em termos de análise, o que é conteúdo e qualidade do que é superficialidade, o que é incompetência do que é falta de escrúpulo. Não posso acreditar que você irá “engolir” qualquer coisa, só porque a marca é conhecida. Em minha humilde visão, se não é a “bola quem pune” parafraseando um conhecido técnico do futebol brasileiro, tenho certeza que o “mercado mais cedo ou mais tarde punirá” aqueles que o subestimam ou tratam você com desrespeito e menosprezo.  

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Fonte: França Junior Consultoria

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