A corrupção em três atos, por Camilo Motter

Publicado em 19/12/2014 12:25
Camilo Motter é jornalista e economista da Granoeste Corretora de Cereais

Perguntadas, as pessoas não titubeiam em se manifestar contra a corrupção. Tendem, porém, a aceitar e a comprar favores em conversas reservadas, quando submetidas à perspectiva de vantagens. Nem todos se enquadram, mas esta regra demonstra uma pitada da tragédia humana, presente em cada um: uma porção santa e outra, diabólica, vivas e ativas. As decisões e as escolhas, vida afora, irão definir para que lado penderá o badalo da honestidade individual e coletiva. 

O estado é campo fértil para a atuação de corruptos e corruptores. A corrupção não é fenômeno recente. Recente é sua estruturação, dimensão de valores e qualidade de gestão, com estrutura hierárquica, beneficiários, rigor no controle e logística de distribuição, aqui e em paraísos fiscais, com entrega a domicílio ou depósito em bancos. Trata-se de uma estrutura paga pelo estado, trabalhando para dilapidá-lo. São raposas tomando conta das galinhas. Pela impunidade se chegou à sua institucionalização.

Primeiro ato - A corrupção é um ato financeiro. Reduz o poder de investimento, debilita o empreendimento e enriquece espertalhões. “Não vendo nada”, dirigentes aumentam o endividamento e a carga tributária para cobrir rombos. Como empresas estatais não quebram, o tesouro banca as dificuldades e a conta vai para a sociedade. 

O desvio de recursos tem um significado ainda mais nefasto do que a sonegação.  Dentre as duas pragas, a sonegação mantém recursos na origem; é fruto da produção e geração de empregos de algum empreendedor, que produz o tributo sonegado – não o rouba. Já, a corrupção concentra recursos, desorganiza a produção, afugenta empreendedores, alimenta a miséria e é fruto de recursos já creditados ao estado.

É pedagógico que todos saibam que, pela mão da corrupção, muitos morrem na fila de hospitais, nas ruas das cidades. Sob este prisma, o corrupto deveria ser julgado também por assassinato, por crimes contra a humanidade. Parte da carência de moradias e estradas pode ser debitada nesta conta.

Os impostos sobem e a qualidade de vida cai. Os serviços essenciais são pífios e as instituições, frágeis. O governo opera empresas ao invés de cuidar de sua essência: educação, saúde e segurança. O estado está metido demais onde não deveria e pouco onde é vital. 

Segundo ato – A corrupção é um ato com implicações morais e éticas, destruidor da sociedade. A sensação de que é desprovido de bem e de mal engessa a sociedade e a torna incapaz de se indignar por justiça – “todos roubam e levam vantagens”, é um indicativo de normalidade. O GPS moral perde o sentido de direção. Bens públicos ganham conotação de privados. 

Uma reforma política, com voto distrital e limitação de mandatos também para o legislativo, seria um bom começo na área mais suscetível à corrupção. Penas duras e processos céleres, a fim de separar claramente o bem público do privado, são medidas urgentes.

Terceiro ato – O corrupto recebe salários de uma entidade, mas trabalha contra ela. Corruptus (latim) significa quebrado, mas também podre. O agente envolvido se desgasta e gasta seu tempo na administração da podridão, não em trabalhar. Montar a logística, ajeitar meandros, esquematizar e atrair comparsas são tarefas com perda de sono e de trabalho. Recebe de quem se dedica a roubar. Para se manter no controle, desvirtua as funções do seu contrato de trabalho. Trai e destrói seu patrão (o povo). É pior que funcionário parasita, inútil em seu cabide. 

Propina, suborno, tráfico de influência, nepotismo e extorsão provocam perdas, muito além de recursos financeiros. Que os casos em evidência hoje, petrolão e mensalão, nos conduzam a mudanças na legislação e no combate ágil a este mal, que sangra a sociedade em carne viva.   

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Camilo Motter

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