O Que Esperar do Agro em 2018? Por Marcos Fava Neves

Publicado em 15/12/2017 14:44 e atualizado em 15/12/2017 15:17
Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Este artigo tem como objetivo trazer os números relevantes do agro neste fechamento de ano e colocar minhas perspectivas para 2018, em que números eu apostaria com base em projeções e leituras do mercado. Com isto o leitor entra no meu raciocínio e tem mais uma opinião para fazer seus planos e apostas para o ano que começa.
Revendo números ainda deste ano, as exportações de novembro foram de US$ 7,1 bilhões, praticamente 23% acima de novembro de 2016, deixando um superávit de US$ 5,9 bilhões. No acumulado de janeiro a outubro o agro trouxe US$ 89,1 bilhões, quase 13% acima de 2016. O superávit deixado pelo agro, quando se tiram as importações, já está em US$ 76,1 bilhões (14,3% acima de 2016). A soja trouxe US$ 1,3 bilhão no mês, as carnes trouxeram US$ 1,3 bilhão e açúcar/etanol algo próximo a US$ 870 milhões.
Quando comparamos os preços atuais das commodities mais exportadas pelo Brasil com exatamente um ano atrás, o tombo é grande. No açúcar, é de quase 26,4%, no suco 24,3% e no café 21,5%, porém no mês que passou, açúcar e suco subiram um pouco e o café caiu mais quase 1%, devido à grande safra esperada no Brasil. A soja está praticamente com o mesmo preço (subiu 0,87% e o milho praticamente não oscilou, porém tem viés de alta devido ao petróleo mais caro e a soja ficar como está pois choveu e a safra brasileira vem grande e forte).
O índice mensal de preços de commodities alimentares da FAO chegou a 175,8 pontos, 0,5% abaixo de outubro e 2,3% menor que novembro de 2016. Caíram os preços das carnes (0,1%) e dos lácteos (4,9%), derrubando o índice. E subiram os cereais (0,3%), óleos vegetais (1,3%) e açúcar (4,5%). Já há alguns meses estamos perdendo preços internacionais.
Entre outras notícias relevantes do mês, o Banco do Brasil anunciou lançamento de um produto interessante ao agronegócio, muito presente em outros países: Um seguro para o faturamento (proteção de renda), que vem em boa hora..., resta torcer para que seu custo compense.
Seguem firmes os investimentos da COFCO, trading chinesa, que colocou como meta dobrar o volume de compras em cinco anos, diretas de agricultores, chegando a 60 milhões de toneladas. Aqui temos grandes oportunidades às cooperativas brasileiras. A empresa já conta com 145 mil empregados, fatura US$ 70 bilhões e teve nos últimos anos arrojada política de aquisições, comprando empresas como a Nidera e a Noble Agri, agora já integradas, com muitas dificuldades no processo. O agro brasileiro deve prestar muita atenção à COFCO e buscar oportunidades de investimentos e acesso a mercados com as grandes tradings em 2018.
Enfim, as notícias de novembro foram neutras ao agro, com pouca oscilação cambial, alguma oscilação para cima do petróleo. A principal notícia negativa do mês tem relação com a possibilidade de revogação da lei Kandir e suas nefastas consequências em tributar exportações.
Passo agora às opiniões do que esperar de 2018 no agro:
O consumo mundial de grãos deve crescer de 1 a 1,5%, representando de 25 a 30 milhões de toneladas a mais, e a China pode importar 100 milhões de toneladas de soja. Seguem sendo gerados espaços no mercado internacional -- que o Brasil tem de ocupar. As exportações brasileiras devem novamente nos trazer perto de US$ 100 bilhões, ajudando a interiorizar o desenvolvimento e manter o valor da nossa moeda.
Na terceira projeção da CONAB para a safra 2017/18 estima-se uma produção de 226,5 milhões de toneladas de grãos, 4,7% menor que a atual safra recorde. A área crescerá quase 1%, atingindo 61,5 milhões de hectares. A CONAB joga com condições climáticas piores que as excelentes observadas em 2016/17. Resta torcer para que estas se repitam e o Brasil bata novo recorde produtivo em 2018.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio (considerando as cadeias todas) deve aumentar cerca de 0,5% a 1% em 2018. Recortando apenas a agropecuária, o PIB deve aumentar 5% em 2018, contra os 11% deste ano. O Valor Bruto da Produção (VBP) deve aumentar 7,1% chegando a R$ 559,6 bilhões, sendo 6% de aumento no agrícola e 9% na pecuária. Ou seja, se o clima não atrapalhar o agro gera quase 560 bilhões de reais em renda a ser gasta em nossos municípios.
A safra de soja está estimada em 109,2 milhões de toneladas, numa área cerca de 3,1% maior, de 34,94 milhões de hectares. Os preços devem ficar entre US$ 9 a 10/bushel, que, a este câmbio, permite razoável resultado a nossos produtores. O milho deve perder 3% da área, com 17 milhões de hectares e expectativa de produção de 92,2 milhões de toneladas. A expectativa de preços também é de manutenção das médias deste ano, e nos EUA algo entre US$ 3,20 a 3,50/bushel. Milho tem maior incerteza devido ao plantio da safrinha, que ainda está distante, mas os preços correntes dos grãos ajudam a produção mais competitiva das carnes.
Nas carnes o consumo interno se recupera, as exportações seguem firmes apesar das preocupações com a Russia, a oferta brasileira aumenta e as rações continuam com preços competitivos aos produtores devido à ampla oferta de grãos. Bovinos devem bater o recorde de produção podendo chegar a 9,9 milhões de toneladas e exportações podem passar de 1,8 milhões de toneladas, com arroba ao redor de R$ 140.
No frango também devemos ter recorde de produção (mais de 13 milhões de toneladas) e de exportações (mais de 4 milhões de toneladas) com preços ao redor de R$ 2,5 a 3/kg (vivo).
Já nos suínos a preocupação é um pouco maior devido à Russia representar mais de 40% das compras, mas a produção vem também forte, com mais de 3,8 milhões de toneladas e exportações passando 900 mil toneladas, também batendo recordes. Preços ao produtor por volta de R$ 3,5 a 4/kg (vivo).
No leite espera-se grande produção mundial, preços um pouco menores, caso o consumo no mercado interno se recupere, a produção ou fica como está ou registra um pequeno crescimento (24 milhões de toneladas), com preços ao redor dos R$ 1,05 a 1,25/litro ao produtor.
Já a laranja deve ter ótima combinação de volumes (384 milhões de caixas) e preços entre 17 a 22 reais/cx permitindo aos produtores reduzirem níveis de endividamento e o suco deve ficar ao redor de US$ 2300 a 2600/tonelada Europa, graças principalmente ao problema que o furacão Irma trouxe, derrubando a produção da Florida para a menor desde 1940, apenas 45 milhões de caixas).
O algodão também deve ajudar, pois a área cresceu 20% para 1,127 mi ha com produção de 1,825 mi ton de pluma (12% a mais) mas produtividade 7% menor, de 1,619 ton/ha. A demanda interna volta a crescer e os preços devem ficar ao redor de US$ 0,70/libra peso, ajudando a revigorar o Mato Grosso e a Bahia que produzem 90% da nossa safra.
No café a safra mundial deve ser boa, os estoques estão altos, e o Brasil produzindo muito (57 milhões de sacas) mantendo preços ao redor de US$ 130/sc e o consumo crescendo novamente com a recuperação econômica. Margens mais apertadas.
Nos insumos, os fertilizantes devem ser bastante consumidos para esta área toda, mas os preços tendem a permanecer como estão. E no caso dos defensivos, teremos aumentos de preços devido aos novos padrões produtivos na China, mais rigorosos, que estão elevando os custos de produção e fechando fábricas.
Também temos as boas expectativas vindas do RenovaBio na cana (para esta cultura veja um artigo específico sobre 2018) e do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), antecipando para março de 2018 a obrigatoriedade de 10% de mistura de biodiesel no diesel. Como a soja representa 80% do biodiesel, estes dois pontos percentuais dão um processamento de mais 1,5 milhões de toneladas de soja.
A agência ambiental americana (EPA) manteve para 2018 os volumes obrigatórios de biocombustíveis nos EUA. Os convencionais, onde o milho é o principal, ficam em 15 bilhões de galões e os avançados, onde está a cana, ficariam em 4,24 bilhões de galões. O setor reivindica o aumento da mistura de 10 para 15% de etanol de milho na gasolina, o que para o agronegócio brasileiro seria excelente notícia em 2018.
Também com os preços do petróleo em patamares mais elevados, cresce o incentivo ao biocombustível, bem como as pressões ambientais elevando a metas de mistura, como a anunciada pela China para 2020 (10% de etanol na gasolina) criando um mercado de mais de 40 milhões de toneladas de milho. Torcer para em 2018 novos anúncios de uso de biocombustíveis acontecerem, abrindo espaço para a produção brasileira.
Sobre os preços futuros, o artigo da FAO e UNCTAD chamado "Relatório sobre Commodities e Desenvolvimento 2017" diz que os preços das commodities alimentares subirão apenas 1,4% até 2030, o que de certa forma já havia comentado ao longo deste ano.
Na economia também o mundo deve crescer mais, abrindo mais mercados à produção de alimentos do Brasil e o nosso PIB deve crescer 2,5% a 3%, trazendo maior consumo interno.
A inflação deve continuar em 4%, e a taxa Selic ficaria em 7%, com um dólar médio do ano em R$ 3,30. 
Há de se ressaltar as grandes reformas que passaram em 2017, como o teto dos gastos, a nova legislação trabalhista, a nova lei das terceirizações, e em 2018 creio que conseguimos aprovar uma reforma tributária e parte da previdência.
Espero também que em 2018 nosso país possa ser invadido por investimentos internacionais numa grande rodada de concessão de infra-estrutura pública para operação pelo setor privado.
É um ano onde o cenário político ocupará parte importante dos debates e pode trazer alterações nos números colocados acima. No momento existe uma polarização entre esquerda e direita, mas na minha leitura o atual candidato da esquerda ficará inelegível e até com liberdade restrita em 2018, e o da direita não passa de 25%. Portanto minha aposta hoje é que um candidato de consenso - representando o centro - deve ganhar, o que será melhor para a governabilidade à partir de 2019, afinal intensa agenda de geração de valor precisa ser implementada.
Caminhos da Cana/Orplana
Termino compartilhando com os leitores a alegria de agora em dezembro concluir dois trabalhos de 4 anos. O primeiro foi um dos projetos de extensão mais bonitos e gostosos que fiz e que terminou ontem, o “Caminhos da Cana” após 4 anos, 80 eventos, 30 cidades, 8 Estados percorridos. Eventos de muito aprendizado, novos amigos, reflexões, pesquisas, publicações nacionais e internacionais, teses, dissertações e... muitas transformações na cana.
O segundo foi meu trabalho na Orplana, Organização dos Produtores de Cana do Centro Sul, que congrega 32 associações. Em meados de 2013 o então presidente da Orplana, pediu que fizesse um plano estratégico para a organização. Após terminar meu ano como docente na Universidade de Purdue, Comecei em janeiro de 2014 este trabalho e a Orplana, com o esforço de todos se transformou, tendo em andamento hoje um robusto processo de gestão estratégica. Tive o privilégio de ser Conselheiro Externo da Orplana nos anos de 2014 a 2017, ajudando nas reuniões mensais a implementar este plano e pensar em novas coisas.  Ontem foi a última reunião, depois de 4 anos. Missão cumprida.
Meu 2017 foi repleto de trabalho e bons resultados, espero que assim tenha sido o ano dos que investiram seu tempo neste texto. A todos boas festas, um feliz natal, boas férias e um 2018 cheio de trabalho e saúde. E que o agro venha firme com seus belos números novamente carregando o Brasil.
Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Desde 2013 é Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante Internacional da Universidade de Buenos Aires. Este material é um resumo mensal feito sobre assuntos nacionais e internacionais de relevância ao agro. ([email protected]
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Marcos Fava Neves

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1 comentário

  • Wilson Marcelo Barbosa Prado Uberlândia - MG

    Amigo Marcos Fava, parabéns pela brilhante matéria! Ela permite uma visão 360° sobre o agro ! Abraços.

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