Pode dar certo a Fusão de Agricultura e Meio Ambiente, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Publicado em 31/10/2018 11:02
Marcos Fava Neves é Professor Titular (tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo. Especialista em planejamento estratégico do agronegócio

O Brasil tem tudo para ser o maior país produtor de alimentos e bioenergia do planeta, sendo também o país mais sustentável dos grandes países populosos (não podemos nos comparar, por exemplo, com uma Noruega), com a maior porcentagem de áreas preservadas, uma biodiversidade pujante e geradora de inclusão.  

As estimativas mostram que para trazermos US$ 1,2 trilhão de dólares em exportações nos próximos 10 anos, além da produção para o mercado interno, precisamos de apenas mais 10 milhões de hectares, passando dos atuais 75 milhões para 85 milhões, o que daria apenas 10% da área do Brasil. Este crescimento deve ser feito sem a derrubada de uma árvore sequer, com um pequeno avanço sobre os quase 200 milhões de hectares de pastagens já existentes. 

O Brasil também hoje é visto como um dos países mais avançados na causa ambiental, com um código florestal que é benchmark no mundo e com mais de 60% de sua área totalmente preservada, como mostrou recentemente a Embrapa. O Brasil tem no RenovaBio a política de combustíveis renováveis mais forte do mundo, e é signatário de diversos acordos do clima sempre com papel preponderante. Há muito ainda por fazer, principalmente nas partes urbanas e reservas. 

Se todos nós queremos que a estrutura do Governo seja reduzida e fique mais eficiente e todos querem a redução de Ministérios, de 30 para 15, tem que se aceitar processos de fusão. Se toda vez que se propõe fundir Ministérios, vamos todos contra, então é impossível de se atingir o objetivo de diminuir Ministérios.

No caso da Agricultura e Meio Ambiente, é possível sim dar certo, desde que seja uma fusão, e não incorporação. Um novo Ministério que seja da Produção E Preservação, afinal, ambas devem caminhar juntas. 

Uma nova estrutura equilibrada até por que há muitas pautas de Meio Ambiente que não estão dentro da Agricultura (questões urbanas, de florestas, de clima, emissões de carbono), e vice-versa e tem que ser ágil para que o Brasil possa crescer mais rápido preservando cada vez mais. Agilidade não significa destruição. Ter secretarias fortes que atuam integradas, nos objetivos comuns e compatíveis de fazer o Brasil um “fornecedor mundial de alimentos” e “low carbon country”, “green country”. 

Tudo isto é absolutamente compatível num processo de fusão e não de incorporação, podendo dar certo com esta filosofia. O Brasil só ganha em ser o maior fornecedor de alimentos do mundo com as políticas mais sustentáveis e modernas existentes. Aliás, entre os grandes países populosos é o único que tem esta alternativa de diferenciação e posicionamento ainda na mesa. Os demais já destruíram quase tudo.

Contato: favaneves@gmail.com

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Fonte: Marcos Fava Neves

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