Nottus: Inverno mais frio se avizinha, mas sem grandes riscos à agricultura
Um inverno mais frio que os dos últimos dois anos e sujeito à ocorrência de geadas se avizinha, conforme indicam os padrões climáticos. Além do frio e geadas, podem ocorrer ainda chuvas atípicas durante o período. Essas previsões, contudo, estão longe de ser uma má notícia para os produtores rurais.
Com um inverno sob a vigência de um período de neutralidade climática – em que não vigoram os efeitos de La Niña nem de El Niño –, a expectativa é que o frio e eventuais geadas e chuvas atípicas não serão intensos a ponto de provocarem grandes prejuízos. A expectativa, pelo contrário, é que a safra desta estação transcorra sem sobressaltos na maior parte das regiões produtoras. Também não é esperado o quadro de queimadas registrado no ano passado, o que provocou diversos transtornos aos produtores rurais.
A neutralidade climática não significa, necessariamente, normalidade, pois outras variáveis atmosféricas podem atuar e provocar episódios atípicos — seja de excesso ou falta de chuva, ou mesmo de variações acentuadas de temperatura. Mesmo que de curta duração, esses eventos podem ocorrer em fases críticas das lavouras, causando prejuízos.
Outra característica da neutralidade climática é o frio conseguir avançar de forma mais continental pelo país. Com El Niño, as ondas de frio são mais espaçadas. E, em períodos de La Niña, essas massas de ar são mais frequentes, porém mais costeiras.
Até o momento, os modelos climáticos não apontam grandes riscos em relação às geadas, especialmente para cultura do café. Ainda que possa ocorrer queda acentuada de temperatura em áreas produtoras como no norte do Paraná, Minas Gerais e no norte de São Paulo, não estão previstas geadas fortes a ponto de queimar as plantações. Há sempre o risco, contudo, de as chuvas atípicas resultarem em alguma florada indesejada ou atrapalharem as fases de maturação, secagem e colheita dos grãos.
Também estão previstas geadas para o Sul, assim como já aconteceu nesse ano antes mesmo do início do inverno e que pode ser benéfico para os cultivos de inverno no Sul. Não se descarta que situações como essas ocorram em São Paulo na região do Cinturão Verde – as áreas ao sul do Estado em que são cultivadas hortaliças.
Na região Sul, são esperadas chuvas no inverno, sem a identificação, pelos modelos meteorológicos, de precipitações que ameacem culturas. A atenção fica para o trigo pelo possível excesso de chuva, que poderá ser prejudicial entre a fase vegetativa e a colheita.
Para o Sudeste e Centro-Oeste, a expectativa é de consolidação de um clima seco, sujeito à incidência de alguma chuva atípica. O ponto positivo é que não se espera a repetição do grande número de queimadas do ano passado. Em 2024, vale lembrar, as queimadas contaram com chuvas insuficientes durante o verão, o que fez com que o inverno tivesse início sob uma grande seca.
Regiões produtoras de cana-de-açúcar de São Paulo, Mato Grosso do Sul e do Triângulo Mineiro, que arderam no fogo em 2024, neste ano não deverão enfrentar o mesmo desafio. A expectativa é que essas áreas também contarão com chuvas – o que, se por um lado pode atrapalhar etapas da produção, por outra contribui como um aparato contra incêndios. Enfim, o inverno chega com um cenário típico para a estação, sem sustos para o agronegócio brasileiro.
Desirée Brandt é sócia-executiva e meteorologista na Nottus, Especialista na análise de indicadores e produção de boletins meteorológicos, já atendeu grandes veículos de imprensa. Possui vasta experiência em consultoria meteorológica voltada para agronegócios, além de trabalhos direcionados a outros setores como varejo e energia. É bacharel em Meteorologia pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).
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