Banco Mundial: Investidores saem pelo mundo em busca de terras

Publicado em 10/09/2010 14:00
O Brasil tem quase 15% das terras no mundo ainda não exploradas para a agricultura e
deve ser um dos alvos de investidores internacionais nos próximos anos. A avaliação é do Banco
Mundial que constata que, de olho em uma população cada vez maior e com uma renda cada vez
melhor, investidores estrangeiros e governos saem em busca de terras pelo mundo. Segundo a
entidade, 46,6 milhões de hectares de terras foram adquiridos por estrangeiros nos países em
desenvolvimento apenas entre outubro de 2008 e agosto de 2009. A área é superior a toda a região agricultável do Reino Unido, França, Alemanha e Itália.

Os dados fazem parte do primeiro levantamento feito pelo Banco Mundial sobre o volume de terras compradas no mundo por investidores nos últimos anos com a meta de produzir alimentos para abastecer seus próprios mercados.

Por enquanto, 70% desse total foi negociado com países africanos. Entre 2004 e 2008, o Sudão
transferiu para estrangeiros cerca de 4 milhões de hectares de terras. Na Libéria, a área chegou a 1,6 milhão, em comparação com 1,2 milhão na Etiópia, cuja população sofre de má nutrição crônica.

Dos 46,6 milhões de hectares vendidos, 3,6 milhões de hectares estavam no Brasil e Argentina. Há, ainda, o fenômeno de empresas brasileiras e argentinas adquirindo terras no Paraguai, Bolívia e
Uruguai.

Mas a projeção é de que a América Latina, e em especial o Brasil, seja alvo dessa estratégia de
investidores nos próximos anos. Dos 464 projetos de investimentos identificados no ultimo ano, 21% deles ocorreram já no Brasil e Argentina.

O interesse pelo Brasil está explicado tanto pela quantidade de terra disponível como pela
produtividade que proporciona. O Banco Mundial estima que existam hoje no mundo 440 milhões de hectares de terras aráveis que poderiam ser aproveitadas, sem a destruição de florestas. Desse total, 45 milhões de hectares estariam no Brasil. Se usada, a terra disponível representaria uma expansão de 72% na área cultivada no Brasil.

Outros 130 milhões de hectares no País estariam cobertos por florestas, mas não protegidas.
Contando a área florestal e a que já não conta com a vegetação, o Brasil teria quase 15% do território ainda disponível no planeta para agricultura.

Pelas estimativas do Banco Mundial, a produção de cana-de-açúcar no Brasil pode saltar de 8,1
milhões de hectares para quase 18 milhões de hectares. O país com a possibilidade de chegar mais
perto da área plantada no Brasil para a cana seria a Republica Democrática do Congo, com uma área potencial de 6,5 milhões de hectares. A instabilidade política e as recentes acusações de crimes contra a humanidade, no entanto, dificultam qualquer tipo de investimento no país africano.

Na produção de soja, a estimativa é de que o Brasil tem espaço para dobrar ainda sua área plantada, com mais 22,1 milhões de hectares à disposição. Na Argentina, a produção poderia ser incrementada em 9,7 milhões de hectares. Já no Sudão, outro país que vive em um estado de guerra desde 2003, o potencial é de que 13 milhões de hectares pudessem ser cobertos pela soja.

Hoje, o maior produtor de soja do mundo - os Estados Unidos - planta anualmente cerca de 30 milhões de hectares. Mas a possibilidade de expansão é de apenas 2,5 milhões de hectares.

Origem

Grande parte dos investidores é de origem chinesa e dos países árabes, ávidos para encontrar um
fornecimento confiável de alimentos para suas populações. O governo chinês, no fim do ano passado, já indicou que estava negociando a compra de terras no Brasil. Líbia e outros países árabes já entraram em contato com produtores no Brasil em busca de acordos. Mas, por enquanto, o grande 'safári' está mesmo ocorrendo na África, com países sem recursos e um setor privado incapaz de investir na terra disponível.

Uma das constatações do Banco Mundial, porém, é de que uma série de regras e condições devem ser criadas para impedir que a venda de terras a estrangeiros acabe enfraquecendo o controle do governo sobre seu próprio território.

Para o Banco Mundial, esses investimentos podem se transformar em boas oportunidades para os
países mais pobres. Mas a compra de terras precisa ser revertida em benefícios também para as
populações locais. Um dos alertas é de que a compra de terras por estrangeiros não pode prejudicar a capacidade dos países de alimentar sua população, exatamente em um momento que os preços de commodities voltam a subir e protestos eclodem em diferentes partes do mundo por conta da inflação no setor da alimentação. Outra preocupação é com o impacto ambiental dos investimentos.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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