Soja: Mesmo após USDA baixista, fundamentos continuam fortes

Publicado em 11/02/2013 14:28 e atualizado em 12/02/2013 09:17
Por Liones Severo, de Porto Alegre.
O relatório do USDA, divulgado sexta-feira (dia 8 )  não trouxe os esperados ajustes da produção sul-americana de soja, frustrando as expectativas dos operadores e investidores..., promovendo, com isso, forte liquidação dos contratos de soja na Bolsa de Chicago. 
Há algumas semanas, operadores vinham ajustando suas posições para uma inevitavel redução no resultado da produção de soja sul-americana, basicamente operando spreads (vendendo contratos de trigo/milho e, em contrapartida, comprando soja). O mercado é muito rapido, dinâmico, e a partir da divulgacao do relatório, os investidores/traders reverteram as negociações dos spreads... que resultou numa forte venda dos ativos de soja no mercado de Chicago. (Na tarde de sexta -- logo apos a divulgacao do relatorio --, e nesta segunda-feira, em continuidade `a mudanca de posicao).

No entanto, o fundamento mais significativo fica por conta da reduzida oferta americana, que atualmente já vendeu 93,5 pct dos seus excedentes exportáveis de soja, restando apenas 2.4 milhões de tons para serem negociadas para exportação, volume que fora projetado para ser consumido até de 31 de agosto de 2013. 

Indiscutivelmente, os americanos não terão produtos (soja e derivados) para atender `a demanda mundial, que historicamente concorre com os embarques de soja sul-americana, até a entrada da próxima safra americana de soja, ou seja, setembro e outubro de 2013.

O aspecto mais relevante é o atraso dos embarques de soja e produtos através de portos brasileiros, que estão congestionados,  e com previsões de atrasos de 40/50 dias para concluir embarques em escala (que deveriam ser realizados entre os meses de fevereiro e março, e que poderá se estender para abril e maio, na melhor das hipóteses)...  

Esta situação é inédita em toda a história do fluxo de produto para o suprimento mundial. Como não existe  histórico sobre esta nova situação, a interpretação do mercado mundial  não considera este fator como decisivo para transferência de demanda para o já esgotado mercado americano, dificultado assim, o ajuste dos preços na Bolsa de Chicago.

Os mercados tem sido contemplativos com situações que não tem conhecimento ou  comprovações históricas. Assim aconteceu com a grande crise financeira/econômica americana de 2008, e assim aconteceu com a derrocada das economias da União Europeia. 

Portanto, estão sendo ensaiados para o mercado de commodities agrícolas o mesmo cenário, a mesma situação, de os operadores não se prevenirem sobre provável situação de desabastecimento de alimentos a nível global por desconhecerem os fatos relacionados acima... 

Nosso entendimento é que a questão alimentar não irá obedecer os mesmos critérios  da crise financeira, pois a alimentação 'e uma questão de segurança mundial e de estabilidade politica dos povos, pois ela e' quem garante uma dieta/e/ou/energia consumida por todos o seres humanos, todos os dias. 

A dificuldade de absorver as questões de valor presente do prejudicado fluxo de suprimento de alimentos a nível global, resultará num mercado de preços extremamente volátil... até o confronto de escassez física, que deverá direcionar os preços para um patamar de racionamento no curto/médio prazos.

À considerar, ainda, que os produtores brasileiros já comprometeram uma boa parte da safra..., praticamente inexistindo assim a necessidade de oferecerem novas de vendas capazes de promover pressões de baixa nos preços de mercado. 

Portanto, a expectativa dos mercados consumidores e investidores -- de uma safra recorde sul-americana -- transforma-se numa questão acadêmica, muito distante da realidade e da máxima segundo a qual "safra grande é a que chega, a tempo, para abastecer as necessidades dos mercados consumidores"....

As demais implicações da atual volatilidade dos preços ficam por conta do ajuste que o USDA fez no mês de dezembro, quando ajustou para maior (em cerca de 10 milhões de tons) a safra mundial de soja, promovendo grandes perdas para investidores e operadores de mercado --, tornando-se uma ameaça constante para aqueles que constroem suas posições de cobertura antecipadas baseados em dados e avaliações de safras reportados pelos respectivos governos de países produtores.

É importante notar que somente a China consome cerca de 30% do total da  soja produzida por Estados Unidos, Brasil e Argentina... Suas importações de soja correspondem a cerca de 21 milhões de hectares de plantação de soja, com projeções de fortes aumentos anuais e, sem acrescentar o aumento de demanda de outros países de economias emergentes da Ásia e da África, cujas economias em expansão acusam forte desempenho de crescimento para os próximos 5/6 anos. 

Portanto, mesmo com safras de soja recordes nos 2 hemisférios, será muito difícil reconstruir estoques a nível de conforto nos próximos 3 a 5 anos.

Vejam que o crescimento populacional dos países emergentes continuam fortes:


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Fonte: NA

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