Helicoverpa armigera: ameaça internacional, por José Fernando Jurca Grigolli

Publicado em 30/07/2013 11:18
José Fernando Jurca Grigolli é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV, 2009), mestre em agronomia - produção vegetal - pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP, 2012) o doutor em andamento em agronomia (entomologia agrícola) também pela UNESP. Na Fundação MS, ocupa o cargo de pesquisador de fitossanidade.

Muitos produtores estavam se programando para a safrinha 2013 e para a safra 2013/14 quando as notícias sobre uma nova praga na agricultura brasileira colocaram vários planos por terra. As reportagens de que uma praga exótica no Brasil chegou às lavouras da Bahia e devastou cultivos de algodão causaram ainda mais apreensão para os “trabalhadores do campo”, sejam eles produtores, consultores ou pesquisadores.

Como pesquisador, logo iniciei pesquisas sobre qual era a praga, de onde veio, como ela é, qual o seu potencial de dano e como podemos manejá-la. Logicamente, perguntas difíceis de serem respondidas para qualquer praga, ainda mais para uma praga recém-detectada no Brasil.

A primeira pergunta foi bem simples de ser respondida quando li um trabalho escrito por Czepak e colaboradores (2013), relatando cientificamente o primeiro registro de Helicoverpa armigera no Brasil. Para mim ficou muito claro que se tratava da tão temida praga. A busca da segunda resposta deixou evidente que a tarefa não seria fácil. Não se sabe como esta praga chegou ao país. Existem diversas teorias, como bioterrorismo e alta capacidade de migração, mas nenhuma confirmada oficialmente.

Por se tratar de uma praga nova no cenário agrícola brasileiro, e claramente com enorme potencial de dano, é essencial saber diferenciar esta de outras espécies, para realizar o controle mais eficiente. Assim, recorri novamente à literatura, quando vi o primeiro problema: a distinção entre Heliothis virescens (lagarta da maçã), Helicoverpa zea (a lagarta da espiga do milho que estamos acostumados a ver) e a Helicoverpa armigera é difícil. Mas podemos pelo menos definir qual o gênero se observarmos as pontuações pretas ao longo do corpo das lagartas, a lagarta da maçã apresenta microespinhos nas pintas, enquanto as lagartas do gênero Helicoverpa apresentam as pontuações pretas ao longo do corpo das lagartas sem microespinhos.

Esta praga é polífaga, se alimentando de diversas culturas, como algodão, soja e milho. Não há dúvidas de que Helicoverpa armigera é uma praga de altíssimo potencial de dano, sendo considerada praga-chave de diversas culturas em outros países. Na Austrália há um intenso programa de manejo de pragas em função deste inseto e nos EUA, apesar de não terem esta praga relatada oficialmente, já há uma série de estudos envolvendo as formas de controle deste inseto.

Em condições brasileiras, é possível que essa praga tenha até nove gerações por ano, evidenciando a capacidade reprodutiva e o potencial de dano de H. armigera. Pelo menos 14 Estados do Brasil estão infestados pela praga, dentre eles Mato Grosso do Sul, Bahia, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Maranhão, Piauí, entre outros (Degrande 2013, informação pessoal). Os ataques desta praga já foram relatados principalmente na cultura do algodão. No oeste da Bahia, foram observadas perdas de 15 @ ha-1 no algodão, em São Paulo 70% do feijão foi atacado por Helicoverpa armigera e em Mato Grosso do Sul foram registradas perdas de 10 a 15 @ ha-1 no algodão.

O controle desta praga passa por uma série de recomendações. O calendário de plantio deve ser rigorosamente seguido, de acordo com as recomendações para cada região. O vazio sanitário também deve ser seguido, de modo que a destruição de soja seja realizada de forma adequada. A adoção do refúgio é essencial para o controle desta praga. O uso adequado de inseticidas é uma estratégia fundamental. O nível de controle para esta praga deve ser seguido, bem como o momento de aplicar os inseticidas. Independente do produto utilizado, sua eficiência é maior quando as lagartas são pequenas (até 7 mm). Nesse aspecto, adota-se o nível de controle para a soja na fase vegetativa quatro lagartas menores que 7 mm por metro de linha ou 30% de desfolha; para a fase reprodutiva, uma lagarta menor que 7 mm por metro de linha ou 15% de desfolha. É importante ressaltar que a amostragem deve considerar, além do pano de batida, a avaliação visual das plantas em um metro de linha, pois a técnica do pano de batida pode ser ineficiente para as lagartas pequenas de H. armigera.

Quanto aos inseticidas para o controle químico de H. armigera, o único inseticida registrado para seu controle pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é o inseticida Belt® (Flubendiamida) na dose de 50 a 70 ml ha-1 para a cultura da soja. Além deste inseticida, o ato nº 15, de 14 de março de 2013 da Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins do MAPA, permitiu em caráter emergencial os inseticidas à base de Clorantraniliprole na dose de 50 ml ha-1; Clorfenapyr nas doses de 1,0 a 1,2 L ha-1; Indoxacarbe (dose para a soja não definida pela publicação oficial); Bacillus thuringiensis na dose de 500 g ha-1; e vírus VPN-HzSNPV (Baculovírus) na dose de 200 a 375 ml ha-1. No entanto, a Fundação MS recomenda que os produtores procurem o responsável técnico de suas lavouras para o correto uso dos inseticidas, bem como o MAPA para apoio legislativo quanto à utilização dessas substâncias.

Além das medidas de controle acima citadas, é essencial o treinamento de técnicos de campo para realizarem a correta identificação das pragas da lavoura e intensificar a amostragem nos talhões.

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Fonte:
Fundação MS

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