Política indigenista no Brasil, por Valdir Colatto

Publicado em 04/10/2013 11:58 e atualizado em 04/10/2013 16:56
Valdir Colatto é deputado federal pelo PMDB/SC e membro da Frente Parlamentar da Agropecuária.

A questão indígena no Brasil tem gerado impasses, conflitos e principalmente insegurança para as famílias que vivem em suas pequenas propriedades há muito tempo. A demarcação de muitas delas tem sido feita de forma irresponsável e, muitas vezes, utilizando laudos antropológicos falsos. Isso tem feito com que os proprietários rurais que produzem e vivem em suas terras, paguem a conta pelas indecisões do Governo ao tratar do assunto.

Frente à insegurança jurídica causada pelas expropriações e as interpretações errôneas ao Artigo 231 da Constituição Federal, que trata da demarcação de terras, têm-se gerado conflitos e os agricultores se veem refém da situação.

É importante que se perceba a incoerência: gasta-se dinheiro para expropriar agricultores em detrimento dos indígenas que não vão produzir e depois ainda é necessário comprar áreas de terra para assentar esses mesmos agricultores em outro lugar. Não seria mais fácil comprar áreas de terra e assentar esses índios que estão lá?

Lideranças indígenas kaingangues do oeste catarinense já se manifestaram contra a forma da Fundação Nacional do Índio (Funai) em questões como a de ampliação de terras indígenas. Eles foram claros ao dizer que não querem mais terras, querem o que é de direito e mais respeito. Querem, sim,
qualidade de vida. Os índios querem políticas públicas para sobreviver exercitando o livre arbítrio como brasileiros que são. O que é urgente é dar
condições de saúde, educação, moradia de qualidade e a garantia de sustento para os povos indígenas. Não é ser contra os indígenas, mas sim lutar para fazer valer o direito de propriedade e o que rege a Constituição Brasileira.

Os debates sobre a questão indígena têm avançado. Recentemente avançou-se na criação da Comissão Especial que discutirá a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000. Esta PEC inclui dentre as competências exclusivas do Congresso Nacional a aprovação de demarcação das terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios e a ratificação das demarcações já homologadas; estabelecendo que os critérios e procedimentos de demarcação sejam regulamentados por lei.

Através dessa Comissão Especial, será discutido esse problema indígena no Brasil, a questão do direito de propriedade, criar uma política indigenista
para o Brasil, para que os mesmos não sejam usados. O objetivo é que se tenha, enfim, uma discussão aberta com a sociedade brasileira sobre o tema. A sociedade terá que decidir o que fazer e o Congresso Nacional tem a missão de encontrar uma solução legislativa que será tratada nos meios judiciais sobre essa questão que afeta todo o Brasil. Esperamos que não haja manipulação e que não sejam usados para questões eleitoreiras ou no
interesse de poucos.

Os dados impressionam e são um alerta a todos. O Brasil tem 12,7% do território com áreas indígenas para um universo de aproximadamente 817 mil
índios. Os 5,2 milhões estabelecimentos rurais do país ocupam 38,8% do Brasil. Os índios representam 0,43% da população e a Funai pretende a
criação de mais 611 reservas, aumentando ainda mais a área pertencente aos índios, chegando a 25% das terras brasileiras. São 423 áreas indígenas
regularizadas no país, 38 reservas indígenas, 30 áreas delimitadas, 48 áreas declaradas, 15 áreas homologadas e 123 áreas em estudo. Em Santa Catarina são 26 áreas que estão em processo de estudo e ocupação. Em SC, dados do Censo 2010, do IBGE, apontam que habitam 16 mil indígenas. Se considerar a ampliação pretendida, o Estado chegaria a ter 1,8 milhão de hectares de área indígena, ou seja 20% de SC.

É claro, notório e errôneo o trabalho de algumas ONGs (nacionais e internacionais) e também dos órgãos como o Conselho Indigenista Missionário
(Cimi), Conselho Mundial Indigenista (CNI) e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Esses organismos e instituições fazem apologia  de que, no Brasil, todas as terras são dos índios. O problema não é terra e sim a falta de uma política indigenista eficiente, que dê condições para o índio viver e não perambular pelas cidades, pelas ruas, como pedintes. Hoje, 65% dos indígenas recebem o bolsa-família.

Não se questiona que as terras indígenas, de que trata a Constituição de 1988, pertençam a eles. Entretanto, em relação àquelas que são dos
produtores, há que ser aplicado o mesmo direito e a legitimidade, preservando o direito de propriedade de ambos.

É de fundamental importância essa discussão sobre a questão indígena e que a mesma seja conduzida da forma como foi feita com o Código Florestal
Brasileiro. No início ninguém sabia o que era Área de Preservação Permanente e Reserva Legal. Discutiu-se abertamente e foi aprovado o que é hoje a Lei nº 12.651, de 2012, o novo Código Florestal Brasileiro. É imprescindível que se aprove uma política indigenista para que o Brasil e os brasileiros, quer sejam os agricultores ou os índios, tenham os mesmos direitos e a garantia do direito de propriedade.

Tags:

Fonte: Valdir Colatto

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Exportações do agro com resultados impressionantes, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Meio ambiente: Nós protegemos! Por José Zeferino Pedrozo
Que Momento Impressionante ao Agronegócio, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Boas Condições para 2021 ser Ano de Tratoraço no Agro, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
A Encruzilhada: Contingenciamento das exportações ou Convulsão Social? Por Eduardo Lima Porto