Produtores fiquem atentos às recomendações, quem paga a conta são vocês, por Glauber Silveira

Publicado em 27/06/2014 14:31 e atualizado em 01/07/2014 15:47
Por Glauber Silveira é Presidente da Câmara Setorial da Soja, Diretor da Aprosoja e produtor rural em Campos de Júlio-MT.

Estamos acompanhando um retrocesso na agricultura brasileira, o que chamamos de intermediação técnica, ou seja, a assistência técnica tão importante ao produtor tem sido realizada por agentes errados. E esta assistência que está chegando ao produtor e que deveria ser positiva e instrutiva tem sido realizada principalmente por vendedores de defensivos, que tem acima de tudo um interesse primordial, vender produtos e ganhar comissão.

O reflexo desta intermediação técnica fica evidente nos custos de produção, que se refletem diretamente nos custos com defensivos. Veja que para a próxima safra temos um custo de R$ 603,64 por hectare para Mato Grosso, com preços estimados para a próxima safra de R$ 50,00. Temos um desembolso de 12 sacas de soja para pagar os custos com inseticidas, herbicidas e fungicidas, lembrando que, historicamente, os custos sempre foram em torno de 6 a 7 sacas.

Claro que parte deste incremento de custo é reflexo da ferrugem asiática, da helicoverpa etc, além da falta de novos produtos mais eficientes, a morosidade dos registros tem causados danos ao produtor. Pelo que tenho visto a campo e acompanhamos pelo projeto Soja Brasil, pode-se dizer que de 3 a 4 sacas de soja estão indo para o ralo em custos devido ao mau posicionamento de defensivos ou seu uso indevido, seguido recomendação de revendas e multinacionais que tem por objetivo um só, vender e vender para auferir lucro.

É importante deixar claro que existem revendas e multinacionais com comportamento ético, que realizam um belo trabalho de orientação ao produtor> Porém, o que deveria ser regra tem se tornado exceção, e os jovens “vendedores” que deveriam estar realmente orientando, ajudando no manejo de pragas, tem se aproveitado da insegurança e falta de conhecimento dos produtores para vender fórmulas mirabolantes e empurrar diversas aplicações que sabe-se lá se são ou não necessárias. Isto tem afetado o custo e o manejo das culturas para o futuro.

A assistência técnica que era realizada por instituições de pesquisa, fundações, Embrapa, Emater, Empaer etc nos últimos anos por falta de recursos e direcionamentos tem sido levada quase a extinção, e isto tem sido prejudicial ao produtor. Afinal, aquela informação ou recomendação que seria ética e baseada principalmente no custo/benefício hoje tem se tornado uma raridade.

Por outro lado, os produtores possuem sua parcela de culpa, pois prestigiam mais um evento realizado por uma empresa ou multinacional que quer lhe apresentar um novo produto ou máquina, do que ir a um evento de uma instituição sem fins lucrativos cujo objetivo é lhe dar a orientação desvinculada. Recordo-me dos eventos da Fundação-MT, no Mato Grosso, onde os produtores se reuniam e trocavam experiências. Com isso, veja o ganho que tivemos, mas hoje nestes eventos poucos produtores comparecem, no máximo mandam seu técnico de campo.

A intermediação técnica tem sido um problema que tem gerado custos, danos ambientais e de sobrevivência das tecnologias. É preciso gerenciar com muita cautela custos que crescem a cada safra e ultrapassam 12 sacas por hectare como no caso dos defensivos, custos esses que temos visto em alguns casos chegar a 15 e 16 sacas por hectare. Para um produtor que planta mil hectares, estamos falando de pelo menos quatro mil sacas de soja de custos que deveriam ou não serem realizados.

Uma das alternativas a este problema tem sido a recomendação da Aprosoja de formação de grupos regionais para discussão técnica, e também a contratação de técnico em conjunto para buscar ter uma assistência desvinculada, mas é preciso tomar cuidado e ficar de olho. Se o seu técnico for convidado para ir a pescarias, o que chamo de “pega pato”. Elas custam caro para seu bolso! infelizmente neste mundo capitalista a “venda” tem sobressaído à ética.

Precisamos cobrar das nossas instituições eventos técnicos,como foi à caravana da Embrapa na safra anterior, para que nos orientem sobre a real necessidade e o melhor manejo de controle. Mas, nós produtores devemos também priorizar buscar a informação correta e desvinculada. Não podemos ter somente a recomendação de defensivos do vendedor-empurrador. Isso tem sido uma tragédia para o manejo das culturas e para nosso bolso.

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Fonte: Aprosoja Brasil

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