Porque o agronegócio prefere Aécio, por Flávio França Junior

Publicado em 10/10/2014 18:04
Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria

Nas minhas mais recentes andanças pelo Brasil “adentro”, pude observar que a maioria esmagadora do agronegócio brasileiro apoia o senador mineiro Aécio Neves na disputa para as eleições presidenciais com a presidente Dilma Rousseff. Um sentimento generalizado de anseio por mudanças, que representam uma mistura de cansaço, indignação e revolta, bem ao estilo fora-Dilma, ou fora-PT, como preferirem. Cá com os meus botões, comecei a refletir sobre o porquê desse sentimento de total aversão ao atual governo. Porque tanta certeza de que o melhor para o setor e para o país é a vitória da oposição?

Busquei trazer elementos para uma análise ponderada, sobre o atual momento da história brasileira, tentando extrair as paixões que normalmente envolvem debates de natureza política. E para começar fui avaliar se o governo do PT pode ser considerado como ruim para o agronegócio. E minha humilde percepção é de que não. Os últimos 12 anos de governo do PT não foram ruins para o agronegócio brasileiro. Insuficiente talvez, parcial talvez, antagônico em muitos momentos. Mas ruim não foi. Vamos a alguns números para justificar esse meu pensamento: 

•    No último plano safra do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, referente à safra 2002/03, foram disponibilizados R$ 21,7 bilhões ao setor. No pacote da safra 2014/15 esse volume chegou a R$ 180,2 bls, com aumento de 730%.

•    A taxa de juros para a maior parte do crédito agrícola estava em 8,75% ao ano, contra os atuais 5,5 a 6,5%. E os limites de financiamento dos principais produtos agrícolas subiram de R$ 150 a R$ 400 mil por produtor, para R$ 1.100 mil.

•    No período houve a separação de planos para a chamada Agricultura Empresarial, comandado pelo Ministério da Agricultura, e a Agricultura Familiar, comandado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, na minha visão um dos maiores acertos do governo petista em relação ao setor. 

•    Tivemos a regulamentação, aprovação e liberação do uso de variedades transgênicas no país, depois de se arrastar por anos nas gavetas de Brasília.

E também a aprovação do novo Código Florestal, que apesar das polêmicas e limitações, foi considerado positivo para o setor e é, provavelmente, um dos mais modernos em vigor em todo o mundo. 

•    Foram criados inúmeros programas de investimento, de onde destacamos o Pronamp, de apoio ao médio produtor e aos programas de recuperação e fomento para as cooperativas brasileiras.

•    Como resultado a produção de cereais e oleaginosas saiu de 117,5 milhões de toneladas em 2003 para a projeção de 200,0 mls de t para 2015, com expressivo aumento de 70%. Importante lembrar que no período a área plantada avançou apenas 31%, de 42,6 mls para 55,8 mls de hectares, mostrando o claro avanço da produtividade média. 

Mas se o período em questão não foi ruim para o setor, porque tanta aversão à possibilidade de mais um mandado da presidente Dilma? Dentro do setor algumas observações são pertinentes, podendo explicar parcialmente esse sentimento:

•    O aumento crescente da insegurança no campo em relação à propriedade e ao uso da terra, com sérias restrições do setor ao processo vigente de reforma agrária.

•    Especialmente no que diz respeito ao modelo equivocado de administração da questão indígena, notadamente quando o assunto é a demarcação de terras.

•    Ambas as questões levaram ao aumento dos conflitos e da violência no campo. 

•    O abandono à própria sorte do setor de bionergia, notadamente no caso do setor sucroalcooleiro.

•    A manutenção do elevado custo Brasil, especialmente ligado aos gargalos de infraestrutura do país, como nas logísticas de transporte, armazenagem e escoamento dos portos.

Por si só esses já são motivos concretos para provocar parcialmente a falta de apoio do setor ao governo, que tem naturalmente um sentimento anti-petista. Mas em minha opinião, a motivação talvez venha mais de fora do que dentro do setor, acompanha o sentimento da maioria dos brasileiros e pode ser resumida em três grandes frentes: 1) absoluta incapacidade em conter o avanço da corrupção, que já andava solta nos anos finais do governo FHC, mas que assumiram proporções ainda maiores nesses últimos anos; 2) exagerado aparelhamento do Estado, resultando em altos custos e baixo nível de eficiência (em sã consciência, alguém acha possível governar um país com 39 ministérios?!?! Sou capaz de apostar que a presidente não saberia de improviso nomear todos os seus ministros e seus respectivos ministérios. Em 2002 o Brasil tinha 883 mil servidores públicos federais e em 2014 esse número saltou para 2.040 mil pessoas, aumento de 131%!!!!); 3) e no campo econômico, falha relativa na condução da política cambial, e falha brutal na condução da política fiscal (vide o aparelhamento do estado), resultando no pior dos mundos em termos de economia, que é a combinação de estagnação econômica com inflação, também chamada de estaginflação.

Sei que esse comentário pode desagradar a muitos dos meus amigos leitores, mas meu papel aqui não é agradar ou desagradar ninguém. Meu objetivo é contribuir para o debate civilizado e racional de um tema cercado de nuances ideológicos e emocionais. Mas apesar de acreditar que foi notável o avanço social do país nesses últimos 12 anos, e entender que a vitória da oposição em 2002 talvez tenha sido necessária para a consolidação da democracia e da sociedade brasileira, penso que esse ciclo deveria ter se encerrado há quatro anos. Por isso vou com a grande maioria do agronegócio brasileiro, e acredito que também com a maioria da população brasileira, entendendo que neste momento, para avançar, precisamos mudar. Ou, como me disse um amigo próximo, que nunca perde o senso de humor, “está na hora de mudar a quadrilha”. 

Um “Agroabraço” a todos!!!

Flávio Roberto de França Junior

www.francajunior.com.br e francajunior@francajunior.com.br 

 

Tags:

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Exportações do agro com resultados impressionantes, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Meio ambiente: Nós protegemos! Por José Zeferino Pedrozo
Que Momento Impressionante ao Agronegócio, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Boas Condições para 2021 ser Ano de Tratoraço no Agro, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
A Encruzilhada: Contingenciamento das exportações ou Convulsão Social? Por Eduardo Lima Porto