Porque o agronegócio prefere Aécio, por Flávio França Junior
Nas minhas mais recentes andanças pelo Brasil “adentro”, pude observar que a maioria esmagadora do agronegócio brasileiro apoia o senador mineiro Aécio Neves na disputa para as eleições presidenciais com a presidente Dilma Rousseff. Um sentimento generalizado de anseio por mudanças, que representam uma mistura de cansaço, indignação e revolta, bem ao estilo fora-Dilma, ou fora-PT, como preferirem. Cá com os meus botões, comecei a refletir sobre o porquê desse sentimento de total aversão ao atual governo. Porque tanta certeza de que o melhor para o setor e para o país é a vitória da oposição?
Busquei trazer elementos para uma análise ponderada, sobre o atual momento da história brasileira, tentando extrair as paixões que normalmente envolvem debates de natureza política. E para começar fui avaliar se o governo do PT pode ser considerado como ruim para o agronegócio. E minha humilde percepção é de que não. Os últimos 12 anos de governo do PT não foram ruins para o agronegócio brasileiro. Insuficiente talvez, parcial talvez, antagônico em muitos momentos. Mas ruim não foi. Vamos a alguns números para justificar esse meu pensamento:
• No último plano safra do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, referente à safra 2002/03, foram disponibilizados R$ 21,7 bilhões ao setor. No pacote da safra 2014/15 esse volume chegou a R$ 180,2 bls, com aumento de 730%.
• A taxa de juros para a maior parte do crédito agrícola estava em 8,75% ao ano, contra os atuais 5,5 a 6,5%. E os limites de financiamento dos principais produtos agrícolas subiram de R$ 150 a R$ 400 mil por produtor, para R$ 1.100 mil.
• No período houve a separação de planos para a chamada Agricultura Empresarial, comandado pelo Ministério da Agricultura, e a Agricultura Familiar, comandado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, na minha visão um dos maiores acertos do governo petista em relação ao setor.
• Tivemos a regulamentação, aprovação e liberação do uso de variedades transgênicas no país, depois de se arrastar por anos nas gavetas de Brasília.
E também a aprovação do novo Código Florestal, que apesar das polêmicas e limitações, foi considerado positivo para o setor e é, provavelmente, um dos mais modernos em vigor em todo o mundo.
• Foram criados inúmeros programas de investimento, de onde destacamos o Pronamp, de apoio ao médio produtor e aos programas de recuperação e fomento para as cooperativas brasileiras.
• Como resultado a produção de cereais e oleaginosas saiu de 117,5 milhões de toneladas em 2003 para a projeção de 200,0 mls de t para 2015, com expressivo aumento de 70%. Importante lembrar que no período a área plantada avançou apenas 31%, de 42,6 mls para 55,8 mls de hectares, mostrando o claro avanço da produtividade média.
Mas se o período em questão não foi ruim para o setor, porque tanta aversão à possibilidade de mais um mandado da presidente Dilma? Dentro do setor algumas observações são pertinentes, podendo explicar parcialmente esse sentimento:
• O aumento crescente da insegurança no campo em relação à propriedade e ao uso da terra, com sérias restrições do setor ao processo vigente de reforma agrária.
• Especialmente no que diz respeito ao modelo equivocado de administração da questão indígena, notadamente quando o assunto é a demarcação de terras.
• Ambas as questões levaram ao aumento dos conflitos e da violência no campo.
• O abandono à própria sorte do setor de bionergia, notadamente no caso do setor sucroalcooleiro.
• A manutenção do elevado custo Brasil, especialmente ligado aos gargalos de infraestrutura do país, como nas logísticas de transporte, armazenagem e escoamento dos portos.
Por si só esses já são motivos concretos para provocar parcialmente a falta de apoio do setor ao governo, que tem naturalmente um sentimento anti-petista. Mas em minha opinião, a motivação talvez venha mais de fora do que dentro do setor, acompanha o sentimento da maioria dos brasileiros e pode ser resumida em três grandes frentes: 1) absoluta incapacidade em conter o avanço da corrupção, que já andava solta nos anos finais do governo FHC, mas que assumiram proporções ainda maiores nesses últimos anos; 2) exagerado aparelhamento do Estado, resultando em altos custos e baixo nível de eficiência (em sã consciência, alguém acha possível governar um país com 39 ministérios?!?! Sou capaz de apostar que a presidente não saberia de improviso nomear todos os seus ministros e seus respectivos ministérios. Em 2002 o Brasil tinha 883 mil servidores públicos federais e em 2014 esse número saltou para 2.040 mil pessoas, aumento de 131%!!!!); 3) e no campo econômico, falha relativa na condução da política cambial, e falha brutal na condução da política fiscal (vide o aparelhamento do estado), resultando no pior dos mundos em termos de economia, que é a combinação de estagnação econômica com inflação, também chamada de estaginflação.
Sei que esse comentário pode desagradar a muitos dos meus amigos leitores, mas meu papel aqui não é agradar ou desagradar ninguém. Meu objetivo é contribuir para o debate civilizado e racional de um tema cercado de nuances ideológicos e emocionais. Mas apesar de acreditar que foi notável o avanço social do país nesses últimos 12 anos, e entender que a vitória da oposição em 2002 talvez tenha sido necessária para a consolidação da democracia e da sociedade brasileira, penso que esse ciclo deveria ter se encerrado há quatro anos. Por isso vou com a grande maioria do agronegócio brasileiro, e acredito que também com a maioria da população brasileira, entendendo que neste momento, para avançar, precisamos mudar. Ou, como me disse um amigo próximo, que nunca perde o senso de humor, “está na hora de mudar a quadrilha”.
Um “Agroabraço” a todos!!!
Flávio Roberto de França Junior
www.francajunior.com.br e francajunior@francajunior.com.br