Os efeitos Aécio-Dilma sobre o mercado, por Flávio França Jr
Prezados amigos. Nesta última semana estivemos em Guarapuava/PR onde participamos de dois debates com produtores da região promovidos pela Aprosoja-Brasil e Aprosoja-Paraná, em conjunto com o Canal Rural. O sucesso de ambos os eventos pode ser medido pelo grande número de participantes, pelo alto interesse e pelo elevado nível dos debates ocorridos, e que certamente contribuíram para o conhecimento geral. Especialmente na questão do entendimento dos diversos aspectos da economia e das tendências de mercado de grãos, que foram as áreas cobertas pela minha participação. E o fato de ter sido convidado de última hora para substituir outro painelista que deixou a organização do evento “na mão” (como isso pode acontecer?!?!), será assunto para outro texto.
Além de comentar as principais projeções econômicas a nível mundial e nacional, e traçar os cenários de mercado para este final de 2014 e, especialmente, para o binômio 2015-16 (os quais vocês podem acompanhar com detalhes em nosso site www.francajunior.com.br), houve grande questionamento por parte dos presentes, sobre o que seriam afinal os chamados efeito-Aécio e efeito-Dilma sobre o mercado financeiro e a economia em geral. Afinal, porque a eleição de Aécio Neves tenderia a trazer calmaria para o câmbio e otimismo para o mercado de ações?
Para explicar o que são e quais os impactos desses “efeitos”, primeiro é preciso entender que eles estão relacionados essencialmente à questão econômica, de forma aproximadamente pura, ficando de fora os aspectos ideológicos da discussão e o aspecto moral que envolve o significado de uma ou de outra candidatura. Em outras palavras, nessa percepção de mercado não importa se o novo governo será socialista, social-democrata, de esquerda, de centro, de direira, populista, ou qualquer outra classificação alternativa. E não se discute se a continuidade do atual governo traria a perpetuação da brutal onda de corrupção a que vamos sendo apresentados quase que diariamente nesses últimos anos.
A percepção do mercado de forma generalizada, valendo tanto para a parcela doméstica, como para a internacional, é a de que a reeleição da presidente Dilma Rousseff traria a continuidade do atual modelo de política econômica para o país, considerado desastroso pela grande maioria dos agentes, e que levou o Brasil para a condição de estaginflação (recessão econômica com inflação). A questão central aqui é duvidar que ocorram ajustes e mudanças significativas nas diversas categorias que compõem o que chamamos de política econômica, ou seja, política fiscal, política monetária, política externa (que engloba as políticas comercial e cambial) e a política de rendas. Portanto, a sensação é de que o país continuaria ladeira abaixo, com queda no mercado de ações e altas especulativas na taxa de câmbio. Ou alguém imagina que na segunda-feira, caso reeleita, a presidente vai anunciar mudança radical em algum desses aspectos?
Já o chamado efeito-Aécio teria repercussão inversa, com provável melhora geral do humor no mercado, alta no mercado acionário e diminuição da parte doméstica do recente nervosismo da taxa de câmbio (as atenções neste caso ficariam mais restritas ao andamento da economia mundial e a possibilidade de novas altas do dólar no mercado internacional). Em outras palavras, a aposta do mercado seria em mudança radical de política econômica a partir do início de 2015, para tentar recolocar o país nos trilhos. E essas mudanças esperadas envolveriam de forma resumida, os seguintes aspectos:
• Política fiscal (é a administração de receitas e despesas do Estado): a diminuição brutal e a racionalização da máquina administrativa permitiria o governo a aumentar e qualificar os gastos em infra-estrutura, e diminuir a absurda carga tributária do país. Este é o ponto central da grave crise econômica pela qual estamos passando.
• Política monetária (é o controle da liquidez da economia, ou a quantidade de moeda circulante): a inversão da atual política fiscal permitiria, por sua vez, a inversão da política de juros altos vigente, que tem provocado de tudo, menos o controle da inflação.
• Política externa (compreende as administrações das políticas cambial e comercial): no aspecto cambial, ao desarmarmos as armadilhas fiscal e monetária em que nos metemos, poderemos trazer a taxa de câmbio para patamares que permitam a reativação dos aniquilados setores industrial e de exportação. E no aspecto comercial, mudarmos o equivocado atual modelo isolacionista adotado.
• Política de rendas (política de redistribuição de rendas): apesar de reconhecer o grande avanço social ocorrido na política de rendas nesses últimos anos, entendemos que o modelo atual está esgotado e precisa de uma urgente mudança de gestão, a fim de evitar a perpetuação da miséria. Bolsa-família tem que ter prazo de validade.
É possível afirmar categoricamente que um eventual governo Aécio promoveria todas essa mudanças entendidas pela lógica, pelo bom senso e pelo mercado, recolocando o Brasil na rota do crescimento e do desenvolvimento social? É evidente que não. Por mais determinação e boa vontade que exista, haverá o duro enfrentamento com o sistema vigente. Especialmente contra o fisiologismo dominante no Congresso Nacional. Mas certamente essas mudanças seriam buscadas, mesmo que parcialmente. A aposta seria então, no Brasil ladeira acima. Por outro lado, é possível afirmar que não dá para imaginar um eventual segundo governo Dilma se reinventado, abandonando seus dogmas ideológicos e adotando alguma mudança nessa direção citada.
A aposta seria então, no Brasil ladeira abaixo.
Um “AgroAbraço” a todos!!!
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