Eleições 2014: Ladeira abaixo? Por Flávio França

Publicado em 31/10/2014 17:27 e atualizado em 02/11/2014 16:19
Flávio Roberto de França Junior é Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria

Prezados amigos. Passados cinco dias das eleições presidenciais e ainda sofrendo de uma enorme ressaca eleitoral, com uma sensação de desânimo e de vazio com os rumos que a “maioria” da população brasileira escolheu, venho me fazendo uma pergunta que acredito estar também sendo feita pela grande maioria dos frustrados nessa eleição presidencial: o que fazer a partir de agora? Como devo agir e me comportar após esse resultado? Resultado esse que, se não pode ser chamado de surpreendente, visto ter confirmado a direção da maior parte das pesquisas de intenção de voto, teve um efeito devastador na esperança de pelo menos 51 milhões de brasileiros. Algo como ser atingido por um balde de água gelada em dia de temperatura abaixo de zero.

Durante esta última semana tenho lido e ouvido todo o tipo de bobagem, seja na imprensa, seja especialmente nas chamadas redes sociais. Em um verdadeiro festival de rancor, tanto pela parcela vencedora, como especialmente pela perdedora, temas odiosos como separatismo, preconceito contra nossos irmãos nordestinos e preconceito contra as classes mais pobres emergiram de forma preocupante e avassaladora. Entendo que o clima do “nós contra eles”, alimentado pela campanha governista, talvez seja a maior chaga aberta e o pior efeito dessa campanha, sem dúvida a mais pesada desde 1989. É evidente que podemos criticar a perenização do bolsa-família (em minha opinião o bolsa-família deveria ter prazo de validade, assim como o seguro-desemprego), que sem dúvida criou um exército de eleitores do atual governo, localizados predominantemente na região Nordeste. 

Porém, é fácil perceber que essa tese de que, geograficamente, temos dois tipos de pais, não se sustenta. E que não somos especiais, privilegiados e melhores porque escolhemos a opção da mudança no último domingo. Basta analisarmos que a presidente foi reeleita com 52% dos votos de Minas Gerais e 55% dos votos no Rio de Janeiro, estados da região Sudeste onde ela venceu. E ainda nessa região, vale lembrar que recebeu 36% dos votos em São Paulo. Na região Sul, levou 46% dos votos do Rio Grande do Sul (especialmente no interior?!?!), 39% no Paraná e 35% em Santa Catarina. E na região Centro-Oeste, 45% dos votos no Mato Grosso, 44% dos votos no Mato Grosso do Sul e 43% dos votos em Goiás. Então todos esses eleitores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste são participantes do bolsa-família? São pobres? Ou são nordestinos radicados nessas regiões?

Bobagem. É evidente que não. Existe muita gente fora dessas odiosas classificações que optou pela reeleição da presidente. Por mais chocante que isso possa parecer, 54,5 milhões de brasileiros, gente como eu ou como você, ignoraram a precariedade para onde a economia brasileira foi levada nesses últimos quatro anos. E o caos econômico para onde o país caminha se não houver uma urgente e radical mudança de direção em termos de administração da política econômica e da política pública. Para eles, essa conversa de inflação, recessão econômica e de desajuste nas contas públicas (leiam os dados divulgados nesta sexta) não existe e o país está muito bem, já que milhões de brasileiros emergiram da linha de pobreza. Gente boa, amigos e parentes, que ignoraram a chuva de escândalos aos quais temos sido apresentados quase que diariamente. Do mensalão ao petrolão. Para eles, tudo é mentira e uma conspiração maior realizada pela mídia e pela “elite branca” (?!?!) para tirar o PT do poder.  

Porém, se realmente queremos encontrar culpados por essa derrota, devemos buscar a explicação em outro lugar. A diferença entre as duas candidaturas foi de 3,5 milhões de votos, e somente entre brancos e nulos tivemos 7,1 milhões de votos. Esse eleitor de protesto, que evidentemente não está contente com a situação vigente, precisa estar ciente que ajudou a manter o atual governo no poder. Então eu me pergunto, que protesto besta é esse? E as abstenções? Pasmem, mas 30,1 milhões de eleitores deixaram de votar. Embora parte importante desse pessoal possa ter motivos justificados para não ter comparecido às urnas, tenho certeza de que você conhece alguém que não estava nem aí para a eleição e que optou por passar o fim de semana na praia, nas montanhas ou no campo. E como veremos nos próximos quatro anos, acredito que essa alienação vai custar muito caro. O problema é que não será só para eles.

O que precisamos fazer agora é juntar os cacos de nossa cidadania, de nossa brasilidade, e seguirmos em frente. Para você que está feliz com o resultado das eleições, tire esse sorriso do rosto e comece a trabalhar mais, a ler mais, a refletir mais. Tente enxergar fora dessa nuvem ideológica a qual boa parte de vocês está envolta. Afinal, é sua a responsabilidade se o país continuar ladeira abaixo a partir de agora. 

Para aquele que neste momento se sente desamparado e sem rumo, tal qual um cachorro caído de mudança, faço um apelo para não nos dispensarmos.

Precisamos seguir vigilantes como nunca. Cobrar como nunca. Propor como nunca. Participar da vida política do país como nunca. E não deixar para retomar essas discussões daqui há quatro anos. Temos o dever para a nossa consciência, e para buscar um futuro mais próspero para nossos filhos e netos, de continuar lutando por um país melhor. Mas sempre dentro da ordem democrática, sem rancores, pois a pior das democracias é melhor do que a melhor das ditaduras. Digo um rotundo não ao separatismo, ao preconceito social, racial ou regional.

Se houveram problemas com as urnas eletrônicas, vamos apurar. Se houve ingerência do governo na atuação dos correios, vamos levantar. Se a presidente participou, ou sabia e não fez nada, sobre o esquema de corrupção da Petrobrás, vamos levantar provas e julgá-la nos fóruns apropriados. Vamos continuar a pressionar de forma legítima por mudanças na economia, por bom senso e moralidade na administração pública. Afinal, somos todos brasileiros, e como tal, não desistiremos nunca.  

Um “AgroAbraço” a todos!!!

www.francajunior.com.br e francajunior@francajunior.com.br

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Fonte: França Jr. Consultoria

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