Aposto na Safra Recorde de Soja, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Publicado em 21/03/2018 09:27
Reflexões do agro de março

No agro as notícias neste mês foram interessantes, segue um resumo dos fatos que mais me chamaram atenção. Mais uma estimativa da CONAB disponível e a safra vem vindo bem. Produziremos agora de grãos 226,04 milhões de toneladas (4,9% menor que a safra anterior). A área plantada é de 61,06 milhões de hectares, apenas 0,3% maior que a anterior. No milho estão as maiores perdas, cairemos de quase 98 para 87,28 milhões de toneladas (7,8% menor), com menor área e produtividade. Já na soja teríamos 113,02 milhões de toneladas, contra 114 milhões da safra anterior, e em 3,4% a mais de área, portanto com produtividade menor, mas a estimativa atual é bem maior que a de fevereiro, e arrisco dizer que podemos passar das 114 milhões. Algodão com 1,855 milhões de toneladas de pluma, sensível aumento, devido à maior área, o arroz com 11,28 milhões de toneladas.

O IBGE anunciou estimativa de safra de 227,2 milhões de toneladas, a segunda maior do Brasil, atrás apenas das 240 milhões da safra anterior. Aumentou 1,1 milhão de toneladas em relação à primeira estimativa. Vale ressaltar que desde a primeira projeção, o IBGE já aumentou em 7 milhões de toneladas. Estimativas bem próximas, a pergunta é porque nosso Brasil precisa de duas estimativas públicas? O ideal seria juntar estes craques e seus recursos sob um mesmo teto, mesma organização e expandir o volume, abrangência e a profundidade de dados.

Em relação aos preços dos principais produtos, a safra vem vindo bem, com preços sendo mantidos a níveis de razoáveis a bons, a soja ficou o mês acima de US$ 10/bushel, chegando a próximo de US$ 11 (parabéns a quem vendeu) e o milho com sensível alta no Brasil, chegando aos R$ 40/saca apesar do preço de Chicago ter se mantido. E com o dólar batendo a R$ 3,30 temos melhoria de rentabilidade. Também o índice mundial dos preços das commodities alimentares (índice da FAO) subiu 1,1% para 170,8 pontos. Cereais subiram um pouco (2,5%) e os lácteos (11,2%). Os açúcares caíram 3,4%, óleos vegetais cairam 3,1% e carnes permaneceu estático. Mas quando comparado a fevereiro do ano passado, os preços estão 2,7% menores em dólar, mas em trajetória ascendente.

As exportações no agro deste fevereiro foram de US$ 6,2 bilhões (5,2% acima de fevereiro de 2017) e retirando-se as importações de US$ 1,08 bilhões, ficou um superávit 6,6% maior, de US$ 5,1 bilhões. Trouxemos US$ 1,6 bilhões no complexo soja, com aumentos expressivos no óleo e no farelo. Na sequência vieram as carnes, com US$ 1,1 bilhão, puxados por crescimento de 22,7% na bovina, e queda de 12% no frango e 22% na suína, seguido pelos produtos florestais com US$ 1,08 bilhão. A China em fevereiro recuou suas compras em 5,3%, para US$ 1,3 bilhão (21,5% das nossas exportações). Balança comercial registrou superávit de US$ 4,9 bilhões em fevereiro e caminhamos para um saldo comercial de US$ 70 bilhões em 2018, excelente desempenho.

O PIB agropecuário em 2017 terminou crescendo 12,5% pela expansão da safra. A agropecuária representou 70% do crescimento de 1% registrado pelo Brasil. A ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) estima que o PIB da agropecuária deve crescer 0,5% em 2018.

Ainda nas comemorações referentes ao fechamento dos dados de 2017, tivemos anúncio de um bom resultado para a indústria de alimentos. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), houve um ganho real de faturamento em 2017 de 1,01%, alcançando R$ 642,6 bilhões. Prevêem para 2018 um avanço real ainda maior, de 2,6 a 2,8%. Vale ressaltar quem mais cresceu em 2017: conservas vegetais (9,06%), a cadeia de produtos do trigo (8,22%), óleos e gorduras vegetais (3,67%) e chocolate, cacau e balas (3,60%). Sucos tiveram queda real de 1,28%. O varejo alimentar cresceu 4,6% ano passado e o setor de restaurantes cresceu 6,2%. Recuperação acontecendo e resultados melhores esperados para este ano.

Outro bom indicador de 2017 veio das padarias, que tiveram volume de transações crescendo após 4 anos de queda. Faturaram R$ 90,3 bilhões em 2017, crescendo nominalmente 3,2% sobre o ano anterior, com ganho real de quase 1,3%, segundo informações da Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip). Esperam um 2018 melhor ainda. A pesquisa mostra que a produção própria cresceu 5,4%, atingindo R$ 57,8 bilhões e a revenda de produtos cresceu apenas 0,7%, somando R$ 32,5 bilhões.

Na arena internacional, o fato negativo ao agro brasileiro vem sendo na Rússia, a política do Presidente Putin de autossuficiência em alguns produtos alimentares. Conseguiram no açúcar, em alguns grãos e agora tem dado foco relevante nas carnes, onde são grandes compradores do Brasil. A Rússia pretende também dobrar as exportações agrícolas, atingindo US$ 40 bilhões até 2025. Os Russos deixaram de comprar soja dos EUA, graças a um embargo e passaram a comprar mais do Brasil, de onde vem 60% das suas importações, bem como nas carnes, que tinham esta participação até o embargo no final do ano passado, por acusação de uso de hormônio. Mas a perspectiva no médio prazo é a redução da importância deste que é relevante comprador brasileiro.

Já um fato que pode vir a ser positivo é advindo de possíveis retaliações que países prejudicados pelas novas tarifas de importação de aço e a alumínio colocadas pelos EUA podem fazer contra produtos americanos, abrindo espaços para os produtos brasileiros, uma vez que os EUA são concorrentes do Brasil nestas exportações do agro. A União Europeia colocou o suco de laranja americano na lista dos possíveis alvos e a China ameaça a soja. Vamos observar, pois outros países podem ter comportamentos similares, forçando os EUA a voltarem atrás ou nos beneficiando.

Na notícia empresarial, o destaque vi na Starbucks (lojas de café), passando seus 113 pontos de venda no Brasil para a empresa SouthRock, que executará um plano de expansão e pagará taxa licenciamento à empresa. Estima-se que estas lojas vendam ao redor de R$ 250 milhões por ano (Valor). O contrato é de 20 anos. No mundo são 28 mil lojas, sendo 13 mil sob licenciamento. Faturou em 2017 US$ 22,4 bilhões. Trago este exemplo para dizer que somente uma empresa vende 25% do total das exportações do agro brasileiro, mostrando como podemos crescer se avançarmos para maior agregação de valor nas cadeias produtivas.

Finalizando o mês, são boas as notícias no crescimento e na confiança. No lado político continua uma confusão com a proliferação de anúncios de candidaturas, mas na minha leitura com um viés crescente nos eleitores para uma mentalidade mais liberal no Brasil. Mais empresas e menos Estado. No agro permanecem os riscos de atrasos na colheita da soja devido às chuvas e retardamento do plantio da safra de milho. Estimulo para plantar, com os novos preços, não falta, restando torcer para o clima deixar.

Termino este artigo com duas frases do Sr. Lula da Silva, estampadas na Folha de São Paulo (20/03): “fazendeiros têm dois prazeres: quando recebem dinheiro e quando dão calote no Governo” e “se tratassem os empregados como tratam os cavalos, estes estariam muito bem de vida”.  Demonstra o pouco aprendizado que conseguiu adquirir em décadas da vida pública, generalizando e fazendo um ataque infeliz a quem tem sustentado, e sustentavelmente, o Brasil. Resta torcer para que a justiça, ainda neste mês, nos livre desta convivência. 

Marcos Fava Neves é Professor Titular da Faculdade de Administração da USP, Campus de Ribeirão Preto. Especialista em planejamento estratégico do agronegócio (favaneves@gmail.com).

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Fonte: Marcos Fava Neves

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