Soja: Briga por área X demanda!

Publicado em 22/09/2010 10:22
por Ricardo Lorenzet, analista de mercado da XP Agro
Ao que sinalizava ser uma semana complicada para a soja após o relatório do USDA ter indicado produtividades acima das expectativas para as lavouras norte-americanas na atual temporada e, embora a demanda robusta, uma conseqüente reposição nos estoques finais projetados no país, demonstrou-se extremamente positiva à todo o complexo agrícola em Chicago.

O comportamento “dependente” aos grãos/fibras continuou sendo o direcionador principal das oscilações da oleaginosa nas últimas sessões. Assim sendo, com novas máximas cravadas tanto pelo milho, quanto algodão, a soja manteve-se firme, atingindo os maiores patamares do ano, já acima dos 10,50/bushel para o novembro/10, e dos 11,00/bushel para o vencimento maio/11.

A preocupação com as produtividades das lavouras de milho nos EUA permanece no centro das atenções dos traders. Embora, na última semana, com a evolução da colheita sobre as áreas do norte e oeste do Corn Belt os patamares de produtividade tenham apresentado certa melhora, de uma forma geral ainda encontram-se abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Com isso, na expectativa de uma demanda firme tanto no mercado interno (na sexta-feira o secretário da Agricultura demonstrou confiança quanto a possibilidade de elevação no percentual máximo da gasolina a ser misturado com etanol nos EUA de 10 para 15% nos próximos meses) quanto externo, o mercado cogita a possibilidade de que os estoques finais norte-americanos sejam revistos para níveis inferiores ao patamar psicológico de 1 bi bushels.

Em decorrência deste quadro, os players antevêem uma severa briga por área para o plantio da próxima temporada frente a soja. Adiciona-se a este componente a firmeza dos preços do algodão que reflete estoques historicamente apertados em termos globais e, como resultado, a soja “luta” incansavelmente para garantir a mínima perda de área na próxima safra nos EUA. A sustentação dos preços busca também o incentivo ao plantio e adoção de tecnologia na atual temporada sul-americana dada a demanda firme e o risco climático atrelado a safra da região. Complicando o cenário, já caracterizando o fenômeno La-Niña, o tempo seco permanece sobre a área central do Brasil e, mesmo com o final do vazio sanitário no MT, o plantio da soja precoce não esta ocorrendo, elevando a exposição da cultura à ferrugem no final do ciclo de desenvolvimento. Previsões de médio prazo confirmando a possibilidade precipitações sensivelmente inferiores ao normal sobre a região sul do Brasil e centro-norte da Argentina para os próximos três meses, contribuem como fator de suporte as cotações.

Ou seja, com a percepção de que os estoques finais globais encontram-se em patamares “distantes de uma condição de conforto”, o mercado busca manter os preços competitivos perante as demais culturas garantindo a contínua necessidade de expansão da oferta para atender a demanda. Não que este cenário constitua-se novidade, mas continua e, continuará atuando, como fator de suporte a oleaginosa.

Atuando na mesma direção, aspecto de extrema importância à sustentação generalizada no mercado de commodities agrícolas continua sendo o fluxo especulativo. Em meio a baixa rentabilidade de títulos soberanos associado a volatilidade nos mercados financeiros e, principalmente a recorrente instabilidade nos mercados cambiais e um conseqüente desequilíbrio na concepção de reserva de valor para com as consideradas moedas fortes, os grandes agentes seguem migrando a alocação de recursos para os chamados ativos tangíveis, beneficiando essencialmente as commodities agrícolas que, de uma forma geral evidenciam um cenário fundamental macro relativamente mais favorável.

No curto prazo, continuaremos vulneráveis a dois riscos principais, ambos perfeitamente factíveis na análise de curto prazo: realizações associadas a liquidação de fundos (cujo saldo comprado é próximo ao recorde registrado em meados de 2008) e pressão sazonal atrelada a safra norte-americana. Independentemente destes fatores, o viés macro permanece sinalizando o potencial de sustentação para as cotações da oleaginosa no médio prazo. Ninguém quer “pagar para ver” um cenário de oferta mais ajustada no mercado de soja, seja por quebra de safra na América do Sul, seja por perda de área para outras commodities, em meio a uma demanda que vem demonstrando-se sensivelmente aquecida, com margens de processamento favoráveis nos principais consumidores mundiais mesmo nos atuais patamares de preços.

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Fonte:
Agroblog

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