O ipê roxo do Vermelho Grill, por Osvaldo Piccinin
Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, tem hoje mais de vinte mil pés de Ipês das mais variadas cores embelezando seus parques e avenidas. Por esta razão somos ou seremos conhecidos como a capital do Ipê, assim como planejou André Puccinelli, quando prefeito.
Esta nobre árvore, além de sua beleza na florada, apesar de efêmera, é madeira de lei, empregada na fabricação de móveis, madeiramento de construções de luxo e muitas outras utilidades.
Quando, aproximadamente, há trinta anos o chá de sua casca ganhou fama, de também curar câncer, a pobre espécie foi perseguida diuturnamente a ponto de se achar que seria extinta. Muitas foram sacrificadas por conta disso.
Suas flores brancas, lilases, roxas e amarelas, ao vestirem as árvores mães de rara beleza, nos anunciam que estamos iniciando o inverno ou a primavera -, estação mais alegre do ano. Sua florada acontece entre junho e agosto dependendo do fator climático ou da espécie.
Quando cheguei a Campo Grande, há trinta e três anos, a Avenida Afonso Pena terminava no pontilhão da Avenida Ceará. Seu prolongamento veio anos depois. Lá onde agora existe o bairro Chácara Cachoeira, pastoreava um rebanho de elite da raça Nelore pertencente à família Arantes. O canto das perdizes e codornas, ao entardecer, lembrava - me da vida na roça!
Acompanhei de perto o progresso e vi Campo Grande aos poucos se tornar esta cidade charmosa, com a qualidade de vida de primeiro mundo, que todos aprendemos a gostar. O tempo passou e tudo mudou para melhor.
Hoje presto homenagem ao cidadão conhecido por Clóvis Fornari e o seu pé de Ipê. Forasteiro, assim como eu, e empreendedor incansável. Este gaúcho veio para ficar e fincar raízes neste chão, literamente. É um vencedor!
Homem de extrema sensibilidade que se emociona, até hoje, quando fala de sua cidade natal -, conhecida por Arvorezinha e de suas caçadas de perdiz, permitidas, diga-se de passagem, nas pradarias do Rio Grande do Sul, quando jovem.
Acompanhei a construção de seu aconchegante restaurante – Vermelho Grill, desde a fundação, e já neste estágio da obra, algo me chamava atenção: um pequenino pé de Ipê. Filho de uma árvore adulta da proximidade, com apenas dez centímetros merecia todo carinho e proteção por parte daqueles que lá trabalhavam.
... E muitos ciúmes desse gaúcho que a identificou no nascedouro. - Nasceu sozinha de uma semente vigorosa, sem nenhuma interferência do homem. Assim disse - me na ocasião.
Poucos se dariam conta, que aquele pequeno arbusto se tornaria uma árvore frondosa e encopada, que daria vida ao local e muita sombra aos clientes que ali esperam por uma mesa. Foi tanto carinho que até o projeto arquitetônico teve que ser adaptado para preservá - la e protegê-la.
Hoje, uma “adolescente”, com aproximadamente doze anos, não mais pertence ao amigo que a adotou, mas a todos que ali frequentam e admiram sua beleza. Principalmente quando coberta de flores -, momento este mágico e rápido que dura no máximo um mês por ano, mas o suficiente para marcar presença e mostrar por que mereceu e merece tanto carinho.
Esta espécie dura mais de duzentos anos, segundo a literatura, portanto se a guarida continuar, esta jovem senhorita estará ornamentando a natureza, pelos próximos dois séculos. Teremos a frente apenas uma ameaça –, o progresso e o espírito de porco de alguma alma desgarrada e insensível. Rogamos que isso nunca aconteça e desejamos que cumpra sua missão para as gerações futuras, com muita saúde, beleza e ousadia botânica.
E VIVA O IPÊ ROXO DO VERMELHO GRIL E TODOS OS IPÊS DO BRASIL!
osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br