O ipê roxo do Vermelho Grill, por Osvaldo Piccinin

Publicado em 23/07/2014 12:33
Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo, formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS.

Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, tem hoje mais de vinte mil pés de Ipês das mais variadas cores embelezando seus parques e avenidas. Por esta razão somos ou seremos conhecidos como a capital do Ipê, assim como planejou André Puccinelli, quando prefeito.

Esta nobre árvore, além de sua beleza na florada, apesar de efêmera, é madeira de lei, empregada na fabricação de móveis, madeiramento de construções de luxo e muitas outras utilidades. 

Quando, aproximadamente, há trinta anos o chá de sua casca ganhou fama, de também curar câncer, a pobre espécie foi perseguida diuturnamente a ponto de se achar que seria extinta. Muitas foram sacrificadas por conta disso.

Suas flores brancas, lilases, roxas e amarelas, ao vestirem as árvores mães de rara beleza, nos anunciam que estamos iniciando o inverno ou  a primavera -, estação mais alegre do ano. Sua florada acontece entre junho e agosto dependendo do fator climático ou da espécie.

Quando cheguei a Campo Grande, há trinta e três anos, a Avenida Afonso Pena terminava no pontilhão da Avenida Ceará. Seu prolongamento veio anos depois. Lá onde agora existe o bairro Chácara Cachoeira, pastoreava um rebanho de elite da raça Nelore pertencente à  família Arantes. O canto das perdizes e codornas, ao entardecer, lembrava - me da vida na roça!

Acompanhei de perto o progresso e vi Campo Grande aos poucos se tornar esta cidade charmosa, com a qualidade de vida de primeiro mundo, que todos aprendemos a gostar. O tempo passou e tudo mudou para melhor.
Hoje presto homenagem ao cidadão conhecido por Clóvis Fornari e o seu pé de Ipê. Forasteiro, assim como eu, e empreendedor incansável. Este gaúcho veio para ficar e fincar raízes neste chão, literamente. É um vencedor!

Homem de extrema sensibilidade que se emociona, até hoje, quando fala de sua cidade natal -, conhecida por Arvorezinha e de suas caçadas de perdiz, permitidas, diga-se de passagem, nas pradarias do Rio Grande do Sul, quando jovem.

Acompanhei a construção de seu aconchegante restaurante – Vermelho Grill, desde a fundação, e já neste estágio da obra, algo me chamava atenção: um pequenino pé de Ipê. Filho de uma árvore adulta da proximidade, com apenas dez centímetros merecia todo carinho e proteção por parte daqueles que lá trabalhavam.

 ... E muitos ciúmes desse gaúcho que a identificou no nascedouro. - Nasceu sozinha de uma semente vigorosa, sem nenhuma interferência do homem. Assim disse - me na ocasião. 

Poucos se dariam conta, que aquele pequeno arbusto se tornaria uma árvore frondosa e encopada, que daria vida ao local e muita sombra aos clientes que ali esperam por uma mesa. Foi tanto carinho que até o projeto arquitetônico teve que ser adaptado para preservá - la e protegê-la.

Hoje, uma “adolescente”, com aproximadamente doze anos, não mais pertence ao amigo que a adotou, mas a todos que ali frequentam e admiram sua beleza. Principalmente quando coberta de flores -, momento este mágico e rápido que dura no máximo um mês por ano, mas o suficiente para marcar presença e mostrar por que mereceu e merece tanto carinho.

Esta espécie dura mais de duzentos anos, segundo a literatura, portanto se a guarida continuar, esta jovem senhorita estará ornamentando a natureza, pelos próximos dois séculos. Teremos a frente apenas uma ameaça –, o progresso e o espírito de porco de alguma alma desgarrada e insensível. Rogamos que isso nunca aconteça e desejamos que cumpra sua missão para as gerações futuras, com muita saúde, beleza e ousadia botânica.

E VIVA O IPÊ ROXO DO VERMELHO GRIL E TODOS OS IPÊS DO BRASIL!

osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br

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Fonte: Osvaldo Piccinin

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