Olhos do Tempo, por Osvaldo Piccinin

Publicado em 09/06/2015 15:40
Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo, formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS.

Muito cedo aprendi admirar e contemplar a natureza e seus encantos.

Adquiri a sensibilidade de ver beleza numa simples flor solitária, perdida no cerrado, depois de uma arrasadora queimada. Aprendi admirar as diferentes espécies de árvores com diferentes tonalidades de cores bem como apreciar suas flores multicoloridas para em seguida nos presentear com os mais diferentes frutos e sabores.

 O que dizer da organização de uma colmeia de abelhas, assim como o vai e vem das formigas ordeiras, trabalhando incessantemente na época de fartura, para garantir seu sustento em período adverso? Coitada da pobre cigarra! Seria boêmia ou perdulária?

A delicadeza do ninho forrado de algodão do minúsculo beija-flor, num pequeno arbusto da varanda bem como os ninhos dos sabiás na nossa cumeeira com dois filhotinhos que abrem seus bicos, de forma esfomeada, toda vez que sua mãe lhes traz uma minhoca. Tudo isso me prende a atenção e me faz refletir sobre a semelhança com nossa própria vida -, instinto de sobrevivência.   

O infinito do universo, ao contemplá-lo, numa noite escura longe do agito e a claridade da cidade me faz viajar pelo espaço à procura de respostas nunca encontradas. Quantas daquelas estrelas cintilantes poderiam estar habitadas por seres inteligentes? Será que um dia poderemos nos comunicar? De que forma?

O cheiro de terra tombada, o aroma da chuva caindo em solo seco, o cheiro de curral nas manhãs de verão. Do perfume de um laranjal ou do cafezal florido, do cheiro de feijão temperado com alho frito que me faz coçar o nariz aguçando o apetite. Tudo isso me faz sentir em comunhão com a natureza e seus encantos.

Parafraseando um autor desconhecido digo mais: “admiro a obra do homem e o poder da natureza, o equilíbrio justo dos cinco sentidos, a harmonia natural dos quatro elementos, o aroma da noite, a música do crepúsculo, as lágrimas do nevoeiro, o sangue da terra e todos os contrastes da natureza”.

O que dizer do barulho das ondas do mar batendo na rocha ou deslizando suavemente sobre a areia da praia? Aprecio o silêncio da mata escondendo segredos indecifráveis. A goteira intermitente que cai teimosamente do telhado sobre um vasilhame qualquer por toda uma noite. O “pinga-pinga” cadenciado me traz doces lembranças da nossa humilde casa na roça.

Debaixo da colcha de retalho, feita pela minha avó, eu pedia para o dia não amanhecer. As madrugadas pareciam não ter fim.... Viajo no tempo ao contemplar as labaredas mansas nas noites de inverno. Elas me trazem paz!

“Se pudéssemos ter a consciência do quanto nossa vida é efêmera, talvez pensássemos duas vezes antes de jogarmos fora as oportunidades de ser e fazer os outros felizes”. “Entristecemos-nos por coisas pequenas e perdemos minutos e horas preciosos por conta disso. Perdemos dias, às vezes anos”.

Temos o costume de comparar nossas vidas com aqueles que possuem mais que a gente, porque não o contrário? Isso faria uma grande diferença! Com o passar do tempo cria-se o hábito de só se queixar daquilo que não temos, mas não de agradecer pelo que conquistamos.

Chego à conclusão que tantos outros já chegaram. De que a arrogância, a estupidez e a prepotência, dão a muitos dos humanos a sensação de invencibilidade ou vida eterna. Basta uma enfermidade mais complicada para se tornarem dóceis carneirinhos indefesos, com olhos de misericórdia.

A vida é semelhante à uma corrida com barreiras, vencê-las a cada dia, de nossa existência, é o grande desafio. A sábia água nos ensina como enfrentá-los ao contornar os obstáculos -, nunca os contrapõe... E seguindo de forma harmoniosa, juntando-se aos pequenos riachos, vai formando, por vezes, rios caudalosos e lagoas de beleza indescritíveis. A paz que todos procuramos passa por estes ensinamentos.

Admiro as pessoas equilibradas que conseguem ter sabedoria para enfrentar as adversidades da vida sem blasfemar e sem maldizer o destino a elas reservado. “O homem é um Deus quando sonha e apenas um mendigo quando pensa”.

E VIVAOS OLHOS DO TEMPO!

osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br

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Fonte: Osvaldo Piccinin

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