Polícia fecha abatedouro clandestino que tinha empresa do novo ministro da Agricultura como cliente
Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
A Polícia Ambiental de Minas Gerais interditou o matadouro clandestino que tem como cliente o ministro da Agricultura, Antônio Andrade. A medida atende a um pedido do Ministério Público de Minas Gerais e foi tomada nesta terça-feira. A última edição de VEJA mostrou as condições insalubres e ilegais em que os animais eram abatidos no local. O ministro, que é dono de 3.000 cabeças de gado na região de Vazante, utilizava o local para abater animais de seu rebanho.
O dono do local, Rogério Martins da Fonseca, admitiu que os animais eram abatidos com a utilização de uma marreta. Ele também não apresentou a documentação necessária para o funcionamento do abatedouro, que permanecerá fechado até que a situação seja regularizada.
Em 2006, Rogério chegou a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que se comprometeu a regularizar a situação do estabelecimento. Mas não cumpriu o acordo negociado com o promotor José Geraldo Rocha.
O dono do abatedouro é amigo do ministro há mais de duas décadas, e confirmou a VEJA que Andrade é seu parceiro. “O último gado que comprei do ministro foi em dezembro. Foram 22 reses”, disse o empresário. Em nota, Antônio Andrade negou que seja parceiro comercial do abatedouro clandestino; disse que negocia seus animais apenas com grandes frigoríficos.
Por Reinaldo Azevedo
O discurso fora da realidade e fora de moda de Dilma Rousseff na cúpula dos Brics
Na VEJA.com. Comento em seguida:
A presidente Dilma Rousseff falou à imprensa nesta quarta-feira durante a 5ª cúpula dos Brics, na África do Sul e afirmou que não tomará quaisquer medidas de combate à inflação que possam desacelerar o crescimento da economia brasileira. Segundo ela, essa é uma questão “datada”. “Esse receituário que quer matar o doente, em vez de curar a doença, é complicado. Vou acabar com o crescimento no país? Isso está datado. Isso eu acho que é uma política superada”, afirmou a presidente após encontro de chefes de estado dos países dos Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Sobre o crescimento da economia, Dilma afirmou que o ano de 2013 será “um pouco mais promissor do que 2012″.
Como de praxe, Dilma aproveitou para criticar os analistas que pensam de maneira diferente da dela: “São sempre as mesmas vozes, você não ouviu isso do governo (que seria preciso reduzir o crescimento para combater a inflação). Não achamos que há essa relação”. Ainda sobre o aumento de preços, afirmou: “Isso não significa que o governo não esteja atento. Não só estamos atentos como acompanhamos diuturnamente a questão da inflação. Não achamos que a inflação esteja fora de controle. Pelo contrário, ela está controlada. O que há são alterações e flutuações conjunturais. Mas nós estaremos sempre atentos”.
Crescimento
A presidente também afirmou que a economia brasileira vem se recuperando das desacelerações de 2011 e 2012. E creditou o cenário à “vontade política” do governo. Ela salientou que a recuperação do crescimento econômico brasileiro não foi espontânea, mas fruto de iniciativas federais, como estímulos financeiros, tributários e monetários.
Dilma também ressaltou a contribuição da queda do desemprego para o fortalecimento do mercado interno e enfatizou a importância de investimento em infraestrutura. Segundo ela, as oportunidades de investimentos devem ser ampliadas e, se há escassez de financiamentos, “vamos criar financiamentos de longo prazo”.
FMI
A presidente também repetiu sua defesa por reformas nos organismos internacionais para refletir a maior representatividade econômica atual dos países emergentes. Brasil e China há muito afirmam que o sistema atual de votação do Fundo Monetário Internacional (FMI) concede injustamente benefícios à Europa e aos Estados Unidos, que dominam o Fundo desde sua fundação na década de 1940. Um acordo fechado em 2010 para implementar mudanças, inclusive elevando a China ao posto de terceiro país-membro com mais poder de voto na instituição financeira, deveria ter sido aprovada por todos os países-membros do FMI em outubro do ano passado, mas ainda não passou pelo Congresso dos EUA. “Seguimos unidos na defesa de reformas das estruturas de governança global. É necessário urgentemente atualizar e torná-las mais legítimas e representativas do mundo de hoje”, afirmou.
Comento
O que está fora de moda é esse discurso de Dilma. Fora de moda e fora da realidade. Alguém, por acaso, por ser congenitamente malvado, toma esta ou aquela medidas com o propósito de derrubar o PIB, de baixar o crescimento? Acho que não, né? Ocorre que determinadas ações — e aí se pode debater se são necessárias ou não — acabam tendo esse efeito.
Há uma outra fraude intelectual de base aí: Dilma discursa como se o país estivesse crescendo 7% ao ano, mas com um pouquinho de inflação, de sorte que se pode fazer esta escolha: “Ah, vamos atuar para desacelerar um pouco; assim, a gente esfria um tantinho a demanda, a inflação recua… Vamos crescer só 5,5%, pronto!” Mas esse cenário não está dado. Isso é uma fantasia.
O país cresce pouco — 1% no ano passado — com inflação e baixo investimento. Esse é o busílis. E, para isso, até agora, os petistas não têm resposta. Pior do que tudo: eles não têm nem hipóteses nem perguntas.
Por Reinaldo Azevedo
Dilma tenta minimizar os efeitos da bobagem que falou e culpa a… imprensa!
Ai, ai…
Dilma também recorreu à desculpa-padrão de governantes falastrões. Diante da constatação de que as bobagens que dizem produzem efeitos indesejados, tentam culpar a imprensa. Cristina Kirchner, por exemplo, é craque nisso. Sim, a presidente Dilma afirmou, à sua moda, que não sacrificaria o PIB para controlar a inflação. E acusou de superados os que não pensam como ela. Já escrevi a respeito: afirmei que superada, tola mesmo!, é a suposição de que alguém tem gosto especial por um PIB mesquinho; superada é a falsa dicotomia entre crescimento e inflação.
Não se trata de escolhas excludentes. Quem opta por crescer sem dar bola para a inflação não escolheu o crescimento, mas a crise e a desorganização da economia. “Mas como vamos combater? Elevando os juros nos cornos da Lua?” Olhem aqui: ele já não são baixos hoje. A inflação brasileira deriva de um superaquecimento? Superaquecimento de economia que cresce 1% ao ano? A questão não é saber se elevar juro é bom ou ruim, mas saber se é necessário ou não é. Crescendo essa mixuriquice, parece que não.
A fala da presidente só é sintoma da confusão mental que vigora lá no reino de Guido Mantega. Leia texto na VEJA.com:
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Que o governo tenha optado por estimular o crescimento da economia em detrimento do controle da inflação, isso não é novidade. Nesta quarta-feira, no entanto, foi a primeira vez que a presidente Dilma Rousseff deixou escapar sua heterodoxa preferência pelo Produto Interno Bruto (PIB) quando confrontado com a questão inflacionária. Aconteceu durante conversa com jornalistas em Durban, na África do Sul, onde esteve para o encontro dos Brics. O que há de heterodoxo nessa fala? Não faz sentido considerar crescimento e inflação como opções excludentes. Uma coisa não pode existir em relação de oposição com a outra. Dilma afirmou que não concorda com políticas de combate à inflação que mirem a redução do crescimento econômico. A fala repercutiu como pólvora – o que fez o blog do Planalto divulgar uma nota feita pela presidente desmentindo sua frase. “Foi uma manipulação inadmissível de minha fala. O combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do meu governo”, afirmou a presidente.
Dilma também pediu que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, conversasse com jornalistas para desfazer o “mal entendido”. À Agência Estado, Tombini afirmou que era preciso que o “mal entendido fosse desfeito e que não há tolerância em relação à inflação”. Ele até usou o expediente da insubordinação para consertar a frase de Dilma. “De inflação fala a equipe econômica. Em relação à política de juros, fala o Banco Central”, disse.
Mercado entendeu o recado
De acordo com a nota, Dilma decidiu se pronunciar após “tomar conhecimento de que agentes do mercado financeiro estavam interpretando erroneamente seus comentários como expressão de leniência em relação à inflação”. As declarações da presidente reduziram as apostas de elevação da Selic, a taxa básica de juros da economia. As taxas futuras, que já caíam desde a abertura do mercado, acentuaram o movimento imediatamente após as palavras da presidente.
Com as declarações de Dilma, os analistas entenderam que o governo acredita que a inflação no Brasil seja algo temporário e que o Banco Central poderá adiar o início do aperto monetário. As palavras de Dilma, na véspera da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, também foram criticadas por alguns agentes, porque atrapalharia o esforço do presidente do BC, Alexandre Tombini, em ancorar as expectativas do mercado.
Por Reinaldo Azevedo
Lula para a Academia Brasileira de Letras, pela obra de ficção, e também para a Academia Brasileira de Ciências
Xiii…
Agora o bicho vai pegar. Ou o PT mobiliza os seus simpatizantes para promover um quebra-quebra na Academia Brasileira de Letras, ou é grande a chance de FHC, candidato à cadeira nº 36, ser eleito. Essa cadeira diz alguma coisa de mais perto a este escriba. João de Scantimburgo, que morreu na sexta-feira, era de Dois Córregos. Onde fica? Procurem ali pelo centro do estado de São Paulo — todo o resto é periferia, não sei se me fiz entender, hehe.
E agora? FHC vai ter uma honraria que Lula não pode ambicionar… Em tese ao menos. Se a academia busca distinguir a produção intelectual, literária ou não, poucos são tão merecedores da láurea como FHC, não é?, goste-se ou não do seu pensamento. A sua carreira política acabou deitando uma sombra na obra do intelectual.
Todo mundo que está lá ou que passou por lá merecia a distinção? Vamos ser francos: nem todos honraram ou honram Machado de Assis. Se a academia, no entanto, só distinguir os bons, acabará sendo um bom lugar.
Alguém conte a Lula, por favor, que é a obra de FHC que o autoriza a sentar lá, não a condição de ex-presidente. Como Sarney também é acadêmico, o Apedeuta pode começar a ter ideias.
Leiam o que vai na VEJA.com. Volto em seguida.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é candidato a ocupar a cadeira de número 36 da Academia Brasileira de Letras, que ficou vaga em virtude da morte do jornalista João de Scantimburgo, na última sexta-feira. A formalização da candidatura foi feita na tarde desta quarta-feira, após a sessão da saudade em homenagem a Scantimburgo, que se encerrou por volta das 17 horas.
O acadêmico Celso Lafer levou de São Paulo a carta formalizando a candidatura de FHC. O secretário geral da academia, Geraldo Holanda Cavalcanti, no exercício da presidência da ABL, determinou à secretaria que considere oficialmente inscrito ex-presidente.
Conforme adiantou a coluna Radar on-line, de Lauro Jardim, a candidatura de FHC partiu de um convite feito por José Sarney, que levou o assuntos para análise dos demais acadêmicos. O ex-presidente já teria garantidos os votos de Eduardo Portellaos, Celso Lafer, Paulo Coelho, Merval Pereira, Geraldo Hollanda Cavalcanti, Antônio Carlos Secchin, Sergio Paulo Rouanet, Alberto da Costa e Silva, Sábato Magaldi, Hélio Jaguaribe, Marcos Villaça e José Murillo de Carvalho.
Voltei
Se bem que estou cá a pensar. Se é a obra do sociólogo FHC que o habilita a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, não merecerá também Lula a distinção por sua obra de ficção? Nunca antes na história destepaiz alguém inventou tantas histórias, não é mesmo? E imaginação não falta. Por esta intervenção (ver vídeos), ele deveria integrar também a Academia Brasileira de Ciências. Há dois vídeos: Lula por Lula e Lula por mim mesmo, hehe.
Por Reinaldo Azevedo
Fernanda Montenegro beija atriz na boca em manifestação contra Feliciano! Aplausos para ela! Eu sempre apoio beijo na boca! Aliás, eu quero é mais! Não suporto é fascismo, nem o dos “bacanas”
Vejam esta foto.
A atriz Fernanda Montenegro (à dir.), 83 anos, beija a boca da também atriz Camila Amado, 77, durante a 7ª edição do Prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio). O evento aconteceu nesta segunda, no Méier, na Zona Norte do Rio.
Só hoje, tarde de quarta, começou o bochicho. A imagem tem um crédito: “Cristina Granato/divulgação”. Como a coisa em si não tinha varrido o país, então foi preciso fazer um trabalho de assessoria de imprensa.
Todo o meu apoio a Fernanda Montenegro. Eu apoio beijo na boca! Havendo consenso entre as partes, mandem brasa!
Aliás, se gays e não-gays, Brasil afora, estivessem protestando contra Feliciano numa troca frenética de humores corporais, quaisquer humores, eu recomendaria, no máximo, os cuidados de praxe e diria, como digo em relação a “Fernandona”, como é conhecida aquela que é tida com a primeira-dama do teatro nacional: “Beijem mais!”
Querem sair pelados desfilando? Se ninguém enroscar em razão de alguns impedimentos legais, por mim, tudo bem também! A única coisa chata nesses casos mais extremos é que quem se despe não vale a pena e quem vale a pena não costuma se despir, hehe. Mas, como disse o poeta, “bicicletai, seios nus!”
Como escrevi aqui desde o primeiro dia, Feliciano não era o meu preferido para a comissão. Ah, não era mesmo! As coisas só aconteceram assim porque PT e PMDB resolveram dividir o filé-mignon das outras comissões, onde rolam, digamos, os interesses mais “pesados” da República. E largaram a carne de costela para o que consideram periferia — é o caso da Comissão de Direitos Humanos.
Vi os nomes de algumas moças que foram ao protesto da ABI, por exemplo. Infelizmente, teve discurso de Wagner Moura e Caetano, mas não beijo da boca!
Viva a democracia!
Viva o direito de beijar na boca!
Viva o direito de ter uma opinião!
Viva a tolerância!
Abaixo a intolerância dos donos da tolerância.
Por Reinaldo Azevedo
Feliciano diz que não renuncia de jeito nenhum! “Fui eleito pelo voto popular e pelo voto do colegiado”
Na VEJA.com:
O presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDH), deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), reafirmou nesta quarta-feira que não vai renunciar ao cargo em hipótese nenhuma (…) “Não renuncio de jeito nenhum! O que os líderes podem fazer com a minha vida? Eu fui eleito pelo voto popular e pelo voto do colegiado”, disse.
Na manhã desta quarta-feira, Feliciano foi à embaixada da Indonésia entregar um pedido de clemência em favor de dois brasileiros condenados à pena de morte por tráfico de drogas naquele país. Segundo o deputado, noticiário internacional indica que os dois figuram numa lista de estrangeiros que estariam prestes a serem executados por fuzilamento.
Indagado se o momento é oportuno para fazer esse tipo de apelo (…), respondeu: “Essa é uma pergunta estúpida. E lá existe tempo para fazer pedido de clemência?”, questionou. Em seguida, dirigindo-se aos jornalistas, prosseguiu: “Vocês estão ultrapassando o meu limite de espaço. Estou aqui por um assunto sério e vocês estão de brincadeira”.
Feliciano reafirmou que não existe crise nenhuma na Comissão de Direitos Humanos e que vai tocar seu trabalho com tranquilidade. “O que está em crise são vocês, falando besteiras e coisas que não existem”. “Já fizemos duas sessões, e na primeira votamos toda a pauta; na segunda, só fui impedido por causa do tempo”, contou Feliciano, alheio aos protestos sociais contra a sua permanência na presidência da Comissão. Ele confirmou que nesta quarta-feira às 14h, haverá a terceira sessão da Comissão, mas não soube dizer se seria aberta ou fechada.
(Com Estadão Conteúdo)
Por Reinaldo Azevedo
Feliciano, a Comissão de Direitos Humanos e a evidência escandalosa de uma fraude intelectual e política
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, expulsou uma manifestante da sala que o chamou de “racista”. O rapaz integrava a turma que queria impedir uma nova sessão da comissão. A pauta do dia nada tinha a ver com direitos dos gays, mas com a contaminação por chumbo na cidade de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, terra de Caetano Veloso. Caetano Veloso é aquele senhor que se destaca na música e que acredita, com acerto, que o Brasil precisa de um Congresso. Mas deu a entender também que o Congresso aceitável é aquele formado por pessoas com as quais ele concorda. Se jovens cantores e compositores se inspirarem em Caetano, estarão, creio, no bom caminho no que respeita à música popular. Se pessoas interessadas em democracia política tiverem Caetano como referência, aí estamos fritos.
Mas volto. “Racismo” é crime. Acusar alguém de “racista” corresponde a acusá-lo de ter cometido um crime. Não havendo provas, trata-se de calúnia, o que também é… crime!!! A imprensa brasileira tem sido vergonhosa nesse caso. Ela é livre para odiar Feliciano o quanto quiser; é livre para considerá-lo o mais despreparado dos seres para essa comissão ou qualquer outra. Mas é uma estupidez acusar alguém de homofobia por ser contra o casamento gay ou de racismo porque cita (e mal) um trecho da Bíblia. Isso é militância, não é jornalismo. Eu opino bastante, sim, quebro o pau a valer. Mas não atribuo nem às pessoas que mais desprezo crimes que não cometeram só para facilitar a minha crítica. Ao contrário até: prefiro a crítica difícil; prefiro demonstrar o erro de quem considero aparentemente certo a evidenciar o obviamente errado. Que graça há nisso?
Feliciano mandou retirar o rapaz da Câmara. Se quiser, pode processá-lo, sim, e aí o moço teria de provar que Feliciano cometeu racismo — se não o fizer, caracteriza-se a calúnia.
Muito bem! Expulso, e com motivos, da sala, Marcelo Regis Pereira, de 35 anos, antropólogo, gravou um vídeo, que já está no YouTube. Diz-se vítima de preconceito — e a imprensa está dando corda — por ser, atenção!, “negro, gay e pobre”. Vejam o vídeo, Volto em seguida.
Voltei
Negro, como se vê, Pereira não é. Como ele mesmo diz, assim ele se “autodeclara”. Eu posso me “autodeclarar” índio, por exemplo. Tenho legitimidade pra isso. Meu bisavô paterno mal arranhava o português. Aliás, a melhor parte que há em mim é o Espírito da Floresta. Feliciano, que tem comprovadamente a mãe negra, deve ser mais negro do que o acusador.
Ele chama o outro de “racista”, é expulso da sala e diz “Fizeram isso porque sou gay”. Ainda que isso estivesse na cara, ser gay não lhe dá o direito de ofender os outros. Ou dá? Mas como Feliciano poderia saber? Está escrito na testa? Há gente que parece e é, que não parece e é, que parece e não é… A menos que devamos estabelecer agora um outro padrão. Ofendido por alguém, ao reagir, devemos antes indagar: “Por favor, cidadão, como o senhor define a sua sexualidade? Hétero? Ah, então vou responder”. Ou no outro caso: “Ah, o senhor é gay? Então eu peço desculpas por tê-lo levado a me ofender”.
O rapaz tem 35 anos e é antropólogo. Não existe faculdade de antropologia no Brasil. É uma pós-graduação. Isso quer dizer que ele tem um curso universitário e uma especialização. É esse o padrão da pobreza no Brasil? Tome tento, meu senhor! Tenha compostura! Não seja ridículo! Pobre não tem cara, não! Mas a pobreza, ah, essa tem? Revejam: é o caso dele? Ademais, meus caros, “universitário com especialização” se declarar ”pobre”, num país como o Brasil, ofende a inteligência de qualquer pessoa de bom senso.
Esse vídeo é a manifestação do mais escancarado oportunismo. Faltassem evidências da pantomima que está em curso, agora não falta mais, está aí.
De fato, há gente acreditando que é legítimo invadir uma comissão, subir na mesa, chamar o outro de racista etc. Uma vez coibida a agressão, então é hora de gritar: “Preconceito!”. Com a pressurosa colaboração da imprensa, esse troço está indo longe demais!
Se e quando, na comissão, Feliciano fizer alguma coisa que esteja fora de sua competência e de seu direito legal, então que se proteste — aliás, a praça é imensa! Tentar arrancá-lo de lá porque não gostam de suas opiniões é intolerância, sim. De resto, esses fanáticos não se dão conta de que, na prática, estão dando à luz um herói. Já volto ao tema.
A farsa, enfim, se revela.
Por Reinaldo Azevedo
Líder do PSC pergunta: “O PT, que indicou dois condenados para a CCJ, pode criticar a indicação de Feliciano?” Boa pergunta!
Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
Após mais um dia de tumulto na Comissão de Direitos Humanos, o líder do PSC na Câmara, André Moura (SE), reafirmou nesta quarta-feira na tribuna da Casa que o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) será mantido no comando do colegiado. Moura, que até agora havia evitado o confronto com os críticos do colega de bancada, aproveitou para atacar diretamente o PT.
“A posição do PSC é em caráter irrevogável. O Marco Feliciano vai cumprir o seu mandato”, disse o líder, que ironizou a postura dos petistas: “Será que julgar a indicação do PSC do deputado pastor Marco Feliciano é correto para um partido como o PT, que indicou dois mensaleiros condenados pela mais alta corte do país para a Comissão de Constituição de Justiça?”. Ele fazia menção a José Genoino (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP).
Com o apoio incondicional do PSC, a situação não deve mudar. Feliciano não cogita renunciar ao posto e os partidos contrários à permanência do deputado à frente da comissão não têm alternativa regimental para destitui-lo.
Por Reinaldo Azevedo
Lula, o homem público mais financiado pelo capital da história, defende que financiamento privado de campanha seja crime inafiançável
Ai, ai…
Lula nunca teve limites e sempre se beneficiou disso. E, é evidente, muita gente permitiu que não tivesse. Então ele segue adiante. O homem participou, ao lado de Felipe González, ex-primeiro ministro da Espanha, do Fórum “Novos Desafios da Sociedade”, promovido pelo jornal “Valor Econômico”. Antes que fale sobre ele propriamente, um comentário sobre o espírito do tempo. Acho o máximo os nomes desses fóruns. Sempre tem um “novo alguma coisa”. Imaginem como seria constrangedor para a nossa inteligência fazer fóruns sobre os “velhos desafios” que não superamos. Vamos ver:
“O Velho Desafio da Educação de Qualidade”;
“O Velho Desafio da Eficiência dos Portos”;
“O Velho Desafio de uma Tributação não Extorsiva”…
E vai por aí. Debater o presente é chato. Erra-se com mais grandeza e com mais generosidade sobre o futuro. Ninguém cobra nada. Nunca ninguém perdeu dinheiro no Brasil sendo um mau profeta. Nem dinheiro nem poder, né, Guido? Eita! Vontade de ficar falando sobre esse assunto divertido em vez de ocupar meu tempo com Lula, mas é necessário porque apontar a sua mais recente hipocrisia é um dever cívico.
Na presença do espanhol, vejam vocês!, Lula reconheceu que houve avanços no governo FHC… Ah, bom! Espero que tucanos não saiam alardeando isso por aí como um diploma de aprovação: “Vejam o que ele disse!” Quando começar o processo de demonização da oposição e do passado, na campanha eleitoral, aí quem sabe se possam resgatar as raras vezes em o próprio Lula e Dilma disseram a verdade sobre a história — ainda que verdade tímida. “Avanços” é uma palavra-gaveta. Cabe qualquer coisa aí. Qual avanço? Que proposta tinha o PT à época para dar um jeito na inflação, por exemplo, e o que o partido fez durante o lançamento do Real?
Lula só estava evitando parecer bronco, imbecil mesmo!, diante de um convidado ilustre, que conhece o mundo. Fora das quatro paredes daquele evento, retomará a sua ladainha de sempre contra o passado, as elites etc. A própria Dilma, para consumo interno, aderiu à farsa, negando até a evidência escandalosa de que o cadastro únicos dos atendidos por programas sociais começou a ser elaborado no governo FHC. Não pensem que Lula mudou, que Lula aprendeu, que Lula passou a ser mais justo. Ele distingue muito bem as esferas: o discurso para plateias selecionadas é diferente da fala palanqueira. A diferença não é só de estilo, mas também de conteúdo.
Financiamento público de campanha
Lula, segundo informa Paulo Gama, na Folha, voltou a defender a farsa do financiamento público de campanha como princípio, entende-se, de moralização da política. O homem fartamente financiado por empreiteiras para correr o mundo “em defesa dos interesses nacionais” — e, claro! nesse caso, não vê mal nenhum! — tenta nos convencer de que a mãe de todas as corrupção é o financiamento privado — e legal!!! — de campanha, o que é mesmo um piada.
O problema, desde sempre, é o financiamento ilegal, não é mesmo? De campanhas e de eleitos, prática que não pode ser punida por uma Justiça Eleitoral que não tem lá tantos instrumentos. Alguém pode explicar, com base na lógica, por que o financiamento público impediria o caixa dois? Ninguém consegue. Quando se proibirem formalmente as doações privadas, haverá, isto sim, é uma explosão de financiamentos ilegais porque alguns que hoje contribuem dentro da lei vão migrar para a clandestinidade. E, evidente, os cofres públicos serão sangrados um pouco mais.
Entre repasses do fundo partidário e as compensações fiscais para os veículos de radiodifusão tanto para o horário político como para o horário eleitoral, o Estado brasileiro já gasta algo que roça aí no meio bilhão de reais a cada ano. Assim, já existe financiamento público — não na dimensão pretendida pelo Apedeuta.
Mais: é claro que ele não faria uma proposta dessas naqueles tempos em que o PT tinha 8 deputados. Hoje, é o maior partido da Câmara, e a divisão do dinheiro destinado à eleição teria de obedecer a algum critério. O tamanho da bancada já regula a distribuição do tempo de TV e do fundo partidário. Certamente seria quesito fundamental também na repartição da verba destinada à eleição. Agora que o PT chegou lá, quer mudar as leis para… não sair mais de lá.
Imaginemos uma lei que funcionasse à perfeição, só com financiamento público: com mais dinheiro, o PT teria melhores condições de enfrentar as outras legendas, e isso faria com que tivesse mais condições de permanecer como maior legenda; uma vez sendo a maior, terá mais verba… E estaria criado o ciclo vicioso do poder eterno…
Audácia do Apedeuta
Lula, o presidente do MSL — o Movimento dos Sem-Limite —, foi longe. O brasileiro mais fartamente financiado pelo capital privado de que se tem notícia na história (e, à diferença de Eike Batista, o de hoje em dia, nem precisa apresentar resultados…), se diz contra a financiamento privado de campanhas. Dinheiro de empresas e de particulares, ele só acha legítimo quando patrocina esta instituição da humanidade chamada “Luiz Inácio Lula da Silva”. Nesse caso, tudo bem! Aí é por uma boa causa!
Fora disso, ele é contra. Ousaria dizer, violando a língua, que ele é “contríssimo”!!! Tanto que, segundo disse, o financiamento privado de campanhas eleitorais deveria ser “crime inafiançável”. Já o financiamento público de algumas empresas privadas, bem, nesse caso, ele pode ceder um pouco. Afinal, não nos esqueçamos de que as andanças do lobista Lula geram despesas para os cofres públicos, conforme já ficou demonstrado.
Qualquer outro que fosse flagrado na situação em que Lula foi no caso das empreiteiras não falaria de corda em casa de enforcado. Com ele, é diferente. Isso mais o anima a defender o que seria, então, um privilégio só a ele mesmo concedido: o farto financiamento privado. Lula, já escrevi centenas de vezes, nada tem de burro. Mas é espantoso o que este senhor concorre para emburrecer a política!!!
PS – Ah, sim: ele também recomendou cuidado com esse negócio de combate à corrupção. Deu a entender que vê muito falso moralismo e diz que alguns que acusam são piores do que os acusados. Ele só não quis falar dos que foram mesmo flagrados, com provas. As alianças que o PT fez nos últimos dez anos demonstram, com efeito, que o PT vê esse negócio de corrupção sem preconceitos.
Por Reinaldo Azevedo
E a revista “Caros Amigos”, “a primeira à esquerda”, vai parar no Ministério do Trabalho por desrespeito a direitos trabalhistas e demissão de grevistas! Que coisa feia!
Vocês conhecem ou ao menos já ouviram falar da revista “Caros Amigos”, publicada pela editora Casa Amarela? Ela tem até um subtítulo, que exibe quase como uma divisa — e isso tem a sua graça: “A primeira à esquerda”. Parece-me, não sei se é, uma alusão ao fato de que, hoje em dia, existe uma supersafra de publicações e blogs que reivindicam esse estatuto, todos regiamente financiados por estatais. “Caros Amigos”, criada em 1997, com efeito, já era de esquerda no tempo em que Paulo Henrique Amorim, em 1998, acusava Lula de ter comprado sua cobertura em razão de falcatruas praticadas por Roberto Teixeira, compadre do Apedeuta. Amorim virou ultralulista, ultrapetista e ultraesquerdista a partir de 2003, recobrando, digamos assim, ímpetos juvenis. Quando funcionário graduado da Manchete e da Globo, ele não pedia controle da mídia. Era, como sabem seus contemporâneos, muito… “patronal”!!! Nos últimos 10 anos, descobriu que seu bolso é vermelho como o seu coração.
“Caros Amigos”, em suma, passou a sofrer uma espécie de concorrência desleal de neoconvertidos — ou “neocons” da… esquerda. Como alguns deles haviam passado por grandes veículos, de onde foram expulsos por seus méritos, os petistas preferiram “fazer política e negócios” com essa turma, que topa tudo, não com quem queria doutrinar, que é o caso da “Caros Amigos”. O jornalista José Arbex, um dos espíritos que animam a publicação, deveria ter se lembrado da ironia que Marx faz com os alemães, no livro “A Ideologia Alemã”, quando os comparados com os franceses no caso da disputa pela Alsácia-Lorena. Enquanto os primeiros queriam convencer os outros de sua filosofia, os franceses trataram de ocupar o território. Adivinhem com quem ficou a região… “Caros Amigos” ousa ainda, à sua moda, estar à esquerda do petismo e não ser escancaradamente governamental. O PT só entende a língua dos áulicos.
Muito bem! Enviam-me um link do site “Comunique-se” em que leio o seguinte (em vermelho):
Após demitir 11 funcionários que estavam em greve alegando “quebra de confiança”, a editora Casa Amarela, responsável pela revista “Caros Amigos”, foi convocada pelo Ministério do Trabalho para prestar esclarecimentos. O pedido aconteceu depois que o diretor geral do veículo, Wagner Nabuco, recusou o pedido de conversa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.
De acordo com as informações, a mesa-redonda está marcada para o próximo dia 28 e, na ocasião, a “Caros Amigos” deverá explicar as irregularidades na empresa. A crise que envolve o impresso foi assunto na imprensa nas últimas semanas, quando a equipe paralisou os trabalhos e divulgou carta explicando os motivos da greve. “A redação da revista Caros Amigos está em GREVE: Por não suportar mais a histórica precarização do trabalho, baixos salários, e recente ameaça de cortes, a decisão foi inevitável”.
À época, o estopim teria sido a informação divulgada por Nabuco afirmando que, a partir de abril, a revista passaria por corte de 50% dos gastos, passando de R$ 32 mil para R$ 16 mil e, consequentemente, ocasionando a demissão de quase metade dos funcionários da redação, caindo de 11 para 6 contratados. “Com evidente aumento de trabalho sem compensação salarial”, reclamaram os jornalistas grevistas.
Dias depois, Nabuco falou sobre a demissão de todos os envolvidos no protesto. Agora, junto dos 11 jornalistas dispensados, a direção do sindicato dos jornalistas pretende “debater as ações sindicais e judiciais que possam buscar o não reconhecimento das demissões, a reintegração dos jornalistas à redação e impor à editora o respeito aos direitos trabalhistas da categoria”. O Comunique-se tentou contato com a revista, mas não teve retorno.
Voltei
Eu poderia parar por aqui, sacar um clichê — “em casa de ferreiro, espeto de pau” — e dar o assunto por liquidado. Mas não consigo. Não é a primeira crise da publicação. Tenho a confiança de que o dinheiro acabará aparecendo. Outras publicações de esquerda já andam culpando o governo Dilma, que não estaria dando a devida atenção à “Caros Amigos”… Entendo. “Precarização” das condições de trabalho, salários aviltantes e agressão a direitos trabalhistas? Tudo isso numa revista de esquerda, “a primeira à esquerda”? Pois é… Pior: não tem essa de negociação com sindicato. Greve? Então é rua! É o fim da picada que “camaradas-trabalhadores” não entendam os problemas do “camarada-patrão”! Agora pausa para um historinha interessante.
Há quase sete anos — a serem completados em junho —, a revista e o site Primeira Leitura, de que eu era diretor de redação, fecharam as portas. Muita gente lamentou então. O que apareceu de “liberal” para me dar tapinha das costas, desejando “força!”, foi uma enormidade! Um ministro de Estado, figurão do governo Lula — de quem sou ainda hoje um crítico muito duro (ele não está mais no ministério) — telefonou lamentado: “Discordo de tudo o que tu publicas, mas tua revista tinha qualidade”. Tá. Outro lamento, ainda que se devam colocar uma dezena de asteriscos na palavra, partiu justamente de José Arbex, da “Caros Amigos”.
Escreveu, então, que Primeira Leitura “pretendia-se (…) porta-voz do liberalismo ilustrado”, acrescentando: “Dada a mendicância intelectual da assim chamada elite brasileira, é apenas lamentável que uma tentativa como essa tenha fracassado”. Quando “Primeira Leitura” fechou, eu e Rui da Silva Nogueira, que dirigia comigo o empreendimento, publicamos uma “Carta aos Leitores” anunciando o fim da publicação e os motivos. Embora a revista vendesse quase 50 mil exemplares, embora o site tivesse, à época, quase 5 milhões de visitantes únicos, as dificuldades com a área de publicidade eram imensas. Não tínhamos, claro!, anúncios estatais, e os anunciantes privados fugiam. Não porque a revista fosse ruim, mas porque era apontada como “de oposição. Sim, houve pressão oficial para que agências que tinham contas de empresas e órgãos públicos nos tirasse da lista. E elas tiraram.
Mesmo assim, não culpamos ninguém. Assumimos a responsabilidade. A revista que queríamos fazer, por nossa conta, era aquela, não outra. Se ela não conseguia se financiar, ainda que houvesse pressões ilegítimas, que morresse, então, o que viver não soubera. Só que há uma coisinha importante.
Quando fecharam, site e revista contavam com 25 pessoas. Todas elas receberam seus direitos — salário, férias, 13º proporcional. Mais: fez-se o aviso com antecedência. Alguns puderam ou quiseram ficar uns dias a mais, ajudando a fechar; outro não! Graças a Deus e ao talento daquela gente encantadora — meu abraço saudoso e carinhoso à equipe —, todos se arranjaram logo no mercado. Cumpríamos as nossas obrigações. E agora o que não era obrigação, mas questão de honra: pagávamos salários dignos. Os que colaboravam com a revista sabem ainda hoje que os nossos “frilas” estavam entre os mais bem-remunerados do mercado.
Salário alto ou baixo, é evidente, não é medida de qualidade de texto. Mas mede, sim, o respeito que se tem pelo esforço do outro, ora bolas! “Liberalismo ilustrado” é uma ironia de Arbex, que não confia muito na inteligência dos conservadores. Ok. É um direito dele. Convicções inequivocamente liberais, a revista as tinha, sim. Por isso mesmo, respeitar os direitos do indivíduo era uma questão de honra. Não pedíamos aos jornalistas que trabalhavam conosco que fossem militantes. Nota: também devolvemos o dinheiro aos assinantes. Isso se chama respeito ao contrato. Cometei a carta de Arbex num post publicado aqui no dia 18 de julho de 2007.
No caso da “Caros Amigos”, tanto o patrão como os demitidos emitiam suas respectivas notas de esclarecimento. Ambos falam em “publicação contra-hegemônica”. Duas coisas perturbam o meu entendimento. 1) Para ser “contra-hegemônico”, é preciso aviltar até mesmo direitos garantidos pelo poder hegemônico? No tempo em que eu era socialista, os pterodáctilos ainda voavam, e a gente queria libertar as massas de seus grilhões… 2) Defender teses de esquerda hoje em dia é estar “contra a hegemonia”?
Convenham: a ser verdade que fosse expressão do “liberalismo ilustrado”, contra-hegemônica mesmo era… Primeira Leitura, né?
Espero que os trabalhadores de “Caros Amigos” recebam ao menos o que lhes pagaria a maioria dos patrões burgueses, que não sonham “com outro mundo possível” porque estão atarefados demais tentando fechar a folha de pagamento do mundo possível.
Por Reinaldo Azevedo
Baixaria e chantagem, agora no Conselho de Ética. Só que, desta vez, sob o comando de Henrique Eduardo Alves
Os bobalhões podem forçar a mão à vontade, tentando ver no meu texto o que não está escrito. Não estou nem aí. Escrevo para quem sabe ler e para quem quer o que há neles, não o que imaginam haver. Posso discordar do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da primeira à última palavra, e é quase assim, mas não vou ceder a esse clima de linchamento que vejo em boa parte da imprensa. E pouco me importa se Caetano Veloso resolveu fazer a trilha sonora ou se Wagner Moura resolver decretar: “Pede pra sair!” Artistas e celebridades têm todo o direito de ter opinião política. Só não se deve inferir que seja mais qualificada do que a de outros. Mas essa é só uma introdução para um troço escandaloso, também ele inédito.
Evandro Éboli narra uma história estarrecedora no Globo Online. Um deputado, vocês verão, decidiu concorrer como candidato avulso à Presidência do Conselho de Ética — sim, do CONSELHO DE ÉTICA. Só que o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (aquele que quer a cabeça de Feliciano), alegou que isso feria um acordo já feito com outro deputado. E aí mobilizou o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ), um dos investigados pelo STF, para tentar barrar a candidatura alternativa.
Acredite, O CONSELHO DE ÉTICA PASSOU A SER PALCO DE CHANTAGEM! Escrevo de novo: nada menos do que o CONSELHO DE ÉTICA assistiu a um espetáculo de falta de ética! Infelizmente, no comando da pantomima, estava o neoprogressista Henrique Eduardo Alves, presidente da Casa. Agora que ele quer a cabeça de Feliciano — para delírio da galera, inclusive a jornalística! —, então tudo lhe é permitido.
Caetano e Wagner Moura poderiam se dedicar ao estudo de como são formadas as comissões e a que tipo de acordo obedecem. Mas é provável que não o façam porque, na hipótese de haver neles um lado que pondera, haveria também a diminuição de seu ímpeto militante. Leiam trecho de reportagem do Globo Online.
*
O Conselho de Ética da Câmara virou, na tarde desta terça-feira, espaço público de manobra política, de chantagens e ameaças. A sessão estava marcada para eleger o novo presidente do colegiado, para os próximos dois anos, mas nem terminou. O acordo entre o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e o PDT para eleger o novato e desconhecido deputado Marcos Rogério (PDT-RO) presidente do conselho não vingou. Tudo porque o deputado Ricardo Izar Júnior (PSD-SP) lançou sua candidatura avulsa e era o favorito na disputa, que foi adiada para terça-feira da semana que vem.
Henrique Alves interveio diretamente no andamento dos trabalhos. Com a reunião do conselho já iniciada, ele ligou para o presidente do órgão, José Carlos Araújo (PSD-BA), que suspendeu a sessão momentaneamente e atendeu o telefone da cadeira onde presidia a sessão. “Um momento. É uma ligação da presidência”,disse Araújo. Alves tentava dissuadir o presidente a continuar a sessão. Depois da ligação, Araújo fez um apelo a Izar para renunciar à sua candidatura. ”Não retiro. Mantenho”, respondeu Izar.
O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), foi até o conselho e tentou de todas as maneiras dissuadir Izar Júnior a renunciar sua candidatura alegando que havia um acordo político entre os partidos e que deveria ser mantido. Cunha fez ameaças diretas ao PSD e disse que, se Izar fosse eleito, o partido iria ser prejudicado na votação do projeto que cria cargos para a legenda e também perderia a corregedoria da Câmara.
Para corregedor já foi escolhido até o deputado Átila Lins (PSD-AM), mas sua indicação está ameaçada. Os cargos do PSD e a criação da corregedoria independente da Mesa precisam ser votados no plenário. Eduardo cunha disse ainda que “nos colegiados da Câmara não tem essa história de eleição solta e livre e que tudo é fruto de acordo político”.
“Vim aqui não só para fazer um apelo, mas um chamamento político. É preciso respeitar a força dos acordos políticos. Não existe isso de que é solto (a escolha), de que é livre. Os acordos estão interligados. Não existe processo político pela metade. Se faz de um lado e de outro. Não aceito acordo descumprido na minha cara”, disse Eduardo Cunha, que ameaçou. “Se o acordo não for cumprido, não permitirei que se vote mais nada. Nem a corregedoria nem os cargos do PSD”, afirmou o líder do PMDB.
Vários deputados reagiram na sequência. “O que que é isso?! Não podemos ter medo de disputa. Essa é uma visão autoritária. Tem os que mandam e os que obedecem?! Não é assim não. Cadê a ética? Essa não é uma comissão qualquer”, reagiu Antônio Roberto (PV-MG).
(…)
Eduardo Cunha disse que havia um acordo de lideranças para garantir a eleição de Marcos Rogério. O entendimento teria sido apenas entre Eduardo Alves e o PDT. César Colnago (PSDB-ES) afirmou que os tucanos não participaram de acordo algum. “Acabei de consultar meu partido. Não há acordo algum conosco”, disse Colnago.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Uma proposta: PSC deveria convencer Feliciano a renunciar, mas com uma condição: que todos os deputados enroscados com a Justiça, inclusive peculatários e corruptos, deixassem todas as comissões e a Mesa Diretora da Câmara. Henrique Eduardo Alves topa?
Uma operação inédita está em curso na Câmara dos Deputados. Não foi deflagrada nem contra notórios ladrões de dinheiro público. Jamais um fraudador da boa-fé do eleitorado mobilizou tanto os ânimos dos parlamentares. O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) se transformou no símbolo do mal. Lembro aqui que o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) já era processado pelo STF no caso do mensalão — acabou condenado por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro — E SE TORNOU PRESIDENTE DA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA. Ou seja: um deputado-réu cuidava da constitucionalidade dos projetos da Casa. Numa agressão flagrante ao bom senso e numa clara manifestação de escárnio e de desprezo pelo Supremo, mesmo condenados, o próprio João Paulo e José Genoino (PT-SP) integram, hojue, a CCJ, que é a comissão mais importante da Casa.
“Ah, então isso justifica tudo?” Não! Isso não justifica tudo. Só estou evidenciando a que grau chega a tolerância da Câmara com os malfeitos. No que diz respeito aos gays, Feliciano se posicionou contra o casamento de pessoas do mesmo sexo. É um direito dele. Tachar isso de homofobia é piada. É patrulha das mais grotescas. Eu, por exemplo, sou favorável. E daí? A acusação de racismo consegue ser ainda mais enviesada, embora, na aparência, possa parecer evidente. Feliciano, que tem a mãe negra, citou (e mal) uma passagem da Bíblia, e o centro de sua observação nada tinha a ver com a questão de raça ou cor da pele. Não estou livrando a cara dele. Estou sustentando que falar besteira não pode ser critério para cassar alguém de uma comissão. E, aí sim, sou obrigado a destacar: não pode ser um critério eficiente em si e também quando aplicado a uma Casa que abriga na CCJ condenados por peculato, formação de quadrilha, corrupção ativa, corrupção passiva…
Pergunto: por que o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), não se mexeu? Porque, dada a lógica do poder, é mais fácil atacar Feliciano do que dois condenados pelo Supremo; um é só do PSC; os outros dois são capas-pretas do PT.
Reunião
Alves resolveu marcar uma reunião com os líderes dos demais partidos. Ele não tem poder para obrigar Feliciano a renunciar. O que se estuda é inviabilizar o funcionamento da comissão. A ideia é a seguinte: se Feliciano não sai, os outros partidos saem. Ela ficaria reduzida aos cinco membros do PSC. Como é preciso um quórum de ao menos 10 para funcionar…
Reitero: nunca se viu nada assim antes. Todo mundo tem o direito de detestar o que Feliciano pensa, mas ele certamente NÃO é o maior vilão que já passou pela Câmara. Se vilão fosse, haveria outros bem piores, embora possam ser favoráveis ao casamento gay e se dispensar de dizer impertinências sobre a Bíblia.
Volto à proposta que fiz no título: o PSC deveria convencer Feliciano a renunciar — e ele próprio poderia fazer este favor ao país, mas com uma condição: a saída das comissões e da Mesa da Câmara de todos os deputados enroscados com a Justiça. Afinal, lá estão até condenados em última instância. Alves não deve topar porque, nessa hipótese, ele próprio não poderia ser presidente da Câmara.
Alguém dirá, e acho o argumento pertinente: “Mas espere aí, Reinaldo! Cobrar a saída de Genoino e João Paulo faz sentido. Afinal, já são condenados em última instância; os outro ainda podem vir a ser inocentados”. É verdade. Até que não se chegue à decisão da instância final, as pessoas são inocentes. Eu só estou sendo lógico e lembrando que não dá para aplicar penas a pessoas condenadas em tribunais informais, não é mesmo?
Por Reinaldo Azevedo
Não há lei que obrigue alguém a renunciar. Ou: A parte chata da democracia é que ela existe também para quem discorda de nós…
O PSC decidiu manter o deputado Marco Feliciano (SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Everaldo Pereira, vice-presidente da legenda, informa a VEJA.com, afirma que o partido “não segrega, não exclui e não discrimina ninguém”. Sobre Feliciano, acrescentou: “Qualquer um pode deslizar nas palavras, pode errar. Informamos que o PSC não abre mão da indicação.” Ele lembrou ainda que o deputado já pediu desculpas por colocações malfeitas.
Inexistem caminhos legais para tirar Feliciano da comissão — a não ser aqueles que o impediriam de ser deputado, o que não está caracterizado. Se ele não renuncia, nem mesmo o partido pode destituí-lo, ainda que venha a sofrer retaliações. Pode acontecer de a pressão começar a prejudicar a legenda, e aí Feliciano acabar sendo constrangido por seus pares. Mas se abriria, nesse caso, um precedente perigoso.
Numa manifestação havida ontem na ABI, liderada por parlamentares do PSOL — os deputados federais Jean Wyllys (RJ) e Chico Alencar (RJ) e o estadual Marcelo Freixo (RJ) — e com a presença de diversos artistas, Alencar e Wyllys podem ter falado mais do que seria prudente para a sua causa.
O primeiro deixou claro que o problema, para eles, não é Feliciano. O esforço, ficou evidente, é para retirar os evangélicos da Comissão. Afirmou: “Hoje ou amanhã, o Feliciano pode ser trocado e entrar um deputado que não diz tanta coisa que choque, mas pode representar a mesma política de anulação da comissão”. Disse ainda que o objetivo da mobilização é “matar o deputado politicamente”.
Segundo o Globo, Wyllys “ressaltou que a iniciativa do protesto não é apenas lutar contra a permanência de Marco Feliciano à frente da comissão, mas também, segundo o parlamentar, lutar contra o ‘projeto fundamentalista’ que Feliciano representa.”
Observem que aquilo que Feliciano disse ou deixou de dizer — hoje já circula mais o boato do que o fato, mais a distorção do que as palavras objetivas — já não tem mais importância. Agora o que importa é a causa. Quer-se menos tirá-lo da comissão do que tomar a comissão no berro.
Pereira lembrou que o PSC apoiou Dilma Rousseff mesmo quando ela tinha posições não muito claras — generosidade: ela era claríssima! — sobre o aborto e que chegou à comissão em razão de uma negociação política com os petistas. Bem, isso é inquestionavelmente verdade.
Até onde isso vai? Feliciano vai resistir? Não tenho a menor ideia. Eu não acho que o destino de uma comissão deva ser decidida no berro, ainda, atenção!, que os descontentes tivessem ou tenham razão. O caminho não é esse. A ser assim, não se viabiliza mais comissão nenhuma na Câmara. Sempre é possível juntar um grupo para impedir os trabalhos.
É legal, legítimo e democrático que as pessoas peçam a saída de Feliciano. Não é nem legal, nem legítimo nem democrático que se tome a comissão de assalto. É chato, eu sei, mas a democracia também existe para quem discorda de nós. É a parte mais encantadoramente chata do regime.
Por Reinaldo Azevedo
Enem: MEC terá de explicar correção de redação de candidato do RS
Na VEJA.com:
A Justiça Federal do Rio Grande do Sul ordenou que o Instituto Nacional de Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo Enem, forneça explicações detalhadas sobre os critérios utilizados na correção da redação do candidato Tiago Zanoni Cardoso na edição 2012 da prova. A sentença, divulgada na segunda-feira, é assinada pelo juiz federal Roberto Ferreira, da Vara de Canoas. O Inep pode recorrer da sentença no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Cardoso, de 26 anos, que é formado em direito, alega que a nota recebida na redação o impossibilitou de obter uma vaga no curso de gastronomia por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) — que escolhe candidatos por meio da nota do Enem. Ele alcançou 560 pontos na dissertação — mesma nota recebida pelo aluno que colocou em seu texto uma receita de macarrão instantâneo.
No início de fevereiro, o Inep franqueou a todos os participantes do Enem acesso ao espelho da redação. Pelo documento, eles puderam verificar suas dissertações digitalizadas, além das notas recebidas em cada uma das cinco competências avaliadas pela prova: domínio da norma padrão, compreensão da proposta, seleção e organização de informações, argumentação e proposta de intervenção.
No caso de Cardoso, contudo, o juiz avaliou que a “vista pedagógica da redação” não é suficiente. “Não se pode nem sequer verificar se o Inep efetivamente cumpriu as próprias regras estabelecidas, entre as quais a submissão da prova a um terceiro avaliador na hipótese de discrepância em mais de 200 pontos entre as notas dos dois avaliadores inicialmente designados”, afirma o juiz em seu despacho.
O magistrado lembra que a importância do Enem não pode ser subestimada, ou seja, o exame não é apenas um instrumento de avaliação dos concluintes do ensino médio. “Trata-se, sabidamente, de critério de ingresso adotado por muitas instituições públicas de ensino superior, (…) servindo também como forma de obtenção de bolsas do Prouni”, escreveu. “Por isso, a negativa da autarquia em fornecer cópia do espelho da redação constitui grave ofensa aos princípios constitucionais.”
Por Reinaldo Azevedo
STF nega pedido de Dirceu para ampliar prazo de recursos
Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
Às vésperas da publicação do acórdão do mensalão, fase em que a defesa dos condenados poderá entrar com recursos contra a sentença, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, negou pedido do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e do publicitário Ramon Hollerbach para ampliar o prazo de apresentação dos embargos de declaração. Esses embargos são usados para esclarecer eventuais pontos considerados obscuros nas condenações, mas não alteram o teor das penas impostas.
Em uma petição, a defesa de Dirceu pedia que os votos escritos dos ministros fossem divulgados imediatamente, o que garantiria mais tempo para análise dos argumentos de cada magistrado antes do encaminhamento dos recursos. O prazo para a publicação do acórdão do mensalão termina na próxima segunda-feira, dia 1º de abril, mas os ministros Celso de Mello, José Antonio Dias Toffoli e Rosa Weber ainda não liberaram a íntegra dos seus votos. Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão por chefiar o esquema de corrupção.
O publicitário Ramon Hollerbach, sócio do operador do mensalão, o publicitário Marcos Valério de Souza, recorreu ao Supremo para que o prazo de apresentação dos recursos fosse ampliado dos atuais cinco dias para 30 dias. Hollerbach recebeu a segunda maior pena entre os mensaleiros condenados: 29 anos, 7 meses e 20 dias de prisão.
Embora as defesas dos réus tenham argumentado que o processo do mensalão é complexo – 37 políticos, empresários e assessores foram julgados pelo STF em mais de quatro meses de julgamento –, o ministro Joaquim Barbosa disse não haver razão para ampliar o prazo de recursos e tampouco liberar os votos dos ministros antes da publicação do acordão.
“Os votos proferidos quando do julgamento foram amplamente divulgados e, inclusive, transmitidos pela TV Justiça. Todos os interessados no conteúdo das sessões públicas de julgamento, em especial os réus e seus advogados, puderam assisti-las pessoalmente no plenário desta corte”, afirmou Barbosa ao rejeitar os pedidos.
Por Reinaldo Azevedo
Caetano, Wagner Moura, Jean Wyllys e Chico Alencar se acham democratas? Então vamos ver o que eles pensam sobre o regime democrático e o Parlamento
Ouvi dizer que haviam convocado uma manifestação de repúdio ao preconceito e coisa e tal na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no Rio. Pensei: “Que bom! A ABI ainda estava sob os miasmas da corrupção ativa e da formação de quadrilha, que ali se juntaram no evento em defesa de José Dirceu”. Aí falaram que o Caetano Veloso, o Wagner Moura e a Preta Gil iriam. “Ah, então é coisa de sustança intelectual.” Imaginei que os três estavam decididos a protestar contra a Funarte, que barrou a inscrição de um trabalho de dez bailarinos negros no “Prêmio Funarte de Arte Negra” porque a pessoa jurídica à qual são ligados tem um diretor branco. Pensei: “O autodeclarado mulato Caetano Veloso não concorda com isso”.
Mas não! Tratava-se de mais uma manifestação contra Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Com alguns nomes estrelados do mundo das Artes & Espetáculos & Celebridades, a convocação logo juntou 600 pessoas, sob o comando do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
Repetiram-se as acusações de racismo e homofobia contra Feliciano. Eu jamais votaria nele para deputado. Tampouco o escolheria, se dependesse de mim, para presidir qualquer comissão. Mas o fato é que a acusação de homofobia é só uma tentativa de puni-lo por delito de opinião e que a de racismo vai além do ridículo. Feliciano tem o direito de ler errado a Bíblia, embora não deva. E é mais mulato do que Caetano Veloso.
O cantor, aliás, como de costume, arranhou a dialética:
“Não é admissível que essa Comissão de Direitos Humanos e de Minoria esteja sendo dirigida e presidida por um pastor que expressou nitidamente a intolerância, tanto da ordem sexual como racial. É fato conhecido e notório. Esse é um momento que nós deveríamos estar reunidos para tentar defender o que significa ter um Congresso. Porque o maior perigo é levar o povo brasileiro a desprezar esse nível do exercício do Poder Legislativo. Isso pode criar uma má impressão do que é democracia. Estamos reunidos aqui hoje para dizer que no Congresso não se podem fazer coisas absurdas, significa também dizer que nós não queremos viver sem o Congresso”.
“Fatos conhecidos e notórios”, em casos assim, costumam se confundir com linchamento. As duas coisas são falsas. E isso é apenas um fato. Caetano deveria nos explicar “o que significa ter um Congresso”. Eu entendo que significa, entre outras coisas, haver lá gente com a qual não concordo. E eu não concordo com Feliciano. Mas também não concordo com Caetano. O povo anda tendo algum desprezo pelo Congresso, mas por razões que passam longe dessas evocadas pelo artista. Cito o caso do mensalão, que, salvo engano, nunca levou a nossa vestal baiana para a praça — embora esteja certo de que ele não concorda com aquela sem-vergonhice.
Caetano não é burro, não! Conhece a língua portuguesa, mas se expressa numa espécie de idioleto, o “caetanês”, que pode ser surpreendentemente autoritário:“Estamos reunidos aqui hoje para dizer que, no Congresso, não se podem fazer coisas absurdas; significa também dizer que nós não queremos viver sem o Congresso”. Em síntese: “Queremos (eles querem) um Congresso, desde que ele faça coisas com as quais concordemos; se passar a fazer coisas com as quais outros concordam, aí a gente começa a pôr em dúvida a existência do Congresso”.
Quando pego no pé de Caetano, alguns amigos, admiradores de sua música, protestam. Ora, eu também gosto de muitas das suas canções. Mas o pensador da democracia pode ser de uma impressionante ligeireza.
Wagner Moura, que incorporou, definitivamente, o papel de Capitão Nascimento das causas politicamente corretas também estava lá, com aquele seu ar de pensador grave. Tentou negar que exista preconceito religioso na pressão contra Feliciano:
“Acho muito desonesto os parlamentares do PSC dizerem que a oposição ao nome do Feliciano à presidência é uma intolerância contra a figura dele. É, portanto, significativa a presença de vários líderes religiosos aqui, inclusive os pastores presbiterianos”.
Havia pastores presbiterianos lá, que, obviamente, concordavam com o pleito de Moura. Isso significa dizer, portanto, que Moura não tem intolerância nenhuma contra pastores desde que os pastores concordem com… Moura!
Ainda bem que o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) estava lá para dizer a verdade: “Hoje ou amanhã, o Feliciano pode ser trocado e entrar um deputado que não diz tanta coisa que choque, mas pode representar a mesma política de anulação da comissão”. Vale dizer: Alencar quer é destituir a comissão inteira. Feliciano é apenas o primeiro da lista.
Jean Wyllys, numa demonstração que entende perfeitamente a independência entre os Poderes herdada lá de Montesquieu, cobrou que Dilma — sim, que a chefe do Executivo! — faça alguma coisa. E pensou, indo a altitudes inéditas: “O governo sabe se meter no Legislativo quando é de seu interesse”. A sabedoria convencional estaria a indicar que o deputado Wyllys — que é representante de um Poder, não apenas dos gays — deveria é protestar contra a ingerência do governo no Legislativo… Mas quê! Ele quer é ainda mais ingerência. Quando é a favor de causas que ele defende, então essa ingerência é boa. Entenderam?
Wyllys extrapolou. Leio no Globo:
Jean Wyllys ressaltou que a iniciativa do protesto não é apenas lutar contra a permanência de Marco Feliciano à frente da comissão, mas também, segundo o parlamentar, lutar contra o “projeto fundamentalista” que Feliciano representa. Ele disse ainda que os possíveis pré-candidatos à Presidência da República em 2014, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (REDE) e Eduardo Campos (PSB) deveriam participar deste debate.
“Toda a sociedade está engajada. E o comportamento dessas quatro pessoas potenciais candidatos no ano que vem é ignorar esse movimento. Isso é inadmissível”, declarou o deputado, lembrando de questões referentes aos direitos LGBT e à religião. Para ele, este tema foi ignorado na última eleição para a Presidência da República, em 2010.
Eu não concordo com uma vírgula do que pensa o deputado Feliciano. Mas noto, pelas palavras de Wyllys, que ele tem certa propensão a eliminar do mundo dos vivos os que o contestam. E, obviamente, nesses termos, não terei como concordar com ele, com Caetano, com Moura e com a psolada toda porque vai que amanhã eles tentem me eliminar também, né?
Lamento! As palavras estão aí e fazem sentido. Essa gente não tem como dar aula de tolerância a ninguém. Até porque o seu protesto é seletivo, politicamente orientado. O silêncio sobre a violência institucional ocorrida na Funarte diz tudo.
Chico Alencar deu o fecho de ouro: “Ouvi dizer que ele (Feliciano) disse que só sairia morto. Nós, defensores dos direitos humanos, queremos matá-lo politicamente”. Alencar me força a lembrar que socialistas defensores de direitos humanos são mesmo uma novidade na história, coisa recente. Como não podem — não nas democracias ao menos — matar seus adversários fisicamente, tentam matá-los moralmente.
Não por acaso, um dos fundadores do PSOL, ali mesmo no Rio de Chico Alencar e Freixo, é Achile Lollo. Está tudo contado aqui. Quem é ele? Trata-se de um terrorista italiano que, em 1973, despejou gasolina sob a porta de um apartamento, na Itália, onde estavam um gari, sua mulher e seis filhos. Ateou fogo. Morreram uma criança de 8 anos, Stefano, e seu irmão mais velho, de 22, Virgilio. O gari era membro de um partido neofascista. Como Lollo não gostava do fascismo, então ele resolveu incendiar crianças, entenderam? Um verdadeiro humanista!!!
Não! O pensamento de Feliciano não me serve e eu o combato. Mas toda essa gente que fala aí acima não tem a menor, a mais remota, a mais pálida ideia do que seja um regime democrático. Encerro com esta ilustração.
A PIRA HUMANISTA – O jovem Virgílio, minutos antes de morrer carbonizado, vítima de um atentado terrorista praticado por Achille Lollo, que hoje vive livre, leve e solto no Rio. Foi um dos fundadores do PSOL, que hoje pretende dar aula de democracia
Por Reinaldo Azevedo
Quinhentos anos de atraso. Ou: O açougue brasileiro
Às vezes, o Brasil está atrasado mais de 500 anos.
O açougue, o matadouro, a carne do animal retalhada, já foi parar em várias telas. Com muita insistência, como vocês verão abaixo, entre os séculos 16 e 17, o que faz sentido. Era um tempo de contraste entre a carne e o espírito. O animal aos pedaços nos lembrava, ao menos em parte, do que éramos feitos.
Vejam esta foto de Sérgio Dutti do Brasil do século 21. É um matadouro da cidade de Vazante, em Minas. Prestem atenção agora às imagens que seguem. Todos esses quadros se chamam “Açougue”. Atribuo as respectivas autorias e o período em que viveu o artista.
“Açougue”, de Pieter Aertsen (1508-1575). O Brasil, como se nota, é mais grotesco
Acima, “O Açougue” de Annibale Caracci (1569-1609): não dá nem para o cheiro
Agora ” O Açougue”, de Annibale Passerotti (1529-1592): havia certo decoro
David Teniers o Jovem (1610-1690), pintou o seu “Açougue”: o corpo é casca
Acima, “O Açougue” de Reinier Coveyin (1636-1674): o ambiente é asséptico
O Brasil pode surpreender a arte, acanalhá-la e acanalhar-se. Leiam texto da VEJA.com. Volto em seguida.
O PPS anunciou que vai protocolar até a manhã desta terça-feira na Mesa Diretora da Câmara um requerimento cobrando explicações do novo ministro da Agricultura, Antônio Andrade, sobre sua parceria com um abatedouro clandestino no município mineiro de Vazante. Reportagem de VEJA desta semana mostra que o Antônio Andrade, conhecido criador de gado, é cliente e amigo do proprietário do matadouro, que já foi autuado por abate ilegal e condições de higiene precárias. “Trata-se de uma denúncia grave que precisa de um esclarecimento imediato do ministro. Como pode uma autoridade responsável por zelar pela saúde animal de nosso rebanho compactuar e se beneficiar de uma situação destas?”, afirmou o líder do partido, deputado Rubens Bueno (PR).
A reportagem de VEJA mostra que o novo ministro da Agricultura tem seis propriedades rurais em Vazante, sua base eleitoral, e um rebanho de mais de 3.000 cabeças de gado. Andrade fornece animais para o abate e usa a carne para alimentar funcionários de suas fazendas.
A Câmara tem prazo de 15 dias para enviar o ofício ao Ministério da Agricultura. Após o recebimento, Andrade terá 30 dias para apresentar uma resposta. O Ministério Público de Minas Gerais solicitou à Polícia Ambiental uma inspeção no local de abate, a ser realizada na manhã desta terça-feira. De acordo com o promotor José Geraldo Rocha, a interdição será pedida caso o laudo aponte irregularidades no estabelecimento.
Voltei
O Brasil tem uma das pecuárias mais desenvolvidas e produtivas do mundo. O próprio ministro é um grande e competente produtor, até onde se sabe. É evidente que o país não pode conviver com essas cenas de horror. O que se tem ali é uma óbvia ameaça à saúde das pessoas. Estabelecimentos que praticam abates nessas condições não podem ser autuados. Têm de ser fechados.
O ministro, que ganhou uma pasta num daqueles acordões do governo Dilma com o PMDB, não pode fazer de conta que a coisa não lhe diz respeito. Sustentar que ignorava a existência do abatedouro clandestino, com o qual sua empresa negocia, ofende a inteligência e os fatos. Absurdos como esse correm o mundo e depõem contra o bom produtor brasileiro, que nada tem a ver com o descalabro.
Por Reinaldo Azevedo
Dilma e Cabral não precisam ir à missa; precisam é cumprir a palavra. Isso, sim, seria uma atitude cristã
A presidente Dilma Rousseff participa hoje, ao lado do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), de uma missa em memória das 33 vítimas dos deslizamentos de Petrópolis. Tá. Todo político tem de ir aonde os problemas estão. Mas é preciso que repudiemos a virtude eventual que serve para ocultar o vício sistemático. Já chego lá.
Sou católico, mas não gosto de ver políticos em igrejas. Se evangélico fosse, não gostaria vê-los dando plantão nos templos. Tampouco aprovaria a mistura incômoda, delinquente às vezes, entre política e religião. Há lugares em que políticos nunca estão fazendo boa coisa — antigamente, costumavam bater à porta de quartéis, por exemplo. Nem Deus nem a vida das pessoas deveriam estar sujeitos à demagogia.
Penso aqui na candidata Dilma Rousseff indo a Aparecida e se atrapalhando toda na hora da persignação. Tentava, com aquele gesto, eliminar da memória do eleitorado algumas defesas incômodas que havia feito. Ela tinha e tem o direito a uma opinião sobre qualquer assunto. Feio é tentar enganar o distinto público. Na semana passada, os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Marcelo Crivella (Pesca) foram a um encontro de pastores da Assembleia de Deus de Madureira. Carvalho falou dos vínculos inquebrantáveis de Dilma com os Evangelhos. Crivella, que é bispo da Universal do Reino de Deus (a igreja de Edir Macedo), preferiu ser prático: como os pobres, segundo ele, vivem melhor hoje, sobra mais dinheiro para o dízimo.
Começo por este: reduziu a dimensão espiritual a um problema de fluxo de caixa. Sendo quem é e vindo de onde vem, não é de estranhar. A formulação fala por si. Quanto a Carvalho… Em janeiro do ano passado, este senhor participou do Fórum Social Mundial em Porto Alegre e conclamou os petistas a disputar influência com os evangélicos junto à tal nova classe C. Escrevi a respeito. Naquele momento, o chefão do PT tratava seu partido como igreja. E essa disputa, não custa lembrar, está em curso. Os petistas estão usando o caso do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), por exemplo, para distinguir os “evangélicos do bem” dos “evangélicos do mal”.
Eu prefiro que os políticos tenham e veiculem valores cristãos, mas, definitivamente, não gosto de vê-los em igrejas. Sabem por quê? Porque, quase sempre, é uma falsidade. Quantas vezes Dilma foi à missa nos últimos 30 anos? Não é obrigada! Todos sabem que não é católica. Em Roma, um tanto descolada da realidade, atreveu-se a dar conselhos ao papa Francisco. A ficha só caiu depois.
Leiam o que informa a VEJA.com. Volto depois.
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Governo federal decreta estado de emergência em Petrópolis
O Secretário Nacional de Defesa Civil, Humberto Viana, decretou estado de emergência em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, em função das chuvas que deixaram 33 mortos desde a madrugada do último dia 18. A portaria nº 40, publicada no Diário Oficial, diz que o governo federal reconhece a situação do município “em decorrência de deslizamentos de solo e/ou rocha”. De acordo com a Defesa Civil, o temporal provocou 21 pontos de deslizamento ou alagamento na cidade. Do total de vítimas fatais, três morreram após serem hospitalizadas. Levantamento feito pela prefeitura calcula que mais de mil pessoas permanecem desalojadas.
Dilma
Petrópolis entra em situação de emergência no dia em que recebe a visita da presidente Dilma Rousseff, que participa de uma missa em homenagem às vítimas da chuva ao lado do governador Sérgio Cabral. Espera-se que ela apresente uma espécie de versão 2.0 de promessa para solucionar o problema das chuvas na Serra. Contudo, os últimos acontecimentos políticos em torno das eleições de 2014 podem roubar o foco na chegada da presidente, que já enfrentaria constrangimento suficiente ao se deparar com uma nova tragédia na cidade que não recebeu a lista robusta de obras prometidas em 2011, quando as chuvas também devastaram a região.
Além disso, ela posa ao lado de Cabral logo após o PMDB divulgar um dossiê encomendado pelo próprio partido acusando o senador Lindbergh Farias, do PT, de desvio de verba. E do contra-ataque de Lindbergh que, em um vídeo publicado no Facebook, ressuscitou o episódio da farra dos guardanapos na cabeça de integrantes do primeiro escalão do governo com o empresário Fernando Cavendish, da empreiteira Delta.
Voltei
Eis aí. Lamento ter de escrever isto porque é asqueroso: o fato é que está havendo a politização da tragédia. Os mortos de agora, em Petrópolis, foram paridos pelos mortos de antes. Quando falta ação do poder público, os cadáveres procriam. E estes darão à luz outros tantos no ano que vem se o governo Cabral não mudar seu comportamento, se o governo Dilma não mudar seu comportamento.
A chuva, já escrevi tantas vezes, não é culpa de ninguém. Não cumprir o prometido para as populações carentes, não gastar o dinheiro reservado para a prevenção de tragédias, aí estamos lidando, sim, com a responsabilidade de governos — “culpa”, se quiserem.
Tão logo Francisco foi investido da mitra papal, mandou um recado aos argentinos em particular: “Não venham a Roma ver o papa; doem o dinheiro aos pobres”. Francisco certamente recomendaria a Dilma e a Cabral que se dispensassem de comparecer a um ritual religioso que nada lhes diz (ainda me lembro de Cabral, em defesa do aborto, ter perguntado à audiência, com aquela sua ligeireza habitual: “Quem aqui não teve uma namoradinha que teve de abortar?”).
A maneira que estes dois têm de arcar com suas respectivas responsabilidades de governantes – e, sim, de atuar segundo os princípios cristãos – é cumprindo as promessas feitas ao povo de Petrópolis. Às vezes, ir à missa ou ao culto evangélico é só uma forma privilegiada de ofender os fundamentos do cristianismo.
Por Reinaldo Azevedo
Herança maldita da dupla Lula-Gabrielli: acionistas da Petrobras perdem 21% em 12 meses
Volte e meia penso o que teria acontecido a José Sérgio Gabrielli, que presidiu a Petrobras nos oito anos de governo Lula e no primeiro ano de governo de Dilma, se tivesse sido dirigente de uma empresa privada. Não seria convidado nem para servir um cafezinho. A quantidade de más notícias que a estatal acumula decorrentes de sua gestão é uma coisa espantosa. Por quê? Porque a gigante foi usada para fazer política. Em vez de cair no index dos maus gestores, no entanto, Gabrielli foi ser secretário de Planejamento da Bahia, e o governador Jaques Wagner (PT) tenta emplacá-lo como candidato do partido à sua sucessão.
Num país com uma oposição um pouco mais atilada e com um Parlamento minimamente independente, já se teria instalado a CPI da Petrobras. Mas quê… Basta tocar no nome da empresa para que alguns vigaristas apontem longo alguma conspiração. Na Presidência da gigante, Gabrielli chegou a contar uma mentira escandalosa: afirmou que FHC tinha a intenção de privatizar a parte pública da empresa. A Petrobras é uma empresa de economia mista, mas foi gerida durante nove anos como se fosse uma extensão do PT. Leiam o que informa Maria Paula Autran, na Folha:
Cálculos feitos para a Folha pela empresa de informações financeiras Comdinheiro mostram que quem aplicou R$ 10 mil há 12 meses no papel mais negociado da estatal (o preferencial, sem direito a voto) tinha, em 19 de março deste ano, R$ 7.912,18, já considerando os proventos (dividendos, juros sobre capital próprio e rendimentos). Quem investiu o valor na ação ordinária (menos negociada, com direito a voto) perdeu mais dinheiro: o saldo diminuiu para R$ 7.021,70.
As ações caíram no período pressionadas pela desconfiança dos investidores em relação à ingerência do governo na empresa, que impediu, por exemplo, reajustes mais elevados da gasolina por causa da inflação. Além disso, a companhia reduziu os dividendos (fatia do lucro distribuída aos acionistas) no ano passado. Na avaliação de especialistas, para quem tem papéis da companhia ou pensa em comprá-los com uma visão de retorno no curto prazo, a perspectiva não é boa.
“O fator político é preponderante e, se isso continuar no lugar de maximização de valor, o resultado não tem por que ser diferente”, diz Rafael Paschoarelli, professor da USP e um dos responsáveis pelo levantamento.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Atenção, povo do Rio! Na guerra entre Lindbergh Farias, investigado pelo STF, e Cabral, o relapso da região serrana, acredite nos dois e fuja de ambos! Ou: Chega de coraçãozinho!
Vejam esta foto, de autoria de Pablo Jacobo, de O Globo.
Essa coisa fofa, com um monte de gente fazendo coraçãozinho, é da eleição de 2010. No palanque estão Marcelo Crivella (PRB), hoje ministro da Pesca; o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Acabou a fofura. Agora é pau puro!
A disputa pelo governo do Rio está ficando interessante. Cabral quer emplacar como seu sucessor o vice, Luiz Fernando Pezão, e gostaria de contar com o apoio do PT. Lindbergh, no entanto, diz que não abre mão de sua candidatura. E a guerra foi deflagrada. O mais curioso é que os dois lados parecem ter razão, entendem? Pior para o povo do Rio. Vamos ver.
O PMDB pôs para circular um dossiê com um fato: o petista é investigado pelo Supremo Tribunal Federal. Não se trata de boato. Informa o Globo:
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi acusado de ter montado um esquema de recebimento de propina de empresas contratadas por Nova Iguaçu, quando ele foi prefeito do município, entre 2005 e 2010.
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A investigação é baseada em dois depoimentos prestados em 2007 ao Ministério Público Estadual por Elza Elena Barbosa Araújo, ex-chefe de gabinete da Secretaria de Finanças de Nova Iguaçu, que até então estava sob sigilo. Segundo ela, logo no início do mandato, em 2005, Lindbergh montou um esquema de captação de propina entre empresas contratadas pela prefeitura. Os valores chegariam a até R$ 500 mil por contrato. Os recursos eram usados, segundo a acusação, para quitar despesas pessoas do então prefeito, inclusive prestações de um apartamento da mãe dele, Ana Maria, em Brasília. Outra acusação da ex-funcionária da prefeitura atinge Carlos Frederico Farias, irmão de Lindbergh. A empresa Bougainville Urbanismo, de sua propriedade, teria recebido R$ 250 mil do esquema. O Tribunal de Justiça do Rio autorizou a quebra de sigilos do senador, inclusive de cartão de crédito e aplicações financeiras.
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Fúria
Muito bem! Lindbergh ficou furioso. E reagiu. Informa Cássio Bruno no Globo:
Levantamento apresentado ontem pelo grupo político do senador, a pedido do próprio, mostra que R$ 887 milhões que teriam sido repassados pela União ainda não foram utilizados pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) na reconstrução das cidades da Região Serrana castigadas pelas chuvas em 2011.
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“Quem faz guerra de dossiês e jogo sujo é o PMDB. Essa é a política velha que queremos derrotar. Em vez de ficarem fabricando dossiês, eles deveriam se concentrar nas obras da Região Serrana. A Dilma fez tudo certo ao liberar os recursos. O problema é que, dois anos depois, as obras não foram iniciadas. Muitas (obras) não foram licitadas, e outras ainda estão em fase de elaboração de projetos. Isso tem nome: má gestão e negligência com a vida das pessoas”, disparou Lindbergh em entrevista ao GLOBO.
A verba federal transferida seria referente à construção de casas, contenção de encostas, dragagem de rios e drenagem da água das chuvas, obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e reconstrução de pontes.
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No fim de semana, Lindbergh colocou um vídeo no Facebook. Nele, lembra o episódio que provocou uma crise no governo Cabral no ano passado: as fotos publicadas na internet pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR) em que secretários de Cabral aparecem se divertindo, em 2009, com guardanapos na cabeça, em Paris, ao lado do governador e do ex-presidente da Delta Construções Fernando Cavendish. “Estão querendo jogar todo mundo na lama. Não adianta. Eles não vão conseguir colocar um guardanapo na minha cabeça. Temos outra conduta: não faço política patrimonialista e para enriquecer”, diz Lindbergh, no vídeo.
Cabral respondeu por nota:
“O governador desaprova e desautoriza o uso de dossiês, lamentando constatar a atribuição deste ao PMDB. À Justiça, cabe julgar fatos. Quaisquer diferenças entre políticos devem ser tratadas com a devida seriedade e respeito dentro do campo político”.
A Secretaria de Obras disse que agiu rapidamente após os deslizamentos de 2011 e vem trabalhando na recuperação da Região Serrana. Segundo o órgão, imediatamente após à tragédia, os R$ 70 milhões repassados pelo governo federal foram destinados aos serviços emergenciais em sete municípios. A secretaria disse ainda que o total a ser investido na região é de R$ 2,2 bilhões, sendo R$ 1,2 bilhão de recursos federais.
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Retomo
Deixe-me ver se entendi. Lindbergh não faz política patrimonialista ou para enriquecer. Como diz isso num vídeo em que leva ao ar as imagens de Cabral dançando na boquinha da garrafa, com Fernando Cavendish, em Paris, suponho, então, que ache que o governador do Rio é que faz política “patrimonialista e para enriquecer”. E isso me faz supor que, há pouco mais de dois anos, Lindbergh colaborou para manter gente assim no poder, certo? Ou ele só descobriu agora o “verdadeiro Cabral”? Ora…
O senador diz também querer derrotar a “política velha” do PMDB. Entendo. Em 2010, ela ainda era nova e só envelheceu depois? A incúria do governo do Rio do caso de Petrópolis dispensa provas adicionais; é autodemonstrável — nota à margem: Lindbergh faz política mesquinha quando poupa o governo federal de críticas. Que o senador seja investigado no STF, isso também é um fato. Ou não é? Não quer dizer que seja culpado necessariamente, mas a investigação existe. E o tribunal não costuma dar atenção a meros boatos.
Por enquanto, os dois lados falam a verdade. Que medo! Só me resta concluir que, até 2010, ambos estavam, então, unidos contra o povo, né? Aí houve um excesso de ambição de Cabral, que quer fazer seu sucessor, e de Lindbergh, que quer o lugar do próprio Cabral, e a coisa desandou. Um e outro pedem ao povo que não confie mais naquele em que, até anteontem, eles mesmos confiavam. Que gente exótica!
Como estavam juntos, sugiro ao povo fluminense que acredite tanto no PMDB como no PT. Não sei se fui muito sutil.
Por Reinaldo Azevedo
1 comentário
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Maurício Carvalho Pinheiro São Paulo - SP
A ultima do desgoverno é a interdição do Engenhão e outras obras feitas para o Pan e que já estão ciando aos pedaços. Os mesmo caras estão organizando a Olimpiada ou Olim piada !! E foi a Delta quem fez. Tirou a diferença de preço de artigos de 2ª utilizados para dar como comissão ao PT e ao Cabral ??? para conquistar essa e outras obras ???