Uma safra de muito trabalho... e custo alto!!, por Glauber Silveira
Há muitos anos eu não via produtores tão preocupados e vigilantes com uma safra como a atual..., se antes o clima era a principal preocupação nacional (afinal ele é um fator determinante da produtividade), nesta safra todos os olhos e atenções estavam voltadas para as vistorias das lavouras. Essas vistorias, que eram semanais, passaram a ser diárias... com produtores entrando nas lavouras, "batendo pano", temendo a infestação de lagartas -- seja a Helicoverpa, a Falsa medideira, ou qualquer outra...
O que parece é que todas as lagartas se tornaram mais agressivas.
E por que as lagartas, que antes tinham um simples manejo, passaram a ter um controle mais difícil??!!,.. (inclusive necessitando um treinamento adequado na hora da aplicação, exigindo também mudanças de bicos e até mesmo a mistura de produtos??!!) O que está acontecendo??
A resposta ainda não sabemos com absoluta certeza. Mas suspeitamos que seja, primeiro, porque foi retirado do mercado produtos de contato de excelente desempenho, como o endossulfam e o metamidofós, e, segundo, pelo aumento da resistência das lagartas aos produtos disponíveis (pela seleção das resistentes). É certo que, até final da safra, a Embrapa terá essas respostas...
Mas, um fato é incontestável: o fim do ano passado, no natal e ano novo, foi, sem dúvida, uma semana diferente. Muitos produtores que costumavam viajar nessa época, deixando suas produções aos cuidados dos técnicos, abriram mão das férias e passaram a bater pano e a acompanhar cada aplicação de inseticida em suas lavouras. A incidência de lagartas foi e está sendo muito grande..., agricultores se viram enlouquecidos em busca do melhor produto ou da melhor mistura para fazer o controle -- e a quantidade de aplicações dobrou ou até triplicou...
Dessa forma, se, por um lado, o clima tem ajudado para que as lavouras (em sua maioria) estejam em boas condições, por outro a garantia de rentabilidade está indo para o ralo..., pois estamos vivenciando a safra com o maior custo da história!!!.
Primeiro, com os defensivos agrícolas, que, segundo a CONAB, estamos tendo um incremento de preço que supera 80% (na média nacional) em relação aos preços do ano passado -- sendo que na Bahia esse aumento de custo chega a ser, até agora, de 196%, e de 171% no Mato Grosso!!!. Sem falar no custeio geral que está 31% maior que a safra anterior, que já foi cara!!!.
Com esses números é fácil entender o pânico que assomou os produtores na virada do ano... Na tentativa de evitar prejuízos amargos, os produtores brasileiros viraram "vigilantes de lavoura", isso para obter o máximo de produção possível.
Só que agora surge o segundo problema: em janeiro, costumeiramente, a vilã ferrugem ressurge sempre agressiva, em razão das chuvas que se intensificam principalmente no Centro-Oeste e Brasil Central. resultado: mais custos, mais despesas, e a situação está ficando incontrolável...
Pode até parecer estranho este "chororô" dos rodutores de soja do Brasil, uma vez que o governo comemora uma possibilidade de super safra, mas a verdade é que nós, produtores, estamos sofrendo a pressão de uma safra pra lá de complicada.
A Conab divulgou os números da futura safra brasileira de soja, algo em torno de 90 milhões de toneladas. E que devemos nos tornar o maior produtor mundial da oleaginosa, superando os EUA (que produziu 88,66 milhões de toneladas), mas estes números podem sofrer mudanças. Acredito que, talvez ainda, não seja nesta safra que sejamos os maiores produtores de soja mundiais. E até arriscaria números brasileiros abaixo de 88 milhões de toneladas...., mas isto não importa, para nós, produtores, o que interessa é ter renda.
Este mês de janeiro é importantíssimo para a consolidação de nossa produtividade, e fora alguns problemas (na Bahia, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraná de forma regionalizada), a safra vai se consolidando e, se o clima ajudar até o final, conseguiremos colher sem maiores problemas - é o que espero... Com isto, teremos uma produção maior, com 5 a 8 milhões de toneladas a mais de soja -- mas que terão de sair pelas mesmas estradas, pelos mesmos portos onde, infelizmente, não tivemos mudanças positivas no quesito logística. Espero que o que previmos não aconteça, ou seja, que tenhamos um caos logistico maior ainda que do ano anterior.
E como já mencionei várias vezes aqui neste espaço do Notícias agrícolas, quando sentamos com o governo para conversar sobre renda agrícola, o diálogo fica estranho..., afinal ele comemora os números de super safra e nós reclamamos de super problemas..., seja de infraestrutura (já já vai faltar armazém), estradas que estão piores, o porto que não recebeu cobertura, a ferrovia que é a mesma, os produtos de defesa sanitária perdendo eficiência, os custos que têm seu pico de alta e etc. Enfim, parece uma conversa de surdos, a gente fala e parece que o outro lado não entende (ou não quer entender...)
Mas, como se diz na roça, a vida continua, apesar de tudo... este é ano de eleição e esperamos que, junto com as promessas de campanha, venham às realizações.
Glauber Silveira, é produtor no MT, engenheiro agronomo e presidente da Aprosoja Brasil.
Abaixo, artigo da senadora Kátia Abreu publicado na Folha de S. Paulo no dia 11 de janeiro de 2014
Conspiração, teoria e prática
"Teoria da conspiração" tornou-se uma espécie de mantra para banir qualquer avaliação mais profunda da conjuntura política. O termo é invocado mesmo quando já se está diante não de uma tese, mas da própria prática conspirativa.
Os fatos estão aí: há um projeto em curso, que pretende restringir e relativizar a propriedade privada e a economia de mercado. Em suma, o Estado democrático de Direito. O setor rural é o mais visado.
Usa-se o pretexto da crise social para invasões criminosas a propriedades produtivas: sem-terra, quilombolas e índios têm sido a massa de manobra, incentivada por ativistas, que, no entanto, não querem banir a pobreza.
Servem-se dela para combater a livre iniciativa e estatizar a produção rural. Espalham terror nas fazendas e, por meio de propaganda, acolhida pela mídia nacional, transformam a vítima em vilão. Nos meios acadêmicos, tem-se o produtor rural como personagem vil, egoísta, escravagista, predador ambiental, despojado de qualquer resquício humanitário ou mesmo civilizatório.
No entanto, é esse "monstro" que garante há anos à população o melhor e mais barato alimento do mundo, o superavit da balança comercial e a geração de emprego e renda no campo.
Nada menos que um terço dos empregos formais do país está no meio rural, que, não tenham dúvida, prepara uma nova geração de brasileiros, apta a graduar o desenvolvimento nacional.
Enfrenta, no entanto, a ação conspirativa desestabilizadora, que infunde medo e insegurança jurídica, reduzindo investimentos e gerando violência, que expõe não os ativistas, mas sua massa de manobra, os inocentes úteis já mencionados.
Vejamos a questão indígena: alega-se que os índios precisam de mais terras. Ocorre que eles -cerca de 800 mil, sendo 500 mil aldeados- dispõem de mais território que os demais 200 milhões de compatriotas. Enquanto estes habitam 11% do território, os índios dispõem de 13%. Não significa que estejam bem, mas que carecem não de terras, e sim de assistência do Estado, que lhes permita ascender socialmente, como qualquer ser humano.
Mas os antropólogos que dirigem a Funai não estão interessados no índio como cidadão, e sim como figura simbólica. Há o índio real e o da Funai, em nome do qual os antropólogos erguem bandeiras anacrônicas, querendo que, no presente, imponham-se compensações por atos de três, quatro séculos atrás.
O brasileiro índio do tempo de Pedro Álvares Cabral não é o de hoje, que, mesmo em aldeias, não se sente exclusivamente um ente da floresta, mas também um homem do seu tempo, com as mesmas aspirações dos demais brasileiros.
Imagine-se se os franceses de ascendência normanda fossem obrigados pelos de descendência gaulesa a deixar o país, para compensar invasões ocorridas na Idade Média. Ou os descendentes de mouros fossem obrigados a deixar a Península Ibérica, que invadiram e dominaram por oito séculos.
A história humana foi marcada por embates, invasões e violência. O processo civilizatório consiste em superar esses estágios primitivos pela integração. O Brasil é um caudal de raças e culturas, em que o índio, o negro e o europeu formam um DNA comum, ao lado de imigrantes mais tardios, como os japoneses.
Querer racializar o processo social, mais que uma heresia, é um disparate; é como cortar o rabo do cachorro e afirmar que o rabo é uma coisa e o cachorro outra.
A sociedade brasileira está sendo artificialmente desunida e segmentada em negros, índios, feministas, gays, ambientalistas e assim por diante. Em torno de cada um desses grupos aglutinam-se milhares de ONGs, semeando o sentimento de que cada qual padece de injustiças, que têm que ser cobradas do conjunto da sociedade.
Que país pretendem construir? Não tenham dúvida: um país em que o Estado, com seu poder de coerção, seja a única instância capaz de deter os conflitos que ele mesmo produz; um Estado arbitrário, na contramão dos fundamentos da democracia. Não é teoria da conspiração. É o que está aí.
Kátia Abreu é senadora (PSD-TO) e preside a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Escreve aos sábados no caderno 'Mercado' da Folha de S. Paulo.
1 comentário
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Pios é, no roda pé de seu comentário esta la escrito: Senadora Kátia Abreu (PSD-TO), portanto cara Senadora quem apóia o governo faz parte da trupe, ou eu sou muito burro e não entendi ou a sra. faz parte da coisa, como é?