MERCADO DE AÇÚCAR: Mãos Estranhas

Publicado em 19/12/2011 06:40
por Arnaldo Luis Correa, da Archer


O mercado de açúcar em NY fechou a semana cotado a 23,12 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março/2012, com pequena baixa de 6 dólares por tonelada. Os vencimentos maio e julho de 2012 também mostraram queda pequena. Para os vencimentos de outubro de 2012 em diante, todos os meses fecharam em alta entre 2 e 6 dólares por tonelada. Em 31/12 passado, o março de 2012 fechou a 23,76 (a queda no ano foi de 2,7%).

O mercado de açúcar continua em mãos estranhas, ou seja, hoje temos que ficar muito mais atentos ao desenrolar das questões macroeconômicas mundiais que afetam as commodities e potencializam a reação de preços do que propriamente aos fundamentos. Estes só vão dar as caras depois que a poeira assentar. O duro é saber quando. Para piorar o clima, esta semana, uma importante instituição financeira francesa com profundas raízes no agronegócio informou que decidiu parar a comercialização e o financiamento de commodities, numa atitude de reavaliação de riscos imposta pela crise europeia. Em novembro passado, outra instituição também anunciara sua saída do mercado de commodities. E parece que a coisa não vai parar aí. A falta de participantes de tal magnitude além de deixar o crédito escasso vai torná-lo seletivo. No mercado de açúcar, usinas com histórico de crédito ruim terão dificuldade ainda maior de negociar ou renegociar contratos, bem como dificilmente terão um prazo muito ex tenso para a fixação de preços do que ainda tem para embarcar. Se hoje as tradings reduziram para 45-90 dias de fixação antes da data do embarque, com fortes restrições no horizonte, a tendência desse prazo e estreitar ainda mais.

Dezembro tem sido, até agora, um péssimo mês para as commodities: o algodão caiu quase 16%, o milho derrete 10%, o café 8%, o açúcar 7% e a soja 6%. No acumulado do ano, o açúcar está em um “honroso” terceiro lugar com perdas de 28,6% logo atrás do cacau, com 28,9% e do algodão com quase 40%. Annus horribilis para as commodities.

Muito alinhada com nossa opinião externada no último comentário semanal, a UNICA também acredita que o mercado internacional de açúcar tem importante suporte ao redor de 22 centavos de dólar por libra-peso equivalente FOB, pois abaixo desse valor “haveria uma migração para a produção de etanol”.

Na contramão, enquanto o governo trabalha com uma perspectiva de estoque de passagem zero para o hidratado na entressafra - ou até mesmo de falta do produto - muitos traders acreditam que teremos estoque suficiente para mais de um mês na entressafra, colocando pressão nas cotações.

O presidente da UNICA, Marcos Jank, fez uma recapitulação do que ocorreu com o setor nos últimos anos. Uma desaceleração da produção de cana de 2008/2009 para cá, em função da crise financeira mundial, dos problemas climáticos enfrentados nas últimas 3 safras e da perda de competitividade do etanol em relação à gasolina. O que impressiona nos números apresentados por ele, é que nos últimos seis anos, em menos de 20% do período analisado o preço do etanol para o consumidor esteve acima da paridade de 70% do preço da gasolina C, apesar da falta de regras claras por parte do governo para a formação de preço da gasolina.

O mais impressionante dos dados apresentados é que o preço do etanol para o produtor nesse mesmo período, em mais de 2/3 das ocasiões esteve abaixo do custo de produção. Ou seja, o produtor de cana é quem subsidia a gasolina e paga a conta da incapacidade do governo de fazer uma política de energia limpa que remunere o produtor adequadamente, não via subsidio ou esmola, mas dando transparência ao mercado, deixando que a lei da oferta e procura prevaleça. No entanto, a gasolina está com o preço congelado desde setembro de 2005.

A UNICA acredita que para atender ao consumo doméstico de açúcar, manter a fatia que o Brasil possui no mercado internacional e atender pelo menos 50% da frota de veículos leves e uma exportação de etanol prevista pelo mandato americano em 2020, o Brasil vai precisar moer 1,2 bilhão de toneladas de cana em 2020/2021, necessitando aproximadamente 120 novas unidades.

Para expansão sustentada do setor, segundo Marcos Jank, teríamos que programar a desoneração tributária para o etanol, a readequação da CIDE (imposto sobre combustíveis), o financiamento de plantio e estoques reguladores, incentivos à bioeletricidade e transparência na política de formação de preços da gasolina no longo prazo. Este, em nossa opinião, o mais importante de todos, pois sem transparência o etanol jamais vai ser uma commodity.

O contrato de etanol na BM&F Bovespa está com uma posição em aberto de 9.061 lotes em futuros mais 2.295 lotes em opções. Muitos traders olham com atenção o crescimento desse mercado que possibilita a trava de margens e eventuais negócios referenciados na bolsa.

A volatilidade do mercado continua caindo, com exceção da de 20 dias cuja média há um mês era 23,78% e agora pulou para 33,66%. A de 50 dias, caiu para 31,53% (há um mês 37,50%) e a de 100 e 200, 35,64% e 39,73% (eram 38,29% e 43,11%), respectivamente. 

Tenham todos uma excelente semana com muitos negócios.

Arnaldo Luiz Corrêa

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Fonte:
Archer Consulting

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