Mercado de Açúcar: OPÇÃO A CUSTO ZERO

Publicado em 12/02/2012 13:25
por Arnaldo Luis Correa, da Archer Consulting


O mercado de açúcar em NY fechou a semana com alta entre 16 e 73 pontos, com o vencimento março encerrando a 24,67 centavos de dólar por libra-peso, pouco mais de 16 dólares por tonelada de alta em relação à sexta-feira anterior. No acumulado do ano, o desempenho do açúcar é encorajador, quase 6% de alta.

Se pegarmos todos os fechamentos até julho de 2014 e corrigirmos o dólar pelo cupom, veremos que ao longo da curva de preços líquidos equivalentes, comparados ao custo de produção, o retorno para a usina cai em julho (12,4% sobre o custo de produção) e se eleva continuamente a partir de então até julho de 2014 até 27,8%. Ou seja, o mercado tem gordura pelo ponto de vista de rentabilidade, mas as usinas mudariam seu mix de produção caso os preços não lhes sejam favoráveis.

O tom geral do mercado, no entanto, é baixista: algumas tradings acreditam que NY pode chegar a 20 centavos de dólar por libra-peso antes do final desse semestre refletindo o tão propagado superávit de produção que teria seu pico no terceiro trimestre deste ano. Outros acreditam em 18 centavos de dólar por libra-peso até o final do ano. Faça a conta: 18 centavos com tudo o mais inalterado daria um retorno negativo de 14% em relação ao custo de produção, o que seria destrutivo. A última vez que isso ocorreu foi em julho de 2008 quando NY negociava a 12,44 centavos de dólar por libra-peso. Um ano depois o mercado batia 18,50. Só para registro 18 centavos de dólar por libra-peso é um nível inferior à média dos últimos 1.200 pregões. Responda sem vacilar: a situação da oferta e demanda de hoje é pior do que a dos últimos 6 anos ? Se você acha que sim, compre puts (opções de venda) de 18 centavos de dólar por libra-peso. Essa análise leva em consideração o dólar a 1,7500.

O fato de estarmos em ligeiro equilíbrio agora e de haver uma perspectiva por parte de alguns participantes do mercado de que lá na frente o peso do superávit será sentido e então refletido nos preços parece-me fantasioso. A essência do mercado futuro é exatamente refletir nos preços lá adiante a percepção que se tem agora do mercado, com as noticias que estão agora disponíveis. Dessa forma, se o vencimento julho de 2012 negocia atualmente a 23 centavos de dólar por libra-peso, não quer dizer que em julho o preço será esse, mas porque dada a gama de notícias que se tem no momento, o mercado acredita que 23 centavos de dólar por libra-peso é o preço justo para aquele vencimento. Mas quanto valerá o vencimento julho perto da expiração? Vai depender de novos (ou velhos) sentimentos e percepções que os participantes do mercado terão em função do quadro fundamentalista e/ou macroeconômico naquela ocasião.

Em outras palavras, não teria porque o mercado ir para 20 centavos de dólar por libra-peso mais adiante em função das notícias que se tem hoje. O mercado não guarda para depois a absorção de uma notícia. Ou seja, o superávit de sei-lá-quantas milhões de toneladas já está atribuído no preço. O que muda essa trajetória é o eventual recrudescimento dos fundamentos: aumento do superávit, cenário macro, entre outros.

Por outro lado, se os preços porventura negociarem abaixo dos 22 centavos de dólar por libra-peso, haverá uma predisposição por parte das usinas de produzir mais etanol em detrimento do açúcar forçando a curva de preços desse a se ajustar ao corte de oferta. Não é uma equação de uma variável apenas, em que basta sabermos o valor do x (o superávit) e ipso facto sabemos o preço de NY. É um pouco mais elaborada.

Não podemos esquecer que os preços já colapsaram. Nos últimos 12 meses foram 23,1% de queda. Mais difícil trazer os fundos para saírem vendendo nesse mercado. Para eles, o sumo da fruta já foi tirado. Por outro lado, produtores e tradings diminuíram o ritmo de fixação, alguns até dizendo na mídia que vão reduzir o volume de hedge de venda. Passando na peneira da verdade, o que se vê, pelo menos é um espaçamento do período de fixação em virtude dos preços estarem próximos ao custo de produção o que para a usina funciona como uma opção a custo zero, se os preços caem elas fazem etanol, se sobem eles fixam mais tarde, ou ainda, colocam seus stops em níveis melhores do que os atuais.

Esse sentimento que se ouve aqui e ali pode potencializar uma eventual alta provocada por alterações nos fundamentos do mercado. Para as usinas fixar agora o açúcar de uma cana que ainda vão moer, e cujo volume ainda não sabe, não parece ser tão imprescindível; a tese da opção a custo zero tem aderência. Cada mudança no mix de um ponto percentual em favor do etanol reduz a disponibilidade de açúcar em 700.000 toneladas. Vai ser um ano estratégico daqueles ao estilo dos aficionados por War. 

O contrato de etanol na BM&F Bovespa está com uma posição em aberto de 7.948 lotes em futuros mais 700 lotes em opções. Uma queda de volume e posição em aberto em relação ao mês passado.

A volatilidade do mercado nos últimos 20 dias atinge 22,13%, muito baixa; a de 50 está em 30,56% (há um mês era 31,53%) e a de 100 e 200 dias 32,62% e 37,45% (há um mês 35,64% e 39,73%), respectivamente. 

Tenham todos uma excelente semana com muitos negócios.

Arnaldo Luiz Corrêa

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Fonte:
Archer Consulting

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