Mercado de açúcar: A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO ETANOL

Publicado em 11/08/2012 08:24
por Arnaldo Luis Correa, da Archer


O mercado de açúcar em NY encerrou a semana com queda de 126 pontos no vencimento outubro de 2012, quase 28 dólares por tonelada, cotado a 20,74 centavos de dólar por libra-peso. Falta de demanda no mercado internacional, falta de entusiasmo por parte dos traders e excelente volume de moagem de cana - segundo o número divulgado pela UNICA - foram os ingredientes perfeitos para fazer o mercado negociar na mínima dos últimos 30 pregões, mas ainda bem acima da mínima registrada no início de junho de 18,86 centavos de dólar por libra-peso. Desde o início de agosto, o mercado já caiu 8,4% no primeiro mês de vencimento. 

O spread outubro/março no qual o mercado apostava suas fichas no seu estreitamento relacionado ao clima, acabou alargando pouco mais de 1 dólar por tonelada na semana. 

A mesma China que comprara açúcar quando o mercado despencou no final de maio e início de junho passados, aproveitou as altas ocorridas há três semanas e revendeu esse açúcar no mercado, impactando negativamente nos preços. Os volumes de negócio minguantes na bolsa de açúcar em NY nesse verão no hemisfério norte comportam que o mercado tente visitar novamente a área dos 20 centavos de dólar por libra-peso. A média de volume na bolsa de NY nos últimos 10 pregões esteve abaixo dos 80.000 lotes. Ou seja, o mercado cai com volume baixo. Novos vendedores nos níveis atuais de preço correm um risco considerável caso haja ondas altistas de curtíssimo prazo. Sem notícias novas o mercado vai buscar 20 centavos de dólar por libra-peso. E nesse nível é muito provável que a demanda volte aparecer.

O catastrófico resultado do balanço do segundo trimestre de 2012 da estatal brasileira do petróleo (quinta maior petroleira do mundo) divulgado na sexta-feira retrasada - um prejuízo de quase US$ 700 milhões pode ter sido, leva a crer que mudanças profundas deverão ocorrer na empresa. A presidente da estatal brasileira, executiva reconhecidamente competente, mostrou credibilidade ao comentar os problemas incorridos na empresa e o mercado hipotecou-lhe um voto de confiança, tanto que depois de ter aberto o pregão em baixa acentuada, a ação da empresa acabou encerrando o dia com uma perda pequena de 0,19%. Comentou sutilmente na coletiva que “as perdas foram provocadas por uma série de razões, algumas que dependem da empresa e outras não”. Completou dizendo que “é preciso se concentrar nas causas que a companhia pode controlar”. Ou seja, como até as pedras rolantes sabem, os desmandos políticos dos verdugos de plantão estão fora do controle da executiva, lamentavelmente.

Se pegarmos o preço do petróleo e o convertermos em reais, vamos perceber que hoje está bem acima da média de 12 meses (190 reais o barril contra a média anual de 170) e perto do pico do ano que foi de 205 reais. Ou seja, o governo tem que se preocupar. Quando o ministro da fazenda arrogantemente dizia que não haveria aumento no final de junho, era exatamente o preço mais baixo do petróleo em reais (abaixo de 160). Agora a situação é diferente.

A questão é que sem o etanol a situação da empresa estatal fica mais complicada. O petróleo mais caro, a desvalorização do real em relação ao dólar, a explosão dos preços do milho no mercado internacional e a falta de investimentos no setor sucro-alcooleiro desde 2008 parecem se acumular numa só fatura cujo preço a pagar é muito elevado e cujo vencimento já está se aproximando.

Para que o país volte a consumir até 60% de etanol nos veículos flex daqui a três anos, ou seja, na safra 2015/2016, e para elevar a mistura de anidro na gasolina dos atuais 20% para os habituais 25%, teríamos que moer 830 milhões de toneladas no Brasil. Para chegar nesse cenário seriam necessários investimentos de R$ 95 bilhões nos próximos anos. Sem transparência na formação de preço do etanol, ou seja, sem regras claras de qual remuneração esse novo investimento teria, ninguém se habilitaria a essa aventura. Seria insustentável.

Muita gente que tinha vergonha de defender o aumento da gasolina e assumir que a política de formação de preços dos combustíveis do governo federal é desastrosa, para não colocar em riscos suas relações com o governo, agora empunha bandeiras a favor do aumento. Só falta cantar o hino nacional nos postos de abastecimento. Difícil ainda será convencer o ministro da fazenda da necessidade de ajuste do combustível. As apostas, hoje, dão conta que não haverá reajuste dos preços antes das eleições municipais de outubro, embora o ministro das minas e energia tenha sinalizado que o aumento pode sair.

O ano de 2012, para a economia brasileira, já está perdido, segundo artigo de José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, no Estadão de domingo passado. O governo insiste que a economia cresce 2,5%, uma analista de um importante banco ligado ao setor disse que trabalha com 1,9% mas acha o número muito otimista. A MB acredita que o crescimento é de apenas 1,5%. Começamos o ano com 4,5% de perspectiva chapa branca. 

O hidratado negociado a R$ 1,25 o litro equivale hoje a um açúcar a 17,62 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos. Isso é o mesmo que vender açúcar a 320 pontos de desconto FOB.

O Modelo desenvolvido pela Archer Consulting estima que pelo menos 21,19 milhões de toneladas já estejam fixadas para a safra 2012/2013 ao preço médio de 22,98 centavos de dólar por libra-peso. Mais de 90% do açúcar está fixado. No próximo levantamento da Archer Consulting vamos divulgar os primeiros números de fixação da safra 2013/2014.

Recebo o e-mail de um leitor que diz que “eu errei feio ao colocar o suporte de 22 centavos de dólar por libra-peso”. Não tenho aptidão de day-trader. Pensando como posição especulativa, olhando a alta volatilidade das opções, acredito que a venda de puts (opções de venda) para os próximos 2-3 vencimentos é uma boa aposta. Vamos aguardar. 

Tenham uma excelente semana

Arnaldo Luiz Corrêa.

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Fonte:
Archer Consulting

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