Safra Americana (parte quatro), por Glauber Silveira

Publicado em 07/09/2012 11:54
Produtores brasileiros estão verificando o desenvolvimento da safra norte-americana. Acompanhem o relato de Glauber Silveira, presidente da Aprosoja/Brasil.


Hoje ultrapassamos a marca dos 2 mil quilômetros rodados pelas lavouras americanas, passamos  pelo estado do Missouri, Kansas e chegamos ao estado do Nebraska. Foram dezenas de propriedades que visitamos, olhamos a soja e o milho e tivemos longas conversas e trocas de experiências com os produtores e confirmamos os números apontados pelo USDA, o Departamento de Agricultura dos EUA, apontando esses estados como aqueles com as lavouras mais afetadas, bastante ruins.

No estado do Kansas, município de Atchison, já no final da tarde, nós tivemos a oportunidade de acompanhar a colheita de uma lavoura de milho. Daniel Stuart produtor de 54 anos nos recebeu junto com seus dois filhos de forma muito amistosa. Ele estava operando a colheitadeira enquanto um dos filhos operava o trator com a carreta que recebe o milho para depois descarrega-lo em um caminhão, por sinal operado pelo segundo filhos e tudo isso as margens de uma rodovia.

Daniel foi muito simpático, estávamos preocupados com a forma que seriamos recebidos, afinal não havíamos agendado nada. Pelo GPS do carro marcávamos as estradas paralelas e seguíamos acompanhando a safra, mas para nossa surpresa assim que Daniel nos viu, deu a volta na colheitadeira e nos recebeu, meio desconfiado no início, mas de forma cortês.

Ana Maria que faz mestrado na Universidade de Illinois e esta nos acompanhando foi logo falando do nosso objetivo, do projeto Soja Brasil e assim que mencionou que representamos os produtores de soja do Brasil eles abriram um sorriso e nos estenderam a mão com um sonoro “seja bem vindo”. A maior dificuldade é explicar que queremos filmar e entrevistar, afinal a maioria das pessoas tem receio de dar entrevistas.

Felizmente Daniel foi logo autorizando tudo e passou a nos contar um pouco de sua vida, nos disse que planta 300 ha de soja e 300 ha de milho, nos disse que espera colher 100 sacas de milho e 40 sacas de soja por há. Ainda adiantou que na safra passada colheu 210 sacas de milho e 55 de soja. Este ano ele antecipou o plantio por isto já esta colhendo, mas geralmente costuma colher no final de setembro.

O Pedro, um dos jornalistas e nosso cinegrafista do Canal Rural, acompanhou a colheita com Daniel e pode filmar no monitor que aquela lavoura estava produzindo 85 sacas de milho, abaixo do que Daniel esperava, o que levou jornalista Luis Patroni, também do Canal Rural, a perguntar a ele por que apesar da quebra da safra ele sentia que Daniel e seus filhos estavam com um semblante feliz.

Daniel virou para nós e disse com um sorriso no rosto, olha se a safra americana fosse cheia, com os 92 milhões de acres de milho que plantamos o preço estaria muito baixo, sendo assim mesmo eu colhendo a metade do que estava esperando vendi todo meu milho a 328 dólares a t. Ele ainda nos confessou: “apesar de ter segurado apenas 110 sacas por ha isto me dará um bom faturamento, não posso reclamar”, arrematou.

Perguntamos a ele há quanto tempo ele estava produzindo ali naquelas terras. Daniel nos disse que seus filhos já eram a sexta geração de produtores e que assim que ele saiu do colegial veio para a lavoura e amava produzir e que está muito feliz por seus filhos seguirem o mesmo caminho que ele. Perguntamos aos filhos dele se muitos jovens ficavam na atividade de seus pais e eles disseram que naquela região 50% dos filhos ficam e para que fiquem precisam desde pequenos serem incentivados pelos pais.

Assim como a família do Daniel, tem a família do Bill, do Eric, do Jerry e de tantos outros que falamos e estão a mais de 150 anos cultivando aquelas terras, com suas calças remendadas, boné na cabeça e um brilho nos olhos quando falam da produção, do desafio do futuro, é muito interessante ver a família unida produzindo, a mãe tocando o trator, o pai na colheitadeira e o filho no caminhão.

É interessante vê-los falar da importância da Lei Agrícola Americana, do quanto eles lutaram para ter uma lei que lhes desse segurança e o quanto é importante continuar trabalhando no congresso para que o seguro se mantenha, é muito interessante ouvir as histórias de como eles entregam sua produção a poucos quilômetros, de estradas de fazendas asfaltadas, isto nos motiva a acreditar que um dia teremos isto no Brasil.

Uma das coisas que me chamou muita a atenção foi quando o pai do Jerry, um senhor de 70 anos de idade, da sede da sua fazenda apontou para uma casa da propriedade que ficara a frente uns 2 km e nos disse “eu nasci naquela casa, agora quem vive lá é meu filho o Jerry”, que logo veio até nós, eu perguntei a ele porque tinham construído outra sede, ele disse “Jerry se casou e precisava viver sua vida sendo assim fiz uma nova sede para mim”.

A história de Jerry e seu pai é a mesma de milhares de produtores, mas também vimos as historias de outros que também deve ser de milhares que deixaram suas propriedades e foram para a cidade pois desistiram da vida no campo e estão arrendando sua propriedade. Em algumas regiões vimos muitas propriedades abandonadas, nos EUA está ocorrendo também à concentração de propriedades.

Uma das coisas que observamos em regiões de solos mais férteis é que a maioria das propriedades é bem estruturada, com maquinas novas e poucas são as propriedades abandonadas. Essa realidade se inverte nas regiões onde as áreas são mais arenosas. De cada 5 sedes, 2 estão abandonadas e fica visível a dificuldade com que vivem os produtores, este é um exemplo que deve ser observado pelos produtores brasileiros, a não se aventurarem em terras mais fracas.

Amanhã continuamos rumo ao norte de Nebraska e depois para o estado de Iowa que é o maior produtor de soja e etanol dos EUA. Como nesta região as propriedades são maiores iremos focar nosso trabalho em questões trabalhistas e ambientais, colher um pouco a experiência destes produtores e claro continuar a ver a situação das lavouras. Mas adianto que todos os produtores pensam em aumentar a área de soja, e isto irá impactar diretamente os negócios dos sojicultores brasileiros, vamos ficar atentos.

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