Mensalão: Oposição quer inquérito sobre mensalão em Santo André

Publicado em 03/11/2012 15:29 e atualizado em 05/11/2012 07:25
Para líderes de PSDB, PPS e PSOL, declarações de Marcos Valério pedem investigação sobre corrupção em gestão de Celso Daniel, morto em 2002

A oposição cobra a abertura de inquérito para apurar a suposta conexão entre o valerioduto e o caso Santo André, denunciada pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR). Para líderes de PSDB, PPS e PSOL, as declarações do operador do mensalão impõem nova investigação sobre esquema de corrupção na gestão do prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002, e a possível participação de outros personagens, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Reportagem do jornalO Estado de S. Paulode hoje revela que, no depoimento, Valério disse ter enviado recursos a Santo André, após a morte de Celso Daniel, para estancar chantagens a petistas. A edição desta semana da revista "Veja" relata que o empresário de ônibus Ronan Maria Pinto estaria ameaçando, em 2003, dizer em público que Lula e o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, seriam beneficiários dos desvios. 

Para o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), as afirmações de Valério ligam dois grandes escândalos e reforçam a versão de crime "político". "A investigação é necessária para esclarecer (as denúncias) e, se forem consistentes, buscar a responsabilização criminal. É a primeira vez que se noticia a ligação entre o mensalão e o assassinato, um crime insolúvel", comentou. 

Celso Daniel foi sequestrado e morto em janeiro de 2002. A Polícia Civil concluiu que se tratou de crime comum, mas o Ministério Público de São Paulo sustenta que o prefeito foi assassinado por tentar acabar com o esquema de desvios. 

O PPS incluirá as declarações sobre Santo André em representação a ser encaminhada ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, na qual pede investigação sobre Lula. "Indica-se que a quadrilha condenada no Supremo tem ramificações de toda a ordem", afirma o líder do partido na Câmara, Rubens Bueno (PR). 

O líder do PT na Casa, Jilmar Tatto (SP), defende que não se dê "credibilidade" às acusações de Valério. "Ele não tem credibilidade mais, se é que teve um dia. Vai para a cadeia e fala isso tudo por este motivo", diz o petista. Tatto afirma que o caso de Santo André já foi apurado, sem ter sido provado o envolvimento de integrantes do PT no crime. "Quebraram sigilos bancário e telefônico e não acharam nada. Temos de virar a página".

Valério disse em depoimento que pagou para cessar chantagens em Santo André

Empresário condenado pelo Supremo afirmou à Procuradoria-Geral, em setembro, ter repassado dinheiro a pessoas que ameaçavam dizer que Lula e seu assessor Gilberto Carvalho estariam envolvidos num suposto esquema de propina na cidade

No depoimento prestado em setembro ao Ministério Público Federal, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado no Supremo por operar o mensalão, relatou que recursos do esquema foram enviados a Santo André após o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), ocorrido em janeiro de 2002. Valério disse, segundo investigadores que tiveram acesso ao depoimento sigiloso, que o dinheiro serviu para estancar supostas ameaças e chantagens a petistas.


Sede da Procuradoria-Geral da República em Brasília, onde Valério prestou depoimento em setembro - Andre Dusek/Estadão (24/3/2011)
Andre Dusek/Estadão (24/3/2011)
Sede da Procuradoria-Geral da República em Brasília, onde Valério prestou depoimento em setembro

Em sua edição desta semana, a revista Veja informa que Valério foi procurado em 2003 pelo então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, a fim de que desse dinheiro ao empresário de ônibus Ronan Maria Pinto. Ronan, como é conhecido, estaria, segundo o petista, ameaçando dizer em público que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu principal assessor, o hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, seriam os beneficiários do esquema de desvio de dinheiro público da prefeitura de Santo André.

O dinheiro do valerioduto, portanto, serviria para calar Ronan num momento em que o Ministério Público Estadual ligava o esquema de propina ao assassinato de Daniel, ocorrido um ano antes. Os promotores alegavam que o prefeito tentou acabar com o esquema de desvios de verba pública na cidade do ABC e, por isso, acabou assassinado. "Nisso aí eu não me meto", teria dito Valério a Silvo Pereira, ainda segundo o relato da revista.

Porém, no depoimento espontâneo prestado em setembro, Valério afirmou, conforme investigadores ligados ao caso, que repassou o dinheiro para que pessoas cessassem as ameaças e as chantagens a integrantes do PT.

Valério, condenado a mais de 40 anos no STF, tenta com o novo depoimento, cuja existência foi revelada na quinta-feira pelo Estado, e com promessas de mais declarações reduzir sua pena ou até mesmo se livrar da cadeia, caso seja incluído no programa de proteção a testemunhas.

A aposta de Valério para obter o benefício da delação premiada e sua inclusão no programa de proteção a testemunhas é dizer que o esquema de desvio de verbas públicas do governo Lula não serviu apenas para pagar parlamentares do Congresso Nacional. O envio do dinheiro a Santo André seria um exemplo disso.

Ações. A corrupção na gestão Celso Daniel é alvo de ações civis e criminais que tramitam no Fórum de Santo André. Carvalho foi citado em um desses processos, com base na Lei de Improbidade. Ronan também é acusado de ligações com o suposto esquema.

O Grupo de Repressão ao Crime Organizado concluiu que o operador do esquema era o empresário Sérgio Gomes, o Sombra. Para os promotores, Sombra encomendou o assassinato de Daniel porque este decidiu dar um fim na coleta de propinas quando descobriu que o dinheiro arrecadado não ia para o caixa do PT, mas servia para enriquecimento pessoal de integrantes da organização. Sombra ainda não foi julgado. Ele nega envolvimento.

Durante as investigações, o Ministério Público tomou o depoimento do médico João Francisco Daniel, irmão de Celso, que fez as primeiras revelações envolvendo dirigentes do PT.

Em maio de 2002, João Francisco afirmou que Carvalho contou a ele que levava parcelas do dinheiro desviado diretamente para as mãos de José Dirceu, então presidente do partido e deputado federal, hoje condenado por comandar o mensalão.

Ministro nega que tenha sido chantageado; instituto não comenta

Gilberto Carvalho e Silvio Pereira afirmam que relato é falso; assessores de Lula não se pronunciam


O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, negou ontem ter sido vítima de chantagem de pessoas que ameaçavam revelar seu suposto envolvimento com o esquema de desvio de verbas públicas da prefeitura de Santo André na gestão do prefeito Celso Daniel.

O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira também negou que o empresário Marcos Valério o tenha procurado para levantar o dinheiro necessário a fim de "calar" o empresário Ronan Maria Pinto, que seria o responsável pela ameaça de ligar Lula e Carvalho ao esquema de propinas no município do Grande ABC.

Segundo a revista Veja desta semana, o encontro entre Valério e Pereira ocorreu em 2003, um ano depois do assassinato de Celso Daniel. Nesse encontro, o petista teria pedido dinheiro para evitar que Ronan fosse a público dizer que Lula e Carvalho eram beneficiários do dinheiro desviado da prefeitura de Santo André.

O Instituto Lula não quis comentar o caso ontem. Os assessores do ex-presidente afirmaram que desconhecem o conteúdo do novo depoimento de Valério à Procuradoria-Geral.

Sem relação. "O ministro nunca teve qualquer contato com o sr. Marcos Valério, nem pessoalmente, nem por e-mail, telefone ou qualquer outro meio", afirmou a Secretaria-Geral da Presidência por meio de nota oficial.

A pasta informou que Carvalho "nunca teve conhecimento de qualquer ameaça ou chantagem" feita por pessoas que teriam informações a respeito de seu suposto envolvimento em pedidos de propinas durante a administração de Celso Daniel.

O ministro foi secretário municipal em Santo André de 1997 a 2001.E sempre negou a existência do esquema de pagamento de propina a empresários.

O Ministério Público afirma que Daniel foi assassinado em janeiro de 2002 porque queria acabar com o desvio de verbas. A Polícia Civil, porém, sustenta que o ele foi vítima de crime comum.

Silvio Pereira negou a existência do encontro com Valério e do pedido de ajuda para atender ao achaque de Ronan. Segundo o advogado Gustavo Badaró, defensor de Pereira no processo do mensalão - no qual o petista fez acordo para livrar-se do processo ao prestar 750 horas de serviços comunitários -, ele afirmou que as acusações de Valério são fantasiosas. "Ele (Pereira) negou peremptoriamente e me pareceu tranquilo", disse Badaró, que fez contato telefônico com seu cliente. "Ele disse: 'Isso nunca existiu, é uma fantasia. Absolutamente desconheço tudo isso'."

O empresário Ronan Maria Pinto, disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que nunca esteve com Valério: "Isto é um absurdo".

O criminalista Roberto Podval nega o envolvimento de Sérgio Gomes, o Sombra, na morte de Celso Daniel. Podval questiona no Supremo Tribunal Federal o poder de investigação criminal do Ministério Público. 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
O Estado de S. Paulo

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário