Joaquim Barbosa diz que MP deve investigar Lula

Publicado em 11/12/2012 21:57
Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do mensalão afirma ter "conhecimento oficioso" do depoimento prestado por Marcos Valério à PGR

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Joaquim Barbosa defendeu nesta terça-feira que o Ministério Público investigue a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema criminoso domensalão

O presidente do STF, Joaquim Barbosa, durante julgamento do mensalão, em 10/12/2012

O presidente do STF, Joaquim Barbosa (José Cruz/ABr)

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Joaquim Barbosa defendeu nesta terça-feira que o Ministério Público investigue a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema criminoso do mensalão. O envolvimento do petista, revelado em depoimento do publicitário Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República, aponta que o valerioduto arcou com "despesas pessoais" do ex-presidente. Os recursos no valor de 98 500 reais foram depositados, segundo o do operador do mensalão, na conta da empresa de segurança Caso, de propriedade do ex-assessor da Presidência Freud Godoy.

No intervalo da sessão plenária do Conselho Nacional de Justiça, Joaquim Barbosa disse que o MP deve apurar as novas informações, mas evitou comentar o conteúdo do depoimento. O magistrado disse ter tomado conhecimento do teor das revelações de forma "oficiosa". Ao ser questionado se o Ministério Público deveria abrir um inquérito sobre o caso, respondeu: "Eu creio que sim".

Como Lula não detém mais foro privilegiado, as possíveis investigações seriam realizadas na primeira instância. Conforme o depoimento de Valério ao MP, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o ex-presidente Lula deu aval para que as agências de publicidade do operador do mensalão tomassem empréstimos com os bancos BMG e Rural. Segundo o Ministério Público, esses recursos foram utilizados para corromper parlamentares aliados no primeiro mandato de Lula na Presidência.

Lula teve despesas pagas pelo mensalão, diz Valério

Segundo jornal, empresário disse ao MP que fez depósitos para empresa do ex-assessor da Presidência, Freud Godoy. Lula teria avalizado empréstimos do PT

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO - Lula e Valério: as revelações seriam uma tentativa de “golpe das elites” com a participação dos ministros do Supremo

Lula e Valério: novas revelações complicam ainda mais o ex-presidente (Juliana Knobbel/Frame/Folhapress e Cristiano Mariz)

O empresário Marcos Valério, o operador financeiro do mensalão, afirmou em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República em 24 de setembro que dinheiro do esquema foi utilizado em 2003 para pagar despesas pessoais do então presidente Lula. A revelação aparece em reportagem publicada nesta terça-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo. O depoimento foi dado após Valério ter sido condenado a mais de 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF).   

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Segundo o jornal, Valério disse que os valores foram depositados na conta da empresa do ex-assessor da Presidência, Freud Godoy, conhecido como o "faz-tudo" de Lula na época – e ligado ao escândalo dos aloprados. O empresário declarou ainda que o ex-presidente deu "ok" para o PT tomar empréstimos com os bancos BMG e Rural para pagar deputados da base aliada. O aval teria sido dado em um reunião no Palácio do Planalto, que teve a presença do ex-ministro José Dirceu e do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, ambos também condenados pelo STF.  

Na ocasião, Dirceu teria dito que Delúbio negociava em seu nome e no de Lula – o ex-ministro teria autorizado inicialmente pegar um empréstimo de 10 milhões de reais e, depois, mais 12 milhões. Além disso, conforme a reportagem do jornal, Marcos Valério também afirma no depoimento que Lula e o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, negociaram com a Portugal Telecom no Palácio do Planalto o repasse de 7 milhões de reais para o PT – dinheiro que, segundo Valério, foi recebido por suas empresas de publicidade.    

Ele afirma ainda no relato ao Ministério Público que Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e amigo próximo do ex-presidente, o ameaçou de morte pouco depois do escândalo do mensalão ter sido revelado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, em 2005. Segundo Valério, Okamotto o procurou por ordem de Lula.

Segredos – Com a certeza de que iria para a cadeia, o empresário mineiro começou a revelar os segredos do mensalão em meados de setembro, como revelou VEJA. Em troca de seu silêncio, Valério disse que recebeu garantias do PT de que sua punição seria amena. Já sabendo que isso não se confirmaria no Supremo – que o condenou a mais de 40 anos por formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro – e, afirmando temer por sua vida, ele declarou a interlocutores que Lula "comandava tudo" e era "o chefe" do esquema.  

Pouco depois, o operador financeiro do mensalão enviou, por meio de seus advogados, um fax ao STF declarando que estava disposto a contar tudo o que sabe. No início de novembro, nova reportagem de VEJA mostrou que o empresário depôs à Procuradoria-Geral da República na tentativa de obter um acordo de delação premiada – um instrumento pelo qual o envolvido em um crime presta informações sobre ele, em troca de benefícios. Pela primeira vez, ele informou ter detalhes sobre outro caso escabroso envolvendo o PT: o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002.

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Valério disse que Lula e seu braço-direito, o atual secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, estavam sendo extorquidos por figuras ligadas ao crime de Santo André, em especial o empresário Ronan Maria Pinto, apontado pelo Ministério Público como integrante de um esquema de cobrança de propina na prefeitura. Procurado por petistas para pagar o dinheiro da chantagem, Marcos Valério contou que recusou: "Nisso aí, eu não me meto", disse.  Segundo ele, quem acertou a questão foi um amigo de Lula, utilizando-se de um banco não citado no esquema do mensalão. Trata-se do pecuarista José Carlos Bumlai, que teria acertado um empréstimo com o banco Schahin.

Procurados por O Estado de S. Paulo, os advogados de José Dirceu e Antônio Palocci negaram a existência das reuniões no Planalto. Freud Godoy não se manifestou. Em viagem à França, onde acompanha a presidente Dilma Rousseff, Lula evitou falar com a imprensa e, segundo o jornal, não foi encontrado para comentar as acusações. 

Carlinhos Cachoeira: ‘Sou o Garganta Profunda do PT’

Ao deixar a prisão, bicheiro disse que revelará tudo o que sabe. Mais tarde, advogado atribuiu fala ao "calor do momento"

Laryssa Borges, de Brasília
Prisão de Carlinhos Cachoeira nesta sexta (07/12), em Goiânia

O bicheiro Carlinhos Cachoeira, entre idas e vindas na prisão (Ricardo Rafael/O Popular/ Futura Press)

O contraventor Carlinhos Cachoeira deu a entender nesta terça-feira, ao deixar a prisão, que pretende fazer revelações que podem comprometer o PT. “Sou o Garganta Profunda do PT”, disse o bicheiro ao ser libertado do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde estava preso desde sábado. 
 
De acordo com o jornal O Popular, Cachoeira prometeu revelar, nesta quarta, tudo o que sabe. Não é a primeira vez que ele faz a ameaça. Até agora, no entanto, o contraventor nada disse. Procurado pela reportagem do site de VEJA, Nabor Bulhões, advogado de Cachoeira, negou que o cliente esteja disposto a fazer revelações e atribuiu a declaração do bicheiro à “emoção do momento”. 
 
Carlinhos Cachoeira foi libertado depois de ter um habeas corpus concedido pelo desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, na tarde desta terça.
 
Garganta profunda - O termo utilizado por Cachoeira para insinuar que tem informações desabonadoras sobre o PT remete a um dos maiores escândalos políticos dos Estados Unidos. Garganta Profunda era o codinome usado por uma fonte que ajudou os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal Washington Post, a revelar o escândalo Watergate nos anos 1970, um esquema de operações ilegais de espionagem contra adversários políticos do então presidente Richard Nixon. A série de reportagens alimentada pelas informações dele levou à renúncia de Nixon. A verdadeira identidade do Garganta Profunda permaneceu em segredo até 2005, quando um ex-vice-diretor do FBI, William Mark Felt, admitiu ter sido a fonte de Woodward e Bernstein.
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veja.com.br

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