Soja – mais um relatório surpreendente do USDA!
Publicado em 29/03/2013 09:22
e atualizado em 01/04/2013 08:40
Após o relatório desta quinta-feira (28), em que a entidade divulgou estoques maiores para soja e milho, o consultor Liones Severo (de Porto Alegre) mostra sua desconfiança sobre estes números. Acompanhe.
É simplesmente incrível que apenas um relatório consiga alterar drasticamente as relações de oferta & demanda do mercado agrícola mundial. Durante meses inventariamos os números divulgados pela mesma fonte, e, apos o relatorio desta quinta-feira, podemos dizer que o resultado não confere. Para provar, vamos rasgar algumas regras matemáticas como a que determina que "a ordem dos fatores não alteram o produto"...
Precisamos manter a razão, portanto vamos relembrar alguns fundamentos:
- O preço da Bolsa de Chicago não é causa, mas sim, efeito.
- O preço da Bolsa de Chicago não administra o preço do produto, prerrogativa do ofertante ou do demandante.
- O produto é soberano e tudo que acontece é a partir do produto (soja).
- Precificação é o resultado do encontro da relação (preço) entre o vendedor e o comprador, existe alguma inversão, quando dizem que o mercado já precificou o fato.
- Precificação também pode ser entendida como resultado das ações dos investidores dos mercados de derivativos.
- A barganha do preço está no lado mais forte da relação do ofertante ou do demandante.
- Escassez é a falta de oferta suficiente para atender o consumo.
Portanto, se estamos em período de escassez ou pré-escassez, os números divulgados pelo USDA, não superam o fato. O que mudou foi o roteiro de responsabilidade, isto é, de: uma tentativa de prevenção da regulação do suprimento mundial através de medidas de contenção de consumo (preço), para: a inconsequência do provável confronto da falta de produto para atender o consumo (indisponibilidade de alimentos).
A imposição de racionamento através do preço é o único recurso soberano de ajuste entre a oferta reduzida & demanda crescente. É extremamente danosa a desarticulação dos canais de suprimento. A desintegração de uma matriz de oferta ou consumo trazem desastrosas consequências de longo prazo. Algumas populações antigas foram dizimadas pela fome, com a falta de gestão dos alimentos... e, se não fosse José, o Egito teria o mesmo fim.
Desde a virada do milênio estamos assistindo `a falta de oferta compatível com o aumento da demanda. Todos os anos estamos sempre na iminência de uma crise alimentar.
Voltando ao relatório desta quinta-feira, o maior prejudicado é o milho, pois o USDA reformou uma relação de estoque crítico para uma relação equilibrada, aumentando a oferta em 9.4 milhões de tons (!!!).... Nem mesmo os americanos conseguiram acessar esse fenômeno, tanto é que estão importando muito milho da Argentina, depois de terem importado do Brasil. Conclusão óbvia: se não perceberam que havia bastante milho em sua casa, é porque não existe mesmo...
Quanto à soja, o aumento foi singular-- em 1.4 milhões de tons --, logo permanece o fato que os Estados Unidos tem apenas 27,2 milhões de tons para atender o consumo interno e externo nos próximos 6 seis meses, comparado a 37,4 milhões de tons no ano passado, mesma data. Ainda é o menor estoque em 15 anos.
É completamente injustificável, portanto, que apenas 1,4 milhões de tons de soja -- que corresponde a cerca de 0,5 % da oferta global deste ano/safra --, tenha provocado tamanha mudança drástica no cenário de preços para a soja. Mas o efeito pragmático do entendimento do mercado poderá resultar em aumento de demanda.
Por fim, ainda não existe espaço para nenhuma perda nas safras agrícolas mundiais, principalmente neste tempo que inicia o plantio das safras de verão do hemisfério norte, responsável por 80 % da produção mundial de grãos.
Somente Estados Unidos, União Europeia e China produzem mais 1,5 bilhões de tons de grãos e, se considerarmos todo o hemisfério norte, são mais de 2,2 BILHÕES de tons. Notem bem: e nós preocupados com um pequeno aumento dos estoques americanos.
Atenciosamente,
Liones Severo
Fonte:
Liones Severo