Mercado de Açúcar: O PARADOXO DE EPÍCURO

Publicado em 07/04/2013 17:06
por Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer Consulting
O mercado de açúcar em NY atingiu o nível mais baixo desde julho de 2010 quando negociou esta semana a 17,47 centavos de dólar por libra-peso. O vencimento maio/2013 encerrou a sexta-feira cotado a 17,65 centavos de dólar por libra-peso. Os demais vencimentos fecharam com quedas moderadas de 3 a 19 pontos, ou seja, de US$ 0.67 a US$ 4.00 por toneladas. 

Nesses últimos doze meses o mercado tem escorregado morro abaixo: chegamos num máximo de 24,58 centavos de dólar por libra-peso até a mínima mencionada. A média de fechamento dos últimos doze meses é de 20,01 centavos de dólar por libra-peso. Os fundos estão mais de 100.000 lotes vendidos a descoberto. A vulnerabilidade de uma posição com tal magnitude é a mesma de se sentar numa caixa cheia de explosivos e acender um cigarro. 

O açúcar em NY continua negociando bem longe da paridade do etanol. Tanto hidratado quanto anidro negociam hoje no mercado interno equivalente a 19,67 e 20,77 centavos de dólar por libra-peso comparativamente ao açúcar. Para a exportação, as indicações apontadas pelo mercado de 625 e 670 dólares por metro cúbico FOB Santos, equivalem a um açúcar de 17,73 e 18,28 centavos de dólar por libra-peso. O etanol negociado na CBOT equivale a NY a 19,18 centavos de dólar por libra-peso. Em resumo, o açúcar de exportação é a pior liquidação hoje para as usinas. Isso leva a uma maior predisposição de produção de etanol nesse inicio de safra no Centro Sul. 

Se as chuvas aparecerem nesse mês de abril (e parece ser assim) e atrasarem o inicio de safra para algumas usinas, pode ser que a entrega de maio, cujo vencimento dar-se-á em 17 pregões, sofra pressão nos spreads, firmando dessa forma o vencimento maio em relação ao vencimento seguinte que é o julho. Por enquanto, conjecturas.

Um leitor assíduo deste comentário enviou-nos um gráfico de NY dos últimos 6 anos e curiosamente nos últimos 5 anos o mercado reverteu uma tendência de baixa que ocorria sempre na janela abril-maio-junho, após a expiração do futuro de maio, subindo fortemente em seguida. 

Em 2008, NY batia inacreditáveis 9,44 centavos de dólar por libra-peso no início de junho para alcançar a máxima de 14,69 três meses depois, uma elevação de 56%. No ano seguinte, no inicio de abril, o mercado afundava para 12,13 centavos de dólar por libra-peso explodindo para 18,01 três meses depois, escalando 48% de alta. Em 2010, em pleno Sugar Dinner de NY, os ânimos azedaram quando o mercado mergulhou para 13 centavos de dólar por libra-peso para ressurgir qual fênix nos mesmos três meses com vigorosos 19,88 centavos de dólar por libra-peso, inchaço de 53%. Em 2011, dejá-vu. Novamente na semana do Sugar Dinner de NY, vimos o ponto mais baixo negociado: 20,40 centavos de dólar por libra-peso. O que aconteceu três meses depois? 31,68, ou 55% de acréscimo. No ano passado, o valor mais baixo na janela abril-maio-junho foi de 20,90 recuperando apenas 15% e batendo 24 centavos de dólar por libra-peso os mesmos 3 meses depois. Será que o padrão se repetirá esse ano?

Caso consiga liquidez para um NDF (contrato a termo de fixação de açúcar em reais por saca, usando NY e câmbio) com vencimento para maio de 2014, por exemplo, ou seja, para o inicio da safra 2014/2015, uma usina conseguiria hedgear o açúcar a R$ 800 por tonelada posto usina. Embora dê retorno sobre o custo de produção das empresas de primeira linha, já vimos esse hedge acima de R$ 1050,00 este ano. As coisas mudam.

Vender opções esses dias é quase que um sacrilégio. A volatilidade derreteu chegando em níveis tão baixos que inibem qualquer estratégia especulativa de venda. O melhor a fazer agora é comprar opções, podendo até financiá-las com a venda de outra deixando neutra a exposição a uma eventual recuperação da volatilidade que afeta os prêmios imediatamente. Para as indústrias consumidoras de açúcar a venda de uma put (opção de venda) combinada com a compra de uma call (opção de compra) ambas fora do dinheiro, ao longo da curva de vencimentos dessa safra, realmente soa muito bem.

Vou pegar emprestado o paradoxo de Epícuro, filósofo grego, que viveu 340 anos a.C. e influenciou muitos filósofos do nosso tempo, e tentar adaptá-lo às relações do governo federal com o setor sucroalcooleiro: se achamos que o governo tudo pode, tudo sabe e trabalha de maneira justa e perfeita em prol da economia, então porque não consegue resolver os problemas do setor sucroalcooleiro? Para que o governo e as mazelas que cria para o setor possam coexistir é necessário que o governo não tenha pelo uma das três características mencionadas, ou seja, que ele não pode tudo, que ele não sabe tudo ou que ele não trabalha em prol da economia. Se ele pode tudo e sabe tudo, então tem conhecimento dos problemas do setor e poder para acabar com eles. Se ainda assim não os resolve, então ele não trabalha em prol do setor. Se o governo pode tudo e quer o bem do setor, então tem poder para destravar esses problemas e quer fazê-lo, pois quer o bem do setor. Mas não o faz, pois não sa be. Então não sabe tudo. Se ele sabe tudo e trabalha em prol do setor, então sabe dos problemas que existem e quer resolvê-los. Se não o faz então é porque não pode tudo. Se ele não pode erradicar os problemas então por que chamá-lo de governo? Epícuro vai rolar na tumba, mas achei o paradoxo bem apropriado.

A volatilidade histórica do mercado nos últimos 50 dias caiu para 20,54% (era 20,71% há seis semanas). A volatilidade de 100 dias caiu para 21,45% (era 24,69%) e a de 200 25,45% (era 26,41%).

Pode marcar na sua agenda: o XX Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas, da Archer Consulting, está confirmado para os dias 24, 25 e 26 de setembro de 2013, em São Paulo. Acesse nosso site para mais informações.

Tenham todos uma excelente semana com muitos negócios.

Arnaldo Luiz Corrêa
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Archer Consulting

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