A farinha de trigo ajudou a empurrar a alta dos preços

Publicado em 09/05/2013 23:31
editorial economico de O Estado de S. Paulo

O preço do pãozinho francês subiu 0,8%, em abril, 4,7%, no quadrimestre, e 15,86%, nos últimos 12 meses, devido ao preço do trigo - o Brasil consome cerca de 10 milhões de toneladas anuais, mas produz pouco mais do que a metade. O pãozinho contribuiu, assim, para a alta dos preços dos alimentos e bebidas de 0,96%, no mês passado, e para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrasse um aumento de 0,55%, muito superior às projeções das consultorias privadas e reforçando o fato de que a luta contra a inflação é "constante e imutável", como disse há pouco a presidente Dilma. Resta ver se as armas anti-inflacionárias do governo desarmam mais esse fator de perturbação nos preços.

O IPCA, que mede a inflação oficial, superou março (0,47%) e foi de 6,49%, em 12 meses, esbarrando no teto do regime de metas, cujo objetivo é uma inflação anual de 4,5%. Em apenas quatro meses, a inflação de 2013 já atingiu 2,5% - e, se o ritmo de alta se mantiver constante até o fim do ano, o índice chegará a 7,68%. A alta de preços é generalizada, embora, no mês, o índice de difusão tenha caído de 69,04% para 65,75%.

Com a exceção dos itens de transportes e comunicação, todos os demais registraram elevação - liderados pela saúde e cuidados pessoais (+1,28%). Isoladamente, a alta de 2,99% nos preços dos remédios foi a que mais pesou na inflação do mês - contribuindo com 0,1 ponto porcentual ou 18% do IPCA. O governo autorizou um aumento dos preços dos remédios entre 2,7% e 6,31%.

Outros preços sob controle também subiram, nos últimos 12 meses, como as taxas de água e de esgoto (+8,26%), reduzindo o impacto da baixa das tarifas de telefonia fixa e de energia, por exemplo. Como ponto positivo, há um arrefecimento na inflação de serviços, mas esta ainda é muito alta (8,1% em 12 meses).

O IPCA de abril obriga os especialistas a reestimarem, para cima, a expectativa de inflação para 2013 (hoje de 5,71%, segundo a pesquisa Focus, do Banco Central). Estimula, ainda, a discussão sobre políticas monetária e de crédito mais restritivas, nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

O decano dos economistas clássicos brasileiros Eugenio Gudin escreveu no século passado que a inflação é o estado de coisas em que há mais direitos de haver do que bens que podem ser havidos. Traduzindo, a inflação é um fenômeno monetário. Se o governo quer mesmo derrubar a inflação, talvez não deva ignorar de todo a velha máxima.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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