Nuvens escuras na economia brasileira, por Lauro Jardim

Publicado em 07/06/2013 17:33
em veja.com.br

Nuvens escuras

Economia na berlinda

Os juros futuros e o dólar (+ 1,2%) abriram o dia em escalada de alta, como nos últimos dias.

Em resumo, o que se ouve no mercado financeiro é: ou o governo anuncia um vigoroso pacote de medidas na área fiscal, ou o Banco Central terá que sancionar as projeções de juro futuro na BM&F, que já indicam taxa de 10%.

Evidentemente, desde ontem, quando a S&P botou a credibilidade do Brasil em cheque, as nuvens estão mais escuras nos céus brasileiros.

Por Lauro Jardim

 

 

'The Economist' ironiza Mantega: ministro 'é um sucesso'

Depois de criticar diretamente os rumos da economia, revista 'mudou de estratégia' e foi sarcástica ao analisar inflação, contas públicas e juros do país

O ministro da Fazenda, Guido Mantega

O ministro da Fazenda, Guido Mantega (Peter Foley/Getty Images)

De maneira irônica, a revista britânica The Economist reforçou o descontentamento com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em sua edição que chegou às bancas nesta quinta-feira. A publicação diz que a economia brasileira tem apresentado desempenho medíocre e, com a lembrança de que Mantega ficou no cargo mesmo após a revista pedir a saída do ministro, a publicação diz que "mudou de estratégia". Apesar da brincadeira, reconhece que, após seguidas frustrações com medidas e o desempenho da economia, o governo de Dilma Rousseff parece voltar a tomar decisões para reconquistar a admiração dos mercados.

No fim de 2012, a publicação sugeriu a saída de Mantega para uma mudança de rumo da economia. "Foi amplamente noticiado no Brasil que a nossa impertinência teve o efeito de fazer o ministro da Fazenda ficar 'indemitível'. Agora, vamos tentar um novo rumo. Pedimos para a presidente ficar com ele a todo custo: ele é um sucesso", diz o texto.

Para a Economist, o Palácio do Planalto começou a se distanciar, no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de premissas como a "meta de inflação de um Banco Central que opera com independência de fato, contas públicas transparentes, meta fiscal rigorosa e uma atitude muito mais aberta ao comércio exterior e ao investimento privado".

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Desde o estouro da crise de 2008, continua a reportagem, os governos de Lula e Dilma optaram por deixar de lado conceitos da "economia liberal decadente" e optaram pelo "capitalismo chinês de estado". A revista diz que, nessa mudança, a equipe econômica desistiu de reformas e a presidente Dilma Rousseff "assediou publicamente o BC para reduzir os juros". "Ela desencadeou uma enxurrada desconcertante de incentivos fiscais (e aumentos de impostos) para indústrias favorecidas, mas não conseguiu equilibrar os cortes de gastos".

A reportagem reconhece, porém, que os sinais mais recentes são de "uma política mais clara" e cita como exemplos a alta da taxa Selic para conter a inflação e o fim da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para estrangeiros.

Em outra reportagem da mesma edição, a revista disse que o Brasil parece "preso na lama": o crescimento fraco da economia levou o Palácio do Planalto a "mudar de rumo" e o caminho para reconquistar investidores é longo. O aumento dos juros na semana passada, por exemplo, foi elogiado. Mas a revista lembra que o BC "vai ter de aumentar as taxas novamente para levar a inflação para perto do centro da meta".

Também há elogios para o fim do IOF na renda fixa, com a ressalva, contudo, de que o ministério da Fazenda será acompanhado de perto para ver se voltará à retidão na questão fiscal "depois de usar a contabilidade criativa para atingir a meta de superávit".

Outro aspecto elogiado foi a intenção de retomar as concessões e o "bem-sucedido leilão de campos de petróleo". "Será um longo caminho para aumentar a confiança empresarial e dos investidores e para promover a melhora da ultrapassada infraestrutura brasileira que o país precisa para crescer".

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Preços

Inflação desacelera para 0,37% em maio - mas encosta no teto da meta

IPCA desacelerou ante abril, quando marcou alta de 0,55%, mas alcançou teto da meta do governo em 12 meses, de 6,5%

Estande de frutas em supermercado da rede Pão de Açúcar, no bairro do Butantã

Os preços ao consumidor caíram para 0,37% em maio frente a abril (Germando Luders )

A inflação oficial desacelerou para 0,37% em maio na relação com abril, quando marcou 0,55% de alta, conforme divulgou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contudo, no acumulado de 12 meses, a inflação encostou no teto da meta do governo, de 6,5%, depois de ter desacelerado para 6,49% em abril. Em seu regime trimestral de metas, o Banco Central (BC) defendeu a tesa de que a inflação desaceleraria a partir do segundo trimestre, o que não foi visto nem em abril e nem agora em maio. Em abril do ano passado, o indicador registrara alta de 0,36%. 

No acumulado do ano os preços marcaram alta de 2,88%, maior do que os 2,5% vistos entre janeiro e abril. O IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial do país, havia mostrado tendência de desaceleração em maio, ao passar de 0,51% de abril para 0,46% no mês passado. Em 12 meses, o índice também diminui de 6,51% para 6,46% no quinto mês, voltando para dentro da banda do regime de metas. 

Economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) para o relatório semanal Focus apostam em alta de 5,8% este ano  - projeção que desacelerou um pouco (de 5,81%) após o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar para 8% a taxa básica de juros (Selic) na semana passada. 

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Na ata do Copom, divulgada nesta quinta-feira, o órgão explicou que a alta da Selic em 0,5 ponto percentual foi necessária após análises técnicas mostrarem tendência de alta da inflação em 2013 e 2014. “O Copom avalia que, no curto prazo, a inflação em doze meses ainda apresenta tendência de elevação e que o balanço de riscos para o cenário prospectivo (futuro) se apresenta desfavorável.”

A mediana das projeções coletadas pelo Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (Gerin) para a variação do IPCA em 2013 elevou-se de 5,68% para 5,81%, de acordo com o Copom. Para 2014, a mediana das projeções de inflação elevou-se de 5,70% para 5,80%, levando em consideração o cenário de referência (juro a 7,5% ao ano e dólar a 2,05 reais). No mês de abril, o órgão havia constatado uma tendência de queda da inflação para 2013 (que passaria de 5,70% para 5,68%), mas já via uma aceleração dos preços no ano que vem (perspectiva passou de 5,50% para 5,70%). 

Assim, indicou que terá pulso firme no combate à alta dos preços este ano, para reverter essa tendência e "salvar" o próximo ano. “Essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio (2013) e assegurar que essa tendência persista no próximo ano (2014)”, informa a ata da reunião finda no dia 29 de maio.

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Destaques - O grupo Alimentação e Bebidas, vilão dos últimos meses, desacelerou entre abril (0,96%) e maio (0,31%), ficando em terceiro lugar entre os maiores impactos do o indicador no mês passado. Os grupos Habitação e Saúde e Cuidados Pessoais foram os dois grandes vilões da vez. Enquanto o primeiro subiu de 0,62% para 0,75% em maio, o segundo mostrou desaceleração, passando de 1,28% para alta de 0,94%. Vale destacar que, como em abril, o item remédios lidera os principais impactos no IPCA de maio, detendo, sozinhos, 0,06 ponto percentual de alta.

Ainda segundo o IBGE, entre abril e maio, vários produtos alimentícios ficaram mais baratos, a começar pelo tomate, cujos preços caíram 10,31%. A cebola, o açaí, as hortaliças, ovos de galinha e pescados também despencaram no quinto mês. No ano, contudo, a cebola, o tomate e o açaí ainda se destacam pela alta acumulada, de 67,22%, 54,98% e 47,77%, respectivamente. Em 12 meses, o tomate continua com alta acumulada de 96,28%, mas a batata inglesa dispara na liderança, com aumento de 130,40% de preços. A cenoura também surpreende ao marcar alta de 75,0,9% nesta base de comparação.

Vilões da inflação em maio

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Habitação

O grupo Habitação foi o principal peso do IPCA de maio, juntamente com Saúde e Cuidados Pessoais. De acordo com o IBGE, os preços relacionados com moradia subiram de 0,62% em abril para 0,75% em maio. Dentro do grupo, a taxa de água e esgoto se destaca, com alta de 1,19% em maio ante 0,81% no mês anterior, tendo em vista as variações registradas em Goiânia (5,29%), Belo Horizonte (2,32%) e São Paulo (1,96%), após reajustes terem sido autorizados. Assim, o grupo respondeu por 0,11 ponto percentual dos 0,37% de alta do IPCA no quinto mês. 

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Oferta maior de alimentos - Na avaliação do IBGE, a desaceleração do IPCA foi motivada, sobretudo, pelo aumento da oferta de produtos alimentícios diante de uma safra recorde em 2013 e da melhora do clima, que favoreceu a colheita dos in natura e pela desoneração de uma cesta de produtos pelo governo.

O órgão acredita que, por causa de uma oferta maior de alimentos, os preços subiram com menos intensidade em maio do que em abril. "Houve uma mudança de tendência na inflação dos alimentos. Não é possível saber o quanto tem a ver com a safra e o quanto, com a desoneração", afirmou a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes do Santos. 

 

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