Mercado de Açúcar: UM ANTIÁCIDO, POR GENTILEZA

Publicado em 26/10/2013 07:29 e atualizado em 28/10/2013 07:32
por Arnaldo Luis Correa, da Archer Consulting

Mais um incêndio ocorreu nesta sexta-feira atingindo as instalações da EDF Man em Santa Adélia, município pertencente à microrregião de Catanduva, São Paulo, queimando 24.000 toneladas de açúcar. A bruxa está solta mesmo. Dois eventos dessa natureza no intervalo de uma semana, é assustador. 

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira cotado a 19,02 centavos de dólar por libra-peso devolvendo com juros e correção monetária toda a alta verificada por ocasião do pânico pós-incêndio nos armazéns de Santos. Desde o pico ocorrido no início da manhã do dia 18 de outubro, de 20,16 centavos de dólar por libra-peso, o mercado despencou para a mínima de 18,80 centavos de dólar por libra-peso, uma queda pronunciada de 30 dólares por tonelada. Na semana, o vencimento março/2014 fechou com queda de 48 pontos (US$ 10.58 por tonelada). Os demais meses seguiram o mesmo padrão com quedas de 6 a 8 dólares por tonelada.

A queda do mercado em NY na quinta-feira pode ser atribuída – parcialmente - a alguns fatores: a tranquilidade passada ao mercado pela Copersucar após o incêndio, transparecendo que a empresa vai equacionar os seus problemas logísticos; e, também, à maciça troca de informações entre os traders durante os eventos da semana do açúcar em SP, com a constatação de que alguns deles estivessem pouco fixados contra o mercado futuro em relação à média dos seus pares. Afinal, os preços em reais por tonelada continuam altos e o dólar também apreciou em relação ao real fazendo com que as fixações de vendas futuras para a próxima safra ficassem mais atrativas.

De maneira geral, o tom das conversas nos eventos da semana pareceu mais construtivo. Não tem ninguém saindo com fantasia de touro ainda, mas pode-se dizer que a fantasia de urso já não está caindo tão bem quanto antes. O mercado pode ainda voltar para níveis mais baixos, até mesmo quebrar os 18 centavos de dólar por libra-peso, mas o consenso é que já vimos a baixa do mercado, ou seja, aqueles 15,93 centavos de dólar por libra-peso são parte da história. O mercado parece fazer um voo cego por desconhecer a posição dos fundos. Os comentários dão conta de que eles estejam 200.000 contratos comprados. O CFTC, o Comitê de Negociações com Futuros de Commodities, vai levar algumas semanas para regularizar o trabalho acumulado por conta do “shutdown” do governo americano, antes de divulgar a posição dos comitentes.

É certo que o setor luta com muitas forças para sobreviver num ambiente hostil como esse imposto por esse governo que aí está. Um exemplo dessa falta de boa vontade por parte do governo e olhar obtuso, por exemplo, foi a declaração do diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério das Minas e Energia, Ricardo Dornelles, no painel em que participava no evento DATAGRO. Ele confrontou deselegantemente a presidente da UNICA, Elizabeth Farina quando apontou que o setor “precisa buscar seu espaço apenas com o aumento de competitividade, sem lutar pela paridade mercadológica com a gasolina” e que o “setor não tem apresentado sugestões para um crescimento sustentável”.

Até as pedras sabem que esse senhor nunca morreu de amores pelo setor sucroalcooleiro e que seu discurso ensaiado demonstra soberba e desprezo, e não raramente beira a falta de postura. Ele teve a chance de se desculpar da descortesia com a presidente, mas não o fez. A presidente, mulher elegante e franzina nos seus 1,58 m de altura deu o troco de maneira dura, mas educada, dizendo que o setor tem sim apresentado sugestões e que os preços subsidiados da gasolina interferem no preço do etanol, afugentando novos investimentos. O citado diretor tem todo o direito, como cidadão, de não gostar de quem quer que seja. Como funcionário público, pago com o dinheiro do contribuinte, duvido que esteja na sua descrição de cargo a atitude arrogante que demonstra. É caso de pedir aos organizadores de futuros eventos nos quais ele seja palestrante que disponibilizem aos presentes doses cavalares de antiácido.

Ainda no mesmo painel, o mesmo diretor mencionou que o Brasil importa gasolina de baixa qualidade para ser misturada ao etanol anidro para a venda final ao consumidor nacional. Uma declaração importante: o governo permite que se importe gasolina de baixa qualidade para assim diminuir o prejuízo que a Petrobras tem por vender ao consumidor combustível muito mais barato do que o preço que importa, mesmo sendo uma gasolina inferior. Política contrária aos objetivos traçados pelo Ministério das Minas e Energias que diz “proteger o meio ambiente e os interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos derivados de hidrocarbonetos e biocombustíveis”. Esse é o Brasil.

Rumores extraídos durante a semana do açúcar que podem ser interpretados por confissões etílicas dão conta que existe em curso no setor uma grande negociação que está para estourar no máximo nos próximos 30 dias. 

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São tão verdadeiras as palavras do compositor carioca Nelson Cavaquinho em seu samba “Quando eu me chamar saudade”, nos versos que dizem “Me dê as flores em vida, o carinho, a mão amiga, para aliviar meus ais. Depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais”. Devemos sempre homenagear e dar as flores em vida para aquelas pessoas que nos são caras, com as quais tivemos o privilégio de conviver em nossa breve caminhada por esse mundo. As flores em vida vão para o amigo Ailton Sacramento que, depois de 40 anos consagrados ao mercado de açúcar em sua inseparável EDF Man, resolveu se despedir e dedicar-se a outra paixão não menos inebriante: a música. O Ailton é uma daquelas pessoas que fazem da nossa vida mais leve, pelo simples privilégio de tê-lo conhecido. Muito sucesso e saúde nessa nova fase, meu amigo.

Bom final de semana a todos 

Arnaldo Luiz Corrêa

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Fonte:
Archer Consulting

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