Cecafé prevê que a crise de consumo deverá persistir por 2 a 3 anos

Publicado em 29/11/2013 10:22 e atualizado em 29/11/2013 11:01

O gerente-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil - Cecafé, Guilherme Braga, disse, durante o VIII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, realizado em Salvador, Bahia, que a participação brasileira nas exportações mundiais diminuiu em 2012 mas tem perspectiva de leve incremento este ano. “Essa conjuntura é reflexo dos baixos preços do produto e da estocagem de café. O lado positivo nesse cenário de crise é que o mercado mundial de café continua crescendo e deverá gerar 5,4 bilhões de dólares de receita”, avaliou Braga. No mesmo encontro, o professor da Universidade Federal de Lavras – Ufla –  Luiz Gonzaga de Castro Júnior disse que “quando a produção é superior ao consumo, o preço cai, é certo. E nossas análises mostram que se a produção cresce em 1% a mais que o consumo, o preço cai em 1,5%. Ou seja, pequenas oscilações na produção frente ao consumo geram impactos maiores no preço”. 

De acordo com o gerente-geral do Cecafé, Guilherme Braga, a crise cafeeira aponta desequilíbrio de produção e consumo mundial e deverá persistir pelos próximos dois ou três anos. “Nos países produtores, há consciência de que não vale a pena abrir mão de seus mercados. Logo, resta para o Brasil reduzir os custos do produtor, incentivando políticas de financiamentos e subsídios adequados, que implicariam em regular o escoamento de safras e o fluxo de negócios, focados no processo de produção. Para o setor empresarial é necessário estimular as indústrias para aumentar estoques e a  demanda interna --, medidas essas que devem ser tomadas continuamente e não somente em momentos de crise”, asseverou Guilherme Braga.

O gerente do Cecafé mostrou alguns números atuais do consumo mundial de café. Segundo ele, o mercado de café está em torno de 142 milhões de sacas produzidas, 41% delas consumidas pelos próprios países produtores e 69% pelos países importadores. Com relação ao perfil de consumo, mercados tradicionais, formado pelos EUA, Europa, Japão entre outros países, têm mantido preferência pelo consumo de café arábica (60%, contra 40% de robusta). Já nos mercados emergentes, como Leste Europeu, Coréia, Austrália, África do Sul, entre outros, 75% do café consumido é robusta, mas observa-se tendência de expansão do consumo em ambas as espécies de café. Do ponto de vista da produção mundial, 56% do volume consumido é de robusta e 44%, arábica. “Esses números, em específico, refletem situação não definida, não consolidada, o mercado tem sua dinâmica e os preços hoje praticados obviamente influenciam esse panorama atual”, opinou. 

Nos países produtores, que consomem 43,4 milhões das sacas produzidas mundialmente, de acordo com os dados do Cecafé, a espécie mais consumida é também a robusta (70%), contra 30% de arábica, sendo que 74% do volume consumido é proveniente dos próprios países que produzem o produto, 23% são exportações entre os produtores e 3%, re-exportações das importações.

Em contrapartida, o arábica responde por 61% da produção. No Brasil, essa preponderância se mantém; 76% da produção brasileira é arábica e a produtividade nacional é a maior do mundo: 23,48 sacas por hectare de arábica e 24,27, de robusta.

 

Foco interno 

O professor da Universidade Federal de Lavras, Luiz Gonzaga de Castro Júnior, reafirmou que a “inovação é importante na produção de qualquer alimento, mas no caso do café foi a inovação que fez com que esse produto chegasse a ser a segunda bebida consumida no mundo, só perdendo para a água”. De acordo com ele, a inovação move o consumo de alimentos e os determinantes para isso são educação, população, demografia, renda e urbanização. Esses determinantes, por sua vez, fundamentam as cinco principais tendências para o consumo: sensorialidade e prazer, saudabilidade e bem-estar, conveniência e praticidade, confiabilidade e qualidade e sustentabilidade e ética. São tendências que se ligam a sentidos e que respondem a demandas impostas pela urbanização crescente e mudanças nos hábitos de vida das populações, cada vez mais exigentes por praticidade e segurança alimentar e por selos que indicam procedência, rastreabilidade e qualidade, entre outros atributos. 

Gonzaga traçou um histórico sobre a inovação na indústria do café – pincelou imagens das primeiras máquinas de torrefação, chegando às máquinas que hoje transformam quase instantaneamente cápsulas de café nas bebidas prontas. Mencionou a importância da apresentação das embalagens e dos ambientes das cafeterias. “Inovação, portanto, não é focada apenas no produto”, afirmou o palestrante que evoluiu em sua palestra para a apresentação de dados sobre o mercado de café, incluindo comparações sobre a produção de países concorrentes e sobre o comportamento do robusta e do arábica, e sugestões para a sustentabilidade do setor  cafeeiro. 

“Se a indústria cresce, o setor produtivo está vivendo de esperança”, disse. Ele se referia às expectativas dos produtores por apoio governamental ou por circunstâncias que favoreçam o aumento do preço do café brasileiro, a exemplo da queda da produção de países concorrentes. “Mas não se pode viver de esperança, é preciso que se tomem decisões racionais e, para isso, o produtor precisa contar com números e informações confiáveis, o que nem sempre acontece”.

Luiz Gonzaga citou problemas da cafeicultura brasileira, como a baixa competitividade por causa dos custos de produção, inclusive no que se refere à mão de obra cara, ausências de políticas que possam beneficiar o setor – “as que existem hoje são paliativas” –  e a falta de orientações aos produtores por parte das cooperativas e associações, além dos “investimentos errados na hora errada”. Os caminhos para a sustentabilidade passam, segundo ele, pela melhoria da produtividade, políticas públicas, seguro, linhas de financiamento, verticalização para a agricultura de montanha e foco na gestão. “Não adianta correr atrás de mecanização e qualidade se não existir gestão.” 

Gonzaga forneceu dados sobre o mercado. Disse que, quando se fala em arábica, o grande vencedor  nos últimos anos foi o Brasil, responsável por cerca de 14 milhões de sacas das 17 milhões que foram adicionadas à produção mundial no período de 1990 a 2012 . No caso do robusta,  foi o Vietnã. Encerrou mostrando números relacionados à crise de preços.

 

 

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Fonte:
Embrapa Café

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2 comentários

  • victor angelo p ferreira victorvapf nepomuceno - MG

    Esta informação analítica foi muito bem feita, principalmente para quem quer adquirir e estocar com os atuais e aviltantes preços do produto, pois amplia consideravelmente o horizonte especulativo...Apesar da situação atual onde aumenta cada vez mais uma verdadeira agressão ao produtor que é o que mais emprega neste pais, fico com as palavras do Senhor Vavico, avô da minha esposa: Victor, já vivi muitas crises, sempre de uma maneira ou de outra o café dava uma rasteira em quem passava as informações... Não existe Doutor em Cafe! (Deus o tenha)

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  • Liones Severo Porto Alegre - RS

    Excelente análise e lembrem-se desta frase acima mencionada:“Mas não se pode viver de esperança, é preciso que se tomem decisões racionais e, para isso, o produtor precisa contar com números e informações confiáveis, o que nem sempre acontece”. Mais importantes que as análises são os diagnósticos das prováveis crises...

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