Contra a bio"adversidade", por Evaristo E. de Miranda

Publicado em 24/01/2014 15:51 e atualizado em 27/01/2014 16:00
*Evaristo E. de Miranda é doutor em ecologia e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

Nas áreas rurais, nas periferias urbanas e na produção agropecuária, os brasileiros enfrentam uma dura e cotidiana batalha contra a bioadversidade: pragas e doenças atacam humanos, animais, cultivos e o meio ambiente. Sem ações efetivas de gestão e controle, populações de animais selvagens, nativos e exóticos, proliferam.
Exemplo conhecido é a proliferação das capivaras em espaços urbanos e áreas agrícolas. Além da destruição na vegetação, elas disseminam a febre maculosa, por meio do carrapato-estrela, responsável pela morte de dezenas de pessoas. Isso interditou o acesso a espaços públicos em diversas cidades. As placas advertem: "Capivaras. Afaste-se. Risco de febre maculosa". Eliminá-las não é fácil e constitui crime ambiental inafiançável. As prefeituras estão de mãos atadas.
Problema análogo ocorre com a proliferação de micos, saguis e até do macaco-prego, capazes de devorar ovos e filhotes, mesmo nos ninhos mais escondidos. Eles causam o declínio e a extinção local de populações de aves, além de invadirem residências e destruírem a vegetação.

Como as pombas, os "ratos do céu", as maritacas adaptaram-se às cidades, não cessam sua expansão e causam diversos danos, até às instalações elétricas. Com a pomba-amargosa e outras pragas aladas, as maritacas chegam a impossibilitar o cultivo de girassol, sorgo e outras plantas, causam danos à fruticultura e atacam os grãos no transporte, como o amendoim.

Dois graves problemas faunísticos vieram da Argentina e do Uruguai: a lebre e o javali. A superpopulação da lebre europeia virou caso de segurança aeroviária. O grande número desses animais ágeis e de hábito noturno preocupa a operação de aeroportos. Sua reprodução crescente e rápida torna inviável a produção de hortaliças. Elas destroem plantações de maracujá, laranjais e cafezais em formação. Não há cerca ou tela capaz de contê-las. Um dos maiores prejudicados é o coelho nativo. O tapiti e seus filhotes são mortos pela lebre, que invade e ocupa suas tocas. Já o javali segue em expansão e ataca as mais diversas lavouras e ambientes naturais. Não há defesa contra esse animal agressivo que chega a 200 quilos, atua em bandos e invade até mesmo criações de suínos em busca de fêmeas. Em áreas protegidas, o javali ocupa o hábitat e concorre com a queixada e o cateto.

Sem manejo adequado, a recuperação das áreas de preservação permanente e de reserva legal, determinada pelo novo Código Florestal, criará corredores e novos espaços para ampliar ainda mais essas pragas e as doenças transmitidas. Seu contato com a fauna selvagem e doméstica ampliará a proliferação de várias doenças, como febre amarela, aftosa, lepra, raiva, leishmaniose, etc. Sem gestão territorial e ambiental, a introdução e a aproximação desses animais de áreas rurais e urbanas tornará inviável a eliminação de diversas doenças e trará novas - e difíceis - realidades ao combate às zoonoses.

A bioadversidade dos invertebrados resulta em parte da biodiversidade de mosquitos, pernilongos, carapanãs, borrachudos e assimilados. A dengue, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, ultrapassou 1,5 milhão de casos em 2013, três vezes mais do que em 2012! Um recorde como nunca antes se viu na História deste país. Foram 500 mortes registradas. E prosseguem crônicas a febre amarela, a malária, a oncocercose, etc.

A bioadversidade provocada por vermes e assimilados também vai bem. Esquistossomose, Chagas, toxoplasmose, amebíases, lombrigas e giardíases proliferam. A falta de saneamento e de água tratada afeta criticamente tanto populações amazônicas ao longo de grandes rios como a periferia de cidades e áreas rurais. Mais de 88% das mortes por diarreia se devem à falta de saneamento e 84% dessas mortes atingem as crianças. As infecções são contraídas pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Apesar dos progressos (entre 2010 e 2011 houve um aumento de 1,4 milhão de ramais de água e 1,3 milhão na rede de esgotos), não se coleta nem metade do esgoto. E, do coletado, apenas 38% recebe algum tratamento. As inundações de verão, além de deslizamentos, trazem a leptospirose e o perigo do tifo e do tétano.

Os exércitos de carrapatos, percevejos, moscas, mutucas, baratas, escorpiões, aranhas, morcegos hematófagos e transmissores da raiva, caramujos gigantes, serpentes peçonhentas e outras ameaças sempre recebem reforços externos. A recém-chegada lagarta Helicoverpa armigera já trouxe prejuízos de bilhões à agricultura brasileira! Isso não se resolve apenas com reflexões metafísicas. É preciso agir.

Explicações simplistas de que o desmatamento ou o "desequilíbrio ecológico" levam esses animais a se refugiar em cidades não servem nem como piada. No mundo inteiro existem gestão e manejo ambiental, como abate direcionado de animais e uso preventivo do fogo, por exemplo, até em unidades de conservação. No Brasil não se pode fazer manejo e gestão ambiental nem sequer em áreas agrícolas. Capacitar técnicos para o manejo seria indução ao crime. A política resume-se a aplicar redomas legais de proteção sobre territórios e espécies, mesmo se invasoras ou em superpopulação. Não existem ações efetivas de controle dessas populações.

A situação sanitária atual e futura precisa ser objeto de uma atenção mais racional e preventiva. Como enfrentar essa bioadversidade quando qualquer tipo de caça é crime e a posse de armas, mesmo em áreas rurais isoladas, é quase impossível? Maior que o desafio de preservar a natureza é o de geri-la e controlar suas populações animais. Enfrentar a bioadversidade exige, além de financiamento, um cabedal de ciência, inovação e competência, algo raro, quase em extinção, no campo ambiental.

*Evaristo E. de Miranda é doutor em ecologia e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

Economia

“Made in USA”

etanol

Importação de etanol de milho

A região Nordeste esta importando etanol de milho produzido dos EUA. A importação do combustível ganhou força com a decisão do governo federal, anunciada no final do ano, de desonerar o PIS e Cofins das importações de todos os tipos de álcool.

Neste início de 2014, o primeiro navio, trazendo 12 milhões de litros de etanol de milho produzido nos EUA, atracou no Porto do Itaqui, no Maranhão.

Por Lauro Jardim

Governo

Dilma e o pênalti

Pênalti
Dona da bola

Os ministros que a acompanharam na viagem a Natal trocaram conhecimentos sobre futebol com Dilma Rousseff. Durante o voo, no Aerodilma, Dilma se disse fã do futebol de Pelé e Garrincha e da obra futebolística de Nelson Rodrigues.

Dilma chegou a citar uma frase atribuída ao folclórico roupeiro do Botafogo Neném Prancha. E logo qual:

- Pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube.

Por Lauro Jardim

Há 50 anos, Nelson Rodrigues constatou que os idiotas estão por toda parte. Maria do Rosário confirma que já são amplamente majoritários no ministério de Dilma Rousseff

figura 3

Em maio de 2013, milhares de fregueses do Bolsa Família congestionaram as agências da Caixa Econômica Federal antes do prazo combinado para a entrega da mesada. Também surpreendida pelas correrias daquele sábado estranho, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, sacou da bolsa o Twitter e mandou bala nos suspeitos de sempre: “Boatos sobre fim do bolsa família deve (sic) ser da central de notícias da oposição. Revela posição ou desejo de quem nunca valorizou a política”. Logo se descobriu que a confusão fora provocada pelos próprios gerentes  do maior programa oficial de compra de votos do mundo.

Na versão divulgada pelo alto comando da CEF, um diretor afoito ordenara, sem pedir licença aos superiores hierárquicos, que o dinheiro fosse colocado antes da hora à disposição da clientela. Retransmitida em cadeia pelos dependentes da esmola federal, a notícia da antecipação da esmola federal espalhou-se pelo país e conferiu dimensões amazônicas às filas dos beneficiários. As coisas se agravaram quando surgiu a desconfiança de que o presente inesperado era um sinal de que o programa seria encerrado. Simples assim. A oposição não teve nada com isso. Maria do Rosário nem pediu desculpas pela mensagem imbecil. E não demoraria a deixar claro que não tem cura.

Em outubro de 2013, Joselito Müller, editor de um blog humorístico, informou que a ministra, depois de confrontada com um vídeo em que um assaltante é baleado por um policial, tomara as dores do bandido. Colérica com a brincadeira, Maria do Rosário revidou com uma nota oficial beligerante. Além de encarregar a Polícia Federal da “criteriosa investigação e responsabilização dos autores da notícia mentirosa publicada”, a companheira gaúcha “solicitara à empresa que hospeda o site que retire o conteúdo difamatório do ar”.

Como a Polícia Federal tem mais o que fazer, e como o controle social da mídia ainda é só um brilho no olhar da seita lulopetista, os pedidos deram em nada. Mas Maria do Rosário não consegue viver longe das primeiras páginas. Reapareceu em novembro no cemitério de São Borja, para exaltar a exumação dos restos mortais de João Goulart: “A investigação é uma missão de Estado, humanitária, cumprida com total isenção”, caprichou a sherloque empenhada em provar que o presidente deposto em 1964 não morreu de enfarte: foi envenenado por sicários de tiranos brasileiros e uruguaios. Uma proeza dessas não tem preço, informou: “Custa menos do que uma ditadura, porque essa custou vidas, exílio, significou a morte. Estamos valorizando a democracia”.

Jango já foi devolvido à sepultura. Mas é improvável que descanse em paz enquanto a camelô de teorias amalucadas continuar em ação. Neste janeiro, Maria do Rosário confirmou que nada lhe parece tão excitante quanto a aparição de cadáveres que podem ser transformandos em cabos eleitorais. Entusiasmada com a história do jovem gay cujo corpo foi encontrado sob um viaduto no centro de São Paulo, nem esperou que a polícia começasse as investigações para incorporou simultaneamente três personagens: o delegado que identifica culpados em cinco minutos, o promotor que dispensa provas para exigir a punição dos carrascos e o juiz que condena sem sequer folhear os autos.

Maria do Rosário resolveu tudo com outra nota oficial cuja essência é reproduzida a seguir:

“A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República vem a público manifestar solidariedade à família de Kaique Augusto Batista dos Santos, assassinado brutalmente no último sábado (11/01). (…) “As circunstâncias do episódio e as condições do corpo da vítima indicam que se trata de mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia. (…) Diante desse quadro, reiteramos a necessidade de que o Congresso Nacional aprove legislação que explicitamente puna os crimes de ódio e intolerância motivados por homofobia no Brasil, para um efetivo enfrentamento dessas violações de Direitos Humanos”.

Nesta terça-feira, a mãe de Kaique admitiu que o filho cometeu suicídio, hipótese robustecida por mensagens escrita por Kaíque, filmes e depoimentos. Os que embarcaram nas fantasias de Maria do Rosário vão caindo fora da nau dos insensatos. Maria do Rosário continua por lá. E continua ministra. É o Brasil.

Foi Nelson Rodrigues quem constatou que os idiotas estavam por toda parte. Menos de 50 anos depois da descoberta, os cretinos fundamentais são amplamente majoritários no primeiro escalão do governo federal.

Por Augusto Nunes

Direto ao Ponto

Celso Arnaldo volta em grande forma: ‘Dilma Rodrigues, a pior frasista da República’

dilma

Como diria o Zózimo, não convidem Dilma Rousseff e Nelson Rodrigues para a mesma frase. Quando os dois se encontram num único período, máximas sobre futebol lapidadas sílaba a sílaba pelo frasista impecável saem mancando, distendidas, fraturadas ─ tornam-se dúvida não só para domingo como para sempre.

Ok, isso não ocorre só com Nelson. Ao tabelar com qualquer craque da palavra, Dilma é impiedosa: já agrediu até Camões, da seleção portuguesa, e seu Velho do Restelo. Outros autores nacionais, como se verá adiante, levaram dela botinadas de cartão vermelho. Mas Nelson Rodrigues, em tempo de Copa, tem sido sua vítima preferencial. Porque ninguém escreveu melhor sobre a pátria em chuteiras (“de chuteiras”, segundo Dilma) do que Nelson. E ninguém o tinha tratado tão mal.

Depois de bater bola no cérebro baldio da presidente, qualquer frase de Nelson Rodrigues, originalmente épica no sentido e helênica na forma perfeita, fica inutilizada para o futebol. Seu único consolo é ter um passado glorioso: foi, um dia, uma frase de Nelson Rodrigues. É o caso da antológica expressão “complexo de vira-latas”, com que o genial cronista esportivo contestava o pessimismo generalizado em torno das chances da seleção brasileira na Copa da Suécia.

Esse complexo nunca mais foi o mesmo depois de tentar passar por Dilma, no ano passado, em discursos proferidos em diversos eventos relacionados à Copa. Manipulado pelo dilmês, esse legítimo puro-sangue rodrigueano ganiu como um vira-lata sarnento. Pior: foi usurpado pela presidente não para defender a seleção canarinho, como no contexto original, mas para retrucar abalizadas críticas a seu governo por parte da turma do “imagine na Copa” (veja o texto do Augusto Nunes na seção Vale Reprise).

As chuteiras imortais de Nelson Rodrigues foram novamente convocadas por Dilma, na inauguração do estádio Arena das Dunas, em Natal, para, outra vez, dar uma canelada no negativismo dos críticos. Mas era uma armadilha. Na coletiva de imprensa, indagada por um repórter se a exclusão da Arena da Baixada, com obras atrasadíssimas, não seria um vexame para o Brasil, Dilma engatou um “meu querido” imaginário e soltou:

─ Ô gente, pelo amor de Deus! Não vamos fazer… Essa (sic) é o tipo da pergunta que mostra aquilo (sic) que o Nelson Rodrigues dizia: “Não é possível apostar no pior”.

Hummmm…Nelson dizia isso? Quando, onde, por quê? Mesmo quem não é expert em Nelson estranhará que o cronista que escreveu “no Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio”, ou “na vida o importante é fracassar”, tenha cunhado uma frase tão murcha. Primeiro, porque sempre é possível apostar no pior ─ ou no Jockey Club não haveria azarões. Segundo…porque não parece Nelson. A frase não é redonda, não é lapidar, não é autodepreciativa, como “o brasileiro é um feriado”, não é… Nelson Rodrigues.

Bem, Nelson não deveria estar nos seus melhores dias. Só pode ser isso. Alguma hipótese de ele nunca ter dito isso? Claro que não. Afinal, a frase foi reproduzida pela presidente da República ─ e os jornalões do dia seguinte a reproduziram sem o menor questionamento. Algum risco de Angela Merkel colocar coisas na boca de Brecht para defender seu governo? Obama inventar um pensamento de Norman Mailer para referendar sua proposta polêmica de seguro-saúde? Claro que não.

Mas, espere: quem disse que ele disse isso foi ninguém menos que Dilma Rousseff ─ de quem nunca se ouviu uma frase sequer razoável em três anos de governo, incluindo as de outros, invariavelmente deformadas pela sintaxe do dilmês. Que não acerta nomes de cidades e de pessoas ─ outro dia, referiu-se três vezes a seu novo ministro da Saúde, o consultor Arthur Chioro, como “Choiro”, um sinal de como seu Ministério é a escolhido a dedo entre pessoas de sua total confiança.

Ok, mas, no caso de Nelson, dê-se a ela o benefício da dúvida. Ela realmente acha que ele dizia isso? Ou tirou esse pensamento tosco do mesmo lugar de onde saem seus próprios pensamentos? Um e-mail ao amigo Ruy Castro, magistral biógrafo de Nelson e organizador de sua obra completa para a Cia. das Letras, agora transferida para a Agir/Ediouro, buscou a resposta junto ao oráculo: há alguma frase dele remotamente similar a “não é possível apostar no pior?”.

A resposta de Ruy foi incontinenti e definitiva:

“Para fazer o livro Flor de obsessão — As 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues, naturalmente consultei milhares de textos de Nelson. Afinal, de quantas se tiram as 1000 melhores? E nunca vi nem sombra dessa frase”.

Óbvio ululante. Mas Dilma Rodrigues, cronista bisonha, estreou com enorme repercussão. “Não é possível apostar no pior” já passou à história como uma frase de Nelson Rodrigues citada pela presidente do Brasil. Digite-a agora, entre aspas, no Google. Hoje de manhã já havia 4750 resultados… todos atribuídos à parceria Dilma Rousseff-Nelson Rodrigues. O dilmês, o idioleto-fenômeno falado pela presidente, deforma não só o que é como o que nunca foi. O que é pior?

Há alguns meses, Dilma enviou um bilhete ao acadêmico Ivan Junqueira, divulgado pelo Palácio para demonstrar o pendor da presidente pela alta cultura, depois de supostamente ter lido seu livro “Poesia Reunida”. Esse bilhete, aliás, é uma das três únicas manifestações escritas do dilmês conhecidas:

“Meu caro Ivan, a vida, como você escreveu, é pior que a morte; acreditar nisso nos dá força para compartilhar cultura e construir um país melhor…”

Espere: a vida é pior que a morte? Claro que não. Era apenas Dilma atribuindo ao refinado Ivan Junqueira uma frase de bilhete de suicida iletrado. Em “A sagração dos ossos”, um dos poemas de “Poesia Reunida”, há os seguintes versos:

“Sagro estes ossos que, póstumos,

recusam-se à própria sorte,

como a dizer-me nos olhos:

a vida é maior que a morte”.

Ah, bom: a vida é maior, não pior, que a morte ─ graças a Deus.

Na verdade, quem sempre aposta e investe no pior é Dilma Rodrigues.

 

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Fonte:
O Estado de S. Paulo + VEJA

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