No Estadão: "É dificil ganhar eleição com o agro ruim como está", diz Biagi

Publicado em 17/02/2014 10:35

Na semana em que Dilma foi obrigada a preencher a vaga de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior com um interino, Mauro Borges Lemos, por não encontrar um empresário de renome que quisesse assumir o posto, coube a Lula fazer afagos a investidores internacionais, em Nova York. "Ninguém deve ter medo de investir no Brasil", disse ele.

O papel de atrair pesos pesados do PIB para a campanha de Dilma e do candidato do PT ao governo paulista, Alexandre Padilha, será agora protagonizado pelo ex-presidente. Após assistir a uma romaria de industriais a seu escritório, nos últimos meses, para reclamar do "intervencionismo" do governo na economia, Lula vestirá o figurino de "facilitador" da reaproximação.

A preocupação do governo e do PT é com a deterioração da imagem de Dilma em meio a uma crise de credibilidade. Nos últimos dias, os desafiantes da presidente - o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) - fizeram coro com as queixas dos industriais e atacaram o modelo econômico.

A estratégia do comitê petista consiste agora em pôr na vitrine as conquistas do período Lula-Dilma, como o crescimento do emprego, e criar "vacinas" para impedir que os adversários colem na presidente o carimbo do descontrole e da falta de gerenciamento, na esteira dos protestos de rua e dos apuros na economia.

Os atritos na relação de Dilma com os empresários foram responsáveis, na sexta-feira, pelo recuo do usineiro Maurílio Biagi Filho no compromisso verbal assumido com o PT. Recém-filiado ao PR, Biagi anunciou a desistência de ser vice na chapa de Padilha. "É difícil ganhar a eleição em São Paulo com o agronegócio ruim como está", afirmou Biagi. "O problema é causado pela política do governo federal e não adianta mais promessa. O governo tem de propor solução para o setor."

Biagi promoveu um jantar com representantes do agronegócio em sua casa, em Ribeirão Preto, no dia 7. Ali seria dada a largada festiva da campanha de Padilha, ex-ministro da Saúde.

Diante de Lula e do candidato, porém, o clima foi de constrangimento com as críticas.

Para o presidente da indústria de alimentos Moinho Pacífico, Lawrence Pih, as garantias de Dilma não têm surtido efeito porque o setor privado quer ver "ações concretas", com o objetivo de pôr fim à "desindustrialização". "Não adiantam só palavras. O governo precisa sinalizar que vai intervir menos na economia. O atual modelo é ancorado no superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante, três pilares hoje frágeis."

Pih liderou o comitê de empresários que apoiou Lula na vitoriosa campanha de 2002, mas se afastou do PT após o escândalo do mensalão, em 2005. Até hoje, no entanto, ele defende o ex-presidente. "Lula é pragmático e tem capacidade de negociar. Ele pode não concordar, mas ouve. A presidente é uma economista keynesiana-socialista", comparou Pih.

O comando da campanha estuda até a possibilidade de editar um documento específico, no segundo semestre, estabelecendo compromissos da presidente para alavancar a indústria. Nos bastidores do PT, o plano é chamado de versão 2.0 da Carta ao Povo Brasileiro, texto usado na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, em 2002, para acalmar o mercado.

Falta marca econômica ao governo e analistas preveem uma 'eleição difícil'

Economistas ouvidos pelo Estado disseram que a crise econômica não pode ser considerada ainda um fator de risco para a reeleição da presidente, embora prevejam uma eleição difícil, a ser decidida no segundo turno.

Para Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, "mesmo com a queda no dinamismo da economia, há geração de emprego e não há descontrole da inflação". Em compensação, segundo ele, não dá para dizer que a reeleição de Dilma está garantida no primeiro turno. "Os últimos números da pesquisa do Ibope sobre a confiança no governo são de 43%, o que não garante a maioria absoluta." Para ele, falta a Dilma uma marca que a identifique com o eleitor nas iniciativas econômicas.

"Fernando Henrique representou a estabilidade interna e o controle da inflação. Lula, a redução da desigualdade social e o aumento do emprego e renda. Dilma só pode falar que é a continuidade. O controle da inflação e o aumento do emprego são heranças, uma de Fernando Henrique, mantida por Lula, e outra do próprio Lula."

A mesma linha de raciocínio é adotada pelo economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. "Acho que o impacto eleitoral tende a diminuir, porque o desemprego é baixo". Ele lembrou que uma parte considerável da sociedade brasileira voltou às escolas, ou graças ao ProUni, criado durante o governo Lula e que concede bolsas de estudos a alunos oriundos do ensino público, ou pelas escolas técnicas. "Houve aumento real da renda. Os ganhos para a população foram reais. Isso é um fato."

Para Perfeito, no entanto, o PT errou na estratégia econômica e isso pode prejudicar o partido e seus candidatos. "O PT incentivou os empresários a investir e isso não se concretizou. Jogaram o juro para baixo para obrigar o empresário a usar o dinheiro em investimentos. Isso fez com que outras taxas acompanhassem o juro e também caíssem, a exemplo do aluguel", prossegue o economista.

Ele acrescenta que em 2008 o preço do aluguel correspondia a 0,77% do valor do imóvel e hoje está em 0,45%. "Essa é a demonstração de que as taxas caíram. Mas o empresário não fez o que o PT esperava, que era investir,"

Perfeito ressalta que quando Dilma fala de guerra psicológica "está dizendo que baixou os juros e os empresários não investiram". Mas a presidente "não percebe que provocou uma mudança abrupta demais, que assustou o capital. Aí, todos perguntam: por que um País como o Brasil não consegue dar o grande passo? Não dá porque o governo assustou o capital."

Em sua avaliação, ela "baixou os juros esperando que os investimentos viessem, mas eles não vieram porque a forma como ela fez tudo foi muito rápido e causou desconfianças".

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Fonte:
Estadão

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