Na FOLHA: Comida e inflação indomada, por VINICIUS TORRES FREIRE

Publicado em 18/03/2014 04:01
Economistas 'do mercado' chutam inflação mais alta em meio à especulação com preço da comida...

 

A INFLAÇÃO sobe continuamente nas estimativas da centena de economistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central do Brasil. Sobe desde o fim do ano passado, sobe neste ano. A inflação prevista para 2014 estava ontem em 6,11%.

Como a média dos preços, medida pelo IPCA, anda em torno de 6% faz meia década, não parece que tenha havido alguma mudança relevante. Porém, as estimativas de crescimento da economia são baixas para este ano e os juros subiram barbaramente. Ou seja, em tese seria razoável esperar inflação mais baixa adiante. Em tese: se não fossem outros tantos problemas presentes da economia.

De mais novo nessa história toda de preços há o inesperado aumento local e global de preços da comida. Alimentos em alta foram pedras recorrentes no sapato do Banco Central e podem ter sido um elemento menor do mau humor que se viu em meados do ano passado no Brasil.

Como se recorda, pouco antes de o "gigante acordar", os brasileiros faziam piada um tanto irritada com o preço extravagante do tomate, talvez uma metáfora da inflação acumulada da comida. Em março, abril de 2013, auge do zum-zum do tomate, o preço de comer em casa havia subido quase 14% nos 12 meses anteriores, uma corrida que então não se via desde 2008.

Seja com for, nem o povo nem um governo candidato à reeleição gostam de preços em alta, desculpe-se a obviedade. Há um zum-zum internacional sobre o risco de uma nova onda de inflação da comida. Até o "Financial Times", o diário econômico britânico, deu reportagem sobre a carestia do café da manhã deles: café, carne de porco, trigo, laticínios, suco de laranja, tudo está mais caro.

Essa conversa vai durar? Pode ter efeitos nos juros do Brasil?

Há seca no centro-sul do Brasil e agora cheias no Centro-Oeste, mas não se sabe ainda o efeito concreto e duradouro desses problemas nos preços, como se escrevia anteontem nestas colunas. No atacado, os preços estão subindo.

Houve frio demais nos Estados Unidos, o que prejudicou a colheita de grãos, além de seca na Califórnia, uma epidemia entre porcos e um alta grande de exportações de laticínios (sic), devorados pela Ásia. Secas do Oriente Médio à Austrália podem danar ainda mais a produção de comida básica.

Há crise na Ucrânia, no centro de uma região que é grande produtora de grãos. Por enquanto, porém, a alta do trigo ora deve-se apenas à especulação financeira com os efeitos dessa crise, que hoje tinha um jeitão de terminar em pizza (mais cara, devido à alta dos preços de trigo e queijo).

Antes do fim de fevereiro, o departamento ("ministério") da Agricultura americano previa a queda do preço global dos grãos para o menor nível em cinco anos. Depois disso, houve revisões da previsão do tamanho das safras americana e brasileiras, as gigantes do mercado, mas ainda assim para níveis de produção maiores que os do ano passado.

O Banco Central reduzindo o ritmo do aperto monetário, subindo ainda os juros, mas menos a cada rodada. Mas dá a impressão de que pode esticar a campanha de alta das taxas, caso a inflação engrosse.

Não se sabe muito bem o rumo de preços e juros. Mas há oportunidade de especulação.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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