Logística brasileira, 30 anos de atraso, por Glauber Silveira

Publicado em 14/04/2014 17:57
*Glauber Silveira é engenheiro agrônomo, produtor rural em Campos de Júlio (MT) e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).

 

No relançamento da Frente de Logística da Câmara dos Deputados, a Frenlog, o ministro dos transportes, César Borges, afirmou que nossa logística requer, no mínimo, R$ 400 bilhões para se adequar, mas que o Brasil investe R$ 15 bilhões por ano. Ou seja, neste ritmo em 30 anos teríamos uma logística minimamente adequada. É por isso que na classificação do World Economic Forum o Brasil está em 104⁰ lugar em qualidade geral de infraestrutura, 118⁰ em qualidade de rodovias, e 130⁰ na qualidade dos portos.

O Brasil tem crescido baseado nas exportações, mas segundo dados do Ministério do Transporte de 2012, ao contrário de outros países exportadores dos BRICs, é o que menos investe em transportes, apenas 0,42% do seu PIB, enquanto China investe 10,6%, Índia 8% e Rússia 7%. Segundo estudo da E.C. Consultoria e Assessoria em Comércio Internacional, a ineficiência logística custa ao agronegócio brasileiro cerca de US$ 4 bilhões por ano. Outro estudo da FIESP apontou que tal ineficiência impõe perdas de R$ 17 bilhões por ano à indústria. Ou seja, estamos falando de dezenas de bilhões de reais de prejuízo!

O problema é agravado pela nossa matriz de transporte, composta por 61% de rodovias, 21% de ferrovias e 14% de hidrovias, quando ao menos 60% dela deveriam ser ancoradas em ferrovias e hidrovias. Essa mudança ajudaria a cortar 41% do consumo de combustíveis fósseis. Hoje, se gasta 56 litros de combustível para transportar uma 1 tonelada de alimento por 1000 km de distância em rodovias, contra 10 litros em ferrovia e apenas 5 litros em hidrovias.

O resultado da ineficiência logística se refletiu diretamente na competitividade da agricultura, com um crescimento dos fretes da lavoura ao porto de 204% nos últimos dez anos. Saímos da média de US$ 28/t para US$ 85/t transportada a cada 1000 km. Nossos principais competidores, Estados Unidos e Argentina, exibem custo médio de US$ 22/t. Isto tudo é agravado pelo abuso no frete ferroviário no Brasil, enquanto mundialmente o custo é de US$ 30/t por 1000 km, no Brasil custa US$ 80/t.

Mas há outras causas que prejudicam a competitividade brasileira. Nos portos, classificados entre os piores do mundo, com a baixa eficiência de operação e complexos procedimentos alfandegários, um navio leva de 90 a 120 dias para ser carregado. Apesar de felizmente sermos um país exportador, pouco investimos para melhorar nossa competitividade.

Os problemas nós conhecemos, precisamos é buscar alternativas que amenizem os efeitos no curto prazo. Alguns investimentos dariam um folego para que o Brasil pudesse continuar a crescer. A produção do Centro-Oeste está pressionando o escoamento pelos portos do Sul e do Sudeste. Sendo assim, deveríamos imediatamente buscar soluções de logísticas tirando a pressão destas regiões.

Há investimentos prioritários, como a imediata liberação da Hidrovia do Rio Paraguai e Rio das Mortes/Araguaia que dariam resultado rápido. Outra obra fundamental é a conclusão da BR-163, que falta asfaltar 170 km para dar acesso ao porto de Miritituba-PA e posteriormente Santarém-PA. A sua rápida conclusão desafogaria as exportações pelos portos do sul e sudeste em 10 milhões de toneladas.

Outras BRs como a 242, 158 e 080 garantiriam acesso aos portos do Norte que, em 2020, devem estar escoando cerca de 40 milhões de toneladas. Esses portos terão terminais de carga privados, o que acelera sua construção, mas precisam ter prioridade nas licenças ambientais. Se não, teremos acesso a portos que não podem ser construídos ou entrar em operação.

Agora, a construção de uma ferrovia de Sinop a Miritituba, hoje em discussão, me parece uma opção eficiente e de custo baixo. Os estudos apontam investimentos de R$ 6 bilhões e com o potencial de escoar 30 milhões de toneladas até 2020. Ou seja, não só reverteria o défice como absorveria o crescimento futuro da produção da região. Discutir e tomar a decisão certa nesta hora de “como fazer” e “o que fazer” é fundamental, pois com um déficit tão grande não se pode errar, precisamos ser eficientes.

Como estamos falando de um déficit de R$ 400 bilhões, tudo é prioritário e, mesmo assim, quando o governo investir este recurso, já serão necessários outros R$ 400 bilhões. Por isso, incentivar o investimento privado é fundamental, desburocratizando processos e priorizando a concessão de licenças ambientais. Afinal o que é prioritário para o Brasil não é para as ONGs, mas me parece que elas quem mandam no desenvolvimento do país.

(por Glauber Silveira)

 

Fonte: Aprosoja BR

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