Inflação: Não tem ninguém cuidando do combate à inflação...

Publicado em 18/06/2014 15:37
por Rodrigo Constantino, de veja.com.br

Não tem ninguém cuidando do combate à inflação

O IPCA-15, prévia do índice de inflação que foi divulgado hoje pelo IBGE, recuou no mês de junho para 0,47%, mas acumula alta de 6,41% em 12 meses, bastante próximo do teto da meta do governo. Apesar de o crescimento econômico estar anêmico, o fato incômodo para o governo Dilma é que o índice de inflação segue muito elevado, destruindo o poder de compra dos brasileiros.

Fonte: Bloomberg

Fonte: Bloomberg

Em sua coluna de hoje na Folha, o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman analisa uma entrevista concedida por uma “fonte” do governo, muito provavelmente um diretor do BC. Mostra, então, como os membros do BC têm feito malabarismo semântico para justificar o injustificável: a leniência do banco com o controle da inflação, provavelmente por conta de uma espantosa subserviência ao Executivo. Diz ele:

Na prática, a afirmação equivale a reconhecer que a política monetária tem sido inadequada para conter as pressões inflacionárias disseminadas observadas ao menos desde 2012, dependendo de “puxadinhos” como controle de preços.

Significa também que o BC, supostamente o responsável pela estabilidade do poder de compra da moeda, abandonou essa função há tempos.

Francamente não saberia dizer se tal posição reflete convicções da diretoria do BC ou apenas subserviência ao governo de plantão (ou ainda uma mistura das duas), mas a esta altura do campeonato a distinção é acadêmica.

O (triste) fato é que não há ninguém cuidando da inflação, que cresce, saudável e indômita, como havia tempos não se via. E, diga-se também, essa política frouxa não impediu o crescimento anêmico, que não deverá chegar à média de 2% ao ano neste governo.

“Apertem os cintos que o piloto sumiu” seria um bom resumo da mensagem. O Banco Central precisa urgentemente resgatar sua autonomia operacional, já que sequer goza de independência legal. Como se não bastasse tanta negligência por influência política, há, dentro do próprio governo, quem defenda uma politização ainda maior do Banco Central. Seria cômico, não fosse trágico.

Rodrigo Constantino

 

Congresso paralelo: o risco da “democracia direta”

Sei que muitos brasileiros resolveram suspender em parte as preocupações com a política, preferindo voltar sua atenção aos jogos da Copa. Mas não podemos relaxar. É tudo que o PT quer. E sua tentativa golpista contida no Decreto 8.243 continua em curso. É preciso muita atenção e mobilização para debelar o risco. Foi a mensagem do editorial do GLOBO de hoje:

Embora o assunto tenha ficado em suspenso devido ao recesso parlamentar da Copa, o governo continua em campo na tentativa de apresentar o decreto-lei 8.243, da “democracia direta”, como simples medida burocrática, para ordenar o que já existe. As comissões, fóruns, “mesas” (jargão chavista) e similares previstos para funcionar junto a ministérios e estatais seriam mais do mesmo.

[...]

Qualquer observador da crônica política brasileira desde janeiro de 2003 sabe que a corrente hegemônica dentro do PT tem dificuldades de convivência com o regime de democracia representativa. A instância do Legislativo, com todos seus defeitos e distorções, funciona como barreira a tentações autoritárias, entre outras. E isso incomoda.

[...]

O destino do PNDH-3, como deveria ser, foi as gavetas do Congresso. A questão volta com o 8.243. Desta vez, na surdina para ser fato consumado. Não pode. Como o governo já avisou que não volta atrás, o Congresso precisa votar o projeto de decreto legislativo que revoga a aberração.

Aberração, indeed. E se cochilar o cachimbo cai. Com petistas, todo cuidado é pouco. O senador Francisco Dornelles, em artigo publicado no mesmo jornal, também fez coro contra este projeto golpista do PT:

A democracia se assenta sobre dois grandes pilares: a independência dos poderes e a representação política fundamentada no voto soberano do cidadão. Ambos os pilares estão sendo enfraquecidos em suas bases pela edição de decreto presidencial que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social.

[...]

Por detrás do objetivo aparentemente defensável de aprimorar o processo de participação social, o Decreto 8.243/2014 esconde ameaças à democracia representativa. Uma delas é a clara possibilidade de que o governo venha a usar as estruturas previstas nesse decreto para sucumbir à tentação, típica de governos de recorte autoritário, de aplicar um golpe por dentro do sistema democrático, desconsiderando o princípio da representatividade e, portanto, as competências e as prerrogativas do Congresso Nacional, substituindo-o por um esquema de consultas a representações de grupos de interesse.

Negociação política dá trabalho, assim como conviver com visões destoantes de mundo. Tal pluralismo é parte de qualquer democracia avançada, por mais imperfeita que seja – e sempre será. A alternativa é que costuma ser muito pior. Esse discurso de “democracia direta” é apenas um subterfúgio de grupos autoritários que controlam os tais “movimentos sociais”, com muita verba pública inclusive, e pretendem solapar a democracia de dentro. É golpe!

Rodrigo Constantino

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