Entre o público do jogo do Brasil, reprovação ao governo Dilma é quase o dobro da média do país, aponta Datafolha

Publicado em 29/06/2014 07:00
EDITORIAL DESTE DOMINGO: Fim da fantasia -- Estagnação econômica solapa algumas das últimas ilusões da administração Dilma Rousseff e governo se apega a discurso do progresso social

Brancos e ricos são maioria em estádio

Entre o público do jogo do Brasil, reprovação ao governo Dilma é quase o dobro da média do país, aponta Datafolha

Maioria dos torcedores presentes no Mineirão, porém, critica vaias à presidente; 91% dizem ter mais orgulho do país

POR MARIANA BARBOSA, DE SÃO PAULO

Pesquisa do Datafolha com torcedores que compareceram no sábado (28) ao jogo do Brasil contra o Chile, em Belo Horizonte, confirma a percepção de que quem frequenta os estádios da Copa do Mundo é a "elite branca".

Entre os 693 entrevistados nos acessos à arena, 67% se declaram brancos e 90% pertencem às classes A ou B.

Os percentuais contrastam com o perfil da população brasileira, cuja maior parcela (41%) se declara parda --no levantamento no estádio, são 24%. E o índice de autodeclarados pretos no jogo (6%) é menos da metade na população em geral, de 15%.

A margem de erro é de 4 pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.

O Datafolha também mediu a percepção em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e constatou que ela é pior do que na população em geral.

Quem acompanhou de perto à partida do Mundial no sábado considera a gestão federal ruim ou péssima (55%). É quase o dobro do aferido em pesquisa nacional realizada no início deste mês, em que 38% classificaram o governo como regular e 33% como ótimo ou bom.

Mas a má avaliação do governo federal não significa apoio aos xingamentos que a presidente recebeu no jogo de abertura da Copa, em São Paulo: 61% dizem não concordar com a atitude.

A associação da vaia com a "elite" partiu do ex-presidente Lula, que tentou minimizar o peso dos insultos afirmando que a torcida não representava o povo brasileiro.

No dia seguinte ao evento, o petista declarou que "não tinha ninguém com a cara de pobre" no estádio. "Era a parte bonita da sociedade."

O clima de Copa pode ter mexido com o brio nacional: 91% dizem ter mais orgulho que vergonha de ser brasileiro, ante 77% dos participantes de levantamento nacional realizado no início de maio.

MAIS ESCOLARIZADOS

O torcedor que foi ao estádio é bastante escolarizado --86% têm ensino superior, ante uma média de 16% na população em geral. E também é mais jovem que a média nacional (34 anos, ante 42). O sexo masculino predomina: de cada 4 torcedores, 3 são homens.

A classe média brasileira, que ascendeu na era Lula, está muito pouco representada no estádio. Só 9% dos torcedores são da classe C, enquanto na população esse estrato é de 49%.

A classe B era a mais presente no estádio (61%), seguida pela classe A (29%).

Quase 9 em cada 10 torcedores brasileiros integram a chamada população economicamente ativa (PEA): 48% são assalariados, 13%, empresários e 10%, funcionários públicos. Dentre os 12% não ativos, 8% são estudantes.

O torcedor desta Copa se assemelha a um morador de bairros nobres da capital paulista, como Moema (zona sul) ou Jardim Paulistano (zona oeste), em termos de renda.

Mas é ainda mais escolarizado e também mais diversificado etnicamente. Pretos e pardos são menos de 15% nesses bairros, metade do que se viu no estádio.

TORCIDA REGIONAL

No jogo do Mineirão, praticamente metade dos torcedores era de Minas Gerais. Um em cada quatro era de São Paulo e 9%, do Rio.

Cruzeiro e Atlético-MG dominaram --22% se declararam cruzeirenses e 18%, atleticanos. Maiores torcidas do país, Flamengo e Corinthians empataram com 12%.

EDITORIAL DESTE DOMINGO: Fim da fantasia

Estagnação econômica solapa algumas das últimas ilusões da administração Dilma Rousseff e governo se apega a discurso do progresso social

A arrecadação de impostos do governo federal quase parou de crescer neste ano. De janeiro a maio, a receita aumentou apenas 0,31% em relação aos primeiros cinco meses de 2013, descontada a inflação. Trata-se de mais uma evidência de que a atividade econômica desacelera para um ritmo próximo ao da estagnação.

O número de pessoas empregadas e o total dos rendimentos do trabalho nas grandes metrópoles também parou de crescer. O crédito se expande em ritmo cada vez mais vagaroso; no caso dos empréstimos que não são regulados ou orientados pelo governo, os empréstimos ditos "livres", o total é menor que o do ano passado.

A Receita Federal ainda estima que a arrecadação possa aumentar 2% neste ano, revisando a projeção inicial de 3,5%. Mesmo assim, o cálculo soa otimista, baseado na hipótese de que a economia crescerá 2,5% em 2014 --e desconsiderando novas reduções ou prorrogações de desonerações tributárias, como a do IPI sobre automóveis.

O próprio Banco Central considera que o PIB brasileiro avançará 1,6%. A projeção de economistas do setor privado é de 1,2%.

A frustração previsível da arrecadação torna ainda mais difícil o cumprimento da meta de superávit primário federal, a poupança do governo, desconsideradas as despesas com juros da dívida pública.

Soube-se na sexta-feira (27), para piorar o quadro, que o governo por enquanto não está conseguindo cumprir tal meta, se considerado o desempenho das contas públicas nos últimos 12 meses.

Além de explicitar o resfriamento da economia, os números da arrecadação evidenciam as dificuldades óbvias causadas pelo baixo crescimento, recentemente menosprezadas por membros da administração federal. O governo se gaba de manter baixo o desemprego e proporcionar melhorias sociais.

O nível de emprego, no entanto, começa a acusar o efeito da baixa atividade. Como era fácil antever, a pífia expansão do PIB se reflete na receita de impostos, ainda mais insuficiente para financiar a expansão de programas sociais ou investimentos em infraestrutura. Note-se que o deficit público apenas cresceu nos anos de Dilma Rousseff (PT).

A estagnação econômica, enfim, solapa algumas das últimas ilusões desta administração federal. O governo, de seu início até o terceiro ano, alardeava que o país cresceria a 6%, depois a 4%, calando-se sobre tais previsões exorbitantes diante dos resultados lamentáveis, substituindo tal propaganda pela do progresso social restante.

Também este, agora se vê, será insustentável. É mais um ciclo de fantasias que se encerra.

ELIANE CANTANHÊDE

Direto das Papudas

BRASÍLIA - Diante da "suruba", como diz o deputado Alfredo Sirkis, ou da "bacanal", como prefere o prefeito Eduardo Paes, tratou-se com estranha naturalidade o fato de alianças partidárias serem comandadas ou avalizadas por condenados, diretamente das prisões.

Da Papuda, o ex-deputado Valdemar Costa Neto mandou o PR botar a faca no pescoço da presidente da República: se ela não trocasse o ministro dos Transportes, o partido é que trocaria... de candidato.

Na convenção do PT, Dilma foi muito aplaudida ao dizer que "não fica de joelhos para ninguém". Bastaram quatro dias e lá estava ela de joelhos para o PR de Costa Neto.

Depois de ter batido várias vezes a mão na mesa, jurando que não trocaria de ministro, Dilma acabou se rendendo à pressão não apenas do PR, mas principalmente de Lula e do PT. Tudo por causa de um minuto e uns segundinhos de TV a mais na campanha eleitoral.

Foi assim que César Borges caiu dos Transportes pelas suas virtudes, não pelos seus defeitos. Técnico sério, Borges tinha a aprovação da presidente e muito respeito no setor. Seu problema é que não era chegado às "surubas" do partido.

Do outro lado, foi do Presídio Ary Franco, no Rio, que o ex-deputado Roberto Jefferson avalizou que o PTB saísse da base aliada de Dilma e fosse para a campanha de Aécio.

Um reluzente pôster de Jefferson ilustrou a convenção que formalizou o apoio ao tucano, e partidários sorridentes puderam fazer "selfies" junto à foto do condenado famoso.

Enquanto Dilma ganha disparado a corrida pelo tempo de TV, Aécio e Eduardo Campos colhem as dissidências, principalmente do PMDB, para chapas e palanques estaduais.

Ao largo da "suruba" e da "bacanal", a economia continua produzindo farto material para a oposição. Em maio, o deficit do governo bateu recorde e o aumento do emprego formal foi o pior para o mês em 22 anos. Mas quem se interessa por isso?

HENRIQUE MEIRELLES

À beira do abismo

O ministro da Economia argentino fez em Nova York a declaração inusitada de que seu país está à beira do abismo. Não foi, porém, uma crítica à política econômica argentina, mas uma estratégia, até aqui sem sucesso, para influenciar a Justiça dos EUA a liberar o país da obrigação de pagamento integral a credores que não aceitaram o acordo de reestruturação da dívida assinado há alguns anos.

O tribunal americano determinou o pagamento do valor integral da dívida a um grande credor que acionou a Justiça dos EUA, decisão que pode se estender a credores que aceitaram a reestruturação com desconto expressivo.

O drama argentino é mais um exemplo acabado do que políticas intervencionistas e estatizantes provocam na economia. São medidas que podem parecer positivas no curto prazo, mas ao longo do tempo revelam-se desastrosas, como apontou o próprio ministro argentino.

Essas dinâmicas econômicas se manifestam em diferentes intensidades em todas as regiões do mundo, a Argentina é só um caso extremado.

A Europa oferece comparativos interessantes. A Alemanha, que sempre manteve austeridade fiscal e monetária, atravessou de maneira serena a crise e lidera a recuperação do continente. A Espanha, que adotou austeridade após crise profunda, dá sinais de recuperação. No Reino Unido, o desemprego recua e a economia ganha força sob um governo conservador eleito pregando austeridade e que tem feito duros ajustes. Já a França --e até certo ponto a Itália--, que ficou no meio termo entre a produtividade/austeridade alemã e a prodigalidade pré-crise do sul da Europa, não consegue crescer e volta a flertar com estímulos fiscais que causaram os problemas enfrentados hoje.

É preciso notar como certas visões de políticas econômicas não se deixam alterar pelos fatos, vistos como meros aborrecimentos no meio do caminho. Nesses casos, ideias preconcebidas de que um Estado pródigo e interventor é o melhor condutor do crescimento predominam sobre resultados concretos e a experiência histórica.

A crise argentina é clássica na medida em que o governo interveio diretamente na economia, procurando ditar o comportamento de empresas e consumidores. A experiência histórica mostra que finanças públicas desequilibradas, incerteza regulatória e distorções nos sistemas de preços criadas pelo governo são os maiores causadores de baixa produtividade, decadência econômica e crises.

O exemplo da nação vizinha deve servir como eloquente prevenção contra a tentação da excessiva intervenção do governo no funcionamento da economia. Aprofundar medidas equivocadas para resolver problemas só aumenta aqueles que se quer resolver.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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