Na FOLHA: Papéis de empresas brasileiras sobem no exterior, após derrota na Copa

Publicado em 10/07/2014 05:26
na edição desta quinta-feira da Folha de S. Paulo

Com o feriado em São Paulo, a Bolsa brasileira não funcionou nesta quarta-feira (9), mas, em Nova York, os papéis de empresas do país tiveram um dia de alta generalizada, especialmente os de estatais, como a Petrobras.

Para Raphael Juan, gestor da BBT Asset, a valorização dos papéis brasileiros nos EUA (chamados de ADRs, recibos de ações estrangeiros reflete a aposta de parte do mercado de que a derrota para a Alemanha deverá ter impacto na corrida eleitoral.

"É muito provável que essa derrota respingue na presidente Dilma [Rousseff]. Da mesma forma que ela se beneficiou nas intenções de voto quando a seleção estava indo bem, agora também deve sentir essa derrota. O tamanho do impacto só vamos saber quando sair a próxima pesquisa", disse Juan.

Os ADRs da Petrobras subiram 3,54% (PN, sem voto) e 3,52% (ON, com voto) no mercado americano. Já os papéis PNA (sem voto) da Vale tiveram alta de 1,21%.

Como os ADRs são conversíveis em ações, é provável que a Bovespa tenha alta hoje para equilibrar os preços no país com os ganhos no exterior na véspera.

Miguel Daoud, analista da Global Financial Advisor, afirma que qualquer notícia ruim que possa ser ligada à presidente está impactando positivamente os papéis das companhias brasileiras. Um dos setores que melhor refletem esse sentimento, segundo ele, é o de energia.

  Editoria de Arte/Folhapress  

Na terça-feira (7), a Cemig perdeu a nota que a conferia grau de investimento pela agência de classificação de risco Moody's, uma espécie de selo de bom pagador.

No entanto, na quarta (8), os papéis PN (sem voto) cotados em Nova York subiram 1%, e os ON (com voto), 9,1%.

Segundo Daoud, devido à queda de 6% dos ativos no dia do rebaixamento, a tendência é que, no pregão seguinte, os preços sejam reajustados. Mas isso não explica totalmente a alta.

"A derrota do Brasil na Copa colaborou também nesse caso, pois o mercado vê com clareza que o governo tem prejudicado as empresas do setor de energia, como são os casos de Cemig e Petrobras."

Nos últimos meses, os papéis das companhias brasileiras vêm oscilando de acordo com o desempenho de Dilma nas pesquisas eleitorais.

O recuo da presidente nas pesquisas tem geralmente ajudado na valorização das ações, principalmente de estatais. Isso porque, para analistas, essas empresas estariam sendo prejudicadas pelo intervencionismo do governo na economia.

MAIORES ALTAS

Entre os papéis brasileiros mais negociados nos EUA, a maior valorização foi obtida pelos do banco Itaú, que tiveram alta de 2,89%. Os do Bradesco subiram 1,32%. 

Marcha a ré (editorial)

Forte retração registrada pelo setor automotivo no primeiro semestre reflete fracasso da política econômica dos últimos anos

O colapso das vendas e da produção de automóveis nos últimos meses é uma amostra perfeita e acabada do fracasso da política econômica dos últimos anos. De um lado, o setor esbarra nos limites estreitos das medidas de estímulo ao consumo; de outro, tropeça na falta de competitividade e de integração com o resto do mundo.

Não é sem motivo, portanto, que em junho a fabricação de veículos no país diminuiu 23,3% em relação a maio. No acumulado do semestre, houve redução de 16,8% diante do mesmo período de 2013.

Com isso, a Anfavea (associação de fabricantes) revisou sua projeção de produção para o ano: em vez de alta de 1,4%, agora estima queda de 10%. Se isso se confirmar, será o maior decréscimo desde 1998.

Os estoques, por sua vez, permanecem altos, cerca de 45 dias de vendas. É quase o pico histórico, superado apenas pelo auge da crise de 2009, quando a economia mundial ficou paralisada.

Desta vez, no entanto, o problema é 100% local. Já não produzem os mesmos efeitos as ferramentas empregadas pelo governo federal com vistas a fomentar compras, como redução de IPI e mudanças na regulação para facilitar a expansão do crédito, com forte presença dos bancos públicos.

Verdade que a Copa do Mundo tem afetado o comércio e que haverá, no segundo semestre, maior número de dias úteis. São questões pontuais, porém, incapazes de mudar o quadro geral de desalento.

Ao lado da perda do poder de alavanca do crédito estão as medidas protecionistas. Em boa parte por causa delas, o Brasil perdeu para o México a posição de sétimo maior produtor de veículos.

Enquanto as montadoras brasileiras fabricaram 1,5 milhão de veículos leves no primeiro semestre, as mexicanas produziram 1,6 milhão. Do total nacional, 11% são destinados às exportações, com forte concentração (85%) das vendas para a Argentina; no México, 80% vão para mercados externos.

A falácia do protecionismo aparece com clareza. Não há competitividade sem integração comercial. As montadoras, como a maior parte das multinacionais, estão no Brasil para explorar o mercado interno. Escudadas pelas tarifas, têm poucos incentivos para inovar e buscar preços internacionais.

É fato que os impostos são elevados, mas a rentabilidade não deixa a desejar: entre 2010 e maio deste ano, o setor remeteu ao exterior US$ 16 bilhões em lucros.

Com a fraqueza das vendas e a crise na Argentina, as montadoras não têm como redirecionar produtos para o exterior --não se produzem aqui carros com aceitação global. O Brasil está na contramão do mundo, e grande parcela da culpa vem da mentalidade isolacionista que hoje permeia o governo.

MARIO CESAR CARVALHO

Lições do massacre

SÃO PAULO - A seleção da Alemanha que humilhou o Brasil por 7 a 1 nasceu de um vexame --a derrota por 2 a 0 para a seleção brasileira no final da Copa da Coreia e do Japão, em 2002. Após o resultado, a Alemanha decidiu que seu futebol chegara a um ponto de esgotamento que precisaria se reinventar. Se a seleção quiser tirar alguma lição do massacre que sofreu no Mineirão, é melhor estudar o que os germânicos fizeram nesses 12 anos.

O plano alemão partiu de um tripé: formação de jogadores, intolerância com a corrupção e a busca por mais torcedores.

Apesar de a Alemanha ter a imagem de um país certinho e implacável, o futebol do país era dominado por escroques. Foram processados e muito deles banidos dos campos. Os clubes receberam financiamento para recuperar seus estádios e, assim, receber melhor os torcedores. A poderosa liga alemã criou uma rede ligando escolinhas de futebol aos clubes. Os jogadores são incentivados a discutir questões extracampo, como racismo, homofobia e violência.

A preparação dos atletas envolve um arco de técnicas que vai da mais alta tecnologia a aulas de ioga. O plano não sofreu alterações nem com a derrota da Alemanha em 2006, quando o país sediou a Copa.

A pior lição que se poderia tirar da derrota seria culpar Felipão. O técnico tem defeitos em escala amazônica --é autoritário, conhece pouco do futebol contemporâneo e acha que pode resolver tudo com o blá-blá-blá dos livros de autoajuda--, mas foi escolhido pela CBF. A entidade que dirige o futebol brasileiro, um antro de obscurantismo, tem ojeriza a qualquer ideia que soe inovadora.

Os políticos já começaram a falar em criar uma CPI para investigar a CBF. É a volta da velha ideia de que uma bala de prata vai colocar o futebol brasileiro no rumo certo. Bobagem. Já que a seleção não consegue segurar os alemães com a bola, pode começar a lição de casa imitando o que eles fazem fora de campo.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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