Reunião sobre farsa na CPI ocorreu na sede da Petrobras, numa sala ao lado da presidência

Publicado em 05/08/2014 10:37
em veja.com.br

Reunião sobre farsa na CPI ocorreu na sede da Petrobras 

Encontro gravado em vídeo, e revelado por VEJA, se deu em sala de reuniões que integra o gabinete da presidente da estatal - e à qual só tem acesso a alta cúpula da companhia

A reunião em que se tramou a fraude nos depoimentos à CPI da Petrobras no Senado - cuja gravação foi revelada por VEJA nesta semana - ocorreu no gabinete da presidente da companhia, Graça Foster, em Brasília, informa o jornal O Estado de S. Paulo. A sala de reuniões integra o gabinete e o acesso é restrito a servidores da alta cúpula da estatal. O espaço é usado por Graça para receber autoridades e fazer reuniões com assessores. O gabinete da presidente ocupa todo o segundo andar do prédio da Petrobras na capital federal.Reportagem de VEJA revela que governistas engendraram esquema para treinar os principais depoentes à comissão de inquérito, repassando a eles previamente as perguntas que seriam feitas pelos senadores e indicando as respostas que deveriam ser dadas.

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Participaram do encontro o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o advogado da empresa Bruno Ferreira e Leonan Calderaro Filho, chefe do departamento jurídico do escritório da Petrobras em Brasília. O objetivo do encontro era tramar a fraude no Congresso. Barrocas revela no vídeo que um gabarito foi distribuído aos depoentes mais importantes para que não entrassem em contradição. Paulo Argenta, assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais, Marcos Rogério de Souza, assessor da liderança do governo no Senado, e Carlos Hetzel, secretário parlamentar do PT na Casa, são citados como autores das perguntas que acabariam sendo apresentadas ao ex-diretor Nestor Cerveró, apontado como o autor do “parecer falho” que levou a estatal do petróleo a aprovar a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, um negócio que impôs prejuízo de pelo menos 792 milhões de dólares à empresa. Segundo conta Barrocas, Delcídio Amaral (PT-MS), ex-presidente da CPI dos Correios, encarregou-se da aproximação com Cerveró. Relator da comissão, José Pimentel (PT-CE), a quem respondem Marcos Rogério e Carlos Hetzel, formulou 138 das 157 perguntas feitas a Cerveró na CPI e cuidou para que o gabarito chegasse ao ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. 

Procurada, a estatal não respondeu ontem aos questionamentos do jornal a respeito do uso do gabinete da presidente Graça Foster. Pessoas que convivem com os dois disseram à reportagem que Barrocas é fiel a Graça e não toma decisões mais complexas envolvendo a Petrobras sem o aval da chefe.

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A coluna Radar, de Lauro Jardim, informou nesta segunda-feira que José Eduardo Dutra, ex-presidente da estatal e ex-presidente do PT, foi pessoalmente ao Congresso coletar as perguntas. Dias antes da instalação da CPI, em maio, Dutra esteve no Senado, onde se reuniu com assessores do PT, do PMDB e da liderança do governo no Congresso. Além da turma de técnicos do Legislativo, estava presente Paulo Argenta, autor de parte das perguntas que chegaram às mãos dos que deveriam ser os alvos da colegiado. Hoje Dutra é diretor da Petrobras.

O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), protocolou na segunda requerimentos de convocação para que o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT), compareça ao Congresso para explicar o envolvimento de um funcionário da pasta no caso. Os requerimentos foram apresentados nas comissões de Fiscalização Financeira e Controle, de Minas e Energia e no próprio plenário da Casa. Fontes disseram ao jornal O Estado de S. Paulo que a cúpula da Petrobras desconfia que a gravação foi feita pelo advogado Bruno Ferreira. Na segunda, ele chegou a ser sabatinado na estatal sobre sua suposta participação no caso.

'Simulações' - Em nota, a Petrobras tentou minimizar o episódio e afirmou que "tomou conhecimento das perguntas que norteiam os trabalhos das CPI e CPMI da Petrobras através do site do Senado Federal". A justificativa de que os funcionários da estatal estariam apenas fornecendo informações básicas aos investigados é desmentida pela própria gravação. No vídeo, Barrocas diz em alto e bom som que a estratégia de combinação de perguntas e respostas já havia sido usada em 20 de maio, quando Graça depôs na CPI da Petrobras no Senado.

Confira a seguir a nota da estatal:

Sobre a matéria intitulada "A Grande Farsa", publicada pela revista Veja, esta semana, a Petrobras esclarece que tomou conhecimento das perguntas centrais que norteiam os trabalhos das CPI e CPMI da Petrobras, através do site do Senado Federal, nos dias 14 de maio e 02 de junho, respectivamente, onde foram publicados os planos de trabalho das referidas comissões. Nestes, além das perguntas centrais, constam também os nomes de possíveis convocados, e a relação dos documentos que servem de base para as investigações.

Convém ressaltar que tais informações, tornadas públicas pelas comissões de inquérito, por ocasião do inicio de seus trabalhos, possibilitam a elaboração de centenas de outras perguntas, propiciando à Petrobras a organização das informações necessárias para o melhor esclarecimento dos fatos pertinentes a cada eixo das investigações, quais sejam: Eixo 1 - Refinaria de Pasadena; Eixo 2 - SBM Offshore; Eixo 3 - Segurança nas plataformas; Eixo 4 – Superfaturamento RNEST.

A Petrobras informa que, após cada depoimento, as dezenas de perguntas feitas pelos Parlamentares são desdobradas em novas perguntas pela equipe da Petrobras de forma a subsidiar os depoimentos subsequentes.

Assim como toda grande corporação, a Petrobras garante apoio a seus executivos, e ex-executivos, preparando-os , quando necessário, com simulações de perguntas e respostas, para melhor atender aos diferentes públicos, seja em eventos técnicos, audiências públicas, entrevistas com a imprensa, e, no caso em questão, as CPI e CPMI. Tais simulações envolvem profissionais de várias áreas, inclusive consultorias externas, de modo a contribuir para uma melhor compreensão dos fatos e elucidação das dúvidas.

A Petrobras reafirma que continuará disponibilizando todas as informações referentes as suas atividades e reafirma seu compromisso com a transparência e ética que sempre nortearam suas ações.

(Com Estadão Conteúdo)

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A armação da CPI da Petrobras, revelada por VEJA no sábado, teve capítulos passados dentro do Congresso Nacional.

Agora se sabe que os figurões da companhia receberam de antemão as perguntas feitas pelos senadores e, mais assustador, o gabarito dos questionamentos.

José Eduardo Dutra foi coletá-las pessoalmente.

Dias antes da instalação da CPI, em maio, Dutra esteve no Senado, onde se reuniu com assessores do PT, do PMDB e da liderança do governo no Congresso.

Além da turma de técnicos do Legislativo, estava presente Paulo Argenta, assessor Especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, e autor de parte das perguntas que chegaram às mãos dos que deveriam ser os alvos da colegiado.

A pauta, obviamente: a investigação que se iniciaria.

Na ocasião, a portas fechadas, os assessores foram instados a sugerir questionamentos que deveriam ser feitos às figuras que, cedo ou tarde, teriam que prestar depoimento. Assim o fizeram.

Ali começou a se desenhar o teatro. O resto do roteiro, agora, já é mais do que sabido.

Por Lauro Jardim

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