Na FOLHA: Apoio dos mais pobres deixa de ser decisivo na eleição, aponta Datafolha

Publicado em 30/08/2014 18:48
por FLÁVIA MARREIRO, da FOLHA DE SÃO PAULO

No Brasil não se ganha uma eleição sem vencer entre os mais pobres, reza o lugar comum sobre as disputas presidenciais desde 1989.

Mas, a julgar pelos dados das duas mais recentes pesquisas do Datafolha, a candidata Marina Silva (PSB) pode chegar ao Palácio do Planalto mesmo sem vencer no estrato mais pobre da população.

Os eleitores que vivem em famílias com renda de até dois salários mínimos –em torno de 40% do total– compõem a única faixa de renda em que a ex-ministra do Meio Ambiente perde para a presidente Dilma Rousseff (PT).

Neste universo, o placar está em 48% a 43% para Dilma, segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha na sexta (28).

Marina abocanha os votos decisivos para aparecer na frente no estrato de renda seguinte (2 a 5 salários mínimos, 38% da amostra), batendo Dilma por 54% a 36%.

Na classe média tradicional e entre os mais ricos, Marina alarga sua vantagem.

Numa coalizão demográfica que avança sobre uma parte cativa da base lulista e, ao mesmo tempo, agrada à classe média e aos mais ricos,
Marina derrota a preferência majoritária dos mais pobres.

"Dilma ainda está segura entre os mais pobres, mas Marina entrou no eleitorado de 2 a 5 salários, que pode ser o fiel da balança e será disputado nas próximas semanas", diz o cientista político André Singer, colunista da Folha.

"Se o descolamento desse grupo de 2 a 5 salários acontecer, eles estariam saindo da coalizão com os mais pobres e indo para uma coalizão com os mais ricos", diz. "Seria inédito. Os mais pobres sempre estavam do lado ganhador."

Singer é autor de "Os Sentidos do Lulismo" (2012), livro em que aponta a eleição de 2006 como marco do realinhamento do eleitorado. Segundo ele, foi quando a base do PT ganhou o apoio dos pobres e perdeu a classe média ligada à fundação da sigla.

Para Singer, as pesquisas mais recentes do Datafolha reforçam o seu diagnóstico.

"A base do lulismo é essa: até dois [salários mínimos], o núcleo duro. Eles estão se mantendo fiéis, apesar da situação mais difícil", diz.

BENEFICIÁRIOS

Para o brasilianista Timothy Power, da Universidade de Oxford (Reino Unido), o "enigma" da disputa está no abandono do PT por parte de um segmento específico do eleitorado de renda baixa: os que têm se distanciado dos extremamente pobres e dos dependentes dos programas de transferência de renda.

Power elenca hipóteses. Primeira: o PT "criou a classe C", mas agora ela quer mais serviços e menos impostos, tornando-se mais parecida com a "velha classe média".

Segunda: os que têm renda de 2 a 5 salários mínimos podem criar uma relação com Marina, que tem biografia diferente dos candidatos da oposição apresentados antes.

É nessa faixa, diz ele, que o desempenho de Marina é francamente melhor que o de José Serra (PSDB) em 2010.

"Em resumo, Dilma ganha entre os beneficiários [dos programas sociais], mas Marina vence entre os trabalhadores pobres", diz Power, para quem Dilma teria chances de se recuperar se transformasse a eleição numa espécie de plebiscito sobre a inclusão social dos últimos anos.

Campanha de Marina elimina trechos de capítulo 'LGBT' do programa

POR JOSÉ MARQUES, DA FOLHA DE SÃO PAULO

A coordenação de campanha da candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, alterou neste sábado (30) a redação do programa de governo em capítulo com propostas para a comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais).

Foram eliminados trechos em que a presidenciável se comprometia, se eleita, com a aprovação da lei de identidade de gênero –que permite alteração de nome e sexo na documentação– e em articular no Congresso a aprovação de leis que criminalizam a homofobia e regulamentam o casamento gay. Também foi excluída parte que previa a distribuição de material didático "destinado a a conscientizar sobre a diversidade de orientação sexual e às novas formas de família".

Em 2013, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) aprovou resolução que obriga todos os cartórios do país a celebrar casamentos gays, mas o assunto ainda não tem lei específica e está em discussão no Legislativo federal.

A introdução do capítulo do programa também foi modificada. Inicialmente, dizia que vivemos em "uma sociedade sexista, heteronormativa e excludente em relação às diferenças" e que "os direitos humanos e a dignidade das pessoas são constantemente violados e guiados, sobretudo, pela cultura hegemônica de grupos majoritários (brancos, homens etc)".

Também afirmava que "precisamos superar o fundamentalismo incrustado no Legislativo e nos diversos aparelhos estatais, que condenam o processo de reconhecimento dos direitos LGBT e interferem nele".

Agora diz que "vivemos em uma sociedade que tem muita dificuldade de lidar com as diferenças de visão de mundo, de forma de viver e de escolhas feitas em cada área da vida" e que "a democracia só avança se superar a forma tradicional de supremacia da maioria sobre a minoria e passar a buscar que todos tenham formas dignas de se expressar e ter atendidos seus interesses".

Em nota divulgada pela campanha, o texto inicial é classificado como "falha processual na editoração" que não "não retrata com fidelidade os resultados do processo de discussão sobre o tema durante as etapas de formulação do plano de governo".

A coordenação ainda afirma que o programa anterior é um "contratempo indesejável" com "alguns equívocos" e que o novo é o "correto". "Permanece irretocável o compromisso irrestrito com a defesa dos direitos civis dos grupos LGBT e com a promoção de ações que eduquem a população para o convívio respeitoso com a diferença e a capacidade de reconhecer os direitos civis de todos", diz o comunicado. Segundo a coligação, "as verdadeiras ideias defendidas" pelos partidos serão impressos em novos exemplares do programa a partir deste sábado.

A primeira versão do programa chegou a surpreender setores ligados à militância LGBT. Marina é evangélica, devota da Assembleia de Deus e disse, em 2010, ser pessoalmente "não favorável" ao casamento gay, embora afirmasse que as pessoas "tinham o direito de defender essas bandeiras".

ALTERAÇÕES

O plano divulgado nesta sexta (29) afirmava que o governo pessebista apoiaria propostas em defesa do casamento civil igualitário, com o objetivo de "aprovar projetos de lei e da emenda constitucional em tramitação que garantem o direito ao casamento igualitário na Constituição e no Código Civil".

O trecho foi substituído por uma redação que diz que a presidenciável pretende "garantir os direitos oriundos da união civil entre pessoas do mesmo sexo".

No primeiro texto apresentado, a campanha também divulgou que pretendia "articular no Legislativo a votação da PLC 122/06, que equipara a discriminação baseada na orientação sexual" às leis existentes para quem discrimina "em razão da cor, etnia, nacionalidade e religião". O tópico foi excluído.

Antes, o programa dizia que um eventual governo daria "efetividade ao Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT". Agora afirma que irá "considerar as proposições" do plano para a "elaboração de políticas públicas específicas para populações LGBT".

Outra diferença está no item que propunha "eliminar obstáculos na adoção de criança por casais homoafetivos". No novo capítulo, foi retificado que "como nos processos de adoção interessa o bem-estar da criança que será adotada", o governo de Marina daria "tratamento igual aos casais adotantes, com todas as exigências e cuidados iguais para ambas as modalidades de união, homo ou heterossexual".

Foi eliminada parte que dizia que a candidata iria "manter e ampliar serviços existentes" em ofertas de tratamentos e serviços de saúde para demandas da população LGBT. A redação que diz que ela pretende "garantir e ampliar" essa oferta foi mantida.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Folha de S. Paulo

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, não sei o que seria se a realidade da população não fosse desigual!

    Qual seria o discurso daqueles que querem tomar o poder?

    Seria algo assim:

    Com relação à saúde prometo que vou lançar o programa Sistema Único de Saúde (SUS).

    Com relação à educação vou criar o Ministério da Educação e Cultura (MEC).

    Com relação à segurança prometo criar o Ministério da Justiça.

    Estas ações devem manter a população isonômica e, se necessário for tomaremos qualquer medida, assim como um nível mínimo de ganho monetário, onde todas as necessidades do individuo sejam satisfeitas, poderíamos denominá-lo de “salário mínimo”.

    BRAZIL, PAÍS RICO... DE “RIQUEZAS” ! !

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

    0