"Será que teremos renda nesta safra?", artigo de Glauber Silveira

Publicado em 01/09/2014 11:47 e atualizado em 05/09/2014 11:32
Glauber Silveira é presidente da Câmara Setorial da Soja, diretor da Aprosoja-BR e produtor rural em Campos de Júlio -MT

Será que teremos renda nesta safra?

*Glauber Silveira

 

É milenar a relação que controla os preços de mercado, a dita oferta e procura. Para a formação do preço da soja não é diferente..., após três safras mais apertadas nesta relação, e que deram um suporte muito positivo ao mercado de soja, agora para os preços futuros da safra 14/15 vemos um cenário mais pressionado --, mas que não deverá ser tão sinistro como apresentam alguns analistas, pois, afinal, apesar do crescimento da produção, o consumo também cresce...

Na safra 2013/14 tivemos uma produção mundial de 283,9 milhões de toneladas e um consumo de 269,8, para a safra 2014/15. Estima-se que a produção mundial deva alcançar os 304,7 milhões de toneladas e um consumo de 283,4 milhões, ou seja, houve um crescimento da produção de 7% e de 5% no consumo. A grande dúvida é o estoque mundial que o USDA vem divulgando, onde alguns analistas acreditam ser bem menor que o apresentado.

Claro que quando tratamos de commodities as margens geralmente são apertadas, por isso os produtores conseguem influenciar mais no custo que no preço da venda -- apesar de que nesta safra estamos tendo uma influência muito forte pela queda na venda futura da soja brasileira. Isso tem trazido prêmios muito positivos, fazendo a soja valer mais aqui do que em Chicago, e aponta que o mercado parece não estar tão certo dos números do USDA... e quem estaria? Com isto podemos ter momentos positivos, já que no atual cenário já temos renda negativa em algumas regiões brasileiras.

Olhando para a safra no Brasil, temos a perspectiva de plantar uma área 3% maior, saímos de 30.135,4 milhões de hectares em 2013/14 para 31.019,0 milhões em 2014/15. Isto, claro, coloca o Brasil como um grande contribuidor para aumentar ainda mais a oferta de soja projetada em 91 milhões de toneladas, considerando que tudo vai dar certo.

E por isso, considerando que a safra norte-americana só tem risco na hora de colher -- com o aumento da possibilidade de geada --, os produtores tem que fazer as contas de forma muito cuidadosa, pois só assim poderemos alterar nossos custos e ver se ainda poderemos aumentar nossa margem.

Claro que muitos itens que formam o custo de produção já estão consolidados, uma vez que o produtor já os adquiriu, mas mesmo assim a gestão correta destes itens é fundamental..., afinal se não controlarmos corretamente o uso de sementes, fertilizantes e defensivos o custo pode ainda subir em até 20%, custo este que já vem batendo recordes anos a ano.

Segundo levantamento com base em dados da Conab, a semente teve um crescimento no seu custo em R$/ha de 28%, saindo de R$ 137,00/ha na safra 2013/14 para R$ 173,48 na média de municípios brasileiros considerados. Os maiores incrementos de preço foram em Rio Verde-Go e Campo Mourão-PR onde a semente foi adquirida por R$ 227,5/ha e R$ 276,25/há. Cruz Alta-RS também surpreendeu pelo crescimento do preço médio, com um salto de mais de 60%, saindo de R$ 100,00/ha para R$ 162,50/ha nesta próxima safra.

Os fertilizantes, outro item importante nos custos, subiram 16%, quando esperávamos uma redução ou manutenção já que alterações no mercado abalaram o oligopólio do setor no Brasil. Mas pelo visto nada adiantou. Os maiores crescimentos de custo foram com base em Sorriso-MT que na safra 2013/14 foi de R$ 562,83/ha para a safra 2014/15 R$ 871,90/ha, um crescimento de 55% no custo em reais, mas na relação de troca com soja o crescimento chega a 80%.

Agora, o que estamos vendo com os custos de defensivos agrícolas é um verdadeiro absurdo! Houve crescimento de 41% da safra de 2013/14 para a atual, sendo que em Rio Verde-GO o incremento de custo por hectare é de 137%, ficando em R$ 385,75/ha, e para Sorriso-MT em R$ 572,33/ha, o maior custo do Brasil com defensivos.

Com os atuais preços da soja para 2015, as margens ficam muito apertadas, já que o custo de produção chega às alturas e se somam aos problemas conjunturais que já deveriam ter sido corrigidos. Mas entra e sai governo, seja da direita ou de esquerda e nada se resolve. E por isso, o Mato Grosso já apresenta margem média líquida negativa de R$ 220,00/ha se os preços continuarem como estão, por acaso o custo do frete até Paranaguá. E mesmo o PR que tem porto dentro de casa a margem é de apenas R$ 105,00/ha.

Como podemos ver, estamos em uma safra muito crítica em que a gestão dos fatores de produção é essencial. E já dissemos aqui outras vezes, a eficiência do produtor determina sua sobrevivência, estar atento a todas as etapas da produção é uma obrigação mesmo em anos bons. Fechar o melhor pacote tecnológico nem sempre é garantia de boas margens, isso sempre dependerá do resultado final da receita versos custos.

Além disso, o mercado é rápido e implacável, e não podemos deixar de ter segurança para travarmos os custos que hoje, em algumas situações, significam mais de 100% da produção. E apesar da necessidade e obrigação de estarmos prevenidos, ainda acredito na demanda... O mundo precisa de proteína, sabemos que se o preço está bom para o consumidor o mercado compra mais e o preço reage. Por isso, fiquem de olho e não percam o “time”, o melhor momento.

*presidente da Câmara Setorial da Soja, Diretor da Aprosoja e produtor rural em Campos de Júlio -MT

Fonte: NA

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Evento Pré-Agrishow reúne lideranças políticas e do agro em Ribeirão Preto
Cargill vê 2º semestre movimentado na exportação de grãos do Brasil após lucro recorde
Iene salta em relação ao dólar por suspeita de intervenção
Nova linha de crédito do BNDES em apoio aos produtores rurais pode alcançar R$ 10 bilhões em 2024
Durante a Agrishow, Harven promove rodas de conversas com grandes nomes do agro