Petrolão: Denúncias atingem o governo em cheio e também podem prejudicar candidatura de Marina Silva (na VEJA)

Publicado em 06/09/2014 20:49
Tucanos veem chance de reação... Como a delação de Costa impacta a corrida eleitoral, por VEJA.COM

As quatro últimas semanas antes do primeiro turno da eleição presidencial devem ser ainda mais movimentadas depois que Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, firmou um acordo de delação premiada. Conforme revelou VEJA nesta semana, ele citou os políticos beneficiados pelo esquema de corrupção na estatal em depoimento à Polícia Federal. A investigação sobre o escândalo da Petrobras pode alterar o panorama justamente quando a campanha entrava no momento de consolidação dos votos.

Em acordos de delação premiada, o depoente se compromete a não omitir qualquer informação relevante de que dispuser. E precisa sustentar as acusações que faz. Disso depende o abatimento da pena a que ele será submetido.

Evidentemente, os políticos citados nominalmente por Costa como beneficiários do esquema devem ser os mais afetados: isso inclui o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), que disputa o governo do Rio Grande do Norte.

Mas a crise se coloca, sobretudo, no caminho da reeleição da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. Paulo Roberto Costa foi nomeado para o cargo na Petrobras por Lula, em 2004, e ficou no cargo até 2012 – já no governo atual, portanto. Além disso, o tesoureiro do PT, João Vaccari, é citado pelo ex-diretor como uma das pessoas que captaram dinheiro no esquema. Praticamente todos os citados no escândalo são aliados da presidente.

A revelação de detalhes sobre os desvios em escala industrial pode atingir a popularidade de Dilma. Eles são a confirmação de que a crise na Petrobras não é fruto de acidente ou deslize, mas resultado de uma política consciente de loteamento de cargos-chave da administração da companhia.

Como Paulo Roberto Costa também mencionou o nome do ex-governador Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e candidato à presidência morto em 13 de agosto, entre os envolvidos no esquema, a campanha de Marina Silva pode ser afetada. No mínimo, a candidata do PSB deve ficar impossibilitada de explorar o caso eleitoralmente.

Ao tucano Aécio Neves, o episódio se desenha como uma oportunidade – talvez a última – de reagir nas pesquisas de intenção de voto. É nisso que os tucanos apostam agora.

Já na manhã deste sábado, os três candidatos demonstraram como pretendem lidar com o caso. Aécio Neves divulgou um vídeo em que chama o episódio de ‘mensalão 2’. Dilma adotou um discurso cauteloso: "Eu gostarei de saber direitinho quais são as informações prestadas nessas condições e te asseguro que tomarei as providências cabíveis", disse a candidata. Marina Silva tratou de se desvincular do episódio e deve deixar que o partido responda os questionamentos sobre o escândalo.

O professor João Paulo Peixoto, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, acredita que o PSDB pode se beneficiar das revelações. O caso, segundo ele, dá uma última esperança a Aécio de se consolidar como a alternativa mais viável que o PT e chegar ao segundo turno. "Eu tendo a acreditar que o PSDB vai crescer com a transformação das outras candidaturas em alvo", diz Peixoto. Entretanto, o professor avalia que ainda é cedo para avaliar se Aécio Neves pode ultrapassar uma de suas adversárias na corrida presidencial.

As últimas pesquisas mostram que Dilma Rousseff tem pouco mais de um terço do eleitorado. É aproximadamente o potencial de votos mínimo do PT em eleições presidenciais: são os petistas históricos, lulistas convictos e beneficiados pelo Bolsa Família – que dificilmente mudariam seu voto. Por isso, o eleitorado de Marina Silva se apresenta como o campo prioritário para as ofensivas de Aécio.

Nos próximos dias, portanto, conforme novos detalhes do escândalo surgirem e as informações se consolidarem na cabeça do eleitor, a turbulenta eleição de 2014 pode sofrer novas guinadas. "A instabilidade do quadro político brasileiro é evidente", diz o professor da UnB.

Oposição quer convocação imediata de Costa na CPI

PPS vai pedir reunião de emergência para analisar o conteúdo do depoimento

Laryssa Borges, de Brasília
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, presta depoimento à CPI da estatal sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, presta depoimento à CPI da estatal sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/VEJA)

Diante das revelações de que deputados, senadores, governadores e até um ministro participaram de um esquema bilionário de corrupção na Petrobras, parlamentares de oposição defenderam neste sábado a convocação imediata do ex-diretor da estatal de petróleo, Paulo Roberto Costa, para prestar esclarecimentos ao Congresso. O PPS, partido de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff, afirmou que vai pedir na segunda-feira que seja convocada uma reunião de emergência da CPI da Petrobras para analisar as denúncias. 

Reportagem de VEJA revela que, em um acordo de delação premiada, Paulo Roberto Costa afirmou que políticos da base aliada à presidente Dilma e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que disputava a Presidência da República ao lado de Marina Silva, receberam dinheiro do esquema. O rol de citados pelo delator inclui três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da estatal. De acordo com depoimento de Paulo Roberto Costa, o esquema funcionou nos dois mandatos do ex-presidente Lula, mas também adentrou a atual gestão da presidente Dilma Rousseff. 

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Entre os nomes elencados por Costa estão os ex-governadores Sergio Cabral, do Rio de Janeiro, Eduardo Campos, de Pernambuco, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, além do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Os nomes das autoridades com foro privilegiado já foram encaminhados ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável por levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). Caberá ao relator no STF, ministro Teori Zavascki, analisar o teor das informações do ex-diretor da Petrobras e homologar a delação. Entre os beneficiários do propinoduto revelado pelo ex-dirigente da estatal estão políticos do PT, PMDB e PP.

“A presidente Dilma Rousseff, sempre tão respeitosa com os companheiros condenados pelo STF, agora tem um mensalão para chamar de seu”, ironizou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (PSDB-BA). “O mesmo partido que acusava os adversários de supostamente pensarem em privatizar a Petrobras é o responsável por causar prejuízos históricos a maior empresa estatal brasileira, orgulhos dos cidadãos, jogando nas páginas policiais a credibilidade daquela que é um dos símbolos do patriotismo nacional.”

“Os fatos estão vindo à luz do dia e precisam urgentemente ser esclarecidos para que não caiam no esquecimento e o PT não consiga desviar a atenção da sociedade brasileira com suas propagandas mentirosas”, disse o deputado Rubens Bueno (PPS-PR). Para o congressista, os nomes de todas as autoridades citadas pelo ex-diretor da Petrobras devem ser tornados públicos.

Na próxima quarta-feira, quando está agendado o depoimento do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró à CPI mista da Petrobras, o líder dos Democratas, deputado Mendonça Filho (DEM-PE), afirmou que deve concluir que medidas podem ser tomadas diante das revelações de Paulo Roberto Costa. Também na quarta o líder do Solidariedade, deputado Fernando Francischini (SD-PR) e o coordenador jurídico da campanha do senador Aécio Neves à Presidência da República, deputado Carlos Sampaio, pretendem pedir acesso a todas as horas de depoimento do ex-diretor da Petrobras à Justiça e ao Ministério Público. Para Sampaio, ouvir imediatamente Paulo Roberto Costa na CPI garante “agilidade à investigação, já que a comissão de inquérito tem instrumentos mais ágeis que o Ministério Público e que o Judiciário”. “A população brasileira tem o direito de saber até que ponto a democracia e a legitimidade dos atos praticados pelos Poderes Executivo e Legislativo foram comprometidos."

Antes da divulgação dos nomes das autoridades citadas por Paulo Roberto Costa, o relator da CPI mista da Petrobras, deputado Marco Maia (PT-RS), havia admitido a possibilidade de convocar o ex-diretor para depor no colegiado. Para o parlamentar, porém, é preciso aguardar a conclusão do acordo de delação premiada antes de chamar o ex-dirigente ao Congresso Nacional.

Apesar do anúncio de medidas pela oposição, atualmente as duas comissões parlamentares de inquérito que investigam irregularidades na Petrobras não têm conseguido avançar nos trabalhos de apuração. Usualmente não há quórum para reuniões ou para votação de pedidos de convocação de autoridades. Além de serem blindadas por governistas, as CPIs têm entre seus integrantes parlamentares que disputam o processo eleitoral e que não têm comparecido a Brasília para as reuniões.

Em VEJA desta semana

Cabe a Zavascki homologar delação premiada de Paulo Roberto

JUSTIÇA - Cabe ao ministro Teori Zavascki homologar o acordo de delação premiada

JUSTIÇA - Cabe ao ministro Teori Zavascki homologar o acordo de delação premiada (Fellipe Sampaio/SBT)

O instrumento da delação premiada, se bem aplicado, pode demolir organizações e punir criminosos que se mantêm inalcançáveis pelos métodos convencionais de investigação. Mal usado, pode servir aos bandidos como arma para atingir inimigos ou destruir reputações. Na década de 80, a Itália era refém do crime organizado. As máfias controlavam empresas e tinham representantes infiltrados nos mais altos escalões da política. A oferta de perdão judicial aos delatores ajudou a desmontar a gigantesca estrutura que subjugava o Estado. Uma experiência semelhante será testada com Paulo Roberto Costa. O ex-diretor se ofereceu para fazer o acordo de delação premiada. Os termos precisam ser chancelados por um juiz. Os responsáveis pelo caso entenderam que o melhor caminho era levá-lo diretamente ao Supremo Tribunal Federal, dado o grande número de acusados com foro privilegiado.

A tarefa caberá ao ministro Teori Zavascki, que também deverá relatar eventuais processos decorrentes da investigação. Pelo acordo, Paulo Roberto se obriga a contar o que sabe, identificar seus parceiros de crime. Se as informações prestadas forem consideradas úteis, no fim do processo ele poderá ser beneficiado com uma redução de pena ou até mesmo o perdão judicial. Ao longo da delação, além de ouvirem o que o réu tem a dizer, os investigadores se encarregam de cruzar as informações com outras provas do processo. A ideia é que, no final, eles tenham elementos suficientes para levar todos os envolvidos a julgamento. Paulo Roberto também se comprometeu a abrir mão dos bens que acumulou com dinheiro desviado e a pagar uma multa. Enquanto durar a delação, ele ficará preso em uma cela isolada, mas pode ser libertado tão logo seja encerrada a fase de depoimentos.

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Outros destaques de VEJA desta semana

 

Dilma: depoimento de Paulo Roberto Costa é 'especulação'

Presidente disse esperar 'dados oficiais' para tomar as 'providências cabíveis'

Felipe Frazão
A presidente da República e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), participa de encontro com taxistas , em São Paulo

A presidente da República e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), participa de encontro com taxistas , em São Paulo (Ivan Pacheco/VEJA.com)

A presidente-candidata Dilma Rousseff chamou de "especulação" as revelações de distribuição de propina a parlamentares e aliados do governo federal, detalhados com exclusividade na edição de VEJA deste fim de semana. Em ato de campanha em São Paulo, ela afirmou que "tomará as providências cabíveis" sobre o depoimento do ex-diretor de Refino e Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, que aceitou negociar os termos de um acordo de delação premiada com a Justiça. 

"Acredito que precisamos ter dados oficiais dessa questão. A própria revista que anuncia este fato diz que o processo está criptografado, guardado dentro de um cofre e que irá para o Supremo. Eu gostarei de saber direitinho quais são as informações prestadas nessas condições e te asseguro que tomarei as providências cabíveis. Não com base em especulação. Eu quero as informações. Acho que elas são essenciais e são devidas ao governo, porque, caso contrário, a gente não pode tomar medidas efetivas", disse Dilma.

Leia também:

Reinaldo Azevedo: Petrolão, a República treme

Corrupção na Petrobras é 'mensalão 2', diz Aécio

Até o momento, Costa afirmou que três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da Petrobras. Entre os nomes elencados por Costa estão os ex-governadores Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, Eduardo Campos, de Pernambuco, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, além do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Os nomes das autoridades com foro privilegiado já foram encaminhados ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável por levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A equipe da campanha de Dilma à reeleição, assim como a de seus principais rivais, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), passaram a noite desta sexta-feira discutindo o impacto das denúncias de corrupção. Entre aliados de Dilma, a avaliação é a de que, por envolver aliados diretos do governo federal, parlamentares alinhados ao Palácio do Planalto e até um ministro de Estado, as revelações do ex-diretor da Petrobras causarão danos à campanha da presidente-candidata.

Durante encontro com mulheres na quadra do sindicato dos bancários, Dilma não fez nenhuma menção ao depoimento de Costa, mas deu sinais da linha de defesa que o governo deve adotar, por enquanto, para blindar a campanha petista. Ela citou o projeto de reforma política do PT como iniciativa para combater a corrupção. “Reforma política para que o Estado brasileiro seja mais transparente, para que não haja corrupção, não se desvie dinheiro público e se controle a forma como se faz eleição no Brasil”, disse.

A postura dos petistas aliados de Dilma seguiu a da presidente: esquivar-se de comentários e tratar as denúncias do ex-diretor da Petrobras como algo oficioso. “Ninguém pode ter opinião nem vai fazer conjectura sobre algo que não está formalizado. A presidente quer as informações e vai tomar a atitude de forte punição se tiver irregularidades nas informações oficiais”, disse o ex-ministro Alexandre Padilha (PT), candidato ao governo de São Paulo.

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Fonte:
veja.com

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4 comentários

  • Lourivaldo Verga Barra do Bugres - MT

    No Mensalão o Lula era inocente, não sabia de nada; no petrolão o Governo diz que quer apurar direitinho pra depois agir. Isso significa que também não sabia de nada. Pode governar um País quem não sabe de nada que acontece na administração?

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  • ARLINDO ALBRECHT Campo Alegre de Goiás - GO

    As pesquisas mostram os candidatos a Presidente nos seus devidos lugares!O candidato do PSDB esta precisando de um ser superior,para dar uma ajudinha o pessoal da Veja poderia intimar o FHC,pois sempre afirmam que ele deixou o Brasil "arrumadinho" esta na hora de tirar esta carta da manga.Afinal perdido por 1 ou por 10 esta perdido igual.Poucos ainda aguentam o PSDB abafador de CPIs,aqui em Go. o candidato ao Senado Ronaldo Caiado esta com Iris Resende do PMDB.Se o FHC foi bom, porque ele nunca aparece no palanque dos candidatos do partido dele?

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  • victor angelo p ferreira victorvapf nepomuceno - MG

    As duas são más candidatas: Uma no começo: MÁ rina e outra no fim Dil MÁ, não precisa dizer mais nada...

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  • Edison tarcisio holz Terra Roxa - PR

    fara de mensalão 2 o petroleo é nosso quando falam isso não é no sentido figurado se acham os donos de verdade fora ptzada corupta!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!111

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