CÚPULA DO CLIMA: Marcha em N. York pede proteção às florestas do Brasil

Publicado em 21/09/2014 10:12 e atualizado em 22/09/2014 07:26
por MARCELO LEITE, pesquisador e articulista da Folha de S. Paulo

Caminhada pelo clima reúne 400 mil pessoas em Nova York

Manifestação busca pressionar reunião de cúpula da ONU, na terça

MARCELO LEITE, ENVIADO ESPECIAL DA FOLHA A NOVA YORK

A Marcha dos Povos pelo Clima não alcançou o milhão de pessoas que foram às ruas de Nova York em junho de 1982 contra as armas nucleares, mas tampouco fez feio.

Com 400 mil pessoas (segundo os organizadores) protestando pela falta de ação contra a mudança do clima, poderá entrar para a história como o momento em que o aquecimento da atmosfera voltou à agenda mundial.

Os organizadores, tendo à frente a ONG 350.org, distribuíram 1 milhão de panfletos em Nova York convocando para a marcha. Cerca de 500 ônibus vieram a Nova York, de quase todos os Estados. O trânsito foi bloqueado em Manhattan entre as ruas 59 e 86.

Não é todo dia que uma marcha de protesto conta com a presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Ele se empenhou em fazer o tema avançar ao convocar uma reunião de cúpula especial para esta terça (23).

Ban estava acompanhado de outras autoridades e recebeu da ONG Avaaz uma petição com 2 milhões de assinaturas em favor do clima.

A pretensão do secretário-geral é criar impulso para evitar que a Conferência de Paris, em 2015, não redunde num fracasso como a de Copenhague em 2009.

Sua estratégia para a cúpula de Nova York, realizada em paralelo com a 69ª Assembleia Geral da ONU, é extrair compromissos dos quase 120 chefes de Estado --entre eles a presidente Dilma Rousseff. A agenda de Dilma indica que ela estará presente na reunião de cúpula.

Diante das posições do Brasil nas negociações sobre mudança do clima, contudo, a expectativa é que a presidente não anuncie nenhum compromisso ambicioso sobre florestas e se limite a reafirmar a meta voluntária de cortar entre 36% e 39% das emissões do país sobre os níveis de 1990 (meta essa em boa parte já cumprida, graças à redução no desmatamento).

No Rio, a marcha do clima reuniu cerca de 4 mil pessoas segundo os organizadores. A PM disse que foram 300.

(artigo publicado no sábado)

Perdidos na floresta, por MARCELO LEITE

Conformar-se com taxas de 6,5% de inflação e 6.000 km2 de desmatamento é o cúmulo da mediocridade

Neste domingo (21) se realiza em Nova York uma marcha em que milhares de pessoas pedirão mais ação contra a mudança do clima e a favor das florestas. Mesmo com Marina Silva no páreo para a Presidência da República, dá para imaginar assunto mais distante da campanha eleitoral brasileira?

Na terça-feira (23), durante a Cúpula do Clima na ONU, dúzias de governos, ONGs e multinacionais lançarão um manifesto em defesa das florestas tropicais. O Brasil, com a maior extensão de matas, até o momento em que escrevo não havia aderido oficialmente à convocação.

E olhe que o país tem muito de que se gabar nessa matéria. Poderia assumir tranquilamente uma posição de proa nesse processo mundial, mas abdica da vocação para insistir numa visão antiquada de desenvolvimento econômico.

Nos últimos dez anos, o país derrubou a taxa de desmatamento de 27.772 km2 em 2004 para 5.891 km2 em 2013. Florestas destruídas emitem o carbono contido na biomassa (folhas, madeira, raízes). Com a redução do desmate, o Brasil deu a maior contribuição individual para cortar gases do efeito estufa e assim arrefecer o aquecimento global.

Sim, é fato que houve um aumento de 29% na taxa de devastação de 2012 para 2013. Há motivo para preocupação, pois a iniciativa política retomada pelos ruralistas tem tirado força das medidas de contenção do desmatamento ""do Código Florestal às terras indígenas.

A situação é parecida com a da taxa de inflação. Fatores e pressões altistas continuam atuantes, mas a coisa está longe de sair do controle. Por outro lado, conformar-se com taxas anuais de 6,5% e de 6.000 km2 é o cúmulo da mediocridade.

Nada a estranhar, porém, para quem pensa que inflação alta é uma vitória dos trabalhadores contra o capital, ou que as emissões de carbono pelo desmatamento e pela exploração do pré-sal são o preço a pagar por mais desenvolvimento.

A marcha e o manifesto de Nova York assinalam --e também o estudo "Crescimento Melhor, Clima Melhor" (newclimateeconomy.report), divulgado na terça-feira (16)-- que esse preço pode ser alto demais. O desenvolvimento "barato", quer dizer, pela via da dilapidação dos recursos naturais, vai custar caro.

No caso do desmatamento, o Brasil já demonstrou para si mesmo e para o mundo que é possível crescer destruindo pouco e agredindo menos a atmosfera. Recebe elogios rasgados por isso nos relatórios de ONGs e países "imperialistas" que dão engulhos aos xenófobos tupiniquins, de generais de pijama a viúvas do leninismo e do maoísmo.

O último elogio veio no volume "State of the Rainforest" (estado das florestas chuvosas, www.grida.no/publications/soe-rain-forest), divulgado na quinta-feira (18) pela Rainforest Foundation da Noruega. Fala de um "desenvolvimento muito encorajador no Brasil" e de "resultado direto de decisões políticas".

O trabalho cita estimativa da Universidade de Maryland (EUA) de que 92 mil km2 de matas tropicais pereçam a cada ano. O Brasil seria, assim, responsável só por 6,5% da destruição, mesmo com a maior floresta tropical do planeta.

Isso, claro, se se computar apenas a Amazônia. Incluídos cerrado, mata atlântica e caatinga, o desmatamento brasileiro sobe para 12.000 km2. Ainda assim, razoáveis 13%.

Por que Dilma Rousseff se esquiva da meta de desmatamento zero?

EDITORIAIS

Dinheiro e prudência

O Fed, banco central dos EUA, reiterou os sinais de que confia na recuperação da economia norte-americana. Mas, considerando as decepções dos últimos anos, procura se equilibrar entre um discurso cauteloso e a constatação de que o ritmo atual de crescimento parece suficiente para permitir altas de juros a partir de meados de 2015.

Os dados, de fato, respaldam o otimismo. Fora o primeiro trimestre de 2014, quando a economia congelou com o inverno rigoroso, o PIB tem se expandido acima de 3% ao ano já há vários trimestres.

Mais importante, consolida-se a recuperação do mercado de trabalho, com criação de 215 mil vagas por mês, em média, desde 2013. Mantido o ritmo, o pleno emprego será atingido no ano que vem.

Se fossem respeitados os padrões históricos, os juros também estariam perto do normal, algo entre 3,5% e 4% (hoje é zero). Mas eis a particularidade do presente, ainda de ressaca da crise financeira.

A presidente do Fed, Janet Yellen, salienta que permanece a ociosidade do mercado de trabalho. Os salários, por exemplo, não começaram a crescer. Apesar da confiança, o banco deve ser paciente. Não por outra razão reafirmou o intento de manter os juros baixos por tempo considerável.

A referência, para analistas, indicaria uma primeira alta em meados de 2015 --do ponto de vista dos mercados, o prazo é suficientemente curto para deixar as condições globais ainda mais dependentes dos dados econômicos americanos nos próximos meses.

Por outro lado, a economia mundial tem problemas. O contraste entre os EUA e a Europa, por exemplo, é notável --o Banco Central Europeu acaba de inaugurar uma nova etapa de estímulos, com cortes de juros e mais empréstimos.

Ainda que o Fed peque pela demora, e não pela pressa, em subir os juros, não se devem subestimar as dificuldades que podem surgir quando esse momento chegar.

Até por essa razão, o Brasil precisa ajustar as contas públicas e reforçar a combalida credibilidade da política econômica enquanto o ambiente global é favorável.

Devagar, quase parando

Desigualdade cai em ritmo mais lento desde 2011, e aumento de renda é menor; nesse ritmo, em breve poderá haver estagnação de fato

É vergonhoso que um órgão reputado como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) precise vir a público para corrigir, um dia depois de sua divulgação, os resultados de levantamento tão importante quanto a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Segundo se soube na sexta-feira (19), um erro de projeção populacional teria levado técnicos a superestimar o peso de regiões metropolitanas de alguns Estados, com prejuízos para o cômputo nacional.

As emendas, de todo modo, não chegam a provocar revisões nas tendências apontadas na véspera --seu maior impacto é sobre a credibilidade do próprio instituto.

Refeitos os cálculos, nota-se que a desigualdade não ficou inalterada, embora o progresso seja agora mais lento do que o de anos anteriores, e que o aumento da renda foi menor do que o apontado nas tabelas equivocadas.

Num país que está entre os 20 mais iníquos do mundo e que tem uma renda média baixa, melhorias modestas já causam preocupação. Ainda pior, tal estagnação se deve em parte a erros básicos de política econômica e à incapacidade de promover mudanças institucionais, evidentes no governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

A combinação de desigualdade e baixa renda resulta em dureza inaceitável de condições de vida para quase metade da população. A renda média domiciliar per capita dos 40% mais pobres não passava de R$ 332 por mês no ano passado. O rendimento médio do 1% mais rico equivalia a 40 vezes o dos 40% mais pobres.

Embora convenha ter em mente esse quadro geral, observe-se que houve progressos, mesmo depois de 2011, para todas as faixas da população. Além disso, mais trabalhadores passaram a ter vínculos formais de trabalho e a contribuir para a Previdência. A qualidade do emprego melhorou.

De 2004 a 2013, o rendimento médio nacional aumentou 35%. O dos 10% mais pobres, cresceu quase 73%; entre a metade mais pobre, mais de 63%. Houve, portanto, elevação do bem-estar social.

Tais avanços se refletiram no consumo de bens. Cerca de 59% das residências tinham telefone em 2001; em 2013, eram 93%. A posse de computadores passou de 13% para 49% nesse período.

A presença de eletrodomésticos se universalizou, mas a ampliação do acesso a serviços públicos é lenta. A proporção de casas ligadas à rede de esgotos, por exemplo, passou de 55% para 64%.

Quanto à renda, progressos relativamente rápidos são possíveis, em especial quando se combinam políticas sociais com mudanças que promovem a produtividade e a estabilidade econômica.

Ao menos desde 2011, todavia, vê-se uma economia de regras e ritmos instáveis. Investimento e produção declinantes afetaram o aumento do salário mínimo e de recursos públicos para programas sociais e ampliação da infraestrutura. Não houve, ademais, reformas que tornassem a tributação racional e socialmente mais justa.

Caso o país prossiga nessa toada, poderá em breve lidar com as tensões políticas derivadas de uma estagnação socioeconômica de fato.

ELIANE CANTANHÊDE

Gatos e ratos

BRASÍLIA - "Não é função da imprensa fazer investigação", decretou a presidente e candidata Dilma, numa das suas entrevistas diárias no Alvorada a uma multidão de representantes da própria imprensa.

No fundo, Dilma queria dizer: "A função da imprensa é publicar as versões oficiais, as declarações que eu quero e tudo o que contribui com a minha campanha e atrapalha a dos os meus adversários".

Não chegou a tanto, mas disse que nenhum órgão da imprensa tem o status da Polícia Federal, do Ministério Público e do Supremo, esses, sim, aptos a investigar e/ou julgar. E o PT, tem ou não?

O partido nasceu, cresceu, encorpou e ganhou a Presidência, entre 1980 e 2002, justamente em aliança com a PF, o MP e... a imprensa, vasculhando tudo e todos e criando duas categorias de políticos no país: "nós, os puros e éticos, e todos os outros, impuros e antiéticos".

Quem comandou as investigações e a CPI que aniquilaram Collor, hoje amigão de Lula e aliado de Dilma? Quem esteve por trás da divulgação dos escândalos envolvendo qualquer um não petista? O PT, que entrou para a história como o grande partido ético e o grande partido de oposição.

Era ele quem, infiltrado em diferentes instâncias da máquina pública, levantava as suspeitas, fazia dobradinha com policiais e procuradores e pautava os jornalistas. Eles iam à luta, confirmavam a veracidade, colhiam os detalhes e faziam as manchetes. Ou seja, investigavam.

O PT não resistiu à mudança de posição. O gato virou rato, e a imprensa, de "amiga", passou a "inimiga", quando não foi e não é nem uma coisa nem outra. Apenas deve cumprir o seu papel, inclusive o de investigar.

Graças a ela, o país soube dos escândalos dos governos de Sarney, FHC, Lula e Dilma. Entram aí o mensalão, o doleiro camarada, os Correios, o Banco do Brasil, a Petrobras.

Não seja ingrata, presidente! O Brasil precisa cada vez mais dos jornalistas investigativos.

HENRIQUE MEIRELLES

O caminho é claro

Uma das questões mais importantes que o Brasil deve enfrentar nos próximos anos é a questão da taxa de juros. Seu componente central é a chamada taxa de juros de equilíbrio ou neutra. Essa taxa, em tese, permite a economia crescer sem gerar inflação.

Exemplos históricos ajudam a entender a questão. O Reino Unido viveu momento elucidativo séculos atrás quando o Parlamento ganhou poder para elaborar o Orçamento. Até ali, o rei tinha poderes absolutos para gastar. Para cobrir rombos, podia taxar ou tomar emprestado à vontade. A taxa de juros naquele momento oscilava perto de 14% ao ano. Mas, a partir do momento em que os gastos públicos começaram a ser controlados por imposição de um Parlamento conservador, a taxa passou a cair. Em algumas décadas, atingiu patamar de 4% a 5%.

O mundo é mais complexo e sofisticado hoje, e a taxa de inflação é um componente importante da taxa de juros nominal, além de outros componentes do risco-país, como o risco cambial e político. Mas a experiência de um grande número de países nas últimas décadas, inclusive do Brasil, mostra um caminho claro para a queda dos juros na economia.

No período de 2002 a 2003, as taxas de um ano no mercado brasileiro chegaram a atingir 33%. Já a taxa do BC (Selic) chegou a 26,5%, visando controlar uma inflação que tinha atingido cerca de 12% em 2002 e com expectativa nessa faixa para 2003.

A inflação caiu gradualmente até 3,2% em 2006. E, nos seis anos em que a meta foi fixada em 4,5%, de 2005 a 2010, existiram três anos com a inflação abaixo da meta e três anos acima, o que significa um patamar de inflação equilibrada ao redor da meta.

Naquele período, as taxas Selic caíram ou subiram de acordo com os ciclos monetários, mas com tendência claramente declinante. A taxa média de juros caiu de forma sustentada e manteve a inflação na meta no período, produzindo queda constante da taxa de equilíbrio ou neutra.

Esse ganho foi consequência do rigor fiscal no início do período citado, da queda da divida pública durante o período, da política monetária e da credibilidade crescente do BC e do sistema de metas, o que balizou as expectativas de inflação em torno da inflação esperada de 4,5%, contendo reajustes de preços. Houve também queda do risco externo, com aumento das reservas internacionais. Tudo isso gerou redução dos chamados prêmios de risco, principalmente os riscos inflacionário, fiscal e cambial o que leva naturalmente a uma queda gradual dos juros.

Portanto, a experiência brasileira, como a de outros países, é inequívoca e mostra claramente o caminho a seguir.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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