Em VEJA: Mercado vê em Dilma ameaça maior do que no início da campanha

Publicado em 29/09/2014 20:18
Para analistas ouvidos pelo site de VEJA, discurso eleitoral da presidente evidencia guinada à esquerda e guerra declarada ao setor privado, por Ana Clara Costa

Enquanto o eleitor parece cada vez mais inclinado a oferecer à presidente Dilma Rousseff a oportunidade de um novo mandato, investidores sinalizam exatamente o oposto. Um forte movimento de venda de ações fez com que o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, recuasse 4,52% nesta segunda-feira, a maior queda em três anos. O dólar também disparou, chegando a ser cotado a 2,47 reais — seu maior valor desde 2008, período agudo da crise financeira internacional. A moeda americana perdeu força no final do pregão e fechou a 2,45 reais. As ações das empresas estatais lideraram as baixas: Petrobras caiu 11,4%, enquanto o Banco do Brasil recuou 9%. As ações da própria BM&FBovespa recuavam 8,3% no mesmo período.

Não é de hoje que o mercado financeiro tem reagido de forma pessimista à possibilidade de reeleição da candidata petista. Desde março deste ano, as ações (em especial as da Petrobras) têm oscilado ao sabor das pesquisas eleitorais. Depois da trágica morte do peessebista Eduardo Campos, em agosto, e da ascensão de Marina Silva ao posto de presidenciável, as chances de reeleição de Dilma haviam diminuído — o que trouxe certo alívio para a bolsa e o dólar.

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Contudo, a melhora da atual presidente nas pesquisas, que apontam sua vitória no segundo turno ante ambos os concorrentes, Aécio Neves e Marina, fez com que um movimento de venda de ações se aprofundasse na bolsa. O Ibovespa chegou a cair quase 6% na abertura, com os papéis da Petrobras recuando 10%. Em ambos os casos, a queda é muito mais profunda do que o que foi assistido no início de 2014, quando as primeiras pesquisas começaram a ser divulgadas criando alta volatilidade na bolsa. 

O que mudou de lá pra cá, segundo analistas ouvidos pelo site de VEJA, é que aumentou (e muito) a aversão que o mercado nutria em relação à candidata. "Muitos têm opinião pior do que antes sobre a provável política econômica num segundo governo Dilma. Eles perceberam uma inflexão à esquerda em seu discurso, especialmente na questão envolvendo a independência do Banco Central", afirma o economista Tony Volpon, do Nomura. A presidente Dilma encampou o discurso de que ter um BC autônomo significaria "entregar o país a banqueiros". Ela também questionou a necessidade de se cumprir o superávit primário, que é a economia feita pelo governo para pagar os juros da dívida, e reafirmou seu compromisso com subsídios à indústria num momento em que o próprio setor industrial pede maior abertura econômica.

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Segundo o analista Felipe Miranda, da Empiricus, antes da morte de Campos, os investidores tinham dúvida se um novo governo Dilma atravessaria uma curva de aprendizado, admitindo erros e retomando um caminho mais ortodoxo. "Hoje, resta pouca dúvida de que um segundo mandato representaria mais do mesmo, com algum recrudescimento, pois a guerra contra o setor privado, num momento em que precisamos retomar os investimentos, está declarada em caráter explícito", afirma Miranda, autor do livro O Fim do Brasil, lançado na semana passada pela editora Escrituras.

Um movimento de queda foi percebido nesta segunda-feira em todos os mercados emergentes, porém, nenhum na mesma intensidade que o Brasil. Nos Estados Unidos, o S&P recuou 0,2% e o Dow Jones, 0,25%. "É um movimento global que pode ser visto na Coreia do Sul, Taiwan, índia, Turquia, África do Sul e Israel. Isso porque acredita-se que a economia americana não está se recuperando no ritmo acelerado que antes se achava", avalia o economista-chefe da Gradual, André Perfeito.

NA FOLHA: 

Reação eleitoral de Dilma faz Bolsa ter maior queda diária em três anos

A reação da presidente Dilma Rousseff (PT) na corrida eleitoral fez com que a Bolsa brasileira registrasse a maior desvalorização diária em três anos.

O Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, fechou o dia com queda de 4,52%, a 54.625 pontos, o menor patamar desde 10 de julho deste ano. Além disso, foi a maior desvalorização percentual diária do Ibovespa desde 22 de setembro de 2011, quando o índice caiu 4,83%.

O mau humor do investidor também fez com que o dólar disparasse nesta segunda-feira. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,03%, a R$ 2,446, no maior patamar desde 9 de dezembro de 2008. O dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,69%, a R$ 2,457, também no maior nível desde 9 de dezembro de 2008.

Para analistas, o fortalecimento da candidata petista nas eleições é a principal explicação para a desvalorização da Bolsa nesta segunda-feira. "O mercado financeiro não gosta da Dilma e, por isso, quando ela tem bom desempenho nas pesquisas, ele coloca isso no preço. Mas minha avaliação é que [o mercado] não colocou tudo no preço, [a Bolsa] pode cair mais", afirma Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus Research.

"O Ibovespa abriu em forte queda como reflexo da pesquisa Datafolha de sexta-feira (26), mas à tarde os mercados se acalmaram. A pesquisa CNT/MDA que confirmou a reação de Dilma, porém, causou essa resposta negativa do mercado", completa a equipe de analistas da Socopa.

pesquisa CNT/MDA mostra a atual presidente mais distante da segunda colocada, Marina Silva (PSB). Dilma tem 40,4% das intenções de voto no primeiro turno, contra 25,2% da ex-ministra do Meio Ambiente. Aécio Neves (PSDB) surge com 19,8% da preferência.

No segundo turno, Dilma tem 47,7% das intenções de voto. Marina aparece com 38,7%. Na semana passada, as duas candidatas estavam tecnicamente empatadas. A candidata petista tinha 42% das intenções enquanto a pessebista estava com 41%.

Na sexta-feira, a pesquisa Datafolha já confirmava a recuperação de Dilma no cenário eleitoral. Nesse dia, o Ibovespa subiu 2,23%, impulsionado pela alta de mais de 5% nas ações da Petrobras, pois havia expectativa no mercado financeiro de que a pesquisa Datafolha fosse ser favorável à oposição ou desfavorável ao governo.

"Como o resultado foi contrário, quem tinha comprado ações na sexta-feira com essa expectativa teve que vender hoje [segunda, 29]", disse Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Corretora. Essa reversão da expectativa acabou empurrando o índice para baixo.

AÇÕES

Das 69 ações do Ibovespa, 62 fecharam o dia no vermelho.

A maior desvalorização ficou com os papéis da Petrobras. Os papéis das estatais são os mais sensíveis à atual disputa eleitoral. Isso porque parte dos investidores acredita que uma vitória da oposição significaria uma diminuição na intervenção do governo na empresa. Logo, quando Dilma sobe nas pesquisas, os papeis da companhia se desvalorizam.

As ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, encerraram o dia com queda de 11,17%, a R$ 18,60. Os papéis ordinários, com direito a voto, perderam 10,44%, a R$ 17,75.

Os papéis do Banco do Brasil encerraram o dia com queda de 8,55%, a R$ 27,28. Já as ações preferenciais da Eletrobras tiveram desvalorização de 3,70%, a R$ 10,16, enquanto as ordinárias fecharam com baixa de 6,14%, a R$ 6,88.

Entre as sete que subiram nesta segunda-feira, a maior alta foi da Cielo, com valorização de 2,15%. Os papéis da BB Seguridade subiram 1,92%, mesmo percentual de alta da Fibria Celulose. A Embraer encerrou o dia com alta de 1,32%.

Os papéis dessas duas últimas empresas foram favorecidos pela valorização do dólar, afirma Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores. "São empresas exportadoras e que se beneficiam desse novo patamar do dólar, mais alto", diz.

A troca de comando da Usiminas também repercutiu no mercado. Na semana passada, a siderúrgica anunciou a destituição do presidente da companhia, Julián Eguren, em meio a um conflito entre os acionistas Ternium e Nippon Steel.

Em relatório, a Magliano Corretora diz que analistas que acompanham o papel esperam que a empresa convoque novas eleições em breve, mas destacaram que o evento foi inesperado e trouxe ainda mais incerteza ao cenário que já é negativo para a companhia.

"Os profissionais avaliam que a retração de demanda por aço no mercado interno e a queda do preço do minério de ferro, que colocou em xeque os planos de verticalização da empresa, já eram suficientes para pressionar as suas ações. Agora, o conflito entre os acionistas e a dúvida sobre quem será o novo líder da empresa colocam ainda mais pressão sobre a companhia", afirma a corretora.

Os papéis ordinários da Usiminas caíram 5,18%, a R$ 6,95, enquanto os preferenciais tiveram baixa de 6,00%, a R$ 6,89.

CÂMBIO

A valorização do dólar deve continuar nos próximos dias, prevê Raymundo Magliano Neto, da Magliano Corretora. "O dólar hoje foi praticamente só efeito eleitoral. Houve desvalorização de outras moedas em relação ao dólar, mas nada como o real. Pensando que os estrangeiros vão sair do país se a reeleição se confirmar, eles vão precisar comprar dólares para levar seu dinheiro embora e isso vai pressionar o dólar ainda mais", diz.

É a mesma percepção de Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus Research. "O dólar tende a ir para cima, estamos em meio a um processo de ajuste, com tendência de alta da moeda; os fundamentos macroeconômicos apontam desvalorização da moeda. Além disso, há ganho de valor do dólar contra outras moedas", ressalta.

Para conter a alta da moeda, o Banco Central deu continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio nesta sessão, vendendo os 4.000 contratos de swap cambial –equivalente à venda futura de dólares.

Foram vendidos 1.700 contratos com vencimento para 1º de junho e 2.300 para 1º de setembro de 2015, com volume equivalente a US$ 197,5 milhões.

O BC também vendeu a oferta total de até 15 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em outubro e, com isso, rolou praticamente todo o lote total, que corresponde a US$ 6,677 bilhões.

Vale lembrar que nesta terça-feira é dia de formação da Ptax -taxa calculada pelo BC que serve de referência para diversos contratos cambiais e é divulgada no início da tarde do último dia útil de cada mês. Por isso, o dólar deve continuar volátil no próximo pregão. 

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Fonte:
Veja.com + Folha de S. Paulo

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