Na FOLHA: Dilma tem pior votação do PT em 12 anos; SP empurra Aécio ao 2º turno

Publicado em 05/10/2014 22:44
na Folha de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, surpreendeu e ficou em segundo lugar na corrida ao Palácio do Planalto com 33,62% dos votos válidos. Com 99,34% das urnas apuradas, Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, ficou em primeiro lugar com 41,55% dos votos válidos, o pior desempenho do PT em 12 anos.

Já Marina Silva (PSB), que desidratou na reta final, ficou em terceiro com 21,29% dos votos.

A virada de Aécio na reta final da eleição tem forte influência no maior colégio eleitoral do país. No Estado de São Paulo, com quase 32 milhões de eleitores (22,4% dos 142,8 milhões de eleitores), o senador Aécio Neves conquistou mais de 10 milhões de votos, cerca de 44,25% dos votantes.

Considerado fora do jogo depois da morte de Eduardo Campos, o tucano ressurgiu das cinzas e garantiu na última hora a lógica da política brasileira desde 1994, com a polarização PT-PSDB, destaca a colunista da Folha Eliane Cantanhêde.

Já presidente Dilma teve desempenho próximo ao de Marina Silva no maior no Estado. A petista teve cerca de 5,9 milhões, ante 5,7 milhões da pessebista. Em 2010, quando Dilma disputou à Presidência com o ex-governador de São Paulo José Serra, eleito hoje senador com mais de 11 milhões de votos com 99,90% das urnas apuradas, a petista teve 46,9% dos votos.

Já em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral e Estado natal dos candidatos Aécio Neves e Dilma Rousseff, a petista levou a melhor. Com 99,99% das urnas apurados no Estado, Dilma teve 4,8 milhões de votos contra 4,4 milhões do tucano.

Na disputa estadual, Marina Silva venceu no Acre (Dilma ficou em segundo, e Aécio na sequência) e em Pernambuco (muito colada a Dilma, e Aécio ficou com míseros 5,9%) —o resto dos Estados do Nordeste ficou com a Dilma.

No consolidado do país, trata-se do pior desempenho do desde 2002, quando o ex-presidente Lula disputou à Presidência. Naquele ano, Lula teve 45,4% dos votos contra Serra. Quatro anos depois, Lula obteve 48,6% em disputa com Geraldo Alckmin (PSDB).

Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, os resultados parciais das eleições vão ao encontro das últimas pesquisas feitas pelo Datafolha.

"O Aécio [PSDB] é mais forte para enfrentar Dilma [PT] no segundo turno. Fizemos um estudo e vimos que a curva de crescimento dele é maior que a de Marina [PSB], pois tem menos eleitores que não votariam de jeito nenhum nele. Mas vamos esperar o resultado das urnas", diz Paulino.

Marina sinaliza apoio a Aécio no 2º turno e fala em 'mudança qualificada'

Fora do segundo turno e apesar de não citar nomes,Marina Silva sinalizou na noite deste domingo (5) que pode apoiar um dos candidatos à Presidência, diferentemente da posição que tomou em 2010, quando se declarou neutra.

Em um espaço de eventos em São Paulo, ela afirmou que o programa de governo que lançou é a base de qualquer diálogo e indicou na direção de Aécio Neves(PSDB), da oposição, ao afirmar que "o Brasil sinalizou claramente que não concorda com o que aí está" e que reivindica uma "mudança qualificada".

"É com esse senso de responsabilidade que participarei como liderança. (...) Nós vamos fazer a discussão, mas obviamente que estatisticamente a população mostra isso [sentimento de mudança], não dá para tergiversar com o sentimento do eleitor", afirmou, respondendo ao questionamento se descartava o apoio a Dilma Rousseff (PT).

Com 99,6% das urnas apuradas, Marina tem só 21,30% dos votos. Dilma tem 41,56%, e Aécio, 33,60%.

"Aécio tem trunfos para 2º turno, mas cara a cara com Dilma não será fácil", por Eliane Cantanhede

Numa eleição já tão surpreendente desde o início, só nos faltava essa: uma guinada espetacular na véspera, literalmente, da votação e da abertura das urnas. Foi o que ocorreu. O tucano Aécio Neves, considerado fora do jogo depois da morte de Eduardo Campos, ressurgiu das cinzas e garantiu na última hora a lógica da política brasileira desde 1994, com a polarização PT-PSDB.

Entram aí as duas grandes dúvidas sobre o segundo turno que perpassaram todo o primeiro. Desde 2002, o PT ganhou do PSDB e quem chegou na liderança ganhou no final em todas as eleições de segundo turno. Está escrito nas estrelas?

O PT gostaria que sim, mas esta eleição de 2014 quebrou parâmetros, queimou a língua de muita gente e não para de produzir surpresas e novidades. Logo, não dá para dizer que "tudo será como dantes no quartel de Abrantes".

Desta vez, Dilma vence o primeiro turno num patamar bem inferior ao que Lula teve em 2002 e 2006 e ela própria atingiu em 2010. Ou seja, ela entra mais fraca.

As principais diferenças de 2014 em relação às eleições anteriores: a alta rejeição ao PT e os erros do governo Dilma Rousseff na economia. Esses dois fatores, somados, desabaram num genérico "antipetismo" que empurrou a rejeição ao PT e a Dilma a índices quase mirabolantes no principal Estado do país, São Paulo, berço tanto do PT quanto do PSDB e centro empresarial e financeiro do país. Só na capital, quase metade dos paulistanos torcem a cara ao partido.

Isso será um grande trunfo para Aécio e os tucanos no segundo turno, tanto para negociar com Marina Silva quanto para atrair os votos antipetistas. Isso, porém, não significa que o ambiente seja confortável para Aécio e que a disputa contra o PT, cara a cara, será fácil.

Dilma chegou numericamente na frente, Lula continua sendo o maior cabo eleitoral do país e o PT confirma também nesta eleição que é um partido de chegada. Ou seja: um partido que tem garra e militância e cresce na reta final.

Foi assim, por exemplo, na Bahia, no Rio Grande do Sul e no Ceará, sem contar uma vitória que tem um gosto muito especial para os petistas: a vitória de Fernando Pimentel sobre o tucano Pimenta da Veiga justamente em Minas Gerais, que Aécio Neves governou por duas vezes e onde colheu mais de 90% de aprovação.

Mesmo em São Paulo, o PT surpreendeu na reta final. Não a ponto de confirmar a "falência de material" que levaria à derrota dos tucanos, pois o PSDB continua voando muito bem, com a reeleição do governador Geraldo Alckmin em primeiro turno. Mas o suficiente para evitar um resultado que se insinuava vexaminoso.

Depois de patinar em menos de 10% ao longo de todos os meses da campanha, o candidato do PT ao governo, Alexandre Padilha, cresceu literalmente nos últimos dias e encostou no adversário Paulo Skaf, do PMDB, apesar de o tucano José Serra ter destronado o petista Eduardo Suplicy do Senado, depois de suas mais de duas décadas como senador.

A eleição, portanto, continua quente e imprevisível mesmo depois do fim do primeiro turno e muita água e muita troca de torpedos ainda vão rolar debaixo da ponte até o dia 26, quando se realiza o segundo turno.

Com a Petrobras no centro do debate cara a cara e as prisões do mensalão do PT rondando os palanques, pode apostar: o PT vai sacar algum coelho gordo e uma maldade cortante contra Aécio. Com a morte de Eduardo Campos e a disparada de Marina Silva, o PT se concentrou na "sonhática" e arquivou seus coelhos, cobras e lagartos contra o tucano. Mas eles estão soltos por aí.

Se não tiver nenhum deles concretamente, não custará muito sacar da cartola algo na linha do "o PSDB vai privatizar a Petrobras". E isso será a dias do segundo turno, sem dar tempo para a reação e o contra-ataque.

Aliás, um registro: Aécio só teve tempo para voltar do inferno ao paraíso porque a queda do Cessna foi em 13 de agosto, bem antes das urnas. Se tivesse sido um mês depois, sei não... 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, as pesquisas de intenção de voto têm uma influência deletéria no comportamento dos eleitores, deve ser em função de outro desvio, “plantado” por políticos espertos na cabeça da população, para “não perder o seu voto”; como se o voto fosse um bem material e não uma convicção.

    Os candidatos estão provando do próprio veneno, pois seus discursos são direcionados de acordo com os resultados das pesquisas. Veja as mentiras da candidata à reeleição em relação a candidata Marina, com relação a autonomia do Banco Central e outras firulas.

    Não se deve esquecer que as pesquisas medem a percepção, o que não significa dizer que a percepção coincida com a realidade. Atos sem reflexão são próprios de “Aloprados”!

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

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