"Perde o contraditório", editorial da FOLHA

Publicado em 12/10/2014 04:23
na edição da Folha de S. Paulo deste domingo

Perde o contraditório, editorial da FOLHA

Debates constituem momento importante das disputas a cargos eletivos. Retiram os candidatos da ficção encenada na propaganda e os expõem, ao vivo e em cores, à apreciação dos votantes.

Considerando as armadilhas envolvidas nessa operação, mas cientes de que fugir do confronto traz alto preço político, as campanhas sempre buscam impor condições que lhes garantam controle sobre a situação. Todas estão interessadas em minimizar os riscos.

Pouco tempo para perguntas e respostas, por exemplo, diminui a chance de que o candidato se atrapalhe durante longos minutos discorrendo sobre um tema desconfortável. Facilita, além disso, que sejam utilizados discursos pré-fabricados, ensaiados e repetidos como se ali estivessem atores.

A própria legislação eleitoral força a fragmentação do debate, ao determinar que sejam convidados a participar do evento postulantes de todos os partidos que tenham representação na Câmara dos Deputados. Com sete personagens no palco, como foi o caso da disputa presidencial deste ano, cada um tem pouquíssimo tempo para desenvolver o raciocínio, que mal se oferece ao contraditório.

Mesmo quando um candidato contesta o outro, o eleitor continua sem saber quem tem razão. Por que confiar mais na tréplica deste do que na réplica daquele? Ambos têm parte na controvérsia.

Tem cabido à imprensa independente o papel de fiel da balança. Nos jornais dos dias seguintes e na internet, em tempo real, publicam-se reportagens que põem os devidos pingos nos "is". Seria possível ir além: o jornalista poderia, em uma réplica, indicar discrepâncias entre a resposta e os dados objetivos. As campanhas, porém, jamais autorizam o expediente.

Os jornalistas, ainda assim, mantinham participação importante no debate. Se candidatos procuram direcionar suas perguntas para temas ou abordagens que melhor servem às respectivas estratégias, jornalistas costumam buscar assuntos que importam ao público.

Nem isso ocorrerá, contudo, no debate a ser realizado entre o senador Aécio Neves (PSDB) e a presidente Dilma Rousseff (PT) no dia 16. Por exigência da petista, a participação dos jornalistas foi vetada.

Diante do retrocesso, esta Folha saiu da organização do encontro, que ficará a cargo da TV SBT, do portal UOL (empresa do Grupo Folha) e da rádio Jovem Pan. Os três veículos transmitirão o evento. Para o jornal, não faz sentido promover um debate em que não poderá interpelar os candidatos em nome de seus leitores.

HENRIQUE MEIRELLES

Musculatura x anabolizante

O Banco Mundial e o FMI revisaram para baixo as previsões de crescimento da economia mundial e da maioria dos países neste ano. Alguns estão crescendo bem, como EUA e Reino Unido, mas seguem em recuperação. Já zona do euro, alguns asiáticos e os latino-americanos tiveram suas estimativas reduzidas. O Brasil está entre os que sofreram maior revisão de crescimento pelo FMI, de 1,3% para 0,3%. E há ainda os países que enfrentam recessão, como a Argentina.

Os latino-americanos são os casos mais preocupantes, pois já gastaram a munição fiscal (e monetária, em alguns casos) para retomar o crescimento. Com a trajetória de aumento da dívida pública, eles não têm mais espaço para usar recursos públicos para impulsionar o crescimento.

É preciso buscar caminhos para reverter esse processo. No Brasil, eles passam pelo aumento da confiança para a retomada dos investimentos em produtividade no setor industrial e de serviços para atender ao grande mercado de consumo interno. Passam pela educação, fator crítico no aumento da produtividade. E passam também pelos investimentos em infraestrutura, para atender à demanda criada pela expansão econômica dos últimos anos --um problema (infraestrutura congestionada) que é parte importante da solução (a demanda que viabiliza os investimentos).

Na Argentina, a contração é profunda e complexa, situada num longo processo de redução relativa da renda e do padrão de vida nas últimas décadas. O país agora tenta reverter sua última crise reeditando decreto do ex-presidente Perón, de 1974, que dá poder ao governo de intervir nas empresas, na sua produção, no seu sistema de fixação de preços etc. Como a história mostra, essa reedição de expedientes do passado, dando poder a burocratas para tomar decisões arbitrárias no funcionamento das empresas, tende a desorganizar ainda mais a economia e criar novas distorções.

Já países que adotaram políticas de desenvolvimento de longo prazo baseadas em educação, produtividade e competitividade do setor privado, como Coreia do Sul, Cingapura e, anteriormente, o Japão, adquiriram em poucas décadas padrões de crescimento, renda e poder econômico similares aos dos países desenvolvidos.

Nesse quadro de queda do crescimento no Brasil, é importante que não nos fixemos só no curto prazo, visando 2015. É preciso olhar as curvas de longo prazo, verificando o que é necessário fazer para reverter tendências e seguir o caminho dos países que de fato deram salto no padrão de vida. Eles trabalharam duro nas melhorias de longo prazo e tiveram resultados mais rápido que os dos apressados.

O longo prazo demora, mas um dia chega. (HENRIQUE MEIRELLES).

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, os fatos são a prova irrefutável da prática Goebelliana, pobres àqueles tomados pelo vórtice da petalhada.

    Paul Joseph Goebbels foi Ministro da Propaganda do Reich (marqueteiro), da Alemanha nazista e que cunhou a famosa frase:

    “Uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”.

    Felizmente ela torna-se uma verdade para uma parte da população, os motivos, não sei explica-los, pois faço parte daquela parte que não acredita na mentira que se tornou verdade e, para aqueles que passaram a acreditar, fica difícil “explicar o inexplicável”. Tenho dito.

    Para encerrar, mais uma frase de Goebbels, que sintetiza a periculosidade daqueles que foram tragados pelas mentiras:

    “ESTE HOMEM É PERIGOSO, ELE ACREDITA NO QUE DIZ”

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

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