EUA alertam sobre riscos de deflação na Europa; BCE terá que fazer mais

Publicado em 16/10/2014 05:35
Por Jason Lange, da Reuters

WASHINGTON  - Os Estados Unidos renovaram o alerta nesta quarta-feira sobre os riscos da Europa entrar em uma espiral de queda dos salários e preços, dizendo que as recentes ações do Banco Central Europeu (BCE) podem não ser suficientes para evitar a deflação.

Em relatório semestral para o Congresso, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos disse ainda que a Alemanha poderia fazer mais para ajudar a Europa, incluindo impulsionar a demanda na maior economia da Europa.

"A Europa enfrenta o risco de um período prolongado de inflação substancialmente abaixo da meta ou de deflação", disse o Tesouro.

Nos últimos meses, o BCE cortou os juros para níveis recordes de baixa, ofereceu a bancos novos empréstimos de longo prazo e anunciou planos para comprar ativos do setor privado.

Tudo isso tem o objetivo de estimular a economia europeia, que tem oscilado à beira da recessão. A Europa é um grande parceiro comercial dos Estados Unidos e da China, e suas dificuldades têm estado no centro das preocupações sobre a economia global, que abalaram os mercados financeiros em todo o mundo nos últimos dias.

O Tesouro disse que as ações do BCE "deveriam ajudar a combater os riscos deflacionários", mas que "novas políticas de apoio à demanda podem ser necessárias".

O relatório aparentemente foi escrito com muito cuidado para evitar parecer insistente sobre o que Washington acredita que a Alemanha deveria fazer. Berlim tem sido um aliado estratégico dos EUA há décadas.

O Departamento do Tesouro também sugeriu que a Coreia do Sul intervenha no mercado de câmbio. O won perdeu 5 por cento do seu valor em relação ao dólar em seis semanas.

A administração Obama tem pedido há muito tempo que Seul minimize as intervenções cambiais, mas, na quarta-feira, disse que o won está desvalorizado no momento e pediu que Seul deixe a moeda se apreciar mais.

Novamente, Washington afirmou que a moeda chinesa está "significativamente desvalorizada", mas disse que Pequim parece estar interferindo menos na definição do valor do iuan. Isto sugere que podem estar aliviando as tensões entre os dois países sobre o câmbio.

O relatório divulgado duas vezes por ano examina as políticas econômicas e cambiais dos maiores parceiros comerciais dos EUA.

VEJA: Em dia de queda nas bolsas mundiais, Bovespa recua mais de 3%

Expectativas com divulgação de pesquisas eleitorais e dados ruins dos EUA motivaram cautela de investidores nesta quarta-feira

Petrobras liderou perdas nesta quarta-feira. Ações da estatal caíram quase 7%

Petrobras liderou perdas nesta quarta-feira. Ações da estatal caíram quase 7% (Reinaldo Canato/VEJA)

Conduzido pela aversão ao risco que pautou os negócios no exterior e também por incertezas envolvendo o cenário eleitoral brasileiro, o Ibovespa, principal índice da BM&FBovespa, terminou esta quarta-feira em baixa de 3,24%, aos 56.135,27 pontos. Na mínima, registrou 54.919 pontos (-5,34%) e, na máxima, 58.012 pontos (-0,01%).

Os investidores "digeriram" o primeiro debate na TV entre Dilma Rosseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), realizado pela Rede Bandeirantes. A conclusão foi de que não houve um "vencedor", o que, em última instância, favorece a candidata petista. Além disso, o mercado ficou na defensiva, à espera da divulgação das pesquisas eleitorais. O Datafolha informou nesta quarta-feira que os candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves mantêm impate técnico nas intenções de voto para o segundo turno. Aécio segue na frente com 51%, enquanto Dilma está com 49% dos votos válidos.

A Petrobras liderou as perdas do índice. Os papéis preferencias da petroleira (PN, sem direito a voto), caíram 6,93%, e as ações ordinárias (ON, com direito a voto) perderam 6,86%. Em seguida, aparecem BrMalls ON, com retração de 5,74%. No geral, apenas duas ações subiram: Fibria PN (+1,51%) e Vivo PN (+0,29%).

No exterior, dados desfavoráveis sobre a economia americana também ajudaram a esfriar os negócios. Nos EUA, o índice de preços ao produtor (PPI) caiu 0,1% em setembro ante agosto. Foi a primeira queda na inflação ao produtor em um ano e contrariou as estimativas dos analistas, que esperavam alta de 0,1%. Já as vendas no varejo recuaram 0,3% em setembro ante agosto, quando a estimativa era de recuo de 0,1%.

Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 1,06%, aos 16.141,74 pontos, S&P teve retração de 0,81%, aos 1.862,49 pontos, e o Nasdaq fechou em baixa de 0,28%, aos 4.215,32 pontos.

Dólar - A moeda america subiu 2,37%, e terminou a 2,4575 reais na venda, após chegar a 2,4636 reais na máxima da sessão. Foi a maior alta diária desde 21 de agosto de 2013, quando subiu 2,39%, momento em que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sinalizava que reduziria em breve seu programa de compra de títulos.

Gasolina no Brasil está mais cara do que no exterior

Segundo relatório do banco Credit Suisse, preço do combustível no mercado internacional está 1% menor, devido à queda acentuada no preço do petróleo

Posto BR em Brasília

Gasolina: queda do preço do petróleo reduziu a defasagem (Antonio Cruz/AB/VEJA)

A gasolina vendida pela Petrobras às distribuidoras de combustíveis no Brasil está mais cara do que a média de valores realizados no mercado externo, apontou um relatório do banco Credit Suisse, nesta terça-feira. O movimento foi provocado pela queda acentuada do preço do petróleo, que não foi repassada aos consumidores brasileiros. 

Segundo analistas do banco, o preço da gasolina no mercado internacional está 1% menor do que os valores praticados no mercado brasileiro, invertendo dramaticamente uma situação de defasagem que se arrastava desde 2011. Com a subida do preço do barril de petróleo nos últimos dois anos, os reajustes nos preços de combustíveis vinham sendo controlados pelo governo como forma de impedir, indiretamente, seu impacto na inflação. Com isso, a Petrobras vinha absorvendo todo o ônus da variação internacional, já que os reajustes praticados pela estatal não chegavam perto da oscilação real. Em 25 de setembro, a diferença entre os preços internacionais da gasolina e os domésticos estava em 24,3%.

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Caso a situação se mantenha, pode trazer certo alívio para o governo, que vem sendo cobrado pelo mercado para autorizar reajustes nos combustíveis, para que a Petrobras venda gasolina nos patamares do mercado global. A inversão na defasagem, segundo a instituição, foi movida principalmente pela redução de 19,2% do preço da gasolina no mercado externo.

No exterior, os preços dos combustíveis flutuam seguindo as cotações do petróleo, diferentemente do Brasil, que são controlados pelo governo, o sócio majoritário da Petrobras.

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Exportações - A anulação da defasagem é positiva, mas o cenário de preços baixos pode prejudicar a empresa, já que a queda do preço do barril do petróleo reduz sua receita de exportações.

O petróleo tipo Brent já recuou cerca de 25% desde junho, quando conflitos envolvendo o Iraque elevaram os preços para cerca de 115 dólares por barril. Nesta terça-feira, o petróleo Brent fechou a 85,04 dólares, queda de 4,33%, enquanto o petróleo nos Estados Unidos fechou a 81,84 dólares por barril, queda de 4,55%.

(Com agência Reuters)

FOLHA: Venezuela importa petróleo pela 1ª vez

Dono das maiores reservas do mundo, país usará produto da Argélia, mais leve, para refinar seu próprio óleo

Analistas afirmam que importação reflete declínio da capacidade produtiva do setor sob governos chavistas

SAMY ADGHIRNIDE CARACAS

Dona das maiores reservas petrolíferas do mundo, a Venezuela está importando petróleo pela primeira vez na história. O superpetroleiro Carabobo está a caminho do litoral venezuelano após ser carregado com 2 milhões de barris de petróleo na Argélia, segundo agências especializadas.

O carregamento, vendido pela estatal argelina Sonatrach, foi embarcado nos dias 10 e 11 de outubro e deve chegar nesta quinta (16).

A notícia da aquisição havia sido antecipada no mês passado pela agência Platts, referência mundial no setor. Não se trata de compra isolada, mas do início de um fluxo de exportação de petróleo argelino para a estatal venezuelana PDVSA, diz a Platts.

O objetivo é usar o petróleo argelino, de tipo leve, para diluir o óleo bruto pesado do Orinoco, maior região produtora do Venezuela.

A PDVSA precisa refinar o petróleo que produz antes de exportá-lo. Caso contrário, perderia clientes, já que o custo de refino é elevado.

A China, hoje o maior comprador de petróleo do mundo, prefere importar tipos de óleo bastante refinados.

Durante décadas, a Venezuela refinava o petróleo do Orinoco usando um tipo de óleo bruto mais leve extraído de outros poços nacionais.

Mas a produção deste tipo diminuiu por causa do sucateamento da infraestrutura, obrigando a Venezuela a importar dos EUA um diluente conhecido como nafta.

"O óleo argelino é de alta qualidade e substitui bem o Nafta, mas custa caro", diz à Folha José Toro Hardy, economista que trabalhou na PDVSA até pedir demissão, em 2009, por divergências com o governo.

Ecoando opinião quase unânime de especialistas, Toro Hardy afirma que o problema é o declínio da capacidade produtiva do país.

Em 1997, a Venezuela produzia 3,7 milhões de barris por dia, contra atuais 2,3 milhões barris, segundo especialistas. A queda é atribuída a um misto de fatores, que incluem aparelhamento da PDVSA e fuga das grandes petroleiras ocidentais, que detêm a melhor expertise, após as expropriações ordenadas por Chávez e seu sucessor, Nicolás Maduro.

Na semana passada, o tribunal para litígios comerciais do Banco Mundial decretou que a Venezuela deve US$ 1,6 bilhão à americana ExxonMobil.

O problema se agrava por causa da queda do preço do barril, em especial o do tipo venezuelano, que vem sendo cotado a menos de US$ 85 nas últimas semanas --uma queda de US$ 16 desde 2013.

Analistas dizem que a desvalorização tem duas causas. A primeira é a queda da demanda global por causa da desaceleração econômica.

A segunda é a política de preço baixo orquestrada pela Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo e rival da Venezuela na Opep, cartel dos produtores.

Aliados do Ocidente, os sauditas usam a estratégia de aumentar a produção para reduzir preços. Já Caracas, com apoio de Rússia e Irã, defende reduzir a oferta para manter preços altos. Maduro prometeu nesta quarta que o "preço voltará a subir."

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Reuters + VEJA + Folha

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