Mercado de açúcar: PELO SIM, PELO NÃO

Publicado em 18/10/2014 07:42
por Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer

O mercado de açúcar em NY fechou a semana praticamente inalterado. O vencimento março de 2015 apreciou apenas 8 pontos (menos de dois dólares por tonelada) encerrando a semana cotado a 16.62 centavos de dólar por libra-peso enquanto os demais vencimentos não emplacaram dois dígitos de variação positiva. O mercado físico expõe toda sua fraqueza negociando na semana que se encerrou 50 mil toneladas de VHP para embarque outubro com um dilatado desconto de 125 pontos da tela de março. Isto é, açúcar sendo vendido praticamente ao custo de produção. 

Se o açúcar não vai bem, o etanol consegue ser ainda pior. Explico: o mercado futuro do petróleo tipo Brent para entrega imediata acumula uma queda de 19.5% no trimestre e negociava nesta última sexta-feira a US$ 84.50 o barril. Com isso, pela primeira vez em muito tempo, o preço justo do litro da gasolina no Brasil coincide com o preço praticado na bomba, ou seja, de aproximadamente R$ 2,835. Agora não tem mais defasagem. O que passou, passou. O sangramento do caixa da Petrobrás como efeito, entre outras coisas, dessa política perversa comandada pelo ex-ministro em exercício Guido Mantega, foi finalmente estancado. 

Para o setor, que imaginava um ajuste nos preços dos combustíveis para que o etanol voltasse a ser competitivo, agora vai ter que conviver com os níveis atuais que não remuneram as usinas. O hidratado hoje é vendido com prejuízo médio de 5.5% em relação ao custo de produção, sem considerarmos o custo financeiro. 

Petróleo mais baixo significa que o etanol precisa ser mais baixo para não perder mercado, que remunerando mal implica em mais cana sendo transferida para o açúcar no mix do próximo ano, que se traduz em mais oferta de açúcar no mercado, que significa preços mais baixos. Num círculo perverso que inflige ao setor apenas as agruras sem ter aproveitado as vacas gordas porque a gasolina está congelada.

O processo decisório para as empresas está numa encruzilhada vitimado por indefinições no cenário político até que o País escolha o próximo presidente. Caso o vencedor seja o candidato Aécio Neves, do PSDB, os rumores que circulam no mercado acerca das pessoas que fariam parte de sua equipe - caso seja eleito - trazem conforto e a esperança de mudanças qualitativas na condução de políticas de fomento para o setor sucroalcooleiro. A permanência de Dilma seria um desastre uma vez que seu governo já provou que é incompetente e infestado de mafabés que não possuem nenhum plano de governo, apenas um projeto de poder perpétuo.

Pelo sim, pelo não, se assumirmos a saída do PT do governo a percepção do mercado é de que assistiríamos a entrada de um grande fluxo de investimento estrangeiro o que deve pressionar a taxa do dólar. Seria prudente que as usinas olhassem com atenção as cotações de NY convertidas em reais por tonelada. Na média dos dois últimos anos ela foi de R$ 872 por tonelada, atingindo o pico de R$ 1.000 por tonelada. Com o dólar tendo altas repentinas e aceleradas de maneira pontual, há de se aproveitar os momentos em que uma eventual fixação de venda FOB represente esses valores.

Mas, o mercado de açúcar em NY pode subir também. Não necessariamente com esse dólar. Algumas estratégias básicas usando opções e aproveitando a baixa volatilidade negociada podem capturar essas situações caso tenhamos uma apreciação dos preços em função do quadro fundamentalista que se desenha para o futuro próximo: a) uma safra 2015/2016 que na melhor das hipóteses chegaria a 550-560 milhões de toneladas de cana no Centro-Sul, b) o primeiro déficit mundial de açúcar depois de 3-4 anos que, segundo um banco europeu, pode alcançar 3.5 milhões de toneladas; c) menor renovação dos canaviais dos últimos anos por falta de investimento; d) aumento da mistura de anidro na gasolina que passa de 25% para 27.5% causando um incremento no consumo de 1.1 bilhão de litros.

A bandeira vermelha (sem conotação política) que tremula nesse caso é, como dissemos acima, uma queda acentuada do petróleo no mercado internacional, que altera essa equação provocando uma mudança vigorosa no mix de produção. 

Acredito que teremos um mercado muito mais sensível e atento a arbitragem entre açúcar e etanol. Nunca as opções foram instrumentos tão necessários num cenário indefinido como este que estamos encarando. Pelo sim, pelo não convém ficar atento.

Um bom final de semana, (Arnaldo Luiz Corrêa)

 

 

NA FOLHA: COLUNA VAIVÉM DAS COMMODITIES, por MAURO ZAFALON 

Preço do açúcar deve subir, mas investimentos no setor ainda demoram

O cenário para o setor sucroalcooleiro poderia ser melhor com o esperado deficit mundial de açúcar a partir de 2015, mas as preocupações ainda não foram dissipadas.

Queda nos preços do petróleo, política cambial e falta de adoção de mecanismos que deem previsibilidade ao setor são pontos de preocupação. Somam-se a isso as incertezas do clima.

A avaliação é de Plinio Nastari, da Datagro, empresa que reunirá especialistas e representantes desse setor em São Paulo, na segunda (20) e na terça-feira (21), para discutir o momento difícil, principalmente no Brasil, e as perspectivas.

Nastari diz que, após quatro anos de uma produção mundial de açúcar acima do que é consumido, as coisas se invertem. O superavit dará lugar a um deficit, o que ocorrerá já a partir desta safra de 2014/15 --iniciada neste mês. Ainda há divergências sobre o tamanho desse deficit, mas poderá ser de até 3,24 milhões de toneladas, número estimado pela Datagro.

Esse deficit vai gerar uma redução dos estoques mundiais que, no final da safra, será de 42,8% do total a ser consumido, abaixo dos 45,6% da safra que se encerrou.

E, sempre que a relação de estoques e consumo fica em 42%, ou menos, os preços começam a ficar mais firmes, segundo Nastari.

E quem vai fornecer açúcar ao mundo para suprir esses deficit? O Brasil, um dos responsáveis pelo superavit que chega ao fim, terá problemas.

A seca deste ano atrapalhou o desenvolvimento do canavial e haverá uma redução da cana com alta produtividade.

Além disso, a falta de umidade no solo inibiu a renovação dos canaviais. Nastari prevê que a renovação seja de 13% a 15% das lavouras, mas as estimativas eram de 17%.

Na próxima safra, as usinas não contarão com tanta oferta extra de cana-de-açúcar que sobra de um ano para outro. Nesta safra, esse volume foi próximo de 25 milhões de toneladas.

Além disso, a oferta de cana não deverá crescer na safra 2015/16. Ficará igual à desta ou até menor. A estimativa é de uma moagem de 550 milhões de toneladas em 2014/15. A Datagro deverá rever os dados da safra deste ano nesta segunda-feira (20).

Além dos efeitos do clima, as lavouras vão perder rentabilidade no próximo ano devido à redução dos tratos agrícolas. Os dispêndios com insumos estão de 28% a 30% inferiores aos do ano anterior, de acordo com Nastari.

Após uma entressafra prolongada, como vai ser a deste ano, parte das usinas deverá postergar o início da moagem para obter uma produção maior da matéria-prima. A reação do setor deverá começar pelo etanol.

Mesmo com a estimativa de deficit mundial de açúcar, o país não retomará os investimentos imediatamente. Isso só ocorrerá quando houver sinais de previsibilidade nos mecanismos de reajustes da gasolina e indicações de que o setor está livre de políticas intervencionistas, afirma Nastari.

O fundo do poço pode estar passando, mas o amadurecimento dos investimentos na indústria sucroalcooleiro do Brasil vai demorar de três a quatro anos.

A produção mundial de açúcar é de 170 milhões de toneladas na safra 2014/15, para um consumo de 173,2 milhões. O Brasil deverá produzir 35,7 milhões em 2014/15. Desse volume, 32,3 milhões virão da região centro-sul, segundo dados da Datagro.

ÁLCOOL

Preço volta a cair na cidade de São Paulo

O álcool recuou para R$ 1,853 por litro, em média, nos 50 postos pesquisados pela Folha em São Paulo. Mesmo com a queda --de 0,7% na semana--, o valor do etanol se mantém em 65% do da gasolina. Isso porque há uma boa oferta de gasolina, o que reduziu o seu preço em 0,11%.

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Fonte:
Archer Consulting + Folha

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