Guerra das águas em Correntina: Igreja acusa agro de destruição e ganância

Publicado em 07/11/2017 15:29

A invasão e a violência ocorridas na fazenda da empresa agrícola Igarashi, em Correntina, região oeste da Bahia, foi matéria-prima para uma nota ideológica e de clara manifestação pela luta de classes divulgada nesta terça-feira (7), por entidades de esquerda da região.. Liderados por padres, o manifesto envolve 10 entidades, entre elas o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), a Comissão Pastoral da Terra (CPt/BA), a Pastoral do Meio Ambiente (PMA - Diocese de Bom Jesus da Lapa) e carrega a mensagem "O AGRO É DESTRUIÇÃO".

A nota traz ainda a convocação da população para uma manifestação no próximo sábado, dia 11, com todos vestidos de preto. 

O texto do MST/CPT tenta minimizar as invasões acontecidas no dia 2 de novembro último, alegando que as destruições  "TERIAM" ocorrido (??!!), acrescentando ainda que "a mídia está a noticiar" (tentando passar conotação de invencionisse, mesmo com imagens documentando a destruição e a selvageria circulando pela internet desde 5a.-feira passada)...

A invasão teve participação de mais de 500 pessoas e a polícia da Bahia já investiga a ação para identificar quem a cometeu e, mais do que isso, que a financiou e comandou. Na ocasião, os prejuízos causados à Fazenda Igarashi superam R$ 60 milhões, além de ferimentos em funcionários da empresa de alimentos. 

ilhões

Também nesta terça-feira, representantes de cinco associações de produtores rurais do estado foram a Salvador para uma reunião com o governador, Rui Costa (PT), pleiteando rigor nas investigações e solicitando aumento e intensificação no policionamento na região. O governador Rui Costa, diz estar acompanhando de perto a situação; --

 “Imediatamente mandei a polícia ir ao local, e ao chegar lá encontraram um bando. Eu digo um bando porque ninguém ainda se posicionou como movimento social”. As declarações foram feitas no programa Linha de Frente, do portal Aratu Online. 

No link abaixo, veja a íntegra do depoimento de Rui Costa:

>> “Quero identificar quem patrocina os bandos destruindo fazendas no oeste da Bahia”, diz governador Rui Costa

Em entrevista à rede Globo, o secretário de Segurança Pública do estado, Maurício Barbosa, afirma ter conhecimento de que alguns pequenos agricultores estariam insatisfeitos com o uso da água na região - uma vez que a discussão se dá em torno da irrigação com recursos, entre outros, do rio Arrojado, um dos mais importantes da região - porém, que isso não justifica o ato cometido no último dia 2. 

"Um dos objetivos da investigação é, exatamente, tentar identificar quem são as pessoas que financiaram isso. Até porque a mobilização de 500 a 600 pessoa demanda um custo, toda uma logística de mobilização, e esse é um dos pontos que nós vamos atacar", diz Maurício Barbosa, secretário de Segurança Pública do estado. 

>> Polícia investiga atos de vandalismo em fazenda na Bahia

A seguir, veja o manifesto de convocação da população contra as investigações:

"POVO DE CORRENTINA E REGIAO

Estamos sendo tratados como TERRORISTAS pelo GOVERNADOR E DEPUTADOS aos quais confiamos os nossos votos. PRECISAMOS IR PARA AS RUAS, as milhares de pessoas, união nessa hora. O AGRO NÃO É POP, o AGRO É DESTRUIÇÃO.
Salve os NOSSOS RIOS!

VENHAM PARA AS RUAS, GOVERNO NÃO PODE OPRIMIR O POVO. SE CHEGOU ISSO FOI POR DESCASO.

Vista se de preto, façam seus cartazes de repúdio a estes Deputados e Governador. 

A FORÇA DO POVO SEMPRE VENCERÁ

O dia foi mudado para o SÁBADO DIA 11 as 07:00 hrs em frente o museu.
Vista se de preto e venham para as ruas.

Cansado do descaso das autoridades, o povo de Correntina reage em defesa das águas

A mídia está a noticiar que na manhã de quinta-feira, 02/11/2017, feriado de Finados, houve manifestação de populares nas Fazendas Igarashi e Curitiba, no distrito de Rosário, município de Correntina. Segundo imagens e áudios que circulam pela Internet, estas fazendas teriam sido invadidas e parte de suas máquinas, instalações e pivôs quebrados e incendiados, e que os autores destas ações são populares de Correntina. Segundo os relatos participaram da ação entre 500 a 1.000 pessoas.

O Oeste da Bahia tem se destacado como produtor de grãos para exportação, referência para o agronegócio nacional, cada vez mais de interesse internacional. Está inserido no MATOPIBA – projeto governamental de incentivo a esta produção nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – atual fronteira agrícola brasileira, onde estão localizados os últimos remanescentes de Cerrado no Brasil. É nesta região onde se encontram os rios Carinhanha, Corrente e Grande, suas nascentes, subafluentes e afluentes, principais contribuintes com as águas do rio São Francisco na Bahia, responsáveis por até 90% de suas águas no período seco. São estas águas que abastecem milhares de comunidades rurais e centenas de municípios baianos e dos outros estados do Submédio e Baixo São Francisco.

Os conflitos causados pela invasão da agropecuária, desde os anos 1970, no que eram os territórios tradicionais das comunidades que habitam o Cerrado, têm sido pauta de uma intensa discussão, e de dezenas de audiências públicas. A gravidade destes conflitos é de conhecimento regional, estadual, nacional e até internacional. Contudo, ao longo de décadas o agronegócio nunca assumiu a responsabilidade por sua nefasta atuação, alicerçada num tripé que tem como eixos centrais: a invasão de terras públicas por meio da grilagem e da pistolagem; o uso de dinheiro público para implantação de megaestruturas e de monoculturas de grãos e pecuária bovina; o uso irresponsável dos bens naturais, bens comuns, com impactos irreversíveis sobre o ambiente, em especial, sobre a água e a biodiversidade, além de imensuráveis impactos sociais.

A ação do povo de Correntina não é de agora. Assistindo à sequência de morte de suas águas essenciais, diante do silêncio das autoridades, ações do tipo e outras vêm sendo feitas há mais tempo. Em 2000, populares entupiram um canal que pretendia desviar as águas do mesmo rio Arrojado agora ameaçado pelas fazendas no distrito de Rosário. O canto fúnebre das “Alimentadeiras de Alma”, antiga tradição religiosa de rezar pelos mortos, passou a ser realizado para chamar a atenção para a morte das nascentes e rios às centenas na região. Romarias com milhares de pessoas vêm sendo feitas nos últimos anos em cidades da região em protesto contra a destruição dos Cerrados.

As ações do agronegócio possuem a chancela do Estado baiano e brasileiro, que age como incentivador e promotor, é insuficiente ou omisso nas fiscalizações e tem sido conivente com a sua expansão por meio da concessão de outorgas hídricas e licenças ambientais para o desmatamento, algumas sem critérios bem definidos. Estes critérios que vêm passando por intensas flexibilizações com as mudanças radicais na legislação ambiental. O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – INEMA concedeu à Fazenda Igarashi, por meio da Portaria nº 9.159, de 27 de janeiro de 2015, o direito de retirar do rio Arrojado uma vazão de 182.203 m³/dia, durante 14 horas/dia, para a irrigação de 2.539,21 ha.

Este volume de água retirada equivale a mais de 106 milhões de litros diários, suficientes para abastecer por dia mais de 6,6 mil cisternas domésticas de 16.000 litros na região do Semiárido. Agrava-se a situação ao se considerar a crise hídrica do rio São Francisco, quando neste momento a barragem de Sobradinho, considerada o “coração artificial” do Rio, encontra-se com o volume útil de 2,84 %. A água consumida pela população de Correntina aproximadamente 3 milhões de litros por dia, equivale a apenas 2,8% da vazão retirada pela referida fazenda do rio Arrojado.

Alegar que as áreas irrigadas no Oeste da Bahia representam apenas 8% da região, ou seja, 160 mil hectares num universo de 2,2 milhões de hectares, não minimiza seus impactos. Megaempreendimentos e suas obras de infraestrutura em plena construção com vistas à expansão das áreas irrigadas determinam uma rota de cada vez maior devastação. Alguns exemplos: Fazenda Santa Colomba, em Côcos, Fazendas Dileta; Celeiro e Piratini, em Jaborandi; Fazendas Sudotex, Santa Maria e Igarashi, em Correntina. Algumas destas fazendas estão construindo centenas de quilômetros de canais, dezenas de reservatórios (piscinões), perfuração de centenas de poços tubulares e instalação de centenas de pivôs. Quanta água está sendo comprometida com tudo isto? Se a irrigação não fosse uma tendência regional, como explicar tantos investimentos neste modelo de agricultura? Comitês e Planos de Bacia e outras medidas no campo institucional, antes promovem esta rota insana, do que preservam os bens comuns da vida, hoje e de amanhã.

A ganância do agronegócio e as conveniências dos que representam o Estado são os responsáveis pelo desespero do povo. Não há ciência no mundo que possa estimar um valor monetário para o rio Arrojado, e isso o povo de Correntina parece compreender bem. Os próceres do agronegócio agem com hipocrisia e continuam se negando a assumir o passivo socioambiental existente no Oeste Baiano. Não resistem a uma mínima comparação com o modo de produzir dos pequenos e médios agricultores, que fornecem os alimentos diversos que a população consome com impactos infinitamente menores e muito mais cuidados de preservação. Não há como evitar a pergunta: os equívocos dos processos para outorgas hídricas e licenciamentos ambientais e a falta de fiscalização eficiente dos órgãos responsáveis são garantias para a legalidade e legitimidade do agronegócio?

Diálogo com os representantes do agronegócio tem sido um simulacro de democracia e honestidade.  Na audiência pública havida em Jaborandi, no dia 27/10/2017, para discutir a questão das águas, outorgas e legislação ambiental, com interessados dos municípios de Jaborandi, Coribe e Correntina, populares foram impedidos de questionar a tese, na ocasião defendida por conhecido cientista aliado do agronegócio, de que não há relação entre a ação humana e as mudanças climáticas.

Flagrantes contradições do modelo de desenvolvimento regional são inúmeras e precisam ser evidenciadas. Por exemplo, a de que é muito maior a área preservada de Cerrado em relação à explorada. Omite-se que as áreas de Reserva Legal das fazendas do Oeste da Bahia estão sendo regularizadas por meio da “grilagem verde” sobre os territórios das comunidades tradicionais, e que a função ecológica cumprida pelas Áreas de Preservação Permanente – APPs, aos longo dos cursos d’água, nas áreas de descarga, são diferentes das funções ecológicas que cumprem os chapadões responsáveis pelo abastecimento do aquífero Urucuia, áreas de recarga, que já foram dizimadas pelo agronegócio.

A luta em defesa da vida mais uma vez é marcada pelo protagonismo popular de quem faz com as mãos a história e sabe que a água não é mercadoria, como quer convencionar o agronegócio, inclusive utilizando-se da Lei 9.433/1997, a “Lei das Águas”. As águas do rio Arrojado abastecem comunidades centenárias e não podem servir apenas aos interesses dos irrigantes como o grupo Igarashi, que chega à região com a má fama de ter que migrar da Chapada Diamantina, uma das regiões da Bahia que sofrem com a crise hídrica, em especial, na bacia do rio Paraguaçu, justamente por conta dos impactos de sua exploração. Os conflitos ambientais parecem não findar com o caso das fazendas deste grupo, pois esta é apenas uma fazenda num universo de inúmeras do Oeste da Bahia. Tudo indica, portanto, que o cansaço do povo frente ao arrojo do agronegócio e ao descaso das autoridades e a urgência da defesa da vida seja o argumento que impõe esta reação.

Deste modo e diante da notória crise hídrica, somada à irresponsabilidade arrogante do agronegócio e à incompetência do Estado, tal cenário coloca o povo em descrença e desespero, ao ver o rio Arrojado, base para sua convivência e modo de vida, com tamanhos sinais de morte, assim como inúmeros riachos, nascentes, veredas e rios da região. E, então, partem para alguma reação concreta, que chame a atenção dos responsáveis públicos e privados. Não há palavras para descrever o sentimento coletivo que tomou conta do povo de Correntina, que num ímpeto de defesa agiu para defender-se, pois sabe que se não mudar o modelo de “desenvolvimento”, baseado no agronegócio, estarão comprometidas as garantias de vida das populações atuais e futuras.

Novembro de 2017.

Comissão Pastoral da Terra – CPT/BA

Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais da Bahia – AATR-BA

GeograFAR/UFBA

Articulação Estadual dos Fundos e Fechos de Pasto da Bahia

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST

Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB

Movimento Estadual dos Acampados, Assentados e Quilombolas da Bahia – CETA

Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP – Diocese de Bom Jesus da Lapa

Pastoral do Meio Ambiente – PMA – Diocese de Bom Jesus da Lapa".

Abaixo, o vídeo traz os manifestantes dentro do rio Corrente, que passa dentro da cidade de Correntina. 

Como é fácil notar, o rio não secou, não está com vazão reduzida, e nem deverá secar. Chove desde 1º de novembro no Oeste da Bahia e os acumulados já chegam a 70 mm. Mais 40 mm são esperados para as próximos horas. E a meteorologia indica mais precipitações chegando ao oeste da Bahia nas próximas semanas.

Logo, o que existe na região é a ideológica "guerra das águas" que invadiu Correntina e região do entorno de Luis Eduardo Magalhaes. Autoridades do setor de segurança temem que o movimento se alastre pelo País, devido à proximidade das eleições presidenciais. Pois, como fica claro no manifetos do CPT e MST, a esquerda está se reacendendo a luta de classes no campo, com nitido interesse de afetar a produção de alimentos e a recuperção economica do País (NA). 

Diante da destruição, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) também se pronunciou no plenário sobre o assunto. Veja a seguir. 

A reportagem do Notícias Agrícolas continuará ouvindo líderes do setor para que se posicionem a respeito do ocorrido, das manifestações e dos passos que serão dados daqui em diante. 

Fonte: Notícias Agrícolas

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