ANÁLISE DA REUTERS – Brasil tomará liderança dos EUA na exportação de milho em 5 anos

Publicado em 16/02/2018 20:23

CHICAGO (Reuters) - O Brasil pode eclipsar os Estados Unidos como o maior exportador de milho dentro de cinco anos, dando fim a décadas de domínio norte-americano do mercado de um dos alimentos básicos do mundo.

Produtores dos EUA, que por gerações se orgulham de estar no celeiro do mundo, agora sofrem com os preços dos grãos e infraestrutura envelhecida. Os esforços de Washington para renegociar acordos comerciais também podem afetar as exportações.

Ao mesmo tempo, o Brasil está colhendo os benefícios de seu investimento massivo em infraestrutura para exportação. Em 2012/13, o país sul-americano ultrapassou os EUA como maior exportador de soja. Três anos depois, a Rússia desbancou os EUA do primeiro lugar na exportação de trigo.

"Se você olhar cinco, dez anos adiante, o Brasil vai competir com os EUA para ser o primeiro exportador de milho do mundo", disse Michael Cordonnier, presidente da consultoria Soybean and Corn Advisor.

"Eles têm terra: centenas de milhões de hectares que podem ser voltados para a produção; eles têm o clima; eles têm o know-how. Do ponto de vista agronômico, não há limites a vista."

Bilhões de dólares investidos nos portos do Brasil, principalmente no Norte, encerraram anos de atrasos crônicos na exportação, tornando o envio mais barato, impulsionando compras de consumidores como a China.

Além de soja, o Brasil também é o maior fornecedor de carne bovina, de frango, açúcar, café e suco de laranja.

O Brasil está aquém dos EUA em infraestrutura rodoviária, mas melhorias graduais são esperadas na área. Os fazendeiros norte-americanos enfrentam seus próprios desafios.

Um bloqueio no sistema de barragens nos rios do Meio-Oeste feriu a reputação dos EUA como fornecedor de grãos mais confiável do mundo.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) projeta que as exportações de milho dos EUA vão diminuir em 6,2 milhões de toneladas, volume avaliado em aproximadamente 1 bilhão de dólares, no atual ano comercial.

Enquanto isso, espera-se que as exportações de milho do Brasil aumentem em 1 milhão de toneladas ante o ano anterior, acelerando a ascensão do Brasil no setor.

"Se nós não olharmos para o futuro, terá um ponto em que seremos empurrados para o segundo lugar", disse Fred Helms, um fazendeiro de Illinois que viajou recentemente pelo Brasil e pela Argentina com o Illinois Farm Bureau para ter uma noção da competição.

"Não é divertido ser o número dois."

O clima mais quente do Brasil dá aos produtores uma temporada mais longa do que seus equivalente nos EUA. A maior parte dos produtores brasileiros pode semear o milho logo após colher a soja, plantando duas safras de milho por ano. Os fazendeiros dos EUA têm que esperar o inverno passar.

Isso levou a um salto nas plantações de milho brasileiras já que os fazendeiros lutam para impulsionar a produção de soja para satisfazer a demanda da China, disse Cordonnier.

Espera-se que o milho dos EUA represente apenas 33,8 por cento das exportações globais de milho no ano-safra de 2017/18, caindo dos 62,6 por cento de uma década atrás, de acordo com as projeções do USDA.

As projeções do Brasil da exportação de milho de 35 milhões de toneladas corresponderiam a 22,7 por cento dos embarques globais.

Apenas 20 anos atrás, o Brasil exportou apenas 6 milhões de toneladas, menos de 1 por cento do total mundial.

"Dez anos atrás ninguém acreditaria que o país alcançaria isso", disse Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec, a associação dos exportadores de cereais do Brasil. "Os produtores do Brasil são muito eficientes e as coisas aconteceram rápido."

Os dados mais recentes do governo do Brasil mostram que o país exportou 3 milhões de toneladas de milho em janeiro, mais que o dobro das 1,45 toneladas enviadas para exterior um ano antes.

MANTER UM LUGAR

Os EUA caíram brevemente da sua posição como maior exportador de milho em 2012/13, mas isso foi causado pela seca. Da próxima vez que o Brasil ultrapassar os EUA provavelmente será algo duradouro.

Mudanças em pactos comerciais podem acelerar o declínio da participação de mercado dos EUA. Os EUA, o Canadá e o México estão renegociando o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês).

Esse acordo deu aos fazendeiros norte-americanos livre acesso ao seu principal cliente, o México, que representava 23,8 por cento dos envios de milho dos EUA no ano-safra de 2016/17.

Vendedores brasileiros já estão fazendo incursões ao México.

Por enquanto, o USDA prevê que os EUA vão se manter como o principal exportador de milho pela próxima década, mas com a participação de mercado caindo para menos de 30 por cento.

"Nós não somos mais os únicos jogadores no mundo", disse Mark Welch, professor assistente no Departamento de Econômia Agrícola na Universidade do Texas A&M.

"É crítico que os EUA mantenham um lugar à mesa em se tratando em acordos comerciais, relações comerciais e parceiros comerciais."

Na FOLHA: Brasil dominará o mercado de commodities em 10 anos (relatório do USDA)

Estimativas são previsões que nem sempre se confirmam, mas, a apostar no que diz um relatório do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) desta quinta-feira (15), o Brasil abocanhará uma boa parcela do mercado mundial de commodities nos próximos dez anos.

O país será responsável pelo fornecimento de quase metade (47%) dos 205 milhões de toneladas da soja que será comercializada no mundo daqui a uma década.

Em dez anos, a China vai ter uma elevação de 47% na importação de soja, atingindo um patamar de 143 milhões de toneladas da oleaginosa. Mas não vai ficar nisso: os chineses vão incrementar também as compras de milho. Em 2028, deverão adquirir 7,5 milhões de toneladas do cereal, um aumento de 150%.

Segundo as previsões do Usda, a elevação do padrão de renda na China tornará o país mais dependente do mercado externo também em relação à aquisição de proteínas. As importações de carne bovina deverão crescer 73%, atingindo 1,6 milhão de toneladas, e as de frango, 36%, num total de 660 mil toneladas.

Leia a notícia na íntegra no site da Folha de S. Paulo.

Cálculos de emissão de carbono e de uso de água pela pecuária estão superestimados (por Marcos Sawaya Jank)

De um lado, grupos internacionais propõem a taxação do consumo de carne bovina em razão do carbono emitido pela pecuária de corte. Não faltam acusações de que a pecuária é causa direta do desmatamento, prejudica o clima e consome água em excesso.

Do outro, passou despercebida a notícia que a Indonésia, quarto país mais populoso do mundo, com 260 milhões de habitantes, vai abrir seu mercado de carne bovina para o Brasil. O país consome só 3 kg/habitante/ano e não quer depender apenas da carne cara da Austrália ou da carne de búfalo de baixa qualidade da Índia. Ocorre que a grande maioria das pessoas do planeta quer consumir mais carnes, e o Brasil tem lugar central para satisfazer esse desejo.

É fato que a pecuária ocupa 20% da superfície do país, o dobro da área usada pela agricultura. Por isso o uso da água e as emissões de gases de efeito estufa são proporcionalmente maiores, o que coloca os bovinos sob intenso tiroteio.

Mas é preciso considerar a verdade dos fatos e as grandes mudanças que estão acontecendo nesse setor.

O cálculo dos altos volumes de carbono emitidos pelos bovinos está correto. Mas há um erro crasso na estimativa do balanço do ciclo de vida da atividade, que desconsidera o sequestro (captura) de carbono pelas pastagens e a grande quantidade de carbono retida e incorporada pelos capins no solo.

Incapaz de consumir todo a quantidade disponível, os bovinos retiram apenas de 30% a 40% do que é produzido nas pastagens. O restante volta ao solo e se junta às raízes, reciclando todos os nutrientes do material, inclusive o carbono.

Há ainda uma controvérsia em relação ao potencial de aquecimento global dos diferentes gases —principalmente em relação ao cálculo do metano emitido pelos bovinos—, cujas emissões estariam sendo superestimadas na metodologia atual.

Em sistemas com pastagens mais produtivas e maior desempenho animal, a incorporação de carbono pelas pastagens neutralizaria o que é emitido pelos bovinos. Pesquisas recentes da Embrapa enriquecem a base de conhecimento sobre tema, derrubando a crença comum de que a pecuária seria necessariamente emissora líquida de carbono.

Já a associação da pecuária com o desmatamento baseia-se na história da ocupação do território. Durante meio século a falta de infraestrutura e versatilidade da criação de gado fez a pecuária ser a única alternativa viável para colonizar as áreas de fronteiras. Não é mais o caso.

Entre 1990 e 2016, a área de pastagens caiu de 190 milhões para 165 milhões de hectares. No mesmo período, o rebanho bovino aumentou 40%, e a produção de carne bovina duplicou. A tese do desmatamento causado pela pecuária não faz mais sentido, ainda que ele ainda ocorra como exceção, e não como regra.

O uso da água também compõe o arsenal de ataques à pecuária. Quando se diz que a pecuária usaria 15 mil litros de água por kg de carne produzida, nunca se esclarece que 99% desse volume vem das chuvas que caem sobre pastos, que retornam para a atmosfera pela chamada evapotranspiração do sistema solo-planta. As plantas são verdadeiros dutos, pelos quais a água está sempre subindo das raízes até as folhas, que transpiram e devolvem essa água para a atmosfera, à semelhança do que ocorre nas florestas.

O fato é que o Brasil é um dos melhores lugares do mundo para produzir gado a pasto, pois temos maior abundância de sol, clima favorável, água de chuva e tecnologia. É claro que há grandes disparidades na pecuária brasileira e bastante ainda a melhorar. Mas os ganhos de produtividade e a tendência de intensificação sustentável da pecuária são inquestionáveis.

Eficiência produtiva com sustentabilidade é o caminho, e o Brasil tem os instrumentos para tanto.

Este artigo foi escrito em parceria com MAURICIO PALMA NOGUEIRA, engenheiro agrônomo e consultor em agronegócio.  Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. Vive em Cingapura.

Fonte: Reuters/Folha

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